The Promises and The Consequences
A love struck Romeo, sings the streets a serenade,
Laying everybody low, with a love song that he made
Finds a street light, steps out of the shade
Says something like, 'You and me babe, how about it?'
O jornal divulgou uma nota sobre o casamento uma semana antes da cerimônia. Jon observou Arya lendo e depois amassando o jornal para jogar no lixo. Não precisava ser um gênio para imaginar o que estava acontecendo com ela, mesmo assim a sensação de impotência era forte de mais para ser ignorada.
O anel de rubi permanecia no dedo dela. Por várias vezes ele perguntou se ela queria desistir e a resposta era sempre não. Robb foi embora de Londres sem se despedir e sem dar uma segunda chance ao diálogo. Era isso o que a estava matando por dentro e Jon não podia fazer nada para mudar aquilo.
Aemon estava tão satisfeito com a notícia quanto Robb, mas ao menos o velho estava ajudando com os detalhes do casamento. Os acionistas estavam ansiosos, mas o valor das ações permanecia estável, o que os deixou mais confiantes. Robb jogava limpo afinal e tal qual Eddard Star não tinha qualquer prazer com a desgraça alheia.
Mesmo que aquele fosse um esforço inútil, Jon insistiu para que todos os Stark fossem convidados para o casamento e até então nenhum dos primos havia se dado ao trabalho de responder. Arya estaria sozinha quando eles fizessem os votos e trocassem as alianças. Nenhum dos irmãos ergueria o copo para brindar os noivos, ou faria o esforço de desejar a ela felicidades.
Um casamento discreto apenas no civil foi a saída que ele encontrou para que a falta da família não fosse tão sentida por ela, mas Jon não era cego. O vestido de noiva estava pendurado dentro do guarda-roupas do quarto que ela ocupava quando se mudou para Londres e por mais de uma vez ele a viu sentada sobre a cama, encarando a roupa como se encarasse a forca.
Ele não duvidava dos sentimentos dela, nem de que aquilo que tinham era intenso e precioso, mas sabia que Arya nunca teve de enfrentar aquele tipo de reprovação antes. Ela insistia em dizer que tinha certeza da escolha que havia feito e ele só podia admirá-la ainda mais pela coragem de jogar tudo pro alto e ficar com ele.
Ao menos ele contava com algum apoio. Daenerys Targeryen, sua tia, estava maravilhada com a ideia de um casamento, enquanto o irmão dele, Aegon, pareceu feliz em aceitar o convite. Apesar de não serem exatamente próximos, nunca haviam se desentendido e isso no momento era tudo o que Jon procurava num padrinho de casamento.
Já fazia um ano...
Foi um pouco chocante se dar conta disso quando marcaram a data do casamento. Era um tempo consideravelmente curto para um namoro e ainda mais curto para pensar em coisas tão definitivas.
Era o fim do período de luto, mas Arya ainda tinha seus momentos de fragilidade e Jon notou que eles estavam se tornando mais frequentes. Chegou a pensar em cancelar tudo e quando disse isso a Aemon tudo o que o tio avô fez foi repreendê-lo por aquilo.
Casar com Arya não faria os Stark felizes, mas não casar seria uma ofensa maior ainda agora que o casamento havia sido anunciado. Aemon tinha razão e logo Jon deixou a ideia de lado para manter o plano. Entretanto, ele sentia que não era o bastante e que jamais seria a menos que ela tivesse algum apoio quando fosse assinar o maldito registro civil.
Foi quando ele perdeu a noção do bom senso e arriscou uma ligação internacional.
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
Juliet says, 'Hey it's Romeo, you nearly gave me a heartattack'
He's underneath the window, she's singing, 'Hey now, my boyfriend's back
You shouldn't come around here, singing up to people like that'
Anyway, what you gonna do about it?
Robb podia ser o mais velho em idade, mas às vezes Brandon Stark custava a entender aquele temperamento irredutível que o irmão tinha. Não era como se o mundo tivesse acabado e depois de uma longa pesquisa na internet, Bran havia se convencido de que na Inglaterra o casamento era perfeitamente legal e aceitável.
Não seria fácil se acostumar com a ideia, mas também não era a coisa mais absurda. Se ingleses conseguiam, então ele também poderia aceitar pelo bem da irmã. Pelo que ele se lembrava do primo, Jon era uma ótima pessoa, com uma vida segura e estruturada, que sempre gostou de Arya e a tratava com respeito, o que era muito mais do que ele poderia dizer de alguns namorados de Sansa.
Robb não queria tocar no assunto e Jayne se via as voltas com um bebê de peito e um marido que estava beirando uma regressão aos sete anos de idade. Era ridículo e Bran havia tentando alertá-lo pra isso algumas vezes, mas Robb conseguia ser tão cego quanto uma toupeira.
Rickon não entendia o que estava acontecendo, entendia menos ainda quando perguntava sobre Arya e Robb saia do ambiente para não ter que falar a respeito. Quando o convite chegou, o Stark mais velho se recusou a abrir e Jayne encarava o envelope e o marido sem saber o que fazer com qualquer um deles.
Sansa ligou no mesmo dia para saber o que significava aquilo e Bran tentou informá-la do que estava acontecendo da melhor maneira possível. A irmã repetiu as mesmas perguntas várias vezes, como se fosse um disco arranhado, até que ele perdeu a paciência. Se ele já não aguentava o falatório de Sansa e Robb, só podia lamentar ao imaginar o que Arya devia estar passando sozinha.
Os dias estavam passando rápido e ele não sabia dizer qual era a decisão de Robb quanto aquilo. Particularmente, ele achava que ao menos um dos irmãos deveria comparecer, mas não se sentiu a vontade para falar sobre isso.
Rickon passou a perguntar muito sobre a Inglaterra naqueles dias. Bran desconfiava de que ele não era o único preocupado com Arya e como ela estaria lidando com tudo. Ele chegou a olhar o preço de algumas passagens, mas se uma viagem daquelas era cansativa para alguém com pelo uso de sua capacidade física, para um paraplégico era muito pior. Ele não teria condições de ir sozinho.
Era algo em torno das cinco horas da tarde quando o telefone tocou. Bran ouviu Robb resmungar ao reconhecer o número pelo identificador de chamadas e disse para Jayne não atender. Rickard estava chorando por causa do barulho. Rickon o encarava ansioso.
- Que se dane o Robb! – Bran esbravejou atendendo o telefone por fim – Alô.
- Por favor, eu gostaria de falar com o senhor Stark. – a voz grave disse do outro lado da linha – É importante.
- Eu acho que Robb não está muito interessado naquilo que você tem a dizer. – Bran respondeu – Mas se quiser falar comigo eu estou à disposição, Jon.
- Bran? É você? Desculpe, eu mal reconheci sua voz. – Jon disse apologético do outro lado.
- Sou eu sim. – Bran se apressou em dizer – Como vão as coisas por ai?
- Tumultuadas. – o primo respondeu honesto – Acho que você já deve saber, ao menos por alto, do que se trata.
- Posso imaginar sim. – Bran disse – Como Arya está?
- Irritada, ansiosa, confusa, magoada...Como mais uma mulher pode ficar quando vai se casar e o que sobrou da família se recusa até mesmo a responder o convite? – Jon disse num tom severo.
- Eu sinto muito. – Bran encolheu os ombros involuntariamente – É sobre isso o que quer falar com Robb?
- O que eu quero é algum de vocês aqui. Eu não me importo mais com o que pensam ou não a respeito do meu relacionamento com Arya, mas me importo com ela. – Jon disse num tom firme – Não precisam me dar a benção de vocês, mas ao menos não a abandonem quando ela precisa tanto de apoio.
- Robb não quer nem falar no assunto. Jayne está tentando ser diplomática, mas está difícil. – Bran respondeu.
- E quanto à Sansa? – Jon insistiu.
- Não sei se Sansa conseguiu raciocinar a respeito até agora. – Bran passou a mão pelo rosto sentindo-se angustiado – Arya sabe que está ligando?
- É claro que não. Eu ainda estou no escritório. – ele respondeu severo – Estou tentando desesperadamente fazer algum de vocês entender que isso não tem nada há ver com perversão ou simples prazer em ver a desgraça alheia.
- Eu gostaria de ajudar, Jon. – Bran respondeu sincero sabendo o quanto Arya ficaria aborrecida se soubesse que Jon estava implorando por um pouco de compreensão.
- Então faça alguma coisa pela sua irmã. – Jon falou angustiado – Ela precisa de vocês.
Bran ficou em silêncio por algum tempo, tentando ponderar o que devia ou não fazer. Robb estava resmungando pela casa inteira. Jayne estava enfiada na cozinha com Rickard no braço, enquanto Rickon estava de pé ao lado de Bran, com olhos do tamanho de dois pires azuis.
- Dane-se Robb e essa babaquice toda. – Bran resmungou ao telefone – Eu vou ligar pra Sansa e tentar convencê-la, se ela não quiser ir, então vou sozinho. É a minha irmã e eu não a vejo já faz um ano, se Robb não pode respeitar isso então que vá pro diabo que o carregue.
- Posso mandar as passagens se quiser. – Jon disse imediatamente.
- Não se preocupe com isso. – Bran respondeu - Vou tentar embarcar o mais rápido possível. Mando notícias assim que tiver o número do voo.
- Você não faz ideia do quanto isso é importante pra ela. – Jon parecia aliviado do outro lado da linha.
- É importante pra você também. – Bran revidou – Eu não me importo se você é filho de uma tia que eu nem conheci, ou da dona da cafeteria. A única coisa que eu me importo é que você trate minha irmã com respeito, do contrário eu vou atropelar você com a minha cadeira de rodas. – ele ouviu Jon abafar o riso do outro lado – Se ela está feliz com você eu não tenho o direito de me colocar como um obstáculo.
- Obrigado, Bran. – Jon disse mais uma vez.
- Não estou te fazendo um favor, estou indo pro casamento da minha irmã. Mesmo assim, não há de que. Espere notícias minhas. – Bran disse desligando o telefone em seguida.
Robb estava atrás dele no minuto seguinte, com cara de quem havia engolido uma caixa de marimbondos. Bran tocou a cadeira de rodas pra frente, sem dar grande importância à cara que o irmão mais velho estava fazendo.
- Você não vai. – Robb disse sério.
- Eu vou sim. – Bran disse determinado – Não é porque você é meu responsável legal que você tem o poder de mudar minha opinião. Você está sendo um imbecil porque acha que Jon traiu sua confiança. Adivinhe só, eu não ligo a mínima pra isso. Tudo o que eu sei é que você está punindo os dois e se punindo por algo que ninguém tem realmente como controlar. Eles se apaixonaram e essas coisas não acontecem da noite pro dia, então vê se supera isso, Robb.
- Ele é nosso primo e ela nossa irmã! – por algum motivo Robb achava que essa era toda argumentação da qual precisava, mas Bran ignorou aquilo solenemente.
- Que bom que ainda se lembra de que Arya é nossa irmã. É justamente por isso que eu estou indo. – Bran disse sério – Ela fez uma escolha, Robb. Não ache que é uma escolha fácil. Vamos supor que daqui dois ou três anos você descubra que tem um sobrinho, ou sobrinha. Nosso pai gostaria de ver seus netos correndo por aqui, com nós fizemos um dia. Até nossa mãe acabaria gostando. Então pare de pensar só no quão ofendido você está e pense no futuro. Essa casa é a casa dela também.
Bran deixou a sala em direção ao seu quarto, que ficava no primeiro andar, ignorando qualquer coisa que Robb ainda tivesse a dizer. Ele podia ouvir os passos de Rickon correndo logo atrás dele, até que os dois estivessem dentro do quarto que dividiam.
Ele lançou um olhar curioso ao irmão mais novo, enquanto o menino corria até o armário e pegava algumas roupas e jogava em cima da cama.
- O que está fazendo? – Bran perguntou enquanto Rickon continuava revirando o quarto.
- Arrumando as malas. – ele disse – Está fazendo frio em Londres, não está?
- Rickon...
- É minha irmã também. – o mais novo respondeu antes que Bran pudesse dizer qualquer coisa – Quanto mais Starks melhor, não é? E Arya gosta mais de mim do que da Sansa.
Bran não teve tempo de responder. Alguém bateu à porta do quarto e os dois se viraram para encarar Jayne, que havia acabado de entrar. A cunhada deu de ombros e encarou os próprios sapatos antes de olhar para os garotos Stark.
- Alguém precisa de ajuda com as malas? – Bran sorriu satisfeito com a oferta da cunhada. Talvez Robb não fosse um caso de todo perdido, afinal.
Juliet, the dice was loaded from the start,
And I bet, then you exploded into my heart,
And I forget, I forget, the movie song
When you gonna realize, it was just that the time was wrong,Juliet?
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
Come up on different streets, they both were streets of shame,
Both dirty, both mean, yes, and the dream was just the same,
And I dreamed your dream for you, and now your dream is real
How can you look at me as if I was just another one of your deals?
Ela gostava de Daenerys. Era fácil gostar de alguém inteligente e bem humorada que tentava ajudá-la de todas as formas, quando Arya não fazia ideia de como planejar um casamento, ou de como se sentir quando o juiz de paz estava para chegar e os convidados se aglomeravam para conseguir um bom lugar para o início da cerimônia.
Era um pequeno salão fechado, decorado com o que havia de melhor. Entre os convidados alguns poucos amigos de Jon, alguns amigos que ela havia feito em Londres ao longo de um ano e o que sobrou da família Targaryen, o que se resumia a Aemon, Daenerys e o marido, Drogo, e Aegon, o irmão de Jon.
Da família dela ninguém estava presente. O tio Edmure e a tia Lysa haviam mandado presentes e ela acreditava que eram meras cortesias de parentes com os quais ela nunca teve contato. Daenerys estava desempenhando o papel de sua melhor amiga, irmã mais velha e madrinha improvisada, enquanto ela sentia o estômago revirar e os olhos lacrimejarem.
Ela se olhava no espelho e custava a acreditar na imagem refletida. Vestido branco de alta costura, casquete sobre a cabeça e maquiagem profissional que ela esperava ser aprova do dilúvio de lágrimas que ela estava tentando conter. Suas mãos tremiam enquanto Arya tentava segurar o maldito buquê de rosas vermelhas. O anel reluzia em seu dedo anular. Aquilo era uma loucura sem tamanho, mas agora era tarde de mais para sair correndo e dizer que havia mudado de ideia.
Arya fechou os olhos e tentou pensar em Jon. Em como ele estaria tão nervoso quanto ela do lado de fora e em como ele havia sonhado com aquele momento. Tentou se lembrar daquele primeiro beijo no quarto vazio. Da primeira vez que fizeram amor e de como ele a fazia estremecer por dentro. Não conseguia negar que o amava, mas entrar no salão, dizer o sim e romper de vez com sua infância, com sua família e toda sua noção anterior de segurança era mais do que ela conseguia lidar.
Queria que seu pai estivesse ali, sorrindo para ela com lágrimas nos olhos por ter de conduzir sua filha mais nova até o altar. Ou que a mãe estivesse ao seu lado, ajeitando a casquete sobre sua cabeça e se assegurando de que a maquiagem não borrasse. Queria Bran e Rickon tentando fazê-la rir e Robb lhe oferecendo um gole de uísque para acalmar os nervos. Queria até mesmo Sansa por perto para elogiar o vestido de noiva pelo corte e reprová-lo por não ser um vestido longo e tradicional, como o de uma princesa.
Pensar em todos eles fazia seu coração apertar e o nó na garganta se apertava ainda mais. Talvez se ela desistisse e voltasse para a América por uns meses, resolvesse o problema com sua família e...Não, isso seria uma crueldade com Jon e seria como debochar de todo esforço que ele estava fazendo para vê-la feliz.
Arya estava feliz. Ela ia se casar com o cara dos seus sonhos. Seu amor de infância, seu melhor amigo, seu príncipe encantado e mesmo assim...Ninguém nunca disse que a felicidade dela seria completa.
Ela não deu muita importância quando alguém abriu a porta do quarto onde ela estava se preparando. Assumiu que era a organizadora indo anunciar que era hora dela entrar. Arya respirou fundo e apertou o buque em suas mãos com mais força.
- Você está linda. – uma voz feminina falou atrás dela e era tão familiar que Arya chegou a pensar se era um sonho. Ela abriu os olhos e viu a figura da moça esguia e elegante, com cabelos acobreados e lindos olhos azuis que a encaravam com fascínio.
- Sansa? – ela perdeu o fôlego ao se dar conta – O que...Céus! O que está fazendo aqui?
- É o seu casamento. O que acha que eu estou fazendo aqui se não ajudando minha irmã mais nova a não ter uma crise? Que tipo de irmã acha que eu sou? – ela disse indo até a noiva e secando a lágrima que ameaçava escorrer pelo canto do olho de Arya.
- Mais alguém está aqui? – Arya perguntou sem saber mais o que poderia fazer.
- Bem, eu estou aqui. Bran e Rickon estão lá fora esperando você. Foi tudo meio de última hora, mas você vai ter que se contentar em entra no salão conduzida por um dos dois. – Sansan se certificou de que a casquete estava no lugar certo antes de encarar Arya nos olhos – Robb se recusou a vir, nem mesmo fala no assunto, mas Jayne mandou lembranças e lhe desejou muitas felicidades.
- Vocês não estão furiosos comigo, ou coisa do tipo? – Arya questionou atordoada, enquanto Sansa dava dois passos para trás e ponderava o que deveria dizer.
- Não dá pra dizer que não foi chocante receber a notícia. – Sansa disse honesta – Eu fiquei atordoada por dias quando soube. E sinceramente...Casar é um passo gigantesco para alguém com uma vida estruturada, para uma garota de dezoito anos é...É quase inconcebível pensar. É claro que ficamos preocupados e confusos com toda informação, mas essa é você. Vou me surpreender no dia que decidir seguir o protocolo. Você não está grávida, está? Por que se estiver eu vou ficar muito brava com você por sua irresponsabilidade, mocinha!
- Não! – Arya se apressou em dizer – É claro que não! E nem pretendo ficar tão cedo, se é isso o que te preocupa.
- Ótimo. – Sansa sorriu para ela brevemente – Me diga uma coisa. De todas as pessoas do mundo, por que ele? Por que Jon?
Arya recuou alguns passos e se sentou sobre a cama coberta de presentes e apetrechos de maquiagem. Ela encarou a irmã e mediu suas próprias palavras por um momento.
- Lembra de quando você me contava histórias de princesa e eu dizia que odiava? – ela testou.
- É claro que sim. – Sansa respondeu.
- Eu odiava porque elas me faziam pensar nele. – Arya respondeu encolhendo os ombros – Eu nunca gostei de ser uma menina porque achava que estava perdendo a maior parte da diversão até ouvir essas histórias. Eu queria crescer e ser uma garota que Jon pudesse admirar. Queria que ele fosse meu príncipe encantado, mas eu sabia que aquilo era um sonho bobo. Jon era mais velho do que eu, era meu primo pra piorar as coisas, mas ele nunca deixou de ser o cavaleiro de armadura nas minhas fantasias bobas, mesmo que eu preferisse morrer negando na época. Eu não escolhi isso, Sansa. Eu não escolhi me apaixonar desse jeito pela pessoa mais improvável do mundo, mas ele nunca me deu motivos pra me arrepender.
- Então você tem certeza de que quer mesmo se casar com ele? – Sansa perguntou se sentando ao lado da irmã. Arya balançou a cabeça negativamente.
- Eu não tenho certeza de nada. Provavelmente essa é a maior burrice que eu já fiz na vida, mas eu sei que o homem que está esperando por mim do lado de fora é o melhor homem do mundo e que eu o amo. – Arya respondeu firme – Eu estou dando a ele uma garantia de que ninguém vai me separar dele outra vez, porque é o mínimo que eu posso fazer pra retribuir tudo o que ele fez e ainda faz por mim. Isso vai dar certo? Eu não faço ideia. Espero que sim.
- Você sempre foi a mais corajosa, não é mesmo? – Sansa disse acariciando o rosto da irmã – É o seu casamento, não poderia ser menos dramático do que isso. O papai sonhava com um dia assim pra nós duas, uma pena que ele não esteja aqui agora.
- O que a mamãe diria? – Arya perguntou por fim.
- Que uma moça de família não se casaria com um vestido curto. Que Jon é um crápula e uma víbora traiçoeira que roubou a menininha dela, mas no fim das contas ela acabaria chorando de emoção durante a cerimônia. – Sansa respondeu.
- Conto com você pra fazer tudo isso. – Arya disse rindo – Obrigada por ter vindo. Obrigada por tudo. – Sansa a abraçou forte em resposta.
- Agradeça ao Jon por ter tido a coragem de ligar e botar um pouco de bom senso em todos nós. E agradeça ao Bran também por ser uma pessoa tão sensível. – Sansa respondeu – Agora vamos. Tem um noivo a ponto de ter um ataque histérico do lado de fora. Não podemos matar o pobre Jon do coração logo hoje.
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
When you can fall for chains of silver, you can fall for chains of gold
You can fall for pretty strangers and the promises they hold
You promised me everything, you promised me thick and thin, yeah
Now you just say, 'Oh Romeo, yeah, you know I used to have ascene with him'
Aegon já havia lhe oferecido pelo menos duas doses de uísque pra controlar a ansiedade, mas não estava funcionando. Os convidados já estavam todos presentes. Aemon o encarava com seu semblante solene, sentado na primeira fila, ao lado de Sam. Sansa estava falando com Arya naquele momento.
Ele achou que a presença de três dos irmãos dela ajudaria naquele momento, mas estava enganado. Jon estava certo de que quando perguntassem a ela se o aceitava como seu legitimo esposo Arya teria motivos de sobra pra dizer não, pegar suas coisas e voltar para a América.
Robb se recusou a aparecer, mas ao menos Jayne foi elegante e atenciosa o bastante para mandar um presente em nome dos dois e uma carta escrita de próprio punho desejando aos noivos felicidades.
Bran apareceu alguns minutos depois, arrastando sua cadeira de rodas para junto de Drogo, o que visualmente era algo incomodo. O marido de Dany era um verdadeiro troglodita de dois metros de altura. Bran sorriu em direção a ele numa tentativa de encorajá-lo. Jon imaginou que deveria considerar aquilo como um bom sinal.
- É um alívio saber que nenhum noivo nunca morreu de ansiedade no dia do casamento. – Aegon disse rindo ao lado dele – Você devia ter mais confiança nela, sabia?
- Eu tenho. Só não posso fazer de conta que isso aqui não é chocante de mais para se lidar aos dezoito anos de idade. – Jon disse rapidamente.
- Sua mãe não era mais velha do que isso quando aceitou. – Aegon insistiu – E nosso pai já tinha sido casado antes. Relaxe, Jon. Garotas Stark não fogem da briga, elas pulam de cabeça, o que me faz pensar se aquela sua outra prima, Sansa, está desacompanhada.
- Você está mesmo interessado em abrir a temporada de caça aos Targaryen? Robb já tem motivos de sobra pra querer a minha cabeça, se eu fosse você passaria longe de Sansa. – Jon se apressou em dizer.
- Foi só uma ideia. – Aegon deu de ombros – Nem você pode negar que a mulher é um espetáculo. Eu não me importaria de fazê-la se divertir por algumas horas, mas acho que você escolheu a irmã mais interessante. Ela me parece menos inibida e mais criativa, o que deve ser a razão pela qual você está usando este terno hoje e eu sou meramente o padrinho.
- Você não está ajudando. – Jon disse entre dentes e Aegon riu.
- Brigue comigo depois. Há uma moça de branco no fim do salão e eu acho que ela está de olho em você. – Aegon sorriu no momento em que a música de entrada começou a tocar, anunciando a chegada da noiva – Respire fundo.
Jon olhou diretamente para ela, enquanto todos os convidados ficavam de pé para vê-la caminhar até o pequeno altar. De todos os sonhos improváveis e de todos os desejos egoístas, aquele era um que ele não conseguia se arrepender.
Ela caminhava com passos inseguros, de mãos dadas com Rickon, que fazia questão de se comportar como um perfeito cavalheiro, enquanto conduzia a irmã. O vestido curto combinava com a rebeldia dela, sem parecer vulgar, ou inadequado. A tela da casquete caia sobre seus olhos como um véu, tornando-os misteriosos. A boca era vermelha, combinando com o buque e o anel de noivado. Ela era uma visão, seu sonho favorito, sua musa.
Rickon parou alguns passos antes do altar, esperando para que Jon fosse até ele para receber a noiva. Ele caminhou até eles e cumprimentou o primo mais novo, que sorria orgulhoso de sua participação na cerimônia, enquanto entregava a mão de Arya a ele. Jon beijou a mão dela, antes de conduzi-la até o altar, que não passava de uma mesa enfeitada aonde o juiz de paz havia colocado o livro de registro.
- Você está linda. – ele sussurrou para ela de forma urgente, enquanto o juiz falava sobre a importância do casamento para a sociedade e todas aquelas coisas sentimentais que se espera ouvir em uma cerimônia como aquela.
Foi tudo muito rápido, como se toda ansiedade e todo nervosismo o tivessem anestesiado por meia hora. Tudo o que ele conseguia sentir e registrar era a presença dela ao seu lado. O juiz pediu para que eles fizessem seus votos e trocassem as alianças. Arya repetiu as palavras com mais segurança naqueles três minutos do que havia demonstrado nas últimas três semanas. Ela deslizou o anel pelo dedo dele e sorriu um sorriso enviesado para ele.
Ele fez o mesmo. Disse seus votos, colocou a aliança na mão dela e beijou seus dedos em seguida. Inclinaram-se sobre a mesa para assinar o livro de registro, junto com as testemunhas e então foram declarados marido e mulher pelo oficial.
Ele a beijou sem qualquer pudor e sem qualquer pesar. Arya correspondeu o beijo prontamente, enlaçando o pescoço dele com seus braços. Os convidados aplaudiram, houve uma bagunça generalizada, mas Jon não conseguiu reparar em nada disso. Tudo o que ele queria era aproveitar aquele momento, aquele certeza vã de que seria para sempre. Era uma esperança piegas e inocente, mas a qual ele se agarrava com todo fervor do mundo.
Quando separaram o beijo, Arya estava sorrindo. Quando separaram o beijo, ele teve certeza de que tudo acabaria bem.
Juliet, when we made love you used to cry
You said I love you like the stars above, I'll love you till I die
There's a place for us, you know the movie song
When you gonna realize, it was just that the time was wrong, Juliet?
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
- Tem certeza de que não quer deixar a noite de núpcias pra amanhã? – ela sugeriu enquanto ele arrancava a calça de forma desastrada, desesperado para pular sobre a cama. Arya o encarava divertida, usando nada além do conjunto de lingerie que ele suspeitava ser obra de Daenerys e Sansa. Ele precisava se lembrar de agradecer as duas depois.
- E adiar nossa primeira noite oficial? Nunca! – ele disse conseguindo finalmente jogar as calças bem longe.
Ela o encarou de forma avaliativa por alguns segundos e ele sentiu todo sangue de seu corpo se mover em direção a sua ereção. Aquela seria a noite de núpcias mais vexatória da história e Arya não estava ajudando nem um pouco com aquele sorriso malicioso.
- Você devia usar cueca preta mais vezes. É realmente uma boa visão. – ela provocou.
- Garanto que eu estou tendo uma visão muito melhor daqui. – ele disse encarando-a com desejo puro e simples.
Jon subiu na cama e a beijou com voracidade. Ela tinha gosto de champanhe e torta de chocolate suíço. Arya correspondeu ao beijo imediatamente e em resposta a toda euforia dele, cravou as unhas em seu traseiro, fazendo-o rir entre os lábios dela.
- Pronta pra mim, senhora Targaryen? – ele perguntou rouco junto ao ouvido dela e Arya riu.
- Rezando para que você não acabe apagado em cima de mim depois de todo aquele uísque. Sério, você e Aegon devem ter secado duas garrafas inteiras. – ela disse enquanto Jon beijava seu pescoço, descendo até os seios, ainda encobertos pelo sutiã de renda preta que ela usava.
- Bran também ajudou, mas ele me fez prometer que não diria a ninguém. – ele beijou o vale dos seios dela – Deus do céu, eu amo quem lhe providenciou esse conjunto. – em seguida seus dedos se ocuparam de desabotoar a peça e jogá-la longe – Mas eu amo muito mais os seus peitos.
Ela ria entre um gemido e outro, enquanto ele beijava cada centímetro de sua pele quente e a agarrava por toda parte, como se quisesse mapeá-la com as mãos. Jon a deitou de costas sobre a cama e se colocou entre as pernas dela. Parou de beijá-la para olha-la diretamente nos olhos.
Um ano atrás eles haviam vivido aquela cena. Ele inseguro, perdido entre culpa e medo. Ela sozinha e desesperada por carinho e segurança. Arya o beijou, quebrando sua linha de pensamento ébria. Pedia por atenção e por desejo, por calor e por satisfação.
Aquelas crianças que trocavam presentes secretos e beijos escondidos num quarto vazio não existiam mais. Sobrou apenas uma sombra vaga, um contorno dos sonhos que eles tinham naquela época, que não passavam de esperanças tolas e fantasias sem sentido. Sobrou uma chance a qual se agarraram como se fosse um bote salva vidas.
Aquelas crianças cresceram, assim como aquela paixão platônica que tinham.
A nudez já não era um problema, tão pouco era o tato, ou o paladar que causava sensações confusas toda vez que eles se enroscavam um no outro numa tentativa de consumir aquela paixão de uma só vez. Era a sensação incomum de se sentir parte de outra pessoa e encontrar plenitude.
Ela fechou os olhos com força quando o sentiu dentro de si. Não era algo novo, não era imprevisível, não era a primeira vez, mas era intenso e era avassalador. Jon buscava dentro dela uma parte de si que havia perdido para ela nove anos atrás e em troca recebia uma parcela dela, quente, pulsante, doce e única.
Nunca era a mesma coisa e nunca era menos do que antes. Alimentavam-se um do outro e aquele sentimento não diminuía ou desgastava. Eram forças criativas colidindo uma contra a outra e recriando aquela paixão, aquele amor, constantemente.
Jon perdeu as contas de quantas vezes a beijou naquela noite, perdeu a noção das marcas e dos arranhões deixados sobre a pele um do outro. Ignorou o passado, a dúvida, o medo e a culpa, para se concentrar num futuro que começava naquele momento. A sensação de expectativa e necessidade crescendo dentro de si, esperando para que ela cedesse ao prazer primeiro, para que ela chamasse seu nome, ou apenas se entregasse a ele sem reservas.
Ela chamou por ele no último instante e o arrastou para suas profundezas como uma onda poderosa arrasta um naufrago. Ele a beijou várias vezes enquanto recuperava seus sentidos plenamente.
Rolou para o lado e a agarrou pela cintura. Arya se deixou levar por ele, sem ter condições físicas de oferecer qualquer resistência.
- Você está feliz? – ele perguntou beijando a boca dela em seguida.
- Eu tenho o direito de não estar feliz? – ela respondeu – Você operou o milagre de convencer quase todos os meus irmãos a comparecerem. Você revirou o mundo de pernas pro ar por minha causa. Você esteve do meu lado em todos os momentos difíceis e foi o protagonista de todos os momentos bons. Eu posso não estar feliz?
- Há sempre uma possibilidade. – ele disse sorrindo – Eu te amo, sabia?
- E eu amo você. – ela respondeu – Apesar de todas as dúvidas, de todos os medos, de toda reprovação. Obrigada, Jon. Obrigada por tudo.
- Você tem o resto das nossas vidas pra me compensar pelo esforço. – ele disse rindo, enquanto sentia os beijos dela por seu pescoço.
- Eu vou. – Arya respondeu convicta – Mas mudando de assunto. Você viu o que foi feito da Sansa do meio pro final da festa?
- Eu a vi saindo do salão com Aegon. – Jon respondeu rindo – O que acha disso?
- Que Robb vai precisar de um bom seguro de saúde. – Arya respondeu – Minha irmã e seu irmão, isso está ficando confuso.
- Não tanto quanto Bran voltando pro hotel amarrotado daquele jeito. Acho que ele só não carregou Meera Reed junto com ele porque está dividindo o quarto com Rickon. – Jon disse satisfeito – Talvez ele venha a Londres com mais frequência por causa dela.
- Isso seria bom. – Arya concordou sorrindo.
- Eu sinto muito por Robb não ter vindo. – Jon disse encarando-a nos olhos.
- Eventualmente nós vamos ter que chegar a um acordo. – ela disse deitando a cabeça sobre o peito dele – Não acho que ele vá insistir nessa briga por muito tempo, ainda mais depois de Bran ter ficado do nosso lado. Só precisamos dar tempo ao tempo.
I can't do the talks, like they talk on the TV
And I can't do a love song, like the way it's meant to be
I can't do everything, but I'll do anything for you
I can't do anything 'cept be in love with you
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
And all I do is miss you and the way we used to be
All I do is keep the beat, and bad company
And all I do is kiss you, through the bars of a rhyme
Juliet I'd do the stars with you, anytime
Quatro anos depois...
Foi um choque ouvir de Bran que Robb concordou em ir a Londres durante o mês que havia tirado de férias. Jon não sabia o que esperar daquilo, mas ficou feliz de qualquer jeito. Arya estava se formando e aquele seria um presente e tanto para ela, depois de quatro anos sem falar com o irmão mais velho.
Jon não tinha ilusões quanto a recuperar a amizade de infância com o cunhado, mas já ficaria satisfeito com uma trégua. Sua dúvida naquele momento era se devia ou não contar a ela a notícia, mas ele se sentia particularmente inclinado a lhe fazer uma surpresa.
O telefone tocou no escritório e sua secretária atendeu, indo até ele no minuto seguinte.
- A senhora Targaryen gostaria de saber se o senhor vai acompanhá-la hoje. – a secretária disse.
- Por favor, diga a Arya que eu já estou indo pra casa para apanhá-la. – Jon respondeu e seu recado foi transmitido a ela imediatamente.
Ele deixou o escritório apressado, passando apenas na sala de Aemon parar se assegurar de que estava tudo bem com o tio centenário. Ele ainda descobriria qual era o segredo do velho para durar tanto.
Aemon o recebeu sorrindo satisfeito.
- A que devo a honra da visita? – ele perguntou bem humorado.
- Estou saindo mais cedo para levar Arya ao médico. – Jon disse entusiasmado – Eu ligo mais tarde para lhe dar a notícia.
- Vou esperar ansioso! – Aemon respondeu – Agora vá buscar sua mulher. Rápido menino!
Jon não precisou de outro incentivo. Saiu da empresa as pressas em direção ao carro e dirigiu pelas ruas movimentadas de Londres tamborilando os dedos sobre o volante. Arya já o esperava na portaria do prédio e ele não conseguia conter o riso ao ver o esforço que ela fazia para esconder a barriga.
Tão logo ele parou o carro, ela entrou e se sentou ao lado dele no banco do carona. Ela odiava vestidos, mas ultimamente era a única coisa que parecia não incomodá-la. Arya parecia contrariada por alguma razão.
- Por que essa cara? – ele perguntou enquanto dava partida e conduzia o carro pelo transito infernal.
- Meus tornozelos estão inchados, minhas costas doem e graças a Deus eu vou usar uma beca durante a colação de grau, o que provavelmente é a única roupa que vai me servir. Vou ter sorte se não cair tentando buscar meu diploma. – ela respondeu mal humorada – E a pessoinha aqui resolveu chutar o dia inteiro.
- Um jogador de futebol, talvez? – Jon ofereceu o palpite sorrindo.
- Não duvido. Seja o que for vai dar trabalho. – ela disse rindo do entusiasmo dele.
- O que acha que é? Menino, ou menina? – ele perguntou.
- Eu não faço ideia, mas eu prefiro um menino. – ela respondeu levando a mão à barriga crescida – Um pequeno Ned, o que acha?
- Eu gostaria disso, mas...- ele lançou a ela um olhar travesso de rabo de olho – Você sabe que eu quero uma menina.
- Isso é um complô entre você e Sansa. Acha que eu não sei que ela está louca pra desembarcar aqui com toneladas de vestidos miniatura e lacinhos? Posso até ver. Um verdadeiro contrabando. – Arya disse revirando os olhos enquanto Jon ria e estacionava o carro – E eu não vou nem mencionar o berçário. Juro que seu eu tiver que passar a maior parte do meu dia olhando pra paredes cor de rosa, vou voltar a enjoar.
- Sempre podemos pintar o quarto de outra cor. – ele disse ajudando-a a sair do carro – Roxo parece uma boa alternativa?
- É melhor do que rosa. – Arya concordou – Azul se for menino.
- Não prefere verde? – ele ofereceu.
- Qualquer cor menos amarelo. – e aquele era o fim da discussão.
Ele ficou sentado na recepção, enquanto a atendente da clínica ajudava Arya a ir ao banheiro. Ele estava ansioso e sua perna não parava de balançar. Bebeu cinco copos de água em menos de dez minutos e folheou uma revista, sem prestar atenção em uma única foto.
Ele a acompanhou até a sala de exame onde uma médica esperava por ela. Jon ajudou Arya a se deitar sobre a maca e cada gesto que a médica fazia era observado com extrema diligência por ele.
- É o primeiro filho? – a médica perguntou enquanto passava aquele gel esquisito sobre a barriga redonda de Arya.
- É sim. – Jon se apressou em dizer.
- E ele está a ponto de ter uma crise nervosa se a senhora não disser logo se está tudo bem com o bebê e principalmente o sexo. – Arya disse enquanto fazia uma careta, sentindo o gel frio contra sua pele.
- Até agora, tudo dentro da normalidade. – a medica riu – Tem feito o pré-natal?
- Ela tem. – Jon mais uma vez se apressou em dizer – Mesmo quando reclama que estou sendo paranoico, eu não deixei que ela faltasse nem uma consulta.
- Você não está sendo paranoico, você é paranoico. São coisas totalmente diferentes. – Arya riu.
- Pelo menos você tem bastante apoio em casa, pelo que estou vendo. – a doutora sorriu – Estão casados há quanto tempo?
- Quatro anos. – Arya respondeu enquanto encarava o monitor, tentando desvendar alguma das imagens da tela.
- Nossa! Já faz tempo! Achei que eram recém casados, já que são tão jovens. – a média disse, encarando o monitor também. Jon estava segurando a mão da esposa, concentrado em enxergar os contornos da criança, mas sem sucesso.
- Dá pra ver alguma coisa? – ele perguntou.
- Dá sim. Estou apenas tirando algumas medidas. – a doutrora respondeu – O desenvolvimento é normal. Tudo dentro do esperado. E este é o coração batendo. – o som forte e ritmado preencheu a sala e ele sentiu Arya apertando sua mão com força. – Parabéns pra vocês. É uma menina.
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Ah Juliet, when we made love you used to cry
You said I love you like the stars above, I'll love you till Idie
There's a place for us, you know the movie song
When you gonna realize, it was just that the time was wrong, Juliet?
Era quase verão e Robb estava sentado na sala de espera do hospital, enquanto Jayne segurava sua mão afetuosamente. Bran havia saído para compra um café e Rickon ficou no hotel com Rickard. Sansa estava bordando uma toalhinha de limpar boca do outro lado, enquanto todos esperavam do lado de fora. Ele ouviu dizer que Daenerys Targaryen estava a caminho e o tal Aegon não poderia comparecer.
Que bagunça ele havia se metido. Quatro anos sem ver a irmã e as coisas acabavam assim. Ela casada e ele como o vilão da história, mas alguém um dia teria que entender que era de mais para ele aceitar que seu primo, seu melhor amigo, seu quase irmão, havia levado Arya para o altar de uma forma tão sorrateira.
Não foi sorrateira e até ele tinha que admitir isso. Os sinais sempre estiveram muito nítidos, mas ninguém nunca havia se preocupado em entender o que significavam. Não fazia mais sentido estender aquela discussão por mais tempo. Bran estava certo no fim das contas. Arya continuava sendo a irmã deles e tinha direito de exigir que seus filhos fossem tratados como netos de Eddard e Catelyn Stark.
Ele fechou os olhos e pensou em como a mãe estaria ansiosa para ver a primeira neta se estivesse ali. Seu pai provavelmente estaria eufórico, o que equivalia dizer que ele emitiria uma ou outra risada nervosa eventualmente. E ele seria tio.
No fim das contas, Arya não conseguiu comparecer à formatura. A criança veio antes da hora e Robb deu sorte de ter chegado a Londres naquela manhã. Ele nem mesmo teve tempo de conversar com a irmã, quando soube do acontecido Arya já estava na maternidade.
Uma enfermeira apareceu na sala de espera. Roupa manchada de sangue e cabelo desgrenhado. Ela olhou ao redor e se dirigiu a ele imediatamente.
- O senhor é Robb Stark? – ela perguntou. Robb se levantou de uma vez.
- Sim, sou eu. Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou aflito.
- Sua irmã pediu para que entrasse para conhecer sua sobrinha. – a enfermeira sorriu para ele e Robb sentiu o coração se acalmar.
Quando entrou no quarto seus olhos caíram diretamente em Arya, ignorando a presença de Jon no quarto. Obviamente ela estava exausta, mas bem para quem havia acabado de passar seis horas em trabalho de parto. Doía perceber que ele havia perdido uma boa parte da vida dela durante aqueles anos. Ele não a viu se casar, soube que ela estava cursando a universidade através de Bran e só recebeu a notícia de que ela estava grávida quando Sansa apareceu no Natal com a novidade.
Ela estava diferente também. O rosto havia perdido qualquer traço infantil, o cabelo estava mais longo, os traços do rosto eram mais harmoniosos e bonitos agora. Arya sorriu para ele um sorriso enviesado.
- Você parece péssimo. – ela disse.
- Olha só quem fala. – ele disse azedo – Parece que foi atropelada por um caminhão.
- Um caminhão de dois quilos e meio, com cinquenta centímetros. – Arya disse orgulhosa – É bom ver você aqui, Robb.
- Fico feliz em ver que você parece bem. – ele respondeu com lágrimas nos olhos – Senti sua falta, tampinha.
- E eu a sua. – ela concordou e em seguida estendeu os braços a Jon para que ele entregasse a ela o embrulho de mantas que tinha em seu colo – Não vai ficar monopolizando ela. – Arya brigou com o marido e Jon riu.
- Eu posso e vou. – ele provocou e beijou a testa da esposa – Fui eu que fiz.
- Me recuso a discutir sua participação no processo, agora faça o favor de me dar minha filha. – ela disse rindo e Jon obedeceu. Arya aconchegou a menina em seu braço e encarou a bebê com todo orgulho do mundo – Venha até aqui, Robb. Tem alguém que eu quero que você conheça.
Robb foi até elas e se inclinou para ver o rosto minúsculo, parcialmente escondido entre as mantas. A pele era clara e sobre a cabeça uma penugem escura e ondulada. Dedos mínimos que se fechavam em um punho diminuto, enquanto ela dormia com a mão na boca. Era uma Stark, sem um fio de cabelo acobreado da avó materna, ou um fio de cabelo loiro platinado da família do pai. A menina era toda Stark.
- Ela não é linda? – Jon perguntou orgulhoso, enquanto estufava o peito.
- É linda sim. – era a primeira vez que ele e Robb concordavam em quatro anos – Qual nome vão dar a ela?
- Lyanna. – Arya respondeu acariciando a cabecinha da filha – Lyanna Catelyn Targaryen.
- A mamãe gostaria disso. – ele concordou – Ela parece com você quando nasceu.
- Ela com certeza vai dar tanto trabalho quanto eu dei. – Arya riu – Seis horas e ainda se recusava a sair de dentro de mim, isso não é coisa que se faça com a mãe.
Logo a enfermeira chegou para levar a neném para o berçário e pediu para que Jon e Robb saíssem para deixar a mãe descansar. Eles obedeceram prontamente e quando estavam do lado de fora, Jon finalmente pode retirar a roupa esterilizada que havia usado durante todo o parto.
- Quer beber alguma coisa? Tem um bar do outro lado da rua. – Jon ofereceu, adivinhando que Robb daria tudo por uma bebida naquele momento.
Ele concordou e os dois foram para o bar do outro lado da rua. Dois copos de uísque surgiram diante deles rapidamente e Jon tirou do bolso do casaco dois charutos cubanos e um cortador para a ponta.
Ele ofereceu um a Robb que o aceitou imediatamente, colocando-o entre os lábios. Não gostava de tabaco de um modo geral, mas aquela era uma ocasião especial. Eles brindaram e ascenderam os charutos, dando longas tragadas.
- À Lyanna. – Robb ergueu o copo numa saudação.
- Nem posso acreditar que sou pai agora. – Jon disse parecendo extasiado.
- Vai acreditar quando ela acordar de madrugada querendo mamar. – Robb disse rindo – Não me leve a mal, eu adorava a época que eu podia segurar Rickard entre as minhas mãos, mas minhas noites de sono são bem melhores hoje. – Jon riu.
- Obrigado por ter vindo. Não faz ideia do quanto ela sofreu durante estes últimos anos por causa de toda aquela discussão. – Jon disse sincero.
- Que não teria acontecido se você não fosse o filho da mãe mais traiçoeiro que já pisou na terra. – Robb se apressou em dizer – Eu não posso dizer que entendo, nem que acho a situação toda normal, mas tenho que admitir que você foi bom pra ela. Arya tinha tudo para ter se tornado um problema depois que meus pais morreram. Eu não sei como conseguiu isso, mas você botou juízo e serenidade nela.
- Vou considerar um elogio. – Jon disse deixando o copo de lado.
- Devia. – Robb respondeu fazendo o mesmo – Você era como um irmão pra mim, sabia? Eu ainda o via como um irmão quando eu vi vocês juntos. Foi como se eu estivesse vendo Arya com Bran. Perturbador.
- Eu pensei a mesma coisa por alguns anos. – Jon admitiu – Não ache que foi o único que teve problemas em lidar com tudo isso. Você não faz ideia de quantas vezes eu me culpei, ou quantas vezes eu tive medo de que Arya desistisse de mim em troca de ter a família dela de volta. Ainda acho que ela só disse sim porque Sansa, Bran e Rickon apareceram no casamento, do contrário eu teria ficado plantado no altar.
- Me desculpe pelo soco e por ter te chamado de bastardo safado. – Robb finalmente disse – E por não ter aparecido no casamento e tudo mais. Eu não concordava e não concordo, mas há um limite até onde alguém pode se fazer de cego.
- Não há o que desculpar, pelo menos não da minha parte. No seu lugar acho que faria o mesmo. – Jon falou – Arya é outra história. Ela ainda te xinga, sabia?
- Posso imaginar. – Robb riu.
- E toda vez que nós brigamos, o que não é exatamente algo raro de acontecer, ela gosta de gritar que deveria ter ouvido você quando teve a chance. – Robb riu alto.
- Minha irmã... Sempre adorável. – Robb bebeu o último gole do uísque – Merda, porque você tem que ser um cara tão legal? Seria mais fácil ficar com raiva de você se você fosse igual a um dos namorados da Sansa.
- Você nunca entendeu que Arya era a irmã esperta da família. Ela escolheu o cara legal. – Jon provocou.
- Sem falar em rico e com menos propensão a ficar careca ou gordo. É, Arya sempre foi bem esperta. – os dois riram – Você seduziu minha irmãzinha, mas não consigo ficar com raiva de você. Pra piorar agora você é pai da minha sobrinha, então acho que eu sou obrigado a dizer que você é bem vindo nesta família.
- Obrigado, Stark. – Jon respondeu satisfeito – Mas vou avisando que se seu filho for pego roubando beijos da minha filha daqui alguns anos, vou fazer Cat Stark parecer um anjo de candura. – os dois gargalharam juntos.
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O primeiro Natal de Lyanna foi um evento e tanto. Foi o último Natal de Aemon Targaryen e ao menos o patriarca da família teve a chance de conhecer a sobrinha/bisneta. Foi também o primeiro Natal que passaram na casa de janelas francesa, com um quintal grande, mas sem cachorros.
Bran estava se mudando para Londres graças a uma oferta de emprego de Jon. Ele levou Meera para fazer parte da ceia e anunciaram o noivado depois da sobremesa. Rickard estava correndo pela sala, brincando com seus presentes. Sansa estava sentada com Lyanna no colo, tentando ensinar a sobrinha a falar "tia".
Jayne ajudou Arya a organizar a ceia. Daenerys apareceu também, com o filho e o marido. Aegon pensou em não ir para evitar um clima ruim entre ele, Sansa e Robb, mas acabou passando para deixar o presente da sobrinha e dar um abraço no irmão e na cunhada.
Rickon trocou o copo de suco por um de vinho por acidente e acabou apagando no sofá, o que deixou Robb bravo e fez Jon rir descontroladamente, lembrando de algumas ocasiões em que os dois acabaram se metendo em confusão por causa de bebida. Jayne ficou curiosa e pediu por detalhes, mas Robb impediu Jon de abrir a boca a respeito.
Faltavam Eddard e Catelyn, assim como também faltavam Lyanna Stark e Rhaegar, entretanto, a foto dos dois casais estava em um porta-retratos sobre a lareira, como figuras santas, vigiando as crianças.
Quando todos foram embora, Arya colocou Lyanna para dormir e Jon a ajudou a retirar os pratos e colocá-los na pia.
A casa estava silenciosa, a lareira acesa e os dois exaustos, mas deitaram-se no sofá abraçados e ficaram em silêncio por algum tempo, apenas observando o fogo dançar diante deles. Estava nevando do lado de fora e Arya estava quase dormindo sobre o peito dele.
- Era esse o final feliz que você sonhou? – ele perguntou beijando o rosto dela, enquanto Arya descansava a cabeça no ombro dele.
- Não. – ela disse – Esse final é melhor.
And a love struck Romeo, sings the streets a serenade,
Laying everybody low, with a love song that he made
Finds a convenient street light, steps out of the shade
Says something like, 'You and me babe, how about it?'
'You and me babe, how about it?'
Nota da autora: É...Acabou! Olha que coisa viadíssima que foi esse final! Tá pior que final de novela das oito do Manoel Carlos! Teve casamento, teve bafões, teve smut, teve bebê nascendo, teve de tudo! Pois é, eles deram certo mesmo, apesar do mundo torcer contra. Não quer dizer que eles não tenham problemas, mas isso ninguém quer ver em fic XD.
Uma coisa que eu notei que gerou confusão aqui foi a forma como o Robb reagiu e eu digo que primeiramente é uma questão cultural. Relacionamentos amorosos de primos até 4º grau, se não me engano, é considerado incesto nos EUA. Na Inglaterra o assunto é tratado como algo aceitável e até normal. Como Robb e companhia cresceram nos EUA, eles encaram o relacionamento do Jon e da Arya de uma forma bem mais severa, ao contrário dos Targaryen, que são basicamente ingleses. Eu percebi essa questão visitando alguns fóruns de ASOIAF e esses temas são discussões comuns em tópicos que falam sobre Jon e Arya, mesmo aqueles que assumem que o Jon é filho do Rhaegar. Leitores americanos tendem a reprovar a relação de um modo geral, já os ingleses encaram na boa um Jon e Arya, se os dois forem primos. Tia Bee é cultura, gente.
No Brasil a questão é relativa. Tem famílias que não aceitam e outras que encaram de forma tranquila. Já fui em casamento de primos XD. Na minha família era algo comum casar primo com primo tmbm. Algumas culturas, principalmente culturas islâmicas, acham aceitável e é uma pratica comum. Como a Goony apontou muito bem, o que pega é o fato de que eles cresceram juntos e a curiosidade surgiu quando a Arya ainda era muito nova, pra piorar o Jon virou responsável legal dela e a coisa ficou meio nebulosa.
O que eu mais gostei sobre essa fic, foi a forma como as leitoras reagiram ao tema. Vocês realmente se envolveram com o enredo e se identificaram com algumas situações, o que foi muito legal de acompanhar. Me senti gratificada com cada review e cheguei a conclusão que eu tenho as melhores leitoras ever! E cada comentário que eu recebia me fazia pensar um pouco mais na situação do casal principal e levar em consideração aspectos que eu talvez tivesse desconsiderado ao longo da história. Mais uma vez, obrigada a todas que acompanharam e me incentivaram com seus comentários/tratados (que eu amei).
Musica do capítulo: Romeo and Juliet do The Killers.
Espero que tenham gostado do final.
Bjux
Hasta la vista, baby!
Bee