Capítulo 40 – Loup
Harry podia sentir a lua em sua pele e isso era inebriante.
Ele sentia o toque suave da água à sua volta, o contato com seu corpo leve e morno, um toque quase sólido. Mas o toque da lua era diferente, era como se viesse de dentro. Primeiro, era como uma coceira, algo que fazia a pele pinicar, queimar, vibrar, e então o corpo inteiro vibrava em direção àquele ponto, como se todo o sangue se agitasse, convergindo para aquele toque.
Ele mal conseguia respirar com a excitação do que sentia.
Abriu os olhos, encarando as próprias mãos, a pele azulada pela noite, pela lua e a água, e sorriu. Passou os dedos por entre os cabelos molhados, o rosto e o pescoço, se sentindo, sentindo seu corpo novo, só dele, pela primeira vez desde que era um bebê. Era estranho pensar isso, mas era bom. Essa consciência era boa, o toque era bom, o que sentia era bom.
Não conseguia imaginar o sofrimento que era para Remus e outros lobos terem que conter isso, essa vibração, o que sentia nesse momento, por tanto tempo. Por toda uma vida. Ele sabia que a transformação, por si, não havia nem começado ainda, mas ele já se sentia tão bem, tão... livre.
Suas mãos correram pelo seu peito e ventre e por entre suas pernas. Ele estava tão excitado que era até estranho, sentir esse tipo de desejo somente com o próprio corpo, com a ansiedade do que se tornaria naquela noite. Ele tinha tanto para aprender sobre si mesmo, sobre aqueles novos sentidos, sobre essa nova forma de sentir.
Ele podia ver melhor, era como se a escuridão fosse mais nítida do que a imensidão de luz do dia. Ele podia sentir cheiros que ele sequer imaginava, e outros que marcavam esse lugar, como a madeira do seu quarto ou a brisa que vinha da floresta, que ele sentia antes, mas agora era quase como uma marca, algo que compunha o que tudo aquilo era. Ele queria provar o gosto das coisas, queria tocar tudo, ver como era esse mundo tão familiar e, ao mesmo tempo, tão novo.
E ele sabia exatamente qual era a primeira coisa que queria provar.
- Vem aqui. Para de me olhar como a criatura da noite assustadora que você acha que é.
A sombra que havia se mantido no limite do seu campo de visão, até então, se moveu lentamente pela água até estar em frente a ele. E Harry podia vê-lo com perfeição, em todas as suas cores, todos os seus traços. Fenrir sorria para ele e ele sabia que o lobo o via da mesma forma, e era mágica a intensidade de tudo o que estavam compartilhando, seja pelo que fluía entre os dois pelo vínculo, seja pela própria experiência.
Harry não esperou mais para beijá-lo. Queria provar seu corpo inteiro, sentir seu cheiro, rever cada parte de seu companheiro com seus novos sentidos. Mas, quando as mãos ásperas correram pela sua pele, acrescentando mais um toque aos da água e da lua, ele sabia que teriam muito tempo para fazer isso com calma depois, agora ele precisava de mais.
Envolveu a cintura de Fenrir com suas pernas e o sentiu puxando-o contra o próprio corpo. Harry imaginou que isso seria o suficiente para indicar o que queria, mas, aparentemente, seu moitié tinha outros planos. Ele os conduziu para a margem do rio e se deitou, mantendo Harry sentado sobre a sua cintura. Eles ainda se beijavam, e Harry aproveitava o toque mais íntimo, preparando seu corpo para o que fariam, sabendo que era isso que Fenrir queria também.
- Eu quero você... – o pedido saiu baixo em meio ao beijo e Fenrir não hesitou em atendê-lo, as mãos que o tocavam até então agora o apoiando pela cintura no movimento certo para unir os dois. Harry gemeu alto, arqueando o corpo, se movendo devagar para se acostumar.
- Você é tão lindo sob a luz da lua. – a voz de Fenrir era quase um grunhido e Harry podia ver as garras em suas mãos que corriam leves sobre a sua pele.
Ele sentia seu próprio corpo mudar, a vibração sob sua pele aumentando conforme ela se cobria de pelos, seus ossos estalando a cada movimento, se ampliando, mudando, o balanço do seu corpo se tornando mais difícil conforme seus membros se dobravam, se tornando algo diferente, mas ainda seus membros, ainda seu corpo. Ele olhou para baixo e viu as próprias mãos animalescas, as garras deixando marcas na pele de Fenrir, que o olhava fascinado. E sentiu uma onda de calor vindo do ponto em que se uniam, se espalhando pelo seu ventre e seu peito, seu pescoço e seu rosto, e Harry jogou a cabeça para trás e uivou como um lobo pela primeira vez.
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Os lobos estavam reunidos em volta de uma fogueira, no centro do acampamento. O alfa surgiu vindo do rio, completamente transformado, a figura de um lobo imenso de pelugem entre o marrom, o bege e o dourado, os olhos azuis fitando cada um dos membros do seu grupo em um reconhecimento de sua presença e lealdade.
Atrás dele, o lobo negro caminhou até chegar ao limiar da luz, jovem e forte, esguio de uma forma que ninguém duvidava que talvez fosse um dos mais rápidos do grupo agora. Os olhos verdes brilhavam, explorando o jogo de luz e sombra sobre os rostos à volta, buscando o que é familiar em cada um, encontrando ali Remus pela primeira vez em sua forma completamente lupina, e o lobo de pelagem quase branca e olhos frios ao seu lado. Os mesmos olhos do lobo de pelagem grafite, mais afastado do grupo, mas ainda ali, e o olhar orgulhoso e carinhoso de Louis como o lobo jovem que esperava a aprovação de seu alfa antes de se juntar ao novo companheiro.
Havia calor, no fogo, nos lobos unidos, na luz da lua, e Harry não precisava ser humano para discernir aquele sentimento: de ser parte de algo. Ele pulou sobre um tronco caído ao lado da fogueira, todos atentos para o que o companheiro do alfa faria, em reconhecimento de quem ele era e de seu papel no grupo, e quando ele uivou para a lua mais uma vez, todos responderam ao seu chamado.
Naquela noite, ele os guiou por entre a mata, correndo pelo meio das colinas até o mar, marcando o território que lhes cabia e que partilhavam, sabendo que, naquele espaço, eles estavam seguros.
Sous le moonlit, ils sont libres.
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Loup – do francês, lobo.
Sous le moonlit, ils sont libres. – do francês, Sob a luz do luar, eles são livres.
NA: Acabou.
Eu não consigo definir o quanto eu estou feliz por ter terminado essa fic. Eu espero que quem conseguiu chegar até aqui tenha gostado do fim e do encaminhamento dos fatos. E eu tenho que agradecer muito por essa companhia, essa insistência e essa confiança.
Não vou dizer que foi fácil terminar Moonlit, e acho que o tempo que levei para conseguir isso é a principal prova desse fato, mas ela é uma fic de que eu realmente gosto e eu curti escrever e estou muito feliz de ter sido capaz de dar um fim para ela. Ela me trouxe muitos conflitos pessoais e me fez enxergar de uma forma muito clara a minha curva de amadurecimento durante esses anos. Foi uma experiência muito boa para mim e eu estou muito satisfeita comigo mesma hauahuahuahauhauahuahu
Por outro lado, ela também me trouxe a forma como eu me relaciono com os personagens ao longo desse tempo, o que significa o Harry e o Draco e o Remus e o Fenrir e, principalmente, o Snape para mim. Eu tenho um amor muito grande por Harry Potter e uma dívida muito grande com esse fandom porque ele mudou a minha vida de muitas formas e é ao mesmo tempo doloroso e delicioso me reencontrar com esse universo.
Eu acho que, das fics de Harry Potter que estão inacabadas no meu profile, essa será a única que eu realmente vou terminar. As de Teen Wolf eu posso até continuar, tenho projetos para esse fandom. As outras, talvez eu dê continuidade, mas não como fanfic. Eu vejo um potencial para em Aarde e Asmodeus para se tornarem histórias originais e eu estou querendo muito investir nisso.
Quem acompanha o que eu faço há alguns anos pode perceber que eu tirei algumas fics do ar aqui, isso porque eu trabalhei elas como contos originais e comecei a publicar comercialmente. Isso pode acontecer com outras também, mas estou também publicando textos novos, que não se originaram de fanfiction. Quem quiser conhecer um pouco desse meu trabalho, estou disponibilizando na Amazon com meu nome "real", Sarah Moralejo: amazon author / sarahmoralejo (apesar da página de autora ser na Amazon internacional, as publicações estão disponíveis na Amazon Brasil também).
Mas, além do reencontro com meu texto e com o fandom em si, eu estou querendo retomar contato com o público de fanfiction e brincar um pouco mais nesse mundo também. Eu hoje tenho duas formas de escrita que são muito gratificantes, mas muito sérias para mim, que é a escrita científica (já que eu estou terminando meu doutorado e ingressando nessa vida de professora e pesquisadora) e esse meu tatear com a escrita profissional (sério, eu preciso ganhar dinheiro com o que me faz feliz, não é pedir muito). Às vezes eu sinto falta de somente escrever por brincadeira, sem me preocupar com a seriedade do que eu estou fazendo, ao mesmo tempo que é bom saber que tem alguém lendo e curtindo isso também. Então devo voltar a publicar coisas periodicamente por aqui, e são todos bem vindos ;)
Beijos e até mais
S2
PS: Eu não lembro se eu falei isso em algum momento dessa saga, mas essa fic foi escrita inteira - sim, ao longo dos 6 anos, ela continuou assim - sob o som de "Blucobalto", Negramaro.