Título: WHO´S THAT CHICK?

Autor: Fabianadat

Betagem: Topaz Autumn Sprout

Pares: Harry & Draco

Classificação: NC-17

Gênero: Romance/Drama/Universo Alternativo/Non-Magic

Disclaimer: Os personagens e situações pertencem à JK Rowling, esta fic não infringe direitos autorais nem gera lucro.

AVISO: A fic trata de temas polêmicos como relacionamento homoafetivo, androginia e uso de substâncias ilícitas. Se não for do teu agrado, clica naquele X lá no canto direito da página do browser e tenha um bom dia.

Reviews e críticas construtivas são sempre bem-vindas, baixaria e falta de educação serão respondidos à altura e os comentários deletados (sim, foi Topaz a bruxa malvada que escreveu isto).


Capítulo 8 – Do inferno para o céu

Com o cartão magnético do elevador particular do apartamento de Draco em mãos, Pansy foi até lá. Estava preocupada e aflita pelo amigo que não dava noticias há três dias.

Assim que abriu a porta, sentiu um cheiro adocicado vagamente familiar e acendeu as luzes da sala. Sobre a mesa de centro havia garrafas vazias, copos e um cinzeiro; no sofá, ainda vestido com a roupa do trabalho Draco ressonava, no chão perto da mão dele um copo emborcado e uma mancha úmida no carpete.

Com cuidado sentou-se na borda do estofado analisando o amigo: as marcas escuras debaixo dos olhos denunciavam as olheiras. Vagou o olhar pela mesa de centro mais uma vez, e uma nota enrolada em forma de canudo ao lado de um saquinho de plástico aberto que continha um pó fino e branco detonou o alarme, aquilo era cocaína! Com o coração apertado era sentiu um princípio de tontura, mas se obrigou a vasculhar o ambiente notando que o cinzeiro continha pequenos pedaços de papel branco fininho... Oh! Deus! Cigarros de maconha! Soluçando desesperada ela sacudiu o amigo inconsciente sem conseguir acordá-lo, e falava em voz alta:

- O que você fez Draco? O que você fez?

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Ainda um tanto entorpecido, Draco sentiu a cabeça latejar e gemeu. A última lembrança dele era a de se apagar no sofá depois de ter cometido uma idiotice monumental. Outra pontada de dor. Precisava de um banho, desesperadamente. Lutando contra o corpo que não queria obedecer às ordens de se mexer, se deu conta de algo esquisito: estava em sua cama. Fez um esforço para lembrar-se de como conseguiu chegar até ali, mas tudo era escuridão. De qualquer modo precisava de um bom banho, talvez o jato de água fria ajudasse sua mente enevoada a "pegar no tranco".

O corpo se ressentia do tratamento brutal com a água gelada que parecia cortar sua pele enviando cãibras por todos os músculos e deixando na boca um gosto ruim.

Depois de tantos anos "limpo", a derrota se espalhava como uma doença por cada centímetro de seu corpo.

Estava se odiando por causa do deslize. Ele não devia falhar! Aliás, nem ele, nem o resto da turma, que havia feito um juramento solene na época da desintoxicação, quando todos estavam no fundo do poço, lutando para emergir do inferno da dependência química.

Nem todo seu desespero e sofrimento justificavam o consumo de drogas.

ELE havia quebrado o juramento... E agora a dor moral estava ficando mais forte que a enxaqueca violenta que se avizinhava.

Na passagem pela sala rumo à cozinha, sua cabeça latejava sem trégua, mas uma presença no sofá onde ele tinha a certeza de ter desmaiado o fez estacar.

O peso do olhar muito azul da grande amiga teve o impacto de um tapa no rosto, e ele também acreditava que deveria oferecer a outra face para mais uma bofetada; merecia todos os castigos e xingamentos do mundo por conta de sua atitude idiota.

Na cozinha serviu-se do café forte e amargo certamente preparado por Pansy e de posse da caneca com o liquido fumegante voltou até a sala e sentou-se ao lado da amiga. A mesa de centro estava limpa, sem nenhum traço do seu desvario da noite anterior. Depois de beber o café, depositou a caneca vazia sobre o tampo da mesa e ficou em silêncio.

- Blaise te carregou para cama ontem. – voz dela não continha nenhum traço de raiva, mas sim, tristeza. – Ele vai voltar mais tarde, não contei sobre as drogas, disse somente que você estava muito bêbado, mas tenho certeza que Blaise sentiu o cheiro e você sabe que ele não é bobo. Nem vou perguntar o porquê Draco... Preciso acreditar que você já percebeu o erro que cometeu, e que nunca mais vai repeti-lo.

Vergonha foi o que experimentou diante das palavras da amiga. Sentiu os olhos ficarem marejados, sinceramente não recordava quando foi a ultima vez que havia chorado, não era dado a arroubos sentimentalistas. Sem pedir licença acomodou-se no sofá e assentou a cabeça no colo da amiga, que por sua vez se pôs a acariciar os cabelos platinados. Foi um choro contido e silencioso com leves tremores acometendo o corpo vez ou outra.

- Me perdoa... – pediu com a voz rouca.

- Chore Draco, vai se sentir melhor. – respondeu ela com meiguice afagando os cabelos loiros.

- Juro que não conto a ninguém – completou num tom de leve diversão.

Draco perdeu a noção do tempo; a exaustão daqueles dias tão difíceis, somados ao abuso da noite anterior mais a catarse do choro o fizeram adormecer sob o olhar atento da velha e querida amiga.

Acordou horas depois se sentindo melhor, mas ainda não totalmente recuperado. A TV ligada no volume mínimo passava um filme antigo e as mãos delicadas da amiga ainda o afagavam. Suspirou profundamente, agradecido pela companhia tanto quanto pelo toque afetuoso. Deitou-se de barriga para cima e fixou os olhos no rosto da moça que devolveu o olhar.

- Eu o perdi, não é mesmo? – indagou baixinho já temendo a resposta.

Pansy apartou uma mecha de franja da testa do loiro, continuou resvalando o dedo num carinho passando pelo nariz de proporções perfeitamente simétricas contornando os lábios rosados chegando até as bochechas, a pele do loiro era perfeita.

- Provavelmente. – Concordou ela o fitando com uma expressão séria por uns instantes, e logo em seguida os olhos azuis se desviaram para a televisão. – Ele vai embora amanhã.

O impacto das palavras foi como um soco no peito, ele fechou os olhos tentando absorver o golpe dolorido e não se atreveu a articular uma única palavra. Pansy seguiu seu exemplo e a quietude do ambiente só era quebrada pelo som da televisão.

Como prometido, Blaise voltou e trouxe alguns petiscos. E os três mantiveram uma conversa amena e divertida até tarde da noite.

Deitado na cama de casal Draco achou a antes tão apreciada peça de mobília, grande demais e fria sem a presença do moreno entre seus braços ou simplesmente adormecido ao seu lado envolto pelos lençóis, com os cabelos negros esparramados em todas as direções. Teria que aceitar, ainda que isso doesse, que alguns erros magoavam tanto que não podiam ser perdoados. Ele tinha plena consciência do que havia feito e teria que arcar com as consequências. Apertou a camiseta com o cheiro do moreno junto ao peito e tentou dormir.

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A manhã de segunda-feira despontou gloriosamente radiante. O voo era às treze horas.

De bagagens prontas, Harry observava o padrinho jogando as roupas de qualquer jeito dentro da mala, Sirius era completamente desorganizado neste quesito, e nem o olhar reprovador de Severus, escorado no batente da porta do quarto, o envergonhava.

Conforme o prometido, ele havia convencido o irascível professor a acompanhá-los até a Nova Zelândia. Harry fazia questão de não perguntar, não pensar e de preferência nem sonhar com os métodos de convencimento usados pelo padrinho, já tinha sua carga de neuras e não queria ficar traumatizado pelo resto da vida.

Pansy e Daphne passaram mais cedo para se despedir dele com muitos abraços, sorrisos tristes e até algumas lágrimas. Narcisa telefonou, assim como Nott e Zabini.

Tom saiu com ele no domingo à noite para um último drinque, e fez questão de que Harry o preparasse, com a desculpa de que nunca o tinha visto em ação atrás da barra de um bar. Entre um coquetel e outro o parabenizou pelo triunfo na corrida, e sem perder a compostura o jovem agradeceu o cumprimento, para cutucar o homem mais velho, Harry perguntou se ele gostaria de vê-lo correr numa próxima disputa, arrancando com isso uma risada de Riddle.

Quando o avião partiu do Aeroporto Internacional de Heathrow, no oeste de Londres, pontualmente às treze horas, um pedaço do coração de Harry ficou para trás.

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Aotearoa, "A Terra da Grande Nuvem Branca", conforme os Maoris chamam a Nova Zelândia, é dividida em duas porções maiores de terra que são cercadas por várias ilhas menores.

A negociação deles ocorreria na cidade mais populosa do país, Auckland, localizada no extremo da Ilha do Norte. Chuva, vento e frio eram a ordem da estação, no caso, inverno.

Andar agasalhado uma necessidade, então gorros, luvas, casacos pesados, meias de lã e roupas térmicas eram a indumentária imprescindível.

Graças aos céus e ao bom senso de Severus, estavam hospedados em suítes separadas no confortável Hilton Auckland Hotel, onde a temperatura era sempre agradável e o serviço impecável; mas na rua o frio imperava.

Enquanto ele e Sirius passaram a primeira semana enfiados em intermináveis reuniões de negócios, Severus circulava pela cidade visitando museus e outros pontos turísticos. Sirius sempre choramingava que naquele ritmo não sobraria nada para os dois verem juntinhos.

Quase oito dias depois da chegada deles a Auckland a tramitação do contrato foi fechada. Foram contratados para criação e desenvolvimentos de personagens para um novo game e toda papelada foi devidamente assinada e despachada. Finalmente estavam livres.

O grande barato da estação gelada eram os esportes praticados nas montanhas nevadas como o esqui e o snowboard, e patinação no gelo em pistas ao ar livre ou rinques fechados.

Sirius e Severus esquiavam bem, Harry era mais chegado ao snowboard, pois as manobras podiam ser mais radicais. No Parque Nacional Togariro, no centro da Ilha do Norte, foram às estações de esqui Whakapapa e Turoa, nas vertentes do vulcão Huapehu. E a técnica de Snape sobre os esquis superava a do padrinho. Permaneceram por ali durante quatro dias.

De volta a Auckland Sirius os arrastou até o Sky City, um cassino, restaurante, bar, café e teatro na base do Sky Tower, o prédio mais alto desta parte do país e de onde se tinha uma vista panorâmica magnífica da cidade. Nos dias que se seguiram foram ao Kelly Tarlton's Underwater World, um misto de museu, aquário e miniparque temático e a Aldeia Histórica de Howick, uma vila onde reproduziam a vida no século XIX na cidade.

Através do jornal e depois seguindo pela internet, acompanharam a morte prematura de uma estrela que se estilhaçou antes que seu brilho alcançasse a todos, e os atos de anarquia que se desenrolavam em Londres, com direito a quebra-quebra, roubos e violência gratuita sob o olhar espantado de uma polícia que demorou a tomar as medidas necessárias.

Preocupados com o caos espalhado por Londres, Harry ligou para as amigas, para Alexus e também para Narcisa. Severus entrou em contato com o instituto certificando-se de que tudo estava bem por lá.

A Galeria de Arte de Auckland, que encerrava entre suas paredes a maior coleção de arte da Nova Zelândia, foi um agradável passeio a três. De noite, mesmo com frio, decidiram ir a algum café na Waterfront, uma avenida à beira mar, e saborear um Suavignon Blanc produzido em Marlborough. No ambiente bem aquecido e rústico, o clima de romance entre o padrinho e Severus lhe trouxe um pouco de pesar, com uma desculpa decidiu dar uma caminhada pela avenida e de quebra contemplar a orla marítima iluminada artificialmente.

A parte do coração que doía era a que estava em Londres.

Na Estação de esqui do Monte Hutt, localizada na Ilha do Sul, descortinava-se o céu de um límpido azul e o sol brilhava soberano, seus raios de encontro ao manto branco de neve ofuscavam a visão. Harry subiu até o local mais alto que conseguiu e sentou-se sobre a prancha de snowboard, admirando a imensidão alva que se estendia a perder de vista. No sopé do monte, a base da estação se destacava pelo colorido quebrando o visual de límpida brancura. Descendo pela encosta seguiu os vários trajetos possíveis entre inúmeras pessoas que se arriscavam deslizando pelo tapete de neve. Aquela seria sua terceira e ultima descida do dia. Girando o olhar, buscou o outro lado da encosta onde a neve estava intocada.

Sirius e Severus não quiseram acompanhá-lo nesta ultima descida. Inalou profundamente o ar gelado e sentiu a garganta arder ao inspirar o ar gélido da montanha.

Fechando os olhos, um rosto de pele muito clara, cabelos platinados e um perfil aristocrático finalizado por olhos de um cinza metalino, desenhou-se em sua mente. Uma estranha certeza brotou no seu pensamento: Draco combinava com aquele cenário de um branco ofuscante, e sem dúvida devia ser um bom esquiador. Quase podia vê-lo todo vestido de branco cortando a neve como uma aparição em alta velocidade. O devaneio trouxe um sorriso tristonho a seus lábios e o coração ficou apertado de saudade.

Ouviu alguém se aproximar e acomodar-se a seu lado.

- É uma visão extraordinária – falou Sirius depois de alguns minutos de silencio – Mas confesso que gosto mais de uma praia bem quentinha, de preferência com algumas moças passeando de biquíni.

- Se Severus ouvir você falando isso te deixa de castigo por dias. – respondeu Harry sorrindo ainda de olhos fechados.

- Ah... Mas eu sei que você não vai contar nada, afinal eu sou seu padrinho mais querido.

- Você é meu único padrinho Sirius.

- Isso é só um mero detalhe.

Algumas gargalhadas chegaram até eles, alguém havia levado um tombo.

- Amadores – resmungou o homem mais velho.

- Ora, até você parece um amador se comparado com a técnica de Severus.

- E você vai esfregar isso na minha cara por quanto tempo? – rebateu o castanho num tom ofendido.

Um novo silêncio se formou entre os dois. Sirius acompanhou ao longe as evoluções de um esquiador em sua trajetória descendente e do nada falou:

- Sabe, você devia voltar a Londres.

- E por que eu faria isto? – Perguntou Harry cautelosamente depois de alguns momentos.

- Para resolver o que você deixou pendente. – veio a resposta rápida do padrinho.

O rapaz sentiu-se inquieto com a leitura tão acurada de sua condição e não sabendo o que responder ficou calado.

- Você ocultou bem sua tristeza por detrás dos sorrisos Harry, mas... Eu te criei, e conheço cada nuance das suas expressões. – Sirius continuou falando mesmo sem obter nenhuma réplica por parte do afilhado – Por isso eu sei que você está sofrendo, e que desta vez a coisa é séria.

O moreno abriu os olhos e voltou a fitar a vasta paisagem diante deles.

- E se a minha decisão colocar meio mundo de distância entre nós Sirius? – indagou o moreno um pouco angustiado.

Um longo suspiro veio do homem a seu lado.

- Você cresceu Harry, e eu não posso mais te abrigar sob as minhas asas. – asseverou Sirius - Mas se preciso for, eu vou te chutar do ninho e assistir de camarote você se esborrachar antes de alçar voo por conta própria, filhote.

Harry não segurou o riso provocado pela sutil comparação do padrinho e sentiu a angústia que oprimia seu peito abrandar.

- Eu não criei um covarde Harry, então volte a Londres e resolva o que tem de resolver. Considere-se chutado do ninho, mais saiba que no galho a meu lado sempre terá um lugar garantido, afinal sou seu amado e único padrinho. – falando isto o homem se pôs de pé e estendeu a mão, dando por finalizada a curta, porém esclarecedora conversa, então pela primeira vez naquela conversa eles se fitaram diretamente.

- E agora vamos descer esta maldita montanha congelada, Severus está lá nos esperando com fumegantes canecas de chocolate quente, e se chegar por ultimo você é quem vai pagar.

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Pela imensa parede envidraçada do Aeroporto Internacional de Auckland, Sirius seguiu com os olhos o avião que levava Harry decolar em direção ao céu cinzento.

- Como você soube? – perguntou Severus ao homem pensativo que olhava para a pista.

- Não foi difícil ligar os pontos, afinal seu afilhado foi o único da turma que não apareceu na casa de Alexus quando Harry estava convalescendo. – respondeu o castanho distraído sem se virar – Harry comentou sobre ele em alguns e-mails, mas quando cheguei a Londres depois que ele foi hospitalizado, o nome de Draco Malfoy não foi pronunciado uma única vez... Não foi tão difícil descobrir.

- Venha Black, vamos voltar ao hotel, ou vai acabar abrindo um buraco na pista de tanto a olhar.

Sirius riu, e deu a volta acompanhando Severus para a saída.

- Como é seu afilhado Sev?

Snape revirou os olhos aborrecido, aquela seria uma longa noite! Seria molestado com as perguntas mais absurdas sobre Draco e sabia que Sirius não pararia o interrogatório até ter um "dossiê" completo do rapaz. Que Deus lhe desse paciência, pois se o presenteasse com mais força física, era quase certo que esganaria aquele homem irritante! Black podia ser mais persistente que um cachorro faminto atrás de um osso suculento.

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- Olá.

Harry estava tão extenuado devido ao jet lag que não conseguiu articular nada mais que isso quando a loira abriu a porta e fitou absolutamente surpreendida; mas no instante seguinte o envolveu num abraço apertado. A mochila que estava no ombro dele foi de encontro ao chão e Harry rogou para que o notebook ainda estivesse inteiro. Suas pernas fraquejaram e ele se chocou com a parede do corredor atrás dele, e mesmo cansado devolveu o abraço entusiasmado da amiga.

Estava de volta a Londres.

Horas depois, acordou sentindo-se mais descansado. A viagem um tanto louca que o fez cruzar por diversos fusos horários esgotou suas forças. Na cozinha, um recado sobre o balcão avisou que Pansy fora para a boutique, mas que retornaria para almoçarem juntos. Esticou o corpo alongando os músculos ainda doloridos. Mesmo de primeira classe, um trajeto daqueles quebrava qualquer ser humano!

Ligou para Alexus avisando de sua chegada, quando perguntado onde ficaria hospedado, respondeu que talvez voltasse ao hotel, e ouviu uma dura repreensão do albino que o convidou a ficar na casa dele.

Harry não disse nem que sim nem que não, conversaria antes com a amiga.

Quando Pansy retornou, encontrou o moreno adormecido no sofá e ponderou que o rapaz ainda deveria estar cansado. Na cozinha ajeitou o almoço, logicamente comprado, e depois de finalizar a arrumação da mesa foi despertar o belo adormecido. Ao primeiro toque nos cabelos negros se viu encarando um par de sonolentos olhos verdes. Como um gato ele espreguiçou-se espantando os resquícios de sono pra longe.

Durante o almoço conversaram sobre a estadia de Harry na Nova Zelândia, e a loira reclamou horrores por não ganhar nenhuma lembrança de lá. Comentaram sobre as ocorrências na cidade enquanto ele esteve fora e continuaram a falar sobre generalidades até que a loira comentou:

- Não te esperava de volta a Londres tão rapidamente.

Harry bebericou o vinho branco.

- Nem eu esperava voltar tão cedo. Mas não consegui ficar longe de seus primorosos dotes culinários.

- Bobo! – rebateu a moça sorrindo.

Uma acolhedora quietude caiu sobre eles enquanto recolhiam a louça que Harry se dispôs a lavar. Cozinha arrumada, os dois seguiram para a sala levando as taças de vinho e acomodaram-se no sofá.

- Ele e Blaise voltam hoje da França.

Em algum momento o assunto teria que vir a baila. Respirou profundamente, segurou o ar nos pulmões e depois o soltou vagarosamente.

- Como ele está? – perguntou Harry depois de um instante, quando teve certeza que sua voz estaria firme o suficiente.

- Já esteve melhor. – respondeu Pansy girando o vinho da taça. – Mas talvez as coisas melhorem, certo? Afinal você não atravessou meio mundo só para morrer envenenado pela minha estupenda culinária.

- Não se desmereça tanto Pansy, pedir comida por telefone é uma arte também. – brincou o moreno.

- Belo, se você continuar zoando de mim, prometo cozinhar o "Especial da Pansy" e vou te usar como cobaia. Mas caso algo dê errado, me comprometo a levar flores até seu túmulo todos os meses!

- Sendo solidário com seu amado noivo, aceito esta árdua e mortal tarefa! – dramatizou o rapaz – Conte comigo.

- Harry! – o admoestou a loira com um tapa leve no braço.

O som do celular de Pansy soou no ambiente e ela atendeu em seguida. Dando-lhe privacidade, Harry levantou-se e foi até a pequena sacada do apartamento. Na rua lá embaixo carros transitavam na larga avenida e pelas calçadas as pessoas caminhavam apressadas se desviando uma da outra. Um típico dia de semana numa metrópole.

- Eles chegaram. – escutou a voz da amiga informar, e seu coração acelerou de ritmo. Pansy parou a seu lado na grade e como ele ficou observando o movimento da rua.

- Harry – O tom de voz sério o fez desviar os olhos da cena abaixo e focá-los na moça a seu lado – que Draco me perdoe, mas tem algo que você precisa saber.

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Draco jogou o paletó de qualquer jeito sobre sofá e foi em direção ao bar, servindo-se de uma pequena dose de uísque sem gelo; com passos calmos andou até as portas que levavam ao amplo balcão do apartamento. Lá fora temperatura estava bem mais amena e o vento brincou com os cabelos loiros jogando a franja para trás. Encostou-se a grade de segurança inspirando profundamente, tomou um gole da bebida apreciando as nuances do refinado sabor. Levou uma das mãos ao pescoço massageando uma área dolorida, odiava viagens de avião, ainda que fossem no jato particular da família.

Até onde a vista alcançava, a Londres noturna se descortinava toda iluminada, felizmente os sons citadinos quase não chegavam até aquele andar. Merda! Seu pescoço estava realmente dolorido, talvez ter ficado até tão tarde no escritório depois da viagem não tivesse sido uma boa ideia. - divagou ele enquanto levava o copo novamente aos lábios e sorvia mais um gole.

Uma nova rajada de vento refrescou seu rosto, e depois de um bocejo ele decidiu que realmente precisava era de um banho e várias horas de sono. Tomou o derradeiro gole do uísque e com uma ultima olhada na cidade iluminada voltou-se para entrar no apartamento e estacou onde estava, absolutamente surpreso com o que via.

Da grande porta de vidro corrediça, um par de olhos perigosamente verdes o fitava. Não teve outra reação que não devolver o olhar recebido, e quando a pessoa caminhou na direção dele cobrindo o espaço que os separava, inconscientemente apertou o copo com mais força na mão.

O som da bofetada desferida ecoou pela noite que se adensava ao redor deles, e pego de surpresa pela agressão, Draco soltou o copo que segurava, como o fundo era grosso foi a lateral que pagou pela queda trincando sem quebrar rolando para longe dos dois. Ainda aturdido pela força do tapa, levou a mão até a bochecha que ardia e voltou a fitar o moreno diante dele.

- Como você ousou Draco? Depois de passar pelo inferno da reabilitação, se sujeitar mais uma vez à escravidão das drogas? Por acaso você esqueceu-se de tudo o que viveu junto com seus amigos? Como você se atreveu a trazer essa merda de volta para sua vida Draco, como?

O loiro fechou os olhos e virou o rosto para que Harry não visse a vergonha que tomava conta do seu semblante.

- Olhe para mim! Não esconda o rosto Draco... Eu já passei tempo demais sem ver você... – pediu o moreno já mais tranquilo, numa entonação carregada de tristeza.

Draco voltou a olhar o moreno que agora estava mais próximo dele. Uma lufada de vento fez os longos cabelos negros dançar tocado pela brisa, levantou uma das mãos e com as pontas dos dedos acariciou o rosto diante de si, e a cabeça do moreno tombou em direção da mão carinhosa; sem poder se conter o loiro puxou o outro para um abraço cheio de saudade. A cabeça coroada de melenas negras aconchegou-se em seu ombro e os braços do moreno o cingiram pela cintura. Draco afundou o rosto no cabelo perfumado aspirando aquele aroma tão único, e finalmente uma paz infinita inundou sua alma.

- Isso significa que você me perdoou? – perguntou Draco acarinhando a nuca do moreno depois de minutos a fio envoltos em silêncio.

Harry afastou-se do outro e o fitou diretamente. Draco, sem quebrar a conexão dos olhares, prendeu uma mecha de cabelo negro atrás da orelha do moreno.

O moreno contemplando o rosto bonito começou a falar:

- Sabe, eu não devia ter me deixado levar, inclusive fui muito bem avisado sobre os perigos de me envolver com você, mas quando percebi eu já estava além do ponto de retorno... - Com as costas da mão Harry acariciou o rosto próximo dele sentindo o amor correr por suas veias e continuou falando: - Mas eu sempre soube que não deveria esperar por algo mais do que os dias que passamos juntos, e quando me dei conta dos sentimentos que cresciam dentro de mim, tive plena consciência de que seria unilateral. Eu nunca me imporia a você Draco, afinal ninguém tem culpa da paixão que brotou aqui – Disse ele colocando a mão sobre o peito – São coisas da vida...

Draco viu refletida a pura verdade nos olhos verdes, em cada palavra pronunciada e se amaldiçoou pela dor que havia causado.

- Também não deveria ter viajado sem conversar com você, mas ainda doía demais... Cada vez que eu fechava os olhos sempre via a cena do Pub, com você chegando acompanhado e me tratando com tanta frieza e distanciamento. - A voz de Harry foi quebrada por um soluço e uma lágrima teimosa escapou do canto de um dos olhos, ele a limpou com as costas da mão e respirando profundamente continuou:

- Sabe o que mais doeu? O fato de estar na cara que vocês haviam ficado juntos, que ela havia te tocado, apagando meus toques na sua pele, meu gosto da sua boca e provavelmente também o tantinho de carinho que eu sei que você sentia por mim...

Quando um segundo soluço escapou dos lábios do moreno, Draco sentiu-se o maior crápula do mundo por ter machucado tanto quem tanto bem lhe queria.

Um sorriso pequeno, porém verdadeiro se desenhou no rosto de Harry, ainda que misturado com algumas lágrimas que teimavam em cair e falou mais uma vez:

- Quando você soube da verdade e tentou consertar seu... erro – Harry não conseguiu uma expressão que descrevesse melhor a situação ocorrida – Você me procurou, explicou suas razões e pediu desculpas, mas daquela vez eu falhei ao não te dar ouvidos, eu agora estou aqui justamente tentando consertar isso. - E o sorriso apareceu mais uma vez. - Eu te desculpo Draco, então POR FAVOR, POR FAVOR nunca mais se envolva com drogas... Elas já tiraram tantas coisas da sua vida...

Após o pequeno discurso, Harry sentiu-se leve. Foi libertador colocar para fora tudo que estava travado no peito e entalado na garganta, dor e alívio se misturaram e ele escondeu o rosto entre as mãos chorando livremente.

Draco sem saber o que fazer e sentindo-se responsável pela dor do outro, enlaçou o moreno pelos ombros o trazendo para junto do peito, sentindo como corpo de Harry estremecia sacudido pelos soluços silenciosos, e se pôs a afagar as costas dele tentando acalmá-lo.

Sentiu-se um idiota; o orgulho havia feito mais um estrago em sua vida e ele quase havia perdido Harry. Era líquido e certo que ele não merecia aquela pessoa maravilhosa em sua vida, mas, por tudo que lhe era mais sagrado, agora que o tinha entre os braços, não o deixaria escapar.

Alçou o moreno, que não opôs resistência, em seus braços e foi em direção à suíte, aos pés da cama retirou os sapatos e com cuidado deitou-se e acomodou o corpo de Harry junto ao dele. Logo a respiração serena e compassada do rapaz indicou que ele adormecera, e Draco acariciou os macios cabelos negros até cair no sono.

Na manhã seguinte Draco acordou no primeiro movimento de Harry que tentava soltar-se de seus braços. Girou o corpo aprisionando de encontro ao colchão o assustado rapaz pelo súbito movimento.

- Onde você pensa que vai? – perguntou um pouco sonolento fitando o par de olhos verdes.

- Err... Embora? – respondeu o moreno meio confuso pela pergunta.

- E quem te disse que vou te deixar sair?

Draco mais desperto afastou algumas mechas de cabelo do rosto desconcertado de Harry e as espalhou pelo travesseiro.

- Nunca mais Harry, nunca mais vou deixar que você se afaste de mim.

- Isso não tem graça Draco.

- Não estou sendo engraçado.

O loiro pegou uma longa mecha de cabelo negro e se pôs a brincar com ela. Harry estranhou aquele comportamento tão descontraído.

- Assim que eu fosse avisado de que você houvesse chegado ao Japão; eu iria até lá atrás de você, mesmo correndo o risco de ser decapitado por seu padrinho na soleira da porta de sua casa.

Ok, ok, ok. Aquilo era para ser uma piada?

- E eu não iria atrás de desculpas Harry, eu cruzaria meio mundo para te buscar.

Draco soltou a mecha de cabelo e o rosto do loiro ficou sério; Harry quase suspirou aliviado, aquele Draco ele conhecia.

- Foi muito bom obter o seu perdão Harry, abrandou um tanto da culpa que me consome. Mas eu quero mais que seu perdão, Harry Potter, eu quero você, e só você como parte da minha vida.

O moreno fitava o outro homem completamente estupefato: Aquilo era uma declaração? Por mais que os amigos e até mesmo Tom afirmassem que Draco gostava dele, não o fazia necessariamente acreditar neles, mas...

- Eu achei ter deixado claro que não exigiria nada nem imporia meus sentimentos a você. Não quero e não vou me tornar um inconveniente na sua vida nem interferir na sua liberdade Draco. Já aceitei que você não pertence a ninguém.

- Acho que você não está me entendendo Harry, a minha liberdade agora é você. – tornou a insistir o loiro com uma expressão séria.

- Draco, acho que você está confuso...– Harry não queria acreditar, já havia aceitado que Draco estava fora de alcance e ter esperança novamente só o machucaria mais. Ele tentou falar novamente, mas um dedo em seus lábios o silenciou.

- Gosto do seu cabelo, do desenho dos seus lábios quando sorri, do modo como seus olhos brilham de acordo com sentimento que se apodera de você, gosto de como eles me perturbam, gosto de ver você dormir e mais ainda de acordar, gosto de como chama meu nome quando nos amamos, de como sua pele queima em contato com a minha, gosto de te ver envolto nos lençóis da minha cama, gosto do modo como dança, de como ri, gosto do modo como encantou meu filho, minha mãe, meu pai e meus amigos, admiro seu caráter sempre tão franco e amigável, gosto quando suas mãos me acariciam, gosto de cada pequena parte do seu corpo, gosto de como coloca suas opiniões, de sua inteligência afiada, de sua personalidade cativante, de quando fala com tanto apreço de suas pessoas queridas, de quando cospe fogo, de como faz um drink, gosto até mesmo de como dobrou Tom Riddle a seus pés, e por deus!, você me enlouquece quando coloca aquelas meias,... eu gosto e admiro tantas coisas em você que passaria horas e horas apontando cada uma delas, mas o que eu realmente gosto em cada uma delas é que em conjunto elas me fizeram amar você Harry.

- É muita coisa para se gostar, não é mesmo? – sussurrou o moreno sentindo os olhos marejarem.

- É por isto que prefiro amar o conjunto.

Draco secou a lágrima que deslizou pelo rosto do moreno sem desviar o olhar que os unia, e finalmente a primeira centelha de aceitação brilhou no olhar esmeraldino, em seguida um sorriso amoroso foi se desenhando e aumentando de intensidade, espantando para longe as tristezas e dissabores.

Com lentidão aproximou os rostos e deu inicio a um beijo lento e carinhoso, que foi correspondido aos poucos pelo moreno, e Draco ficou exultante quando, com um suspiro suave, Harry se entregou por inteiro em seus braços.

Havia ganhado uma segunda chance, e por nada neste mundo a desperdiçaria.


Nota da Topaz:

Pois, é... Acabou!

Mas nada de tristeza e choradeira, os cap. Extras já estão no forno! E prometemos que a coisa vai ficar quente... Carros, japinhas fofos, Akio, Yuu, Dray enciumado etc...

Caraca! Vou acabar montando um álbum de fotos dos personagens da fic. Eu já fiz isso na "O caçador e seu amor", só que nunca publiquei. Vou pensar no caso.

Abraços para todos os leitores e agradecemos sua visita.

Reviews e críticas construtivas são bem vindas.

Hasta la vista!

Nota Fabianadat:

ACABOU!

Isso mesmo, acabou!

Escrever está fic foi muito gratificante, e ver o retorno que ela teve me fez sentir recompensada por cada hora que passei pesquisando todos os mínimos detalhes que se encontram ao longo dos capítulos, muitos deles coletados pela Topaz tb, é claro, e lhes garanto que deu muito trabalho.

Agradeço de coração a todos que nos acompanharam na jornada através das semanas de espera para cada postagem, sempre deixando suas opiniões.

Sim, tivemos nossa cota de dissabores com ataques ferozes, que essas pessoas deem topadas com os dedinhos nas quinas de portas e móveis, que suas unhas encravem e que tenham caspa! :)

E aqui deixo aberta a possibilidade de pedidos de desejos para os capítulos extras, já recebi pedidos de lemon entre Sirius/Severus e um/uma parceira para o Tom... e sim, teve alguém que pediu algo sobre o Akio, alguém tem mais pedidos, sugestões? Aproveitem que estou sendo boazinha.

E Topaz minha mais querida amiga, como sempre um prazer imensurável trabalhar com vc... guarde fôlego para os extras. ;)

Abraços a todos.

Nos encontramos nos extras, então coloquem no alerta!