N.A: Ok, isso sou eu me aventurando por novos caminhos. É uma aventura, porque provavelmente ninguém vai ler (10 things é um fandom bem pequeno ainda), mas se você já abriu, dê uma chance - não a fic, mas ao seriado, que é surpreendemente bom (e se depois que você ouvir a voz do Patrick, você ainda não querer assistir o resto, desista). E, se você gostar, volte aqui e me diga se eu consegui me interferir direito na mente complicada de Patrick Verona.

Disclaimer: A julgar pelos meus suspiros sonhadores diários, "10 Things" não me pertence, nem tampouco os personagens (ou os atores).

Sumário: É só porque ele quer provar a Katherine Stratford que ele não tem um coração de pedra; só por isso ele voltou para pegar os discos da mãe dela. Ou pelo menos, é o que Patrick Verona diz a si mesmo. Missing Moment do Episódio 1.07, Light my fire.

N.A²: Sim. Aliás, não, eu não fui criativa com o título da fic. E, sim, é uma one-shot bem curtinha. E, não, não foi betada, então qualquer erro pode apontar ;) (e isso é uma desculpa para eu ganhar reviews).


Light my fire

- O que eu posso dizer? – ela perguntou, sua voz cheia de sarcasmo. – Eu não sou fácil.

Aquela era a frase mais óbvia que ele já tinha ouvido no século. Era claro para qualquer um que Katherine – não, Kat era mais apropriado a ela – Stratford era a pessoa mais difícil do mundo. Na maioria das vezes, ele gostava disso – porque ela realmente era um desafio, não?

Agora, ao vê-la dando-lhe as costas e indo embora – o que ela fazia com uma freqüência irritante -, ele desejava honestamente que ela pudesse ser um pouquinho mais razoável às vezes.

Não era como se ele tivesse querido chamá-la de piranha ou qualquer coisa nesse sentido – ele podia ver que ela não era como aquelas outras garotas que ele beijava e se divertia pela noite. Ela era... diferente, mas também não era como se ele também tivesse decidido que gostaria de passar o resto da vida com ela – as pessoas realmente decidiam isso? – ou coisa assim.

Ela era interessante apenas, algo que ele nunca havia encontrado antes. Algo que o havia feito invadir o quarto dela às onze da noite, porque esperar pelo dia seguinte parecera tempo demais. Algo que o havia feito convidá-la para um clube, sendo que ele nunca havia convidado ninguém antes para sair – elas vinham procurá-lo, sempre. Algo que o havia feito sentir respeito por uma garota – não, ela era mais como uma mulher – que consertara o seu carro, sozinha. Algo que o havia feito sentir saudades de sua presença, de sua voz lhe mandando colocar o capacete, de suas reclamações – ela levara a sério aquela história de ficar longe dele, e isso o irritara. Algo que o fizera se declarar para alguém.

Patrick Verona estava ficando patético, e sabia disso, mas não conseguia se importar.

Por que, afinal, qual era o problema de querer beijar alguém enquanto o fogo se espalhava entre as montanhas? Era bonito – ele se decidiu, resoluto. Havia algo de interessante no vermelho brilhando contra o céu escuro, e não era todo dia que se via um incêndio naquelas proporções. Não era todo dia que um beijo – simples, pelos seus padrões – fazia seu coração disparar – e ele sentira isso alguma vez? -, ou que uma garota – menina-mulher – fazia sua curiosidade despertar – ele chegava a querer voltar à escola só para vê-la, se perguntando sobre o que eles discutiriam, como ele poderia irritá-la, quando ele finalmente a beijaria.

Não que esse detalhe tivesse ocorrido de acordo com os seus planos. Ele já deveria saber, entretanto – quando os dois haviam conseguido ficar juntos por um instante sem que algo – geralmente, eles próprios – interferissem? Eles estavam tendo um momento tão agradável...

Até ela - claro, ele pensou sombriamente – distorcer as palavras dele. Será que ela não tinha percebido que ele só queria lhe elogiar? Mas, ao invés de sentir grata – porque Patrick Verona nunca elogiava -, ela se ofendera e ainda o acusara de não se importar com o fogo, com as casas destruídas, com o que ela iria perder.

Talvez ele não se importasse com a própria casa. Talvez ele achasse o incêndio um belo espetáculo. Isso não queria dizer que ele quisesse ver a destruição. Ou ela triste.

Bem lá no fundo, Patrick Verona tinha um coração.

O que deveria explicar ele ter abandonado a evacuação em Padua High e estar caminhando pelas ruas desertas da cidade. Ao fundo, ele podia ouvir uma sirene dos caminhões de bombeiro, o som se aproximando conforme ele chegava mais perto.

Ele se permitiu um sorriso irônico, ao pensar que estava caminhando em direção a morte.

Mas ele sequer vira os bombeiros quando finalmente chegou ao seu destino. Uma onda de decepção o inundou quando ele percebeu que se precipitara. O fogo estava a leste e, com aquele vento e distância, os bombeiros já o teriam contido muito antes dele sequer ameaçar a casa dos Stratford. A casa dela.

Ainda assim, ele estava ali e, mesmo perdendo seu grande ato de coragem, não iria perder a viagem; e Patrick tinha que lhe provar algo. Ele não tinha um coração gelado de pedra - só às vezes, claro. Ele não queria que ela perdesse as poucas lembranças que tinha da mãe.

Escalar a árvore até a janela do quarto dela era mais fácil agora. Fazer isso lhe trouxe algo parecido com tristeza, porque da última – e primeira – vez que ele escalara, ele estava cheio de animação e – estranhamente – esperança, prevendo beijá-la e vê-la sorrindo pelo resto da noite.

Agora, ele só iria mostrar a Kat Stratford que ela estava errada. Isso faria um bem a ela, Patrick concluiu com um sorriso satisfeito.

A janela emperrada o dificultou mais do que quando ele teve que tatear as paredes do quarto à procura do interruptor. Pisando em um alguma roupa esquecida no chão do quarto, e empurrando um pufe para o lado, ele conseguiu acender a luz.

Era um pouco mais bagunçado do que ele imaginaria para a Srta. Certinha Defensora do Meio-Ambiente, mas ainda assim, era a cara dela; ele estava achando graça na bandeira da Inglaterra acima da cama, nas luzes apagadas ao redor da cortina e nos pôsteres de banda que mostravam que eles tinham algumas coisas em comum. Mas o que Patrick mais adorava era o aroma do quarto – porque era tão dela, que, pelo que ele sabia, Kat Stratford poderia estar ao seu lado agora. O aroma era uma mistura de frutas cítricas e flores do campo, algo que ele nunca encontrara no perfume das garotas que ele costumava sair. Rendendo-se àquela atração nova, ele fechou os olhos e inspirou profundamente.

- Deve ser uma mudança refrescante para você – ela dissera, sua voz soando idêntica em suas lembranças, e, dessa vez, ele tinha que concordar. Era refrescante aspirar um perfume que não fosse excessivamente doce ou falso. Era refrescante sentir o perfume dela.

E lá estava ele, sentindo saudades dela mais uma vez. Isso era tão... Patético. Ele não conseguia se impedir.

Com um suspiro pesado, ele abriu os olhos, tentando se concentrar. A caixa com os vinis – uma das poucas coisas que ele sabia que importava para Kat - estava no mesmo lugar que ela havia deixado antes de sair; evitando inspirar novamente aquele perfume instigante, ele pegou a caixa, apagou a luz do quarto e foi até a janela em um caminho reto, sem tropeçar – era como se ele já conhecesse o quarto de cor.

Ele riu com esse pensamento – estava se tornando, tal qual ele a acusara de ser, obcecado. Mas ele não era, claro – corrigiu-se mentalmente, tentando soar firme; Kat era. Mesmo que ela não quisesse admitir – e agora ele voltou a sorrir, se divertindo com a idéia.

Porque era interessante quando ela se permitia baixar a guarda diante dele; ele adorava vê-la sorrindo, se divertindo realmente, ou com aquele olhar de determinação e teimosia que ela mais insistia em lhe dar; e ele, provavelmente mais que tudo, gostava de tê-la beijado, e gostava do fato de que ela – por pequenos e preciosos segundos – o beijara de volta.

Então ela realmente o queria tanto quanto ele a queria.

Se as coisas fossem simples, isso bastaria. Mas as coisas não eram.

A caixa o atrapalhou na hora de abrir a porta da escola, e uma velhinha prestativa o veio ajudar. Murmurando um distraído "obrigado", ele deixou a caixa em uma mesa no canto, seu olhar percorrendo as pessoas que andavam pelo corredor. Uma voz, no alto-falante, anunciou que o incêndio havia sido contido e ele xingou em voz baixa. Tanto trabalho por nada...

- Você está procurando ela?

Ele piscou, seu olhar se focando na velhinha que acabara de ajudá-lo.

- Ela quem?

- A garota que estava te comendo com os olhos – ela respondeu, sorrindo. Ele ergueu as sobrancelhas.

- Não, eu acho que não estamos falando da mesma pessoa – porque Kat Stratford, "devorando-o com os olhos" por tempo suficiente para que outra pessoa notasse? Ele não conseguia imaginar isso.

- É aquela que estava distribuindo as águas – ela continuou, ignorando-o.

- Oh. – Ele estava sorrindo agora, se sentindo animado e estranhamente aquecido por dentro. – É essa, sim.

- Ah, você tem o mesmo olhar de encantamento que ela! – ele franziu a testa: Patrick Verona nunca ficava encantado. - Ela estava por ali, eu vou chamá-la...

- Não – ele meneou a cabeça. – Só entregue isso para ela. – E indicou as caixas com os vinis.

A velhinha estava lhe olhando com surpresa.

- Você saiu para pegar isso para sua namorada? Isso foi...

- Nem um pouco corajoso – ele retrucou, sua irritação agravando a voz. – Mais um desperdício de tempo, já que o fogo nem chegou perto. – E ele não precisava acrescentar que Kat não era sua namorada.

A velhinha estava rindo.

- É o pensamento que conta, jovenzinho – e ela ignorou a careta que ele fez ao ouvir seu apelido. O que havia acontecido com as pessoas sentirem pavor dele naturalmente? – Sua namorada irá gostar... Eu me lembro de como era ser jovem e apaixonada como se fosse ontem – ele tossiu para disfarçar o riso. - Ela não tem um coração tão duro quanto quer que as pessoas acreditem.

Ele se divertiu com isso também, mas não era realmente uma novidade. Desde o momento em que ela recitara alguns versos da música, naquele clube, ele sabia que havia emoções dentro dela.

Às vezes, e a idéia era perturbadora, ele via algumas coisas de si mesmo em Kat Stratford.

- Diga a ela que as caixas estão aqui – ele instruiu, e aquilo soou como um pedido. Que estranho.

- Só isso?

Ele não entendeu o olhar daquela senhora, mas ele podia entender o sentido – havia algo a mais que Patrick Verona queria dizer a Kat Stratford? Talvez tentar lhe explicar exatamente que ele a achava interessante e linda, com sua teimosia e aqueles cabelos escuros e olhos profundos; talvez lhe dizer que ela nunca seria como as outras, e que, de qualquer forma, ele a preferia acima de qualquer uma; talvez lhe dizer algo inimaginável e inédito, algo que ele só podia pensar em dizer a ela, como uma frase com três palavras e sete letras...

- É. Só isso.


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