Disclaimer :Trata-se de uma história cujo único propósito é entreter sem a intenção de infringir os direitos autorais das obras nas quais foram inspiradas ou auferir qualquer lucro.


Estava feito, e havia agora apenas o silêncio. O corpo sem vida de Zod estava estendido ao seu lado. Transtornado, o até então inabalável homem de aço caiu sobre seus próprios joelhos. Tudo aquilo em que acreditava de nada adiantou. Consumido por um misto de emoções que se abateu em seu peito na forma de uma dor insuportável que jamais antes experimentou ou imaginou capaz de sentir diante de todas as habilidades que lhe eram atribuídas, emitiu um grito estrondoso, rompente daquilo que o tornava mais próximo da espécie humana: o remorso.

A poucos passos de distância, Lois acompanhou a reação de Kal-El frente ao que Zod o compeliu fazer, e sem hesitar, enquanto a família de sobreviventes salva por Superman corria em busca de segurança para fora da edificação em ruínas, e quando muitos ainda temiam o que aquele homem alto e encorpado vestido em trajes azuis e capa vermelha era capaz de fazer, abraçou-o com a generosidade sincera que lhe era peculiar no que dizia respeito ao não mais herói anônimo. Sob o conforto dos braços de Lane, o kryptoniano retribuiu o gesto, enlaçando-a pela cintura, e ficaram abraçados por alguns instantes.

Lentamente, Kal-El se recompôs e se levantou, porém, incapaz de encarar Lois nos olhos. Ainda perturbado, voltou-se para o cadáver do general kandoriano, e cujos olhos sem vida estavam semiabertos.

«Meu pai adotivo me ensinou que todos tem um lado bom» disse.

Lois inclinou a cabeça para o lado, escutando-o com atenção.

«Zod fazia o que achava certo» completou. «Ele apenas desempenhada a função para a qual foi criado»

A ruiva então se aproximou e o tocou no braço:

«Você fez o certo. Ele jamais iria parar, e nada mais no mundo poderia impedi-lo»

Kal-El se virou para olhá-la nos olhos:

«Ele era meu semelhante» explicou com a voz embargada.

Com firmeza no olhar, porém, Lois devolveu:

«E estava disposto a matá-lo se fosse preciso»

Kal-El suspirou, e enquanto as palavras de Jor-El de que ele havia nascido com a possibilidade de fazer suas próprias escolhas lhe vieram à mente, sentia ainda que matar Zod não parecia ter sido a melhor das decisões até então tomada, ao que Lane completou:

«Se ele tivesse êxito... e se fosse você que estivesse morto, estaríamos agora todos condenados»

A despeito de compreender a noção de bem maior a que Lois se referia e que lhe fora concebida por seus pais adotivos, o homem de aço ainda não conseguia assimilar o que acabara de fazer. Olhou então para baixo, para seus próprios punhos, os mesmos com os quais desferiu o golpe fatal que acabou com a vida de Zod. Jamais antes havia matado alguém. Lembrou-se então das palavras que lhe foram ditas por Jonathan sobre o tipo de homem que ele gostaria de ser quando crescesse, e se bom o mau, o quanto mudaria o mundo. Pensou nos milhões de pessoas que poderiam estar mortas e feridas por causa dos ataques de Zod, e olhando novamente para o cadáver diante de si e logo depois para o canto em que um grupo de pessoas estava encurralado e prestes a ser exterminado por seu rival, lembrou das palavras ditas pelo holograma de seu pai biológico, de que ele deveria ser um guia e um símbolo de esperança para a humanidade, capaz de salvar a todos.

Kal-El se virou para ver Lois, e sorriu tristemente. Ela compreendeu que ele ainda não estava preparado para enfrentar aquilo, não importasse o quanto mais lhe fosse dito para acalentar seu sofrimento. Ele se aproximou dela, e tocou sua face com as costas da mão. Jamais havia conhecido alguém como ela, com tamanha devoção e compaixão, capaz mesmo de sentir empatia por um completo estranho vindo de outro planeta. Ela era, definitivamente, o melhor da humanidade, aquilo que o fazia ter a certeza de que seu pai adotivo sabia do que falava sobre fazer a escolha certa e se sentir orgulhoso diante da raça humana.

Lane então inclinou a cabeça, e segurou sua mão, mantendo-a na linha de seu rosto, para então beijar carinhosamente o punho do homem de aço. Com a outra mão, Kal-El puxou-a gentilmente pelo pescoço enquanto se inclinava sobre ela. Fitaram um ao outro nos olhos. Palavras já não eram mais necessárias. Lois sorriu, e ele a beijou nos lábios, um beijo tão arrebetador quanto o primeiro, no qual suas bocas se encontraram e lutaram debilmente, mordendo-se com os lábios e onde um ar pesado ia e vinha com um movimentos vivos. Superman procurou mergulhar seus dedos nos cabelos de Lois, acariciando-a lentamente enquanto se beijavam. Lois sentiu se afogar num breve e terrível absorver de fôlego, mas não desejou por um momento sequer se afastar.

De repente, soldados do exército entraram no edifício desmoronado com armas em punho. Abaixaram os fuzis que carregavam ao gesto do tenente-coronel que estava à frente ao notarem que Zod estava morto. Surpreendidos, Superman e Lois se desvencilharam rapidamente, e o homem de aço voltou sua atenção para os militares que se aproximavam. Notou que Nathan Hardy não estava entre eles.

«Onde está o seu coronel?» perguntou ao tenente, ao que este balançou a cabeça negativamente e com pesar.

«Abatido» respondeu. «Ele e o Dr Emil Hamilton foram mortos em combate, consumidos pela explosão que evaporou a nave alienígena»

Kal-El então se virou para Lois, e ela compreendeu.

«Zona Fantasma» murmurou a repórter.

Superman suspirou e se voltou para Zod.

«O que fará com ele?» perguntou Lois.

Subitamente, ele se deu conta de que não sabia como eram os procedimentos de seu planeta de origem, e se deveria enterrar ou cremar o corpo de Zod.

«Não sei, mas vou levá-lo comigo» respondeu.

«E depois?» perguntou ela, com olhar aflito, preocupada se o veria novamente, e quando.

Superman se virou para encará-la nos olhos.

«Vou ajudar a consertar os estragos causados por Zod, e tentar descobrir um meio de trazer o coronel Hardy e o Dr Hamilton da Zona Fantasma» respondeu.

Lois sorriu. Embora soubesse que não estaria nos seus planos, ciente de que talvez a assertiva segundo a qual após um primeiro beijo a relação poderia estar fadada ao fracasso, sentia denotado orgulho daquele sujeito, que mesmo vindo de outro planeta, possuía valores que transcendiam a moralidade. Olhou para o símbolo estampado no peito do seu uniforme que brilhava mesmo à escuridão da noite que começava a cair, e teve a certeza de que ele era tudo o que a humanidade mais precisava naquele momento. Não lamentou nem por um instante o fato de que talvez devesse compartilhar sua afeição com todo o resto do mundo.

«Você sabe onde me encontrar» disse ela, com um sorriso, tentando disfarçar a tristeza de que talvez nunca mais fosse vê-lo, afinal, não poderia mais arriscar sair por sua própria conta para encontrá-lo onde quer que fosse quando o Pentágono estaria agora em seu encalço para descobrir onde ele se assentava e se de fato poderia confiar nele.

Kal-El devolveu o sorriso, e enquanto os soldados estavam espalhados pelos escombros à procura de sobreviventes e o tenente-coronel sinalizava via rádio a situação do local e do alvo inimigo, inclinou-se sobre Zod, e o pegou nos braços.

«Superman...» chamou o tenente, um tanto quanto hesitante ao ver o que ele pretendia: «Tenho ordens para levarmos o corpo do General Zod. É propriedade dos Estados Unidos da América»

«Diga a Swanwick que depois me resolvo com ele» e sem mais qualquer outra palavra, Superman atravessou flutuando o salão em destroços para, chegando à porta da frente da edificação em ruínas, alçar voo com o corpo sem vida de Zod em seus braços.

Sem saber o que fazer ou dizer, o tenente se virou para Lois, que olhava agora fixamente para o alto através de uma fenda enorme aberta no teto do museu, e onde podia ver o rasgo de luz deixado por Superman nos céus empoeirados pela devastidão causada em Metropolis. A ruiva então encarou o oficial, e com um pequeno sorriso nos lábios, deu de ombros.


No Ártico, onde o vento glacial empalidecia a noite, Superman aterrissou na geleira onde se encontrava a nave que agora considerava seu único elo de ligação com a civilização da qual seus antepassados fizeram parte, sua casa kryptoniana e que, por um breve momento imaginou como o lugar onde poderia buscar conforto nos momentos em que necessitasse de profunda solidão, tal como aquele. Olhando para o rosto sem vida e agora congelado de Zod, Kal-El suspirou, e caminhou firme pela entrada da nave agora desativada sem a chave e parcialmente consumida pela neve, transformando-se assim numa fortaleza cristalizada pelo gelo.

Caminhando pelos corredores da espaçonave, onde agora não mais se ouvia o ruído estridente do vento externo, Kal-El foi até a câmara onde havia encontrado as cápsulas de hibernação e nas quais agora jaziam os cadáveres dos tripulantes que encontrou na última vez em que estivera ali. Ao chegar lá, ainda não muito certo a respeito do que faria com o corpo de Zod, mas na intenção inicial de depositá-lo na mesma cápsula que um dos tripulantes mortos, notou algo do qual não havia se apercebido antes: a câmara era muito maior do que imaginava. Caminhou então em direção ao espaço que se projetava ao lado da sala principal e viu que havia mais uma ala com duas outras cápsulas criogênicas. Ao se aproximar, viu que as duas não apenas estavam abertas, como vazias.

Kal-El então suspirou e frisou a testa. Olhou ao redor, e decidido, colocou o corpo de Zod em uma das cápsulas vazias, ainda que soubesse que não se tratava de um receptáculo mortuário. Não sabendo exatamente o que fazer, procurou seguir a tradição terráquea que lhe fora ensinada, e cruzou as mãos à frente, em gesto de respeito. Novamente, refletiu quanto a tudo o que havia acontecido, e como se sentia frente ao que precisou fazer para impedir Zod de aniquilar a raça humana. Embora ainda estivesse em conflito quanto ao que deveria lidar a partir de então e com o sangue que agora manchava suas mãos, fechou a cápsula não sem antes olhar mais uma vez para seu inimigo, seu semelhante, e mais uma vez lembrar de sua última declaração, de que suas ações, violentas ou cruéis, tinham como escopo o bem maior de seu povo.

Superman então se voltou para a outra cápsula vazia, e não muito certo de ter encontrado mais dois corpos de tripulantes na nave, decidiu novamente inspecioná-la. Tentou, em vão, usar sua visão apurada para enxergar através das paredes, mas a superfície do metal de origem kryptoniana o impedia de usar tal habilidade, embora, por vezes, quase fosse capaz de ver alguma coisa, quando, de súbido, algo lhe chamou a atenção: uma ala para a qual não conseguiu identificar acesso, já que não tinha mais a chave. Sem pestanejar, usou sua visão de calor para abrir um buraco na parede. Ao entrar, ficou horrorizado com o que viu: um estoque com inúmeras pequenas câmaras embrionárias, tais como as descritas por Jor-El e que eram utilizadas para fins de reprodução em Krypton. Porém, todas violadas e vazias.

O homem de aço então varreu toda a espaçonave em busca de mais indícios acerca da existência de outros tripulantes, ou do destino dos embriões kryptonianos, mas nada mais encontrou, e voltando ao ponto de partida, a ala onde se encontravam as cápsulas de hibernação, com o pensamento fixo na explicação de Jor-El sobre a destruição de Krypton, teve a certeza de que os planos para aqueles viajantes era explorar um lugar no cosmos para que kryptonianos pudessem habitar. Indignado com o fato de seu pai biológico ter omitido tal informação, ainda que se tratasse de uma entidade com inteligência artifical programada para responder perguntas diretas, Kal-El suspirou, não muito seguro de que poderia novamente contatá-lo, mas certo de que não era o único filho de Krypton na Terra.


A/N : Diferentemente do filme, a nave no Ártico não foi tomada por Zod e nem destruída, e as câmaras embrionárias não foram mostradas por Jor-El.