Disclaimer: Esta é uma adaptação do livro A Vida É Uma Festa, de Sarah Mason; alguns personagens pertencem à mesma, e outros à J. K. Rowling, autora da série de livros Harry Potter.
A VIDA É UMA FESTA
Prólogo
Ele está pronto para ir embora. Reconheço os movimentos irrequietos das mãos, os gestos entediados, a postura do corpo que está pronto para sair. Ou seja, tenho cerca de trinta segundos para dizer algo descontraído espirituoso e sofisticado, com uma entonação não-estou-nem-aí-para-você, veja-só-como-eu-me-dei-bem. Não é preciso entrar em pânico, basta pensar em algo.
Vinte segundos.
Droga. Droga.
Pense, sua estúpida, pense. O turbilhão de emoções faz minha cabeça girar. O problema todo está no fato de que, nas poucas ocasiões em que pensei a respeito de um reencontro com James, sempre me vi deslizando no meu carro esportivo imaginário, com uma bolsa Prada bem posicionada nas mãos, e mais bem posicionada ainda no alto de um par de sapatos Manolo Blahnik. Imaginei cenas onde esnobava sua fazenda, enquanto James dizia o quanto lamentava o seu comportamento no passado e mostrava sua incredulidade ao ver como eu estava glamourosa/linda/inteligente.
Estive esperando essa oportunidade durante anos, mas, agora que ela se concretiza à minha frente, estou nervosa e apreensiva. James teve um efeito tão grave na minha infância que eu mal posso acreditar que ele está a poucos passos de distância.
Este tipo de encontro não deveria ter trovões e fogos de artifício, em vez de canapés de enroladinhos de salsicha? E para onde vão todas aquelas observações espirituosas e sarcásticas que você tem guardadas na memória quando você mais precisa delas? Olho em direção a Remus, que supostamente é meu melhor amigo, balançando a cabeça de um modo ridículo e ignorando solenemente os dois cavalheiros que pairam em frente a bandeja de canapés que ele deveria estar servindo. No exato momento em que as mãos dos dois movem-se em direção à bandeja, Remus não aguenta mais, tira a bandeja que estava bem embaixo de seus narizes e marcha na minha direção.
- Lily, o que você está fazendo? - ele cochicha. - Você sabe que é ele, não sabe? Vá até lá e diga alguma coisa.
Ele me empurra na direção da porta, onde James Potter está vestindo seu casaco, ainda ignorando minha presença.
- Eu não sei o que dizer - cochicho nervosa.
- Basta começar uma conversa - resmunga Remus enquanto revira os olhos dramaticamente.
Basta começar uma conversa. Falando assim parece fácil, não é? Bom, é muito fácil começar uma conversa com uma bandeja de canapés na mão, não é? O Senhor gostaria de provar o rocambole de salmão defumado ou a tortinha de cogumelo? Sim, claro! É muito simples.
Antes que eu possa impedi-lo, Remus coloca sua bandeja nas minhas mãos e me empurra com força na direção de James. Mas meus sapatos são novos e ainda não foram usados o suficiente, as solas novas deslizam levemente no piso encerado, fazendo com que eu pare quase em cima dele. James parece muito surpreso em ter uma ruiva e vários rocamboles de salmão defumado em seus braços.
Fantástico, Lily. Simplesmente genial. Agora você está, literalmente, jogando-se em cima dele.
- Puxa desculpe - murmuro, tentando me desvencilhar dele. Chegou a hora. E não é nada parecido com o que eu havia planejado. Apesar de ter sempre imaginado o que aconteceria se eu acabasse ficando novamente cara a cara com James Potter, não pensei que seria algo tão ao pé da letra.
James me segura pelos ombros e me endireita com firmeza, como se estivesse me colando no meu lugar. Algumas coisas nunca mudam. Ele olha dentro dos meus olhos com uma expressão levemente confusa.
- Gostaria de provar uma tortinha de cogumelo selvagem? - pergunto. Bravo, Lily. Você não vê este homem há quinze anos e esta é a única pergunta que passa pela sua cabeça?
James olha para mim intrigado.
- Hã, não. Obrigado. Estava de saída - sua voz é como uma ligeira nuvem de perfume. Ela toca a minha memória por um segundo e desaparece.
- Um enroladinho de bacon e nozes? - insisto. Por trás do ombro esquerdo de James está Remus, fazendo gestos de quem está cortando a garganta.
James me olha como se estivesse tentando me reconhecer. Não tenho certeza se ele vai se lembrar do nosso último encontro: eu tinha onze anos e ele treze. E eu o reconheço somente por causa da sua meteórica ascensão empresarial, registrada pela mídia.
- Nós já nos encontramos antes? - ele pergunta intrigado.
- Hum-hum... - gaguejo. Minha boca tem a enorme tendência de ignorar qualquer instrução que venha do meu cérebro. Às vezes me pergunto se meu cérebro e minha boca não são, de fato, duas entidades separadas e independentes.
Não sei por quê, mas, subitamente, descubro que não tenho muita vontade de revelar quem sou. Estamos em uma festa muito elegante no centro de Krightsbridge. É o lançamento de um novo tênis de corrida, cheio de estilo, chamado Zephyr, que é, supostamente, a Dom Pérignon do mundo dos esportes. Eu organizei a festa - sou uma promoter -, mas ele provavelmente deve pensar que sou uma garçonete, ali de pé, oferecendo canapés como uma idiota. Agora, Remus acena para mim por trás das costas de James. Lanço um olhar fulminante de indignação na direção dele, enquanto James olha para nós dois, completamente desorientado.
De repente, uma luz surge nos olhos de James. Ele me reconheceu. Sabe exatamente quem sou e me encara por um segundo, mergulhado em um fascínio quase mórbido. Mas desisto de cumprimentá-lo quando ele inclina a cabeça, sem graça, escolhe um canapé da bandeja, coloca-o na boca e continua a vestir o casaco sem voltar a fazer contato visual. Ele me reconheceu e me ignorou, sem sequer me dar uma oportunidade para explicações. Sou transportada imediatamente para a casa onde crescemos juntos, e as lembranças ruins preenchem minha mente.
Faço um último esforço para falar com ele.
- Tenho, hã... - Remus está pulando para cima e para baixo. - Hã... Lido tudo sobre... - Rem está agora com a mão erguida no ar, como um menino de quatro anos de idade -... você na... DEUS DO CÉU! O QUE É, REMUS?
- Lily, você precisa vir comigo agora - Rem sussurra no meu ouvido. - Parece que a amante do diretor-gerente da Zephyr apareceu. E acho que a esposa dele não está muito feliz com isso. - Olho por cima do ombro de Remus e vejo uma mulher brandindo um espeto de frutas e um monte de pessoas encolhidas em um canto da sala. Genial. Por que coisas como estas sempre acontecem no meu turno? É claro que isso vai acabar sendo minha culpa, de um jeito ou de outro.
Viro-me para pedir desculpas a James, mas ele já foi embora.