Capítulo Cinqüenta e Sete
VOLTANDO A SURREY
Os últimos dias letivos de Harry passaram num flash. Hermione organizara um mega-horário para que eles revisassem toda a matéria para os N.O.M.s nos últimos dias que ainda lhe restavam. Claro que na hora, Harry não gostou nem um pouquinho, mas mais tarde, depois da bateria de provas, ele foi muito grato à Hermione. As provas foram exaustivas, mas não foram de todo difícil. Harry sabia que nunca chegaria à nota de Hermione, por exemplo, mas achava que tinha se saído bem. O resultado ele saberia durante as férias, quando lhe fosse enviado uma carta com as notas. Rony conversara com Hermione e Gina, pedindo desculpas, e pelo que Harry ficou sabendo, até admitindo para elas que inconscientemente ele queria que elas sofressem um pouco também. Harry reconheceu o gesto do amigo, e como o próprio Rony, ficou se perguntando quando o melhor amigo havia crescido tanto, a ponto de reconhecer seu erro e tentar remediá-lo. O Rony de alguns anos não faria isso. Simplesmente se manteria à sua atitude de cabaça dura, e não cederia até o fim. É... esse quinto ano realmente trouxe mudanças para todos.
Foi nessa linha de pensamento que Harry encontrou-se olhando para a Gina, que cochilava no sofá perto da lareira. Ele acabara de voltar da cabana do Hagrid. O amigo queria falar-lhe, perguntar se estava tudo bem, oferecer-lhe um chá... atitude típica de Rúbeo Hagrid. E Gina ficara na Sala Comunal: disse que o esperaria. Mas pelo jeito, o cansaço a dominou e ela acabou cochilando no sofá. Quase todos os alunos estavam na parte de fora do castelo, aproveitando os últimos raios de sol do crepúsculo e a liberdade: as provas finalmente haviam acabado!
Harry ajoelhou-se e observou Gina. Pensando nas mudanças de seu quinto ano, com certeza a maior delas era a presença de Gina Weasley em sua vida. Quem diria que aquela menininha tímida, de cabelos vermelhos e olhos castanhos seria capaz de tornar-se tão importante para Harry, em tão pouco tempo. Durante o seu quinto ano, Harry dividira com ela todas as angústias de várias descobertas, todas as aflições de preocupações divididas, todas as revelações de capacidades novas, mas mais importante, Harry descobriu com Gina o amor. Era difícil até pra ele mesmo entender como ele sabia que amava Gina Weasley, já que ele nunca antes foi amado. Ou pelo menos, não que ele lembrasse. Mas Harry simplesmente sabia. É como saber que o seu coração está batendo, ou que você está respirando. Não é necessário que alguém te mostre... você simplesmente sabe que seu coração continua batendo e que sua respiração continua presente. Mesmo fazendo várias outras tarefas em seu dia-a-dia. Durante aquele ano, Harry teve várias descobertas sentimentais, e até algumas físicas, que o surpreendiam sempre e cada vez mais. E por todas elas, a Gina era a responsável. E além de um amor, Harry ganhou uma amizade. Para ele, amizade era a coisa mais importante que se poderia ter. Hermione e Rony provaram-lhe isso. E agora, Gina além de ser sua parceira em descobertas e sentimentos, era também uma amiga com quem Harry sabia que poderia sempre contar.
- Harry? – Gina perguntou sonolenta, acordando com o menino acariciando os seus cabelos.
Harry sorriu, e Gina sentou-se, dando espaço para que Harry se sentasse também ao seu lado.
- Eu devo ter cochilado... – Gina sorriu de volta. – Eu queria falar com você sobre os alunos expulsos...
Harry balançou a cabeça positivamente e lembrou-se que Gina fora atrás de Dumbledore para esclarecer algumas dúvidas ainda pela manhã daquele dia.
- O Dumbledore me disse o motivo... e era exatamente aquilo que a gente tava pensando... – Gina disse, enquanto trazia seus pés para cima do sofá e encostava-se no peito de Harry. – Eles eram mesmo alguns dos espiões do Voldemort. E foi através deles que o Voldemort ficou sabendo que teria um fim de semana em Hogsmeade. Exatamente o fim de semana que levaram o Rony.
Harry sentiu Gina suspirar cansada e fez o mesmo. Era difícil de acreditar que havia alguém que seguisse aquele maníaco. Ainda mais alguém como eles, mais ou menos da mesma idade, estudando na mesma escola, com tantas perspectivas pela frente...
- E o que vai acontecer com eles? – Harry perguntou baixinho, levando sua mão ao cabelo de Gina para acariciá-lo.
- O Dumbledore não foi muito claro... só disse que eles enfrentarão as conseqüências com a mesma gravidade das decisões que eles tomaram. – Gina pausou, suspirou mais uma vez e continuou. – Acho que ele não queria falar muito sobre isso...
- Dá pra entender por quê... – Harry comentou baixinho.
Os dois permaneceram em silêncio por mais algum tempo. O crepúsculo se despedia, dando um efeito bonito na sala comunal, que era um misto da decoração vermelha com os raios alaranjados e rosados de luz que entrava pela janela.
- Já fez as malas, Harry?
Harry saiu de sua semi-transe e suspirou cansado.
- Já... terminei hoje de manhã.
- Vai ser tortura passar esse verão longe de você...
Não passou de um sussurro, mas Harry sentiu como se Gina estivesse esperado todo aquele tempo para dizer somente isso. Harry sentia o mesmo. Era cruel ter que se despedir e passar quase todo o verão longe dela quando eles tinham passado quase todo o ano juntos.
- Eu sei...acredite, eu sei... – Harry beijou o alto da cabeça da Gina e voltou à carícia em seu cabelo. – Ainda mais com o fato de eu ter que voltar pra casa dos Dursleys... Eu não me importaria nem um pouquinho de ficar aqui em Hogwarts... assim, eu não dependeria de cartas pra saber como anda o professor Lupin, e ainda não teria que agüentar aqueles... aqueles... Dursleys!
Gina riu baixinho da indignação do Harry, mas como ele, ela também voltou seus pensamentos ao professor Lupin que até mostrara alguma melhora, mas continuava em estado crítico.
- É tanta coisa que fica pra trás, né? – Gina perguntou com um sussurro.
Era exatamente assim que Harry se sentia. Enquanto muitos ficavam felizes de deixar a escola, Harry entristecia de deixar as melhores lembranças para trás, de deixar os amigos, nesse caso, de deixar o padrinho e o amigo de seu pai... Era realmente muita coisa que ficava para trás. Ainda mais nesse ano. Tanta coisa acontecera nesse ano...
- Parece irreal, né? – Gina continuou suas perguntas, como se as tivesse fazendo para si mesma. – Voltar pra Toca, deixar tudo pra trás... feitiçaria, profecia, Voldemort... Mas não é assim, é? – Gina perguntou mais uma vez, dessa vez virando-se para ficar de frente para o Harry. – A gente sabe que o Voldemort não vai tirar férias só porque acabou o ano letivo em Hogwarts! E aí... como vai ser?
- Eu não sei, Gina... – Harry respondeu, com um enorme sentimento de incapacidade. – Eu realmente não sei como vai ser daqui pra frente. Mas também... eu não sabia como seria o último verão, nem se eu chegaria ao fim dele, e agora já tô pensando num próximo.
- Você vai me escrever muito, não vai? – Gina perguntou, beijando-lhe os lábios suavemente. – E você vai me dizer quando tiver alguma coisa te perturbando, não vai? Eu não vou poder estar perto de você pra dividir a dor contigo, mas você sabe que se eu pudesse, eu estaria, não é?
Harry começou a rir, e Gina olhou estranho pra ele. Ela nem precisou pedir satisfação, que logo Harry já estava explicando o porquê de sua risada.
- Agora eu entendo o que o Rony quis dizer com "ela nunca cala a boca"!
- Você tá me chamando de linguaruda, faladeira? – Gina perguntou com a mão na cintura, e um sorriso no rosto.
- Não! – Harry respondeu, ainda controlando a risada remanescente e abraçando Gina – É só que foi engraçado você disparando um monte de pergunta, não me dando nem chance de responder!
- Tá certo! Dessa vez eu deixo passar! – Gina sorriu e encostou a cabeça no ombro do Harry. – Mas só porque eu vou ficar muito tempo sem te ver, e vou morrer de saudades, porque senão...
- Ah, é? – Harry perguntou com um sorriso. – E o que você faria se não me perdoasse?
Gina lançou-lhe um sorriso maroto, e Harry aproveitou os momentos antes da janta de bom humor e em ótima companhia, no que lhe dizia respeito. Com certeza, aqueles momentos seriam lembrados como mais umas de suas lembranças mais "íntimas" com a Gina. Nada que passasse muito do limite, afinal, eles estavam na Sala Comunal. Mas, com certeza, se Rony os interrompesse, ficaria horrorizado.
Durante a festa de despedida de Hogwarts, em que por mais um ano, a decoração era toda em vermelho e dourado, muitos estavam felicíssimos por terminarem mais um ano, fazendo promessas de escrever durante as férias... coisas do tipo. Os alunos do primeiro ano, em especial, estavam maravilhados. Harry, olhando-os, ficou se perguntando se um dia já fora pequeno daquele jeito. Era difícil acreditar. Mas muitos outros alunos estavam mais aliviados que o ano havia acabado e que eles de fato conseguiram terminar o ano. Não era segredo para ninguém em Hogwarts que o mundo bruxo estava em guerra, e até por isso, apesar da alegria de rever os pais e voltar pra casa, muitos estavam receosos de deixarem a proteção do castelo. Como de costume, a festa estava bem tumultuada, a comida era da melhor possível, e o pessoal da Grifinória em particular fazia questão de ficar até o finzinho e aproveitar cada momento. Principalmente os alunos do sétimo ano, que não voltariam mais a Hogwarts.
- A sua atenção, por favor... – Dumbledore fez-se notar e, como sempre, os alunos cessaram o barulho para que o Diretor dissesse suas últimas palavras, como já era de costume. – Muito aconteceu durante esse ano. Quero primeiramente parabenizar todos que estão aqui hoje. Vocês mostraram muita coragem e determinação em não terem fugido e continuado suas vidas, como deve ser. A situação é sim complicada, mas ao continuarmos com nossas vidas, e lutarmos sempre por um futuro em que todos queremos, e gostaremos de viver, é o primeiro passo para derrotar esse "obstáculo". Muita coisa ruim também aconteceu nesse ano, como no ano anterior. Como disse há exato um ano, a morte do colega Cedrico Diggory não foi em vão, e sei que vocês sabem disso já que, como ele, vocês estão lutando até o fim, trabalhando para um futuro e simplesmente vivendo, como o exemplo que ele nos deixou. Mas as dores do que aconteceu servem para nos fortalecer. Nosso querido professor Lupin que ainda se recupera, nosso colega Ronald Weasley, que está de volta e a descoberta de uma pessoa importante há muito tempo por nós esperada, que veio para ajudar-nos na luta. – Nesse instante, um sorriso sereno cobriu o rosto de Dumbledore, e ele olhou na direção geral de onde Harry estava com Gina, Rony, e Hermione. Para qualquer um ali presente no Salão Principal, Dumbledore demonstrava com o olhar o "colega Ronald Weasley que voltara". Mas para quem sabia da verdade, Dumbledore estava mesmo olhando era para a "pessoa importante há muito esperada", que com certeza era a nova feiticeira. – Lamento muito aqueles que se venderam e tiveram que partir. Mas ainda assim fico muito feliz com todo o progresso que foi feito ao que diz respeito à luta com o Voldemort nesse ano, e com todas as decisões que foram tomadas. Sei, sem sombra de dúvidas, que agora temos no que acreditar, e pelo que lutar. A partir desse ocorrido, e de todas as causas e conseqüências deste, o mundo mágico ganhou novas esperanças de um futuro melhor e pacífico. Novas Esperanças de vida. Não só de uma, mas de todos aqui presentes, e daqueles que desejam o bem. Espero vê-los de novo e tê-los conosco por mais um ano. Aos que nos deixam... escolham sabiamente. O futuro de vocês pertence somente a vocês se assim o quiserem. Aproveitem o resto da festa e permanece o meu conselho do ano passado: quando tiverem que escolher entre o que é fácil e o que é certo, lembrem de Cedrico Diggory, e de tantos outros que lutam por algo melhor. A escolha correta nem sempre é a mais fácil.
Em pouco tempo o barulho de várias vozes falando ao mesmo tempo estava de volta no Salão Principal, e as palavras do Dumbledore seriam levadas por cada um, aproveitadas por alguns, caídas em desuso por outros, mas nunca ignoradas.
A festa encontrou seu fim, e chegava o momento de voltar mais uma vez para o Expresso de Hogwarts para voltar para casa. Harry despedira-se de seu padrinho pela manhã, ganhando a promessa de que ele lhe escreveria sempre que fosse possível, e não tão esporadicamente. Ainda mais levando em consideração que Harry queria manter-se informado sobre o estado de saúde de Remo Lupin. Até de Dobby, o elfo-doméstico, Harry já havia se despedido, e claro, agradecido por tudo que foi feito para ajudar Rony no último mês. Harry já estava pronto para deixar o castelo, mas como Gina dissera na noite anterior, era tanta coisa que ficava para trás...
A viagem de volta foi tranqüila, e Harry aproveitou cada instante com os seus amigos. Demoraria a vê-los de novo, e Harry queria guardar muito bem aquele momento. Nada de cochilar na viagem de volta! Os quatro mantiveram uma conversa agradável, jogos de Snap Explosivo, e evitaram ao máximo o assunto "separação". Era como se fosse melhor nem falar sobre aquilo e encarar apenas quando chegasse o momento.
Ao chegarem na Estação King's Cross, Rony, Hermione e Gina se levantaram para pegarem seus pertences e encontrarem seus parentes que o aguardavam. Mas Harry ainda ficou para trás por um instante.
- Você não vem? – Gina perguntou da porta da cabine que os quatro dividiram na viagem de volta. Hermione e Rony já haviam ido na frente.
Harry sorriu suavemente e aproximou-se de Gina.
- Só queria fazer uma memória... e me despedir direito de você... – Harry adicionou, aumentando o sorriso e beijando Gina.
Harry encontrou e cumprimentou os Weasleys que estavam na plataforma, mas logo teve que deixá-los, já que o seu tio Válter o esperava, e já estava com o maior carão de ter que estar ali. Além do que, dessa vez, tio Válter não estava sozinho. Por algum motivo, Duda e tia Petúnia estavam com ele, mas Harry não quis ficar revirando muito o assunto. Apenas se despediu dos amigos e seguiu o tio até o carro.
A viagem até a Rua dos Alfeneiros foi tranqüila, e para a agradável surpresa de Harry, silenciosa. Ele não queria ter que ficar ouvindo os tios fazerem comentários sobre aquela "raça maldita", ou o "povo estranho" com quem Harry convivia. Ele simplesmente queria ficar na dele, em silêncio. E se tudo desse certo, seu verão seria assim: em silêncio.
Mas parecia que esses não eram os planos...
- AH! – Tia Petúnia gritou e desmaiou, assim que o carro se aproximou da Rua dos Alfeneiros nº 4.
Tio Válter pisou no breque com toda a força e empalideceu tanto, que estava quase da cor da sua camisa branca. Duda exclamava palavras sem sentido e tampava toda a janela com o seu enorme corpo, impedindo com que Harry visse o que se passava. Na mesma hora, ele abriu a porta do carro e saiu. A visão que o encontrou era no mínimo chocante: a casa nº 4 da Rua dos Alfeneiros se destacava das da vizinhança. A Marca Negra brilhava no céu bem acima dela.
Harry balançou a cabeça de um lado para o outro, tentando sair da transe de ver a casa de seus tios daquela forma. Muitos vizinhos estavam na rua, olhando aquilo intrigados e sem entender nada. Estavam tão preocupados em especular o que acontecia que nem perceberam quando uma coruja deixou cair um pergaminho enrolado nas mãos de Harry.
"Sua fiel de segredo já era! Não há mais onde se esconder. Contem seus dias, você e a sua feiticeirinha...
Você sabe quem!"
Harry ficou completamente sem reação e só conseguia pensar em uma coisa: Dumbledore! Era preciso avisar o Dumbledore!
FIM... ou não?
Notas finais da Autora: Bom, finalmente chegou ao fim!!! Nem acredito que eu consegui escrever tanto em uma história só. E Novas Esperanças com certeza me surpreendeu e muito! Nunca imaginei tanta repercussão, e fiquei gratamente surpresa com isso. Queria agradecer ao apoio de todos, e se desse, eu com certeza colocaria o nome de cada um de vocês que me ajudaram com palavras de incentivo. Ao fórum da página Harry Potter o filme, que foi onde a fic começou. Ao grupo granger_weasley onde eu fiz ótimos amigos. A todo o pessoal que me escreveu e que leu a fic através da Harryoteca, ao maravilhoso pessoal e amigos do Expresso de Hogwarts que me tratam sempre com o maior carinho, e que me abriram um espaço tão legal em sua página. Obrigada também a quem tá lendo pela Fanfiction.net, fiz amigos maravilhosos aqui... e claro, a todos que gastaram um tempinho me escrevendo um e-mail, e que me ajudaram tanto a continuar escrevendo até sem saber... Obrigada mesmo, e desculpe-me se eu esqueci de alguém aqui. Porque no meu coração, eu não esqueço nunca! Dá até uma certa saudade e um sentimento de vazio ao pensar que terminou, mas eu deixei a fic em aberto para, quem sabe um dia, haver uma continuação. Milhões de obrigadas e beijos a todos! Amanda.