Capítulo 8 — A Próxima Grande Aventura

Ginny Weasley voltou à sala de controles, com seus cabelos ainda molhados e tentando gritar por cima do som enlouquecido das máquinas funcionando.

— O que vocês estão fazendo?

— Usando os controles de aleatoriedades! — respondeu o alienígena, sorrindo para ela. — Segure-se.

A TARDIS voava pelo vortex temporal alucinadamente, balançando para todos os lados, e os cabelos desgrenhados de Ginny colavam em seu rosto e seu pescoço, enquanto Draco ria alto, claramente se divertindo mais do que em qualquer outra ocasião.

— Achei que fossemos levar ele para casa! — reclamou, ainda berrando.

— Nah, mudança de planos — anunciou o Doctor, sorrindo. — Quase lá!

— Lá AONDE? — perguntou a ruiva, confusa.

— Não faço idéia! — respondeu o homem, rindo. — Me dê o martelo! — falou para o loiro, que o entregou a ferramenta. Ele a usou para bater nos controles, e uma chuva de faíscas encheu o ambiente.

— Isso é loucura — Ginny disse, rindo. — Você não sabe dirigir isso!

— Quem está sendo chato agora? — falou Draco, rindo também.

Com um barulho alto, a nave parou em seu destino. Os três se olharam sorrindo, e o homem começou a caminhar em direção a porta.

— Vamos lá! Novo mundo!

Mas a ruiva balançou a cabeça, horrorizada.

— Eu não vou sair assim. E vocês dois estão imundos.

— Por tudo que sabemos, podemos estar no meio de um lixão — falou o alienígena, sorrindo.

— Ou no meio de uma corte real, então, tratem de tomar um banho — e colocando as mãos na cintura, anunciou. — JÁ!

Os dois homens se entreolharam e saíram da cabine de controle, juntos.

— Meio mandona, não? — perguntou o Doctor.

— Você não tem idéia! — replicou o loiro. — E a cunhada dela é ainda pior...

— EI, EU ESTOU OUVINDO! — falou a ruiva, e os dois riram.

E, sozinha na sala de controle, ela riu também.


Draco voltou à sala de controle com uma calça social simples e uma camisa igualmente simples, ambas pretas, sem nenhum detalhe, exceto pela gola branca da camisa. Aquela imagem parecia muito familiar para Ginny, embora não soubesse dizer exatamente por quê. Era como se as roupas dissessem muito sobre a personalidade arredia do rapaz.

Ele a encarou também, avaliando sua roupa. Ginny tinha pegado um vestido simples, rosa-chá, e o garoto sorriu com escarninho.

— Rosa é uma péssima cor para ruivas. Você está... Uma coisa só.

— Olha quem fala, senhor monocromático.

— Eu estou sendo clássico e é uma roupa ideal para qualquer lugar que estejamos. Já você parece ter saído de algum daqueles seriados da década de sessenta, mas ninguém ama Ginny.

A garota olhou-o, arredia e irritada, e abriu a boca para responder.

— Céus, nem cinco minutos e vocês já estão brigando. Sério, vocês deveriam receber algum tipo de prêmio. Ou voltar para a pré-escola, eu ainda não sei bem qual é a melhor opção.

A ruiva cruzou os braços, irritada.

— Você devia tê-lo levado para casa.

— Agora, vamos, não seja egoísta, Ginny. Ele também merece um pouco de diversão. E a TARDIS tem espaço sobrando!

Weasley não respondeu, ainda emburrada, e Draco riu, descendo as escadas em direção à porta. Ele parou por um instante, em dúvida.

— Depois de vocês! — falou o alienígena, fazendo um gesto.

As portas da Tardis se abriram em uma praça semi-deserta. Uma igreja ocupava o centro do local, e algumas pessoas passavam para lá e para cá, sem prestarem atenção nos três. Havia algumas casas, todas muito comuns, embora pudessem ver no horizonte um alto prédio Hi-Tech, com linhas sinuosas que terminavam em um arranjo elegante.

— Ninguém está olhando para nós — falou o loiro, surpreso. — Estamos parados no meio de uma praça, mas ninguém está achando estranho que tenha aparecido uma cabine de polícia no meio dela.

— A Tardis tem um filtro de percepção, vocês não conseguem vê-la. Quero dizer, conseguem vê-la, mas não prestar atenção nela. Humanos, vocês são um tanto burros.

O rapaz olhou para ele, prestes a se ofender, mas mudou de ideia e deu os ombros, como se concordasse.

— Mas... Onde estamos? — perguntou Ginny, ainda olhando em volta. — E... Quando? As casas parecem antigas, mas aquele prédio certamente não é do nosso tempo!

O alienígena consultou o relógio por um instante, balançou-o um pouco, e depois lambeu o dedo colocando-o para cima.

— Algum tempo depois do ano treze mil, uns vinte meses talvez? E pelo ar eu diria que estamos em algum lugar do Peru. Vocês vão amar isso. É o Segundo Império Romano!

— Você está brincando! — falou o loiro, virando-se. — Romano?

— Ah, bem, nunca procurei saber bem como, mas eles reconquistaram o planeta. E não só a Terra, não, vocês já se espalharam por todas as galáxias em torno daqui, e é tudo controlado pelo Imperador em Roma. Ahh... É quase como nos velhos tempos, o senado, o conselho das matronas, a imensidão de pessoas e cultos...

Neste momento, a porta de uma das casas se abriu, e dois policiais saíram arrastando um homem para fora. Uma garotinha gritava, chamando seu pai de volta, mas os dois guardas não deram a menor atenção, a não ser ao empurrá-la novamente para dentro. Interrompendo sua frase, o Doctor saiu correndo em direção aos quatro humanos.

— Ei! Ei! Ei! — falou, com uma voz amigável. — O que está acontecendo? Tenho certeza que não há necessidade dessa violência.

Um dos guardas olhou para ele por um segundo antes de responder.

— Esse homem é perigoso, senhor, estou avisando, fique longe disto.

O homem, que devia ter por volta de uns quarenta anos e o rosto bem queimado de sol, chorava e nem mesmo tentava se libertar, enquanto guarda que não o segurava mantinha a pistola voltada diretamente para suas pernas. Ginny tinha corrido e aparava a menina, de uns sete anos, abraçando-a e tentando acalmá-la.

— Ele não me parece perigoso. Ao menos não é ele quem está carregando uma arma! — disse, reprovando. — O que você fez, camarada?

— Ele é um herege — falou o guarda com a pistola, e cuspiu no chão. — Nada mais do que escória. É um perigo para ele mesmo e para os outros que pode infectar com suas idéias absurdas.

O Doctor olhou de um para o outro, antes de perguntar:

— E você é...?

— Padre Juan, senhor. E estou agindo com ordens expressas do Bispo de Caracas, então, não há com que se preocupar. Ele terá exatamente o que merece. Vamos lá.

Os dois saíram, carregando o prisioneiro, e o Doctor apenas olhou para ambos por um instante antes de virar-se para Draco.

— Isso está errado — falou categórico.

— Padre Juan, hein? — perguntou Draco, sério. — Parece que a Igreja evoluiu desde a última vez que eu a vi.

— Você chama isso de evolução? — perguntou o homem, claramente irritado, e o loiro deu os ombros novamente.

— O que vamos fazer? — perguntou Ginny, ainda abraçada com a menininha que chorava.

— Nós vamos investigar — respondeu, firme, e agachando-se até ficar na altura da menina, ele falou. — Nós vamos resolver isso, você vai ver. Eu prometo que você vai voltar a ver seu pai.

A menina fungou, ainda assustada, mas encarou-o de volta.

— Confie em mim — disse o alienígena, ainda tentando tranqüilizá-la.

— Ele não vai voltar, senhor — ela falou baixinho. — Eles estavam certos. Ele é um herege, e a única saída dele será a fogueira.

E, levantando-se, ela entrou na casa e fechou a porta na cara dos três.

— Fogueiras, heresias, e padres prendendo pessoas — falou Draco, com um sorriso torto e sem humor. — Acho que já sabemos como Roma dominou o mundo, Doctor. Não com o punho do homem, mas com o chicote de Deus.

O alienígena o olhou horrorizado por apenas alguns instantes, antes de fechar a boca e falar.

— Vamos. Tem muitas outras coisas que ainda precisamos descobrir.