Existir

Estive olhando pro espelho por tanto tempo,
Que comecei a acreditar que a minha alma está do outro lado.
Todos os pequenos pedaços caindo, quebrados.
Pedaços de mim,
Afiados demais para serem juntados.
Pequenos demais para terem importância,
Mas grandes o suficiente para me cortar em tantos pequenos pedaços.
Se eu tentar tocá-la.

( Breathe No More by Evanescence. )

Os dedos são pálidos, longos e gélidos. Feitos, talvez, de porcelana. Ou de pérola, quem sabe? Delicados. Estão trêmulos, tocando inseguros a superfície de vidro que a separa de tudo.

Agora, sua mão está espalmada sobre o reflexo no espelho. Ela cobre seu rosto completamente, enquanto translúcidas imagens de um mundo diferente do dela lhe capturam a atenção.

Só pode ver e escutar sem jamais participar. Não vive nunca, apenas existe na imaginação de alguns. Alguns, quem?

(Eu quero viver, eu quero viver!)

Porque tamanha injustiça, Pai? Porque elas estão lá e essa está aqui? Quisera ela responder suas próprias perguntas.

(Onde é aqui? Salvem-me dessa escuridão!)

A superfície do espelho é fria. Tão fria quanto o rosto da boneca que tudo observa, porque observar é tudo o que pode fazer. Vê as irmãs, remoendo um sentimento semelhante à inveja. Escuta os gritos e saboreia as lágrimas, divertindo-se com o infortúnio que uma hora ou outra cai sobre as Rozen Maiden. Aquela tendência ao sadismo não é sua culpa!

(Sintam! Sintam como eu me sinto.)

Há lágrimas em seus olhos, mas ela não sabe. Ignora seu reflexo do mesmo modo que as outras bonecas lhe ignoraram a existência. Porque ela não quer ver uma simples imagem refletida no espelho, ela quer ver o maldito vidro que a separa de tudo e de todas se estilhaçar em centenas...Milhares...Milhões de cacos de vidro! Ela quer sua imagem refletida por todos os lados, para que todos a vejam e saibam que ela está ali.

(Não me importo que me odeiem...)

Pouco importa que o vidro corta. É uma boneca e bonecas não sangram. Não importa o que tenha de fazer, ela irá para o outro lado. Ela não quer uma existência. Ela quer uma vida. Uma vida onde a conheçam.

(... Mas, por favor, não me ignorem!)

Mas ela sabe que um dia isso vai acontecer. Milagres acontecem vez ou outra, basta estar no lugar certo na hora certa. Não foi o que acontecera com sua idolatrada irmã mais velha? Talvez, com um pouco mais de sorte...

Sim, tudo vai dar certo! O espelho não vai prendê-la por muito mais tempo, ela já não vai precisar criar música para seus ouvidos ou imaginar estar realmente no Alice Game. Porque ela vai estar lá.

Logo, logo. E ela sabe. Que todas as outras se preparassem para sua chegada, quando desabrocharem as rosas brancas. Porque aquele falso espelho não ia durar muito mais tempo. Viram? Já estava em cacos. Agora, é a vez dela!

(Minhas irmãs, o vidro já não nos separa e os cacos não podem me ferir. Vamos brincar juntas, minhas irmãs. Só dessa vez.)

FIM

Nota da Autora: Ficou curtinho, mas era só porque eu estava com vontade de escrever algo sobre a Kirakishou. Espero que quem tenha lido tenha gostado. Mais alguma coisa? Ah, sim.

"Porque aquele falso espelho não ia durar muito mais tempo. Viram? Já estava em cacos."

Aqui é uma rápida referência a morte da Barasuishou, viu? Ficou beeeem indireto, até porque ela não foi nem mencionada nem nada, mas deixa baixo..