Nota: (1) Harry Potter e seus personagens não me pertencem. E sim a J.K. Rowling e a Warner Bros. Entertainment Inc. Essa fanfic não tem nenhum fim lucrativo, é pura diversão.
(2) Contém Slash (relação Homem x Homem), abordagem a Doenças Mentais e futuramente, Lemon (sexo explícito entre os personagens), portanto se você não gosta ou se sente incomodado com isso, é simples: Não Leia.
(3) Essa é uma história UA – Universo Alternativo – ou seja, ocorre numa realidade diferente daquela descrita nos livros e filmes de Harry Potter.

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"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura." – F. Nietzsche.

O CHARME DA INSANIDADE

O hospital psiquiátrico de Hogwarts consagrava-se como o mais famoso e antigo de Londres, quiçá de toda Europa, integrado à Universidade de Hogwarts e parceiro do Hospital das Clínicas da mesma universidade. Especializado em psiquiatria e neurologia, o reitor da universidade, Alvo Dumbledore, destacava-se também como presidente do conselho do hospital e confiava à Severus Snape a direção do mesmo. Sua impressionante estrutura era composta por quatro alas particulares, cada qual com uma equipe especializada e recursos de alta tecnologia disponíveis. As alas se dividiam em unidade ambulatorial e centro de pesquisa – conhecida como ala Ravenclaw, em homenagem à sua médica fundadora, Rowena Ravenclaw; unidade específica para dependentes químicos – conhecida como ala Hufflepuff, homenageando a bondosa médica que desenvolvera esta área, Helga Hufflepuff; unidade para pacientes portadores de transtornos mentais em geral – conhecida como ala Gryffindor, fazendo referência ao famoso médico que a fundara, Godric Gryffindor; e unidade para pacientes de alta periculosidade portadores de transtornos mentais que ameacem a sociedade – conhecida como ala Slytherin, homenageando Salazar Slytherin, psiquiatra e criminalista que outrora a fundou.

Nas duas últimas alas, o jovem Harry Potter de vinte e dois anos fazia residência para se especializar em psiquiatria pela universidade, na qual ainda cumpria algumas matérias para se formar, almejando um brilhante futuro na profissão que adorava. Contudo, nas últimas quatro semanas, a chegada de um novo paciente estava provocando estranhas sensações no jovem médico.

- Está indo ver aquele seu namorado psicopata? – uma voz arrastada caçoou e Harry não precisou se virar para saber de quem se tratava.

- Ele não é psicopata, Malfoy.

O loiro de vinte e três anos, sorriso arrogante e impecável traje negro por baixo do jaleco branco era Draco Malfoy, residente em psiquiatria e médico formado pela faculdade de medicina de Hogwarts, na qual Harry desconfiava que seu pai precisara mexer os pauzinhos para fazê-lo entrar.

- Ah, é mesmo – desdenhou, puxando a ficha das mãos de Harry – Ele possuí apenas, vejamos, transtorno de personalidade narcisista acentuada por delírios de grandeza com traços maniaco-obsessivos e severos surtos psicóticos.

- Ele não apresentou nenhum sinal de surto psicótico desde chegou aqui. E para a sua informação, Malfoy, ele não é meu namorado.

- Então você gostaria de sair comigo esta noite para beber alguma coisa? – apoiando-se displicentemente na parede, Draco usava seu melhor sorriso e lançava um olhar de cima abaixo num exasperado Harry, que apenas puxou a ficha de seu paciente de volta, colocando-se a caminhar para a ala Slytherin sem olhar para trás.

- Eu nunca vou sair com você Malfoy – zombou, passando ao lado do loiro e seguindo pelo corredor de paredes brancas que conectava as duas alas – Todos os pacientes internados aqui são mais sensatos e tratáveis do que você.

Parado em seu lugar, Draco apertava os punhos, como uma criança pequena que acaba de ver seu doce favorito ser levado embora.

Caminhando lentamente pelos corredores do hospital, Harry bufava de irritação, perguntando-se porque Malfoy precisava insistir em chamá-lo para sair sempre que o via. Tudo bem, Harry era gay e Malfoy podia ser considerado um homem muito atraente, mas sua personalidade vazia e detestável o transformava num verdadeiro Trasgo. Por outro lado, Harry ainda tentava entender o que Malfoy via de interessante num garoto de cabelos negros que nunca paravam no lugar, dono de um corpo ágil e pequeno que facilmente o confundia com alguém de dezessete ou dezoito anos, um rosto de traços finos e pele pálida na qual se destacavam os olhos verdes que herdara de sua mãe, os quais se viram ocultos por um par de óculos velhos até que Harry fizesse uma cirurgia para miopia aos doze anos. E sinceramente, Harry achava que apenas seus olhos possuíam alguma beleza.

Como esmeraldas.

Olhos que possuíam o brilho de esmeraldas – disseram-lhe uma vez.

E a pessoa que lhe dissera isto estava apenas há alguns passos de seu alcance. Do outro lado da porta que Harry acabava de cruzar sentindo o coração golpear estranhamente em seu peito.

- Olá Tom.

- Harry, que agradável surpresa – uma voz sedutora o cumprimentou.

Tom Marvolo Riddle havia assassinado o pai, a madrasta e o irmão de cinco anos de idade quando tinha apenas dezesseis anos. Desde então, a Scotland Yard estimava que mais de quarenta assassinatos pudessem compor a lista do homem de agora vinte e oito anos. Tom havia sido preso há sete anos e passado cinco destes transitando de presídio em presídio de segurança máxima até ser propriamente diagnosticado e mandado para dois hospitais psiquiátricos diferentes no período de dois anos até chegar ao hospital psiquiátrico de Hogwarts, onde decidiu ficar ao colocar os olhos em Harry pela primeira vez. Irresistíveis olhos cuja estranha anomalia genética resultara em pupilas vermelhas, magnéticas, das quais Harry nunca conseguia desviar o olhar.

Olhos de um demônio.

Olhos de um perigoso assassino.

Olhos que, naquele momento, deleitavam-se com cada detalhe de sua imagem.

- Como foi sua manhã? – Harry perguntou suavemente conseguindo desviar o olhar para o seu prontuário.

Tom conseguia ser tão bonito quanto um demônio de fato. Cabelo negro impecável, limpo e arrumado; um rosto anguloso, masculino, com traços puramente aristocráticos e não obstante, um corpo alto, forte e perfeitamente esculpido escondido pela calça negra de algodão e pela camisa cinza-chumbo, uniforme característico dos pacientes desta ala. Mas o que podia facilmente quitar o alento de qualquer um, na maioria das vezes de medo, ainda que Harry sentisse algo diferente a respeito, eram os olhos escarlates acompanhados do sorriso sedutor no canto dos lábios. Sorriso que sempre se fazia visível na presença de Harry.

- Creio que foi uma manhã instrutiva – respondeu, apontando para o livro que acabara de colocar sobre a mesinha de cabeceira: O Estrangeiro - Albert Camus.

- Interessante leitura.

- Sem dúvida.

- E como você está se sentindo?

- Estranhamente revigorado – sorriu – E melhor agora, na sua presença.

- Tomou seus remédios depois do almoço? – perguntou desconfiado, ignorando propositalmente as últimas palavras de Tom.

- Os antipsicóticos mais fracos sim.

- E os ansiolíticos?

- Esses eu sempre prefiro deixar passar.

- Tom...!

- Não conte para as enfermeiras, está bem? Será o nosso segredo.

Suspirando, Harry afirmou:

- Você é impossível.

- Eu sei – disse o maior, sorrindo com malícia.

Fazendo uma breve anotação na ficha de Tom para que o comportamento deste fosse observado sem o uso dos ansiolíticos, Harry não viu, mas sentiu o intenso olhar daquele homem saboreando cada um de seus movimentos. E inevitavelmente, lembrou-se de quatro semanas atrás, quando seus olhos se encontraram pela primeira vez.

(Flashback)

Harry esperava pacientemente na entrada da ala Slytherin com Remus Lupin, médico responsável pelas áreas Gryffindor e Slytherin e pelo desempenho dos residentes, que respondiam diretamente a ele. Era um homem bondoso e educado, melhor amigo de seu padrinho e de seus falecidos pais, e também o responsável por apresentar o maravilhoso mundo da medicina para Harry. E naquele momento, os dois aguardavam a chegada de um paciente possivelmente problemático.

Tom Marvolo Riddle – Harry lia mais uma vez na ficha – Diagnóstico: transtorno de personalidade narcisista acentuada por delírios de grandeza com traços maníaco-obsessivos e severos surtos psicóticos.

Sem dúvida, problemático.

Enquanto isso, escoltado por cinco policiais fortemente armados, Tom seguia pelos corredores do hospital psiquiátrico com a tranqüilidade de quem sabia que não ficaria ali por muito tempo. Ele fugiria. Ele sempre conseguia fugir. E com uma satisfação maligna, Tom observava todos os médicos, enfermeiros e pacientes olharem para seus olhos e em seguida, com medo, desviarem o olhar.

No entanto, ao pousar seus olhos num jovem médico de brilhantes olhos verdes e rosto pueril, percebeu que este continuava a encará-lo.

Ele não havia desviado o olhar.

E quando foi trancado em seu novo quarto que possuía as mesmas paredes brancas, Tom não havia se afastado da pequena janela na porta e observava fixamente aquelas belas esmeraldas que repousavam num rosto de bochechas rosadas e lábios carnudos, que incitavam a prová-los. E naquele momento, Tom havia decidido ficar. Ele havia decidido provar aqueles lábios, aquele corpo pequeno e mergulhar naquele irresistível olhar.

- Senhor Riddle – Remus e Harry haviam ingressado no quarto – Seja bem vindo ao Hospital Psiquiátrico de Hogwarts.

Tom o ignorou.

Seus olhos fixados em Harry.

- Sou o doutor Lupin e este ao meu lado é o doutor Potter...

- Potter? – Tom interrompeu, sem desviar o olhar.

- Harry Potter – Harry se apresentou, talvez um pouco rápido demais, desejando que nenhum dos dois notasse a cor vermelha que se espalhava por suas bochechas. Tom Riddle era bonito. Muito bonito.

E fascinante.

Estranhamente fascinante.

- É um prazer conhecê-lo, Harry – saboreando o nome em seus lábios, num movimento repentino, Tom apanhou a mão pequena e a beijou com suavidade.

Harry engasgou, o coração acelerado.

- Senhor Riddle, vou pedir que por gentileza não toque nas outras pessoas aqui sem o devido consentimento das mesmas – disse Remus, o cenho franzido para o novo paciente.

- É claro – sorriu.

E Harry suspirou levemente. Em sua mão ainda conseguia sentir pequenas faíscas de eletricidade.

(Fim do Flashback)

Desde então, Harry descobriu que Tom era um homem inteligente, culto e agradável, que o fazia rir, comentando sobre as experiências que vivera em cada canto do mundo – pulando a parte dos assassinatos –, narrando histórias envolventes ao mesmo tempo em que descrevia cenários e ações com a arrogância própria de sua personalidade narcisista, a qual Harry não conseguia repudiar, pois delineava naturalmente o sorriso malicioso e aqueles olhos escarlates sempre cheios de mistério e cobiça.

E a cada dia, aquele homem perigoso e envolvente demandava mais de sua atenção.

Harry precisava vê-lo.

Todos os dias.

E quando demorava a chegar, um sorriso perigoso dançava nos lábios de Tom, enquanto este se deleitava ao imaginar o dia em que Harry seria unicamente seu.

- Eu me pergunto por que Lupin deixa você passear por uma área tão perigosa sozinho.

- Por que os corredores são filmados, há botões de emergência por todos os lados e dezenas de enfermeiros também circulam por aqui e o mais importante, eu também sou um médico, Tom.

- Um médico tão pequeno e frágil.

Harry corou.

- Alguém poderia facilmente machucá-lo.

- Eu sei me cuidar.

- É mesmo? – Harry não havia percebido que Tom se aproximara de repente e agora, engolindo em seco, via-se encurralado pelos braços longos e fortes numa das paredes – E o que você poderia fazer se eu quisesse machucá-lo agora?

- Você quer me machucar? – perguntou simplesmente.

- Não.

- Por quê?

- Porque eu não faço mal ao que é meu.

Harry sentiu o ar faltar em seus pulmões. E desviando o olhar, murmurou:

- Pessoas não são objetos, Tom. Você não pode me possuir.

- É um desafio?

- N-Não!

- Que pena – sussurrou provocante, aproximando seus lábios da orelha de Harry – Eu poderia provar o contrário.

- Você pode se afastar, por favor?

- Posso.

- Você vai?

- Não.

- Seja razoável, Tom – suspirou, o coração ainda acelerado em seu peito – se algum enfermeiro passar, você estará em apuros.

- Eu gosto de viver perigosamente.

- Algo me diz que sim – burlou-se o menor – mais de quarenta assassinatos talvez.

- Acidentes infelizes – corrigiu, sorrindo. E Harry não sabia por que seu corpo parecia tão ansioso com esta perigosa proximidade.

- Talvez seja melhor voltar a lhe dar os ansiolíticos – ponderou, desejando afastar-se da intensidade daquele olhar.

- Você pode tentar, mas eu particularmente prefiro gastar o meu tempo com você, não dormindo, ou caindo de sono por aí.

- Eles ajudariam a acalmá-lo.

- Eu estou calmo – sorriu, pressionando seu corpo no menor, o hálito quente arrepiando os pelos da nuca de Harry – Mas você parece um pouco nervoso, desconfortável, gostaria de conversar sobre isso?

Sádico.

Demônio.

Bastardo.

Os adjetivos percorriam a mente de Harry na mesma velocidade em que o sangue corria em suas veias. E as palavras ouvidas na primeira aula da faculdade de medicina ecoavam em sua mente:

"Nunca se envolvam com um paciente".

"Nunca se deixem dominar por seus pacientes".

"Nunca percam o controle na frente de seus pacientes".

Mas as palavras se desvaneceram no momento em que dedos longos e frios acariciaram sua barriga por baixo da camisa pólo branca.

- Tom... – suspirou – Pare.

- Implore.

-...

- Implore Harry – provocou, os lábios apenas roçando o pescoço alvo e convidativo.

- Por favor...

- Você é adorável – afirmou, afastando-se em seguida.

- E-Eu preciso ir.

Harry saiu praticamente correndo do quarto de Tom e seguiu pelos corredores que conectavam Slytherin e Gryffindor sem olhar para trás. Ele mal se lembrava de haver trancado seu perigoso paciente novamente no quarto. Um forte tom avermelhado se espalhava por suas bochechas enquanto caminhava rapidamente, a respiração ofegante, as pernas trêmulas e o sangue correndo loucamente por suas veias. Ele não conseguia entender por que Tom provocava estas reações em seu corpo.

Aquele homem era um assassino.

Perigoso.

Cruel.

Insensível.

Lindo, inteligente, divertido... – lembrava seu inconsciente – E incrivelmente charmoso.

- Droga! – bufou. Ele era seu paciente. Era alguém que precisava de ajuda. Era um maldito psicopata, pelo amor de Deus!

Não. Tom não era um psicopata – lembrou seu inconsciente outra vez – Psicopatas são biologicamente incapazes de terem emoções ou compaixão. Há menos conexões entre o córtex pré-frontal e a amígdala de um psicopata e por esse motivo, psicopatas não podem amar. Tom não era um psicopata. Tom poderia amar. E isso levava um estranho calor ao peito de Harry.

Um calor que Harry precisava ignorar para o bem de sua própria sanidade. Ele não podia deixar que Tom o provocasse desse jeito, que fizesse seu corpo agir desta maneira. Talvez Harry precisasse arrumar um namorado logo. Sim, era isso. Mas no momento, ele só queria voltar para casa.

- Indo embora mais cedo, Harry?

- Sim, você pode avisar ao Remus por mim, Mione? – murmurou, sem conseguir olhar para o rosto de sua melhor amiga.

- Tudo bem. Mas aconteceu alguma coisa? – perguntou perspicaz.

- Não, só estou um pouco cansado, vejo você amanhã na aula.

- Qualquer coisa me ligue.

- Pode deixar – dando um beijo estalado na bochecha da jovem médica de cabelos castanhos, Harry se afastou, seguindo rapidamente para a saída do hospital. Ele sequer percebeu que a ficha de Tom Riddle ainda se encontrava em suas mãos.

Mas Hermione havia percebido.

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Harry dirigia seu novíssimo Mini Cooper preto a toda velocidade pelas ruas de Londres, agradecendo silenciosamente pelo presente de formatura adiantado de seu padrinho, pois hoje não agüentaria ficar nas proximidades do hospital nem mesmo para esperar pelo ônibus. Em tempo recorde e talvez com algumas multas acumuladas na carteira, chegou ao número doze de Grimmauld Place e após estacionar ao lado da BMW 760Li de Sirius, subiu pelos degraus de pedra polida à enorme e bonita casa na qual vivia com seu padrinho desde os seis anos de idade, após a morte de seus pais num trágico acidente de carro.

- Chegou mais cedo, campeão?

- Sim – sorriu, o estranho nervosismo se dissipando aos poucos – E você, Sirius, por que não está trabalhando?

- Conseguimos encerrar um caso particularmente difícil hoje, então vou deixar para me estressar com o próximo só amanhã.

- Mas que maravilhoso exemplo do capitão de operações da Scotland Yard – provocou.

O bonito homem de quarenta e poucos anos, cabelos ondulados negros, olhos azuis e sorriso jovial era seu padrinho, Sirius Black, capitão de operações da famosa polícia metropolitana de Londres e herdeiro de uma grande fortuna. Por esse motivo, o trabalho de Sirius era uma paixão, não um meio de sustento. Ele sempre se dedicava ao máximo para colocar criminosos perigosos na cadeia e fora colega de seu pai nesta mesma profissão quando os dois haviam deixado o colégio e, idealistas, cada um com a fortuna herdada de seus pais, prometeram limpar as ruas de Londres para as gerações futuras. E ainda hoje Sirius não se conformava com a morte de James e Lily, mas cuidava de Harry com todo o amor, como se fosse seu próprio filho.

- Deixe de tagarelar e vá fazer o jantar, moleque – brincou – Estou morrendo de fome.

- E quando você não está?

Uma almofada em seu rosto foi o que Harry recebeu como resposta e rindo divertido, seguiu para a cozinha, depois de deixar sua mochila com Sirius no sofá da sala.

Cozinhar era uma terapia para Harry, algo que aprendera desde cedo para sobreviver longe da comida congelada que seu padrinho insistia em comprar, pois Sirius sempre fora um completo desastre na cozinha. E naquele momento, enquanto cortava os legumes para fazê-los dourados na manteiga, Harry via todas as suas preocupações se dissiparem pouco a pouco e um par de penetrantes olhos escarlates se esconderem no fundo de sua mente.

Depois de retirar a carne assada fatiada do formo, colocar os legumes prontos num recipiente de vidro e o pudim Yorkshire em cima da mesa, Harry pôs a cabeça para fora da cozinha e chamou seu padrinho:

- A comida está pronta! – Em seguida, retirou a jarra de suco de maçã da geladeira e a colocou sobre a mesa.

Mas no momento em que Sirius entrou na cozinha, a cor fugiu de seu rosto. Nas mãos de seu padrinho se encontrava a ficha médica de Tom.

- Você mexeu nas minhas coisas? – grunhiu irritado.

- Não, Harry, sua mochila estava aberta e eu acabei vendo a foto desse cara no papel e fiquei preocupado – respondeu simplesmente – Então Riddle foi internado no seu hospital?

- Não é meu hospital.

- Esse homem não é doente mental – bufou, ignorando o muxoxo de Harry – É apenas um maldito assassino de sangue frio.

O estômago de Harry se contorceu.

- Ele matou mais de quarenta pessoas, o desgraçado. Ficamos na cola dele por anos.

- Ele foi diagnosticado com sérios problemas... – murmurou, a voz sumindo a cada palavra.

- Bobagens, é apenas uma desculpa para que ele não precise pagar por seus atos. Não sei por que aboliram a pena de morte nesse país.

- Não!

Diante da repentina exclamação, Sirius o encarou com surpresa.

- Quero dizer... Er... Isso é uma afronta aos direitos humanos. Pessoas como ele precisam de ajuda, só isso.

- Bem, seja como for, tome cuidado.

- Eu sempre tomo cuidado – revirou os olhos. Ok. Talvez essa parte fosse mentira – E Remus também está lá cuidando de mim.

- Ótimo, vou falar para o Moony não tirar os olhos de você.

- Oh, céus...

Com um pequeno sorriso, Harry e Sirius começaram a se servir. De repente, porém, o mais velho pareceu se lembrar de algo, sua expressão se tornando entristecida:

- E minha prima, como ela está?

- Não pude ver Bella hoje – murmurou Harry, também sentindo o coração apertar. Droga, maldito Tom, por culpa dele Harry não havia conseguido visitar outra paciente da ala Slytherin: Bellatrix Lestrange, prima de Sirius.

- Espero que ela esteja melhorando.

- Ela está sim. Infelizmente, esquizofrenia não tem cura, mas seus sintomas estão sendo bem administrados e não houveram mais surtos psicóticos.

- Que bom.

- Como está a comida? – perguntou, numa tentativa de aliviar um pouco o clima, algo que funcionou, pois Sirius abriu um grande sorriso em seguida:

- Está uma delícia como sempre!

Horas mais tarde, depois de arrumar a louça e assistir um pouco de TV com Sirius, Harry subiu as escadas para o seu quarto, tomou um banho e colocou uma calça de moletom azul marinho e uma camiseta vermelha na qual se destacava o símbolo de sua faculdade em Hogwarts, um leão com uma longa juba dourada. Depois de colocar o BlackBerry e o Ipod para carregar, ligou o notebook em sua escrivaninha e foi conferir os e-mails. E para seu completo terror, deparou-se com o anúncio de uma prova oral no primeiro horário de amanhã com a Profa. Dolores Umbridge – vulgo Profa. Cara-de-Sapo – para toda a turma de neurociência B. Era uma das últimas matérias que ele precisava fechar. E não havia estudado nada. E a maldita velha o odiava. E não conseguia afastar a imagem de sedutores olhos vermelhos de sua cabeça. E... Dane-se a prova amanhã!

Com um suspiro resignado, Harry fechou o notebook, apagou as luzes e foi para a cama. Pelo jeito, Sirius já havia subido também, pois agora Harry conseguia ouvir a TV no quarto ao lado do seu narrando algum tipo de jogo, mas sem capturar realmente sua atenção. Naquele momento, sua mente traiçoeira evocava apenas a imagem de um par de olhos escarlates que lhe quitavam o alento.

E olhando para o relógio, Harry suspirou.

00h40min.

Ele precisava dormir.

00h45min.

Ele precisava tirar Tom Riddle da sua cabeça.

Talvez devesse aceitar o convite de Draco para sair... Não. Ele preferia beijar a Cara-de-Sapo Umbridge ao invés disso.

Eca...

00h55min.

Tom era seu paciente, um homem problemático e perigoso com o qual Harry não poderia ter qualquer esperança de futuro. Era um homem sedutor, sim, inteligente e com plena capacidade cerebral para desenvolver sentimentos como amor e compaixão dentro de si, mas Tom havia escolhido o oposto, assassinando mais de quarenta pessoas ao longo de sua vida.

Harry não devia se envolver com esse tipo de pessoa.

Era um risco para sua carreira, seu futuro e sua própria vida.

O máximo que poderia fazer seria ajudá-lo, como médico, e apenas isso.

Pronto.

Estava decidido.

A partir de agora, Harry se esqueceria dos efeitos magnéticos daquele olhar e Tom Riddle seria apenas mais um paciente que precisava de ajuda.

01h20min.

Droga!

Ele precisava dormir.

Maldita Umbridge Cara-de-Sapo... Maldito Tom e seu sorriso sedutor...

Naquela noite, Harry acabou mergulhando num sonho agitado com um homem atraente de cabelos negros e olhos vermelhos, livros de neurociência e sapos de vestidos cor de rosa coaxando sobre os perigos de se envolver com demônios libidinosos em quartos inteiramente brancos.

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Enquanto isso, olhando para o teto de um desses quartos inteiramente brancos, Tom Riddle deixava um sorriso lento se desenhar em seus lábios, recostado confortavelmente em sua cama e se lembrando do pequeno médico assustado implorando para que ele parasse. Tão adorável. Harry era a única pessoa pela qual Tom não havia sentido imediato desprezo, a única pessoa que seu cérebro não classificara como um verme inútil, como todos os outros à sua volta. Não. Harry era especial. Harry não havia desviado o olhar ao encará-lo pela primeira vez, não havia mostrado medo, não havia se mostrado inferior. Porque Harry não era inferior, ao contrário de todos os outros, ao contrário dos idiotas patéticos que Tom havia matado.

Harry era diferente desses humanos patéticos.

Harry era um pequeno anjo.

E era seu.

- Ah, meu pequeno anjo, por que você não se entrega logo aos desejos do seu coração? – suspirou, perguntando-se em voz alta.

Era divertido ver Harry resistir.

Mas isto acabaria logo.

- Logo você se dará conta de que não pode viver sem mim – afirmou, os olhos fixados nas paredes brancas e acolchoadas – Da mesma forma que eu não posso mais viver sem você.

Tom nunca havia se interessado por ninguém. Eram todos inúteis, inferiores, indignos de sua atenção. Eram humanos medíocres que sequer conseguiam olhar para os seus olhos sem tremerem de medo. Patéticos! Todos patéticos! Ele não se importava com as palavras dos terapeutas afirmando que seu superego exigia sempre a perfeição, o ideal, e que as pessoas normais não poderiam corresponder a essas expectativas. Pois ele sabia que essas pessoas eram apenas humanos imperfeitos, desprezíveis e descartáveis.

Mas Harry...

Ah, Harry havia olhado fixamente em seus olhos.

...E não desviara o olhar. O fascino brilhando no fundo daquelas belas esmeraldas, não o medo, mas apenas um profundo interesse e uma curiosidade quase infantil. Adorável.

Harry era diferente desses humanos patéticos.

Harry era como ele.

Harry era dele.

E Tom não o deixaria escapar.

E jamais deixaria que Harry se machucasse.

Porque Tom sempre cuidava muito bem do que era seu.

Continua...

Próximo Capítulo:

- Não toque nele – Tom sibilou perigosamente. E imediatamente Antonin Dolohov, outro paciente da ala Slytherin, encolheu-se.

- Está tudo bem, Tom, fique calmo.

- Enfermeira, precisamos de uma injeção tranqüilizante aqui – disse Malfoy, olhando maliciosamente para Harry, que o fuzilou com o olhar, colocando-se protetoramente à frente de Tom:

- Não, está tudo sob controle.

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N/A: Olá, pessoas adoráveis que vieram conferir minha nova história! Espero que vocês apreciem esta nova temática e o desenrolar da relação entre o Harry e o Tom. Eu devo confessar que sempre tive vontade de escrever uma história que abordasse transtornos mentais e se passasse num hospital psiquiátrico, deve ser porque sou meio frustrada de não ter feito psiquiatria... – suspira, recostada num divã branco, enquanto rememora os traumas do passado –... Mas para isso eu precisaria fazer medicina e cá entre nós, eu não passaria de jeito nenhum, ou teria que estudar bastante, e lidar com biologia, química e essas coisas que nunca foram o meu forte. Enfim, prefiro me realizar escrevendo esta história para vocês!

Por isso, eu gostaria de saber o que vocês, meus queridos leitores, estão achando? Gostaram da proposta inicial? Querem mais momento família entre o Harry e o Sirius? – diga-se de passagem, eu adorei escrever essa parte – O Harry deve arrumar um namorado para tentar desviar sua atenção do Tom? E como o nosso amado Lord com transtorno narcisista reagiria a isso?

Essas e muitas outras perguntas vocês poderão conferir no decorrer da história, se e somente se vocês deixarem suas REVIEWS dizendo o que estão achando de tudo isso!

Por favor, façam esta humilde autora feliz deixando suas REVIEWS! Dicas, elogios, sugestões e críticas construtivas são sempre bem-vindas!

Um grande beijo!
E não percam o próximo capítulo de Destinos Entrelaçados na próxima semana!