Disclaimer: Essa história é baseada em personagens e situações criados e pertencentes à J.K. Rowling, Bloomsbury Books, Warner Bros., Editora Rocco, entre outros. Não foi feita com fins lucrativos, e qualquer ofensa aos direitos autorais do autor não é intencional.

Nota da Autora: Com alguns meses de atraso, chega agora a mais recente loucura produzida pela minha cabeça: 'O Conto do James'. A fic vai ter quatro capítulos mais prólogo, e é uma resposta ao item 'POV do James', do Projeto Elvendork – Clichês Invertidos do Fórum 6V. Eu pessoalmente acho que fiz fiz um trabalho horroroso com esse item, e que podia tê-lo utilizado melhor com um tema um pouco menos batido, mas a história meio que saiu do meu controle e... bem, não cabe a mim julgar. De qualquer forma, espero que vocês gostem.

Prólogo

"Você não vai ler isso para ele."

Levantei os olhos do livro que tinha no colo e virei a cabeça para fitar Lily.

"Por que não?" perguntei, e ela trouxe a pilha de roupinhas do Harry para perto do peito, protetoramente.

"Ele é só um bebê, James!" Revirei os olhos. Eu sei que ele é só um bebê. Meio que consegui adivinhar essa sozinho, Lils. "E esse livro... esse livro é horrível!" Lily acrescentou, enquanto abria e fechava rapidamente as gavetas da cômoda, guardando todas as roupinhas em segundos (Aliás, como é que ela quer que eu saiba onde estão as coisas depois, guardando tudo nessa rapidez? Não consegui nem ver em que gaveta ela guardou o pijama azul).

"Beedle o Bardo?" perguntei, mostrando a capa do livro para ela. Sinceramente, estava meio confuso.

"É, esse mesmo", ela respondeu, virando-se de frente para mim, com o quadril apoiado na cômoda atrás dela. "Eu li ele semana passada", disse, cruzando os braços na altura do sinal.

Ai. Postura hostil. Isso sempre é um mau sinal.

"Você não gostou".

"É um livro horrível, James".

"Entendo que seja um pouco fraco mesmo, mas é um livro para crianças, amor." Lily arregalou os olhos e então os estreitou na minha direção. Mau sinal mesmo.

"Quem disse isso? Eu não vi isso escrito em lugar nenhum."

"Você está brincando!"

Os olhos dela se estreitaram ainda mais.

"Ah, sério, Lily, vai dizer que sua mãe nunca leu para você 'O Bruxo e o Caldeirão Saltitante' ou 'A Fonte da Sorte'!" ela fez que não com a cabeça. "Ah, mas ela ou alguém deve ter pelo menos contado algumas das histórias. É impossível que você não..."

Lily suspirou e eu parei de falar, me dando conta do tamanho do fora que tinha acabado de dar. É claro que ela não conhecia.

"Eu sou..." ela disse.

"Ah, é. Eu tinha esquecido", respondi rapidamente.

Bom, a verdade é que toda família tem o seu elefante branco. Sabe, o elefante daquela história em que há um elefante branco sob feitiço de invisibilidade bem no meio da sala? Pois é. Se tem algo que eu aprendi nesses meus 21 anos de vida (sim, sou velho, pode dizer) é que toda a família tem o seu. Para algumas famílias, o elefante toma a forma do tio Arnold, aquele tio divertido que sempre toma todas nas festas de família e acaba fazendo algum escândalo, tipo ir correr peladão em volta da piscina e coisas do tipo.

O nosso elefante era o fato da Lily ser nascida-trouxa. Certo, não era um elefante branco muito tradicional, afinal, nós sabíamos que ele estava ali (o ponto da história é que as pessoas na casa não percebem que há um elefante invisível no meio da sala – o que é meio idiota, se você for me perguntar, porque invisibilidade não impede os objetos/pessoas/elefantes de fazerem volume ). Além disso, os elefantes geralmente são algo vergonhoso – por isso o feitiço de invisibilidade – e eu nunca achei que ser trouxa fosse algo para se ter vergonha. Acho que a Lily também não, para falar a verdade, porque ela nunca escondeu que era nascida-trouxa, só prefere não comentar (Harry, infelizmente, é muito pequeno para sequer compreender o assunto, que dirá ter uma opinião sobre ele).

"É sério que isso é um livro para crianças?" ela perguntou, depois de um momento. Como Viver Com Lily Potter, Capítulo 3: Acordos e Negociações: quando Lily questiona o que você acabou de afirmar é porque ela quer que você a convença.

Fiz que sim com a cabeça.

"Você tem certeza? É que tem uma caveira na capa. Isso dificilmente pode ser considerado uma indicação de livro infantil.".

"É por causa do Conto dos Três Irmãos", respondi, dando de ombros. Lily tinha as perguntas mais estranhas do mundo às vezes!

"Que conto é esse?"

"Você leu o livro?"

"Li, mas não me lembro desse conto". Leia-se: não leu. Mas quem sou eu para comentar, não é mesmo?

"Bom, é uma história sobre três irmãos", óbvio, "que um dia encontram a Morte e..."

"Eles encontram quem?" Lily perguntou devagar, como se eu tivesse dito algo tão absurdo como Severus Snape lavando o cabelo ou algo do tipo.

"A Morte".

"Você não vai ler esse conto para o Harry", ela afirmou, em tom categórico.

"Você pode me deixar terminar?"

"Posso", ela respondeu, na maior cara-de-pau. "Mas não vai fazer a menor diferença, porque você não vai ler esse conto para o Harry, de qualquer maneira".

Respirei fundo. Tudo bem, Lily é uma mãe protetora. Eu entendo isso. Quero dizer, a infância é uma das fases mais importantes da vida de um indivíduo – qualquer coisinha que a gente, como pais, faça errado, e pá! Mais um maluco a solta pelo mundo!

É sério. Eu li todos aqueles livros de auto-ajuda para pais, tipo 'O Que Esperar Quando Você Está Esperando' e 'Pais Legais, Bruxinhos Maneiros', essa baboseira toda.

Aliás, é uma experiência assustadora. Aparentemente, tudo que eu faço como pai pode estar prejudicando o crescimento do Harry. Ler para ele antes de dormir pode traumatizá-lo, não ler para ele antes de dormir pode traumatizá-lo; brincar de fazer caretas pode traumatizá-lo, não brincar pode traumatizá-lo... Seguindo essa linha de raciocínio, só o mero fato de eu ter acabado de pensar na palavra 'trauma' pode ser o suficiente para traumatizar o bebê.

Merlin.

Será que eu condenei meu filho a uma vida de esquizofrenia e problemas mentais? Será que Harry vai se tornar um adulto com distúrbios graves, tipo cantar 'Brilha Brilha Estrelinha' (ou 'Bia Bia Iiinha', como a canção é conhecida em Harryoquês) obsessivamente ou ficar dias sem tomar banho?

Droga, eu sabia que não deveria ter ensinado essa música para ele.

Afinal, é a porcaria de uma canção sobre uma estrela. Que brilha. Não exatamente um primor da história da poesia.

Que tipo de adulto ele vai se tornar quando seu pai lhe dá 'estímulos' retardados como esse? (Aparentemente, coisas como leituras, canções, cores, respirar em cima da criança, etc, são todas consideradas estímulos por esse pessoal que escreve auto-ajuda e podem afetar gravemente o desenvolvimento do bebê. Logo, pais de primeira viagem, jamais respirem em cima de seu rebento, pois você pode estar transformando-o em um serial killer em potencial!).

"Você acha que 'Os Contos de Beedle, O Bardo' pode ser um estímulo errado?" perguntei.

Lily sorriu. Ela não acredita nessa coisa de estímulos, apesar de ter lido os mesmos livros que eu li sobre o assunto (os quais ela depois descartou sumariamente, declarando que eram todos um besteirol sem fim – o que me leva a perguntar quantas crianças saudáveis ela já criou na vida para ter tanta certeza, a sabichona).

"Você sabe que eu acho essa coisa de estímulos uma bobagem," eu não disse? "Mas acho que talvez seja melhor ler outra coisa para ele, só por garantia".

"Minha mãe leu todo 'Os Contos de Beedle, o Bardo' para mim, quando eu era pequeno".

"Sério?"

"Ahã. Segundo ela, umas duzentas vezes."

"Aaahh, agora tudo faz sentido!" ela disse, sorrindo zombeteiramente. Meramente levantei uma sobrancelha. "Suas dificuldades em entender regras, problemas de ego... tudo estímulos errados!".

Rá, rá, que engraçadinha. Morri de rir agora.

"Não acho engraçado, Lily. Eu me preocupo muito com a saúde mental do meu filho, visto que ele já tem uma combinação genética particularmente ruim, muito obrigada".

"Não há nada de errado com Harry", Lily respondeu, muito séria.

"É claro que não", respondi no mesmo tom. "Exceto pelo fato dele ter uma mãe louca".

Harry aproveita a pausa na conversa para abrir o berreiro. Automaticamente, Lily e eu paramos tudo que estamos fazendo e nos viramos para ele. Como ela está mais próxima do berço, quando penso em me levantar, a ruiva já está com o bebê no colo, apalpando-o para ver se ele não está ferido ou algo do tipo.

Harry estende as mãozinhas para o rosto de Lily e diz com voz chorosa: "Ut". Lily e eu nos olhamos – nosso velho amigo, o sr. Pânico, que sempre aparece quando não conseguimos identificar o que Harry quer, acaba de aparecer para uma visita.

Vendo que ela não entendeu, ele (Harry, quero dizer, não o sr. Pânico) se vira para mim e repete: "Ut, papa, ut".

"Ut?" repito, ainda sem entender.

"Ut", ele balança a cabecinha, e então, "Nachô".

Olho ao redor por um momento, tentando fazer a tradução para o inglês. Ut. Nachô. Então vem a luz!

Padfoot. Não achou.

"O cachorro", digo para Lily, "ele quer o cachorro".

"Ah, isso", ela passa o Harry para o outro braço e revira rapidamente os cobertores dentro do berço, procurando por um pequeno cachorro de pelúcia preta chamado Padfoot que – advinha só! – Sirius deu para ele. (Francamente. Como eu, entre todos os Marotos, fui levar a fama de egocêntrico é algo que eu nunca vou entender!).

Enxergo o cachorro, perdido em um canto, e o estendo para Lily. Ela o entrega Harry e juntos nós o acomodamos para dormir, dentro do berço (o bebê, não o brinquedo).

"Agora tá na hora do bebê Harry dormir", Lily declara, e Harry pisca os olhos muito verdes na direção da mãe, com um ar de confusão. Eu não consigo evitar um sorriso - o garoto é esperto: nem um ano de idade ainda e já está aplicando o velho golpe 'não sei do que você está falando'.

"Pode deixar que eu assumo agora", digo, me espregiçando.

Lily me olha com aquele ar de 'você acha que eu nasci ontem?'.

"Não tem problema, James. Pode ir dormir."

"Não estou com sono" respondo, de repente me divertindo horrores com essa situação. "Mas você deve estar cansada, Lils. Pode deixar que eu fico aqui lendo para o Harry até ele dormir", provoco mais um pouco.

Ela pára no meio do quarto, com uma mão na cintura.

"Papa!" Harry diz, e eu levanto uma sobrancelha na direção dela.

"Está vendo?"

"James, você vai corromper o meu filho", ela diz, em tom de brincadeira.

"Não é minha culpa se a criança nasceu iluminada, com um pendor para ser intelectual".

Lily ri, e eu sinto que ela vai ceder.

"Não esse livro, James". Droga.

"Você tem outra sugestão de livro infantil?"

"Um conto de fadas".

"Um o quê?!"

"Um conto de fadas".

"Lily, você sabe o que é uma fada?" pergunto. Lily não pode estar falando sério! Quero dizer, fadas! Fadas! Aquelas criaturinhas incrivelmente irritantes, que ficam zumbindo no seu ouvido e mordem você quando você menos espera. Gárgulas galopantes... fadas!

Francamente.

"Eu sei o que é uma fada".

"Não, você não sabe. Se você soubesse, não estaria fazendo essa sugestão absurda, Lily!".

"Não sei que mal há em contos de fadas, James!".

"Lily, Harry é só um bebê", digo, encarando-a incrédulo. Então me dou conta que deve estar acontecendo uma pequena falha de comunicação entre nós. Quero dizer, a ruiva jamais iria sugerir que eu contasse/lesse uma história horrenda sobre fadas comendo as larvas de uma tribo de fadas rivais ou algo do tipo. Não para o nosso bebê, pelo menos.

Ela pisca os olhos muito verdes devagar, como Harry tinha acabado de fazer momentos antes. Incrível essa coisa dos olhos iguais, não é mesmo?

"Eu sei disso", ela diz, mais suavemente do que eu esperava.

"Você sabe que 'contos de fadas' geralmente são histórias horrendas que envolvem canibalismo e infanticídio, entre outras coisas, certo? Porque fadas são perigosas, sabe".

"Na verdade, não", ela diz, piscando meio confusa. "Sempre achei que fadas fossem dóceis e tal".

"Oh, não. São criaturas extremamente rixentas. Elas se tornam dóceis quando você as usa como decoração ou coisa do tipo, porque são muito vaidosas, mas em geral estão sempre tentando matar umas às outras".

"Que horror".

Dou de ombros. É a vida, fazer o quê?

"'Contos de fadas' para mim eram histórias de princesas", Lily diz, depois de uns segundos de silêncio.

"Princesas?"

"É. Donzelas solitárias que vivem sob o peso de uma maldição até o dia em que encontram o verdadeiro amor".

Não devo rir das idéias da Lily. Não importa o quão malucas elas sejam, eu não devo. Não devo.

"Você podia ler uma história dessas para o Harry", ela acrescenta, ao ver que eu não pretendo responder. Não devo rir, não devo rir...

"Uma história sobre uma princesa que encontra o amor?"

"É", ela diz, um pouco ofendida pelo meu claro desprezo pela idéia. Pelo amor de Merlin, ela não pode estar falando sério.

"Lily, Harry é um garoto".

"Sério, James?!" ela diz, em tom falsamente surpreso.

"Não podemos ler esse tipo de coisa para ele."

"Por que não?"

"Porque ele viraria gay."