A/N: Universo Paralelo, linguagem imprópria, sexo, angst e morte. Narrativa em terceira pessoa.

Resumo: Near, Mello e Matt são agentes do Governo que trabalham sob disfarce contra a máfia italiana. A missão toda vai por água abaixo quando Near morre e deixa Mello absolutamente desolado.

Death Note pertence a Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Toda e qualquer menção de personagens ou alusões à série não possuem fins lucrativos. Somente uma fangirl usando seus personagens favoritos.

Fanfic dedicada a Sara (~Earthquakeonmind). Deveria ser oneshot, mas acabei escrevendo bem mais que isso. É uma história curta de qualquer forma. Não foi betada, portanto, se notar algum erro ficaria agradecida se me avisasse.

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O cheiro fétido da doca temperava o ar úmido e quente, transformando-se em um abraço forçado e incômodo. Isso parecia não incomodar a figura de preto próxima à borda do cais: seu traje era completo, desde o casaco sobre o terno até a impecável gravata. E então, havia o silêncio perturbador - exceto pelo mar. O mar se jogava contra os barcos tal qual um acalento gentil, mas não havia nenhuma gentileza naquele lugar. Near sabia melhor.

- Senhor, eles estão atrasados. Anormalmente atrasados – apontou o subordinado ao seu lado, a voz notada de ligeira preocupação.

Sua mão procurou o relógio de bolso automaticamente, observando com sutil fascinação o artefato do tempo. Sim, eles estavam atrasados. Quarenta e sete minutos – mais do que incomum, aquilo cheirava a uma armadilha da qual poderia escapar se quisesse. A questão é que em toda a missão foi especialmente meticuloso, calculista e racional. Não cometera um deslize sequer e toda a repartição o elogiava, dizendo que foi o melhor trabalho feito em anos. Freqüentemente se perguntava o porque de trabalhar sob disfarces, sob a constante mentira. Poderia dizer que era excelente nisso, poderia dizer que o trabalho era muito fácil para suas faculdades mentais – poderia até mesmo dizer que nascera para fazer isso. Mas sabia o verdadeiro motivo pelo qual se sentia tão confortável sendo outra pessoa.

- Não é seguro permanecer aqui, Senhor, devemos—.

- Nós ficaremos, Geovani.

Talvez devessem mesmo ir embora, recuar e abortar a missão. Havia tomado uma atitude impulsiva pela primeira vez na sua vida e estava pagando caro por isso. Se fugissem, tudo o que fizera nos últimos três anos estaria arruinado e não cumpriria seu objetivo, de matar o chefe da família Sciaccia e revelar seus esquemas de drogas e prostituição. Alguém, que sabia exatamente como, havia perturbado o agente a ponto de deixar que as emoções falassem mais alto. Odiava-o por isso, mas se odiava ainda mais agora. Ele o acusara de ser tão racional que nem ao menos via o quanto se assemelhava aos assassinos que perseguia, o quanto era cruel e frio quanto eles. Também jogou as várias fotos do último local do trabalho do chefe daquela família, crianças mortas e mulheres espalhadas dentre os destroços como bonecos estraçalhados. "Você vai deixar isso acontecer mais uma vez? Quem é você? Não o reconheço mais, seu idiota!" – Mello era a única pessoa com autoridade o suficiente para dizer isso. Ele e Matt haviam sido seus amigos desde o momento em que entrara na academia. Seus melhores amigos.

- Se eles nos observam agora, a fuga seria a última coisa que eles precisam ver.

- Nunca questionei suas decisões, Near... mas aceite um conselho de um amigo – murmurou ele, mudando sua postura por completo. – Você precisa sair daqui. Não vai poder continuar se for morto aqui, vai?

- Não... Mas você vai – sussurrou de volta. Num movimento rápido, suas mãos alcançaram as armas debaixo do casaco ao mesmo tempo em que empurrara o outro para o lado. Eles sabiam. Sabiam que ele era o agente do Governo e que ele era a razão pela qual várias rotas das drogas haviam sido descobertas. E eles abriam fogo sem perguntas e sem explicações: era esse o tratamento para traidores.

Atirava contra os homens de Sciaccia, correndo para o container mais próximo. O som de balas sendo disparadas ricocheteava como eco pelas paredes de metal. Corria desesperadamente e não era o suficiente, eram muitos contra um só. Geovani foi instruído para que se chegassem a este ponto, deveria fugir mesmo que isso implicasse em deixar Near para trás. Havia informações que deveriam chegar à Agência e Near era o melhor atirador de todos, pontaria perfeita e concentração impecável. Que de nada valiam quando estava cercado por mais de vinte homens armados com metralhadoras e espingardas. Apoiava suas costas na superfície gelada, enquanto recuperava seu ar depois de correr por toda a área. Estava cercado e sem opções, com uma voz familiar ordenando que se rendesse – foi aquele que matou a agente Misa em sua frente, para mostrar seu valor e fidelidade.

- Você sabe que não tem saída! O que está esperando para se render?

Destituído de todo e qualquer plano, deixou que as duas pistolas prateadas caíssem, fazendo um estrondo ao se chocarem contra o chão. Deu alguns passos para frente, indo em direção ao grupo que o perseguia, de mãos ao alto. O farol alto de um dos carros não deixava que ele enxergasse seus opressores claramente, mas continuou andando. E em um segundo todo o mundo pareceu se distorcer diante de seus olhos. A dor dilacerava seu corpo e ao que olhava para o próprio corpo, sua garganta pareceu se inundar de sangue, sufocando-o. Seus joelhos falharam e desabou sobre eles, somente para encontrar o chão. Viu o líquido vermelho se espalhar sobre o cimento e ouviu a risada sarcástica que pareceu bastante conveniente à situação – estava morrendo pelo único ato emocional que fizera em todos os seus vinte e três anos. Mello teria de perdoá-lo.