Capítulo 32
MORTE E COMEÇO DE UMA NOVA VIDA
:: Edward's POV ::
Desde o momento em que Alice abriu a porta e eu vi aqueles dois vampiros parados ali, sabia que havia algo errado. A postura rígida que Bella assumiu ao meu lado era um claro sinal disso. Mas eu me mantive em silêncio por todo tempo, com medo de falar algo que poderia prejudicar ainda mais a situação.
Mas ouvir que o vampiro desconhecido que estava ali na sala era um ex-namorado, sem dúvida me deixou alterado. Eu sabia que Bella só tinha se relacionado com dois vampiros. Ela tinha matado o primeiro por não ter conseguido controlar sua força de recém-nascida, então esse só poderia ser o que a deixara.
Minha vontade era tirar satisfações com ele e até tentar expulsá-lo daquela casa, mesmo sabendo que não teria chances alguma contra ele, mas antes mesmo que fizesse algo imprudente, uma onda de calmaria me envolveu, combinada com a mão de Bella acariciando a minha, e eu não consegui fazer mais nada a não ser permanecer sentado ao seu lado, estranhamente relaxado.
Mesmo quando Bianca disse que queria falar a sós com Bella, eu não consegui reagir como gostaria. Queria pedir para ela não ir, temendo que aquilo pudesse ser uma armadilha, mas, de alguma forma, eu não fiquei tão nervoso como pensei que ficaria, e tudo que fiz foi retribuir ao beijo suave que ela depositou nos meus lábios antes de sair sendo seguida pela vampira.
- Acho que você já pode parar, Jasper. – a voz de Alice soou no aposento e eu me voltei para ela, me sentindo tão adormecido que comecei a pensar se não estava doente.
- Só um pouco. – Jasper respondeu.
E então eu entendi o que estava acontecendo. Jasper estivera usando seu poder em mim por todo esse tempo, me deixando calmo. Calmo demais até. Mas, mesmo agora que ele tinha parado, eu ainda não conseguia me estressar como gostaria.
- Por que você fez isso? – perguntei ainda sentado no sofá.
- Por que eu ainda estou fazendo isso? – ele perguntou me corrigindo. – Aliviei apenas um pouco, mas não vou parar até perceber que você não vai tentar nada idiota.
- Idiota como bater nesse imbecil aí? – perguntei apontando para Garrett que se mantinha em silêncio por todo tempo.
- Você bater em mim? – ele perguntou e soltou uma risada de escárnio. – Essa foi boa. – Garrett então ficou em pé, mas continuou parado em frente à poltrona em que estivera sentado. – Vem, humano. Tenta me bater. Tenta!
- Garrett, fica na sua! – Alice mandou, passando em frente a ele e facilmente o empurrou de volta para a poltrona, obrigando-o a sentar. – E você, Edward, não vai fazer nada. Pode parar, Jasper. Vai ficar tudo bem.
- Tem certeza?
- Me deixa em paz, Jasper. – resmunguei levantando do sofá e andei até a janela, sentindo a normalidade envolver meu corpo aos poucos.
A raiva por estar diante do vampiro que havia tocado a minha Bella estava quase tão intensa quanto a raiva por saber que eu não poderia fazer nada contra ele. Mas o que me deixava ainda pior era saber que Bella estava lá fora, sozinha com a vampira que até então eu julgava ser uma ameaça para nós.
- Está tudo bem, Edward. – Alice murmurou parando ao meu lado. – Elas só estão conversando.
- Tem certeza?
- Você acha mesmo que eu teria deixado as duas saírem sozinhas se não soubesse exatamente o que Bianca quer com Bella?
- Você sabe? – Garrett perguntou do outro lado da sala, ficando em pé novamente. – O que é? Perguntei o caminho todo que assunto era esse que ela queria conversar com Isabella, e Bianca se recusou a contar.
- Bem, se a sua namorada não contou, porque eu contaria?
Garrett apenas deu de ombros e voltou a sentar, ficando a contemplar suas mãos entrelaçadas sobre os joelhos e não falou mais nada.
- Acha que elas vão demorar muito? – perguntei depois de um tempo em silêncio, observando a noite através da pequena floresta que havia ao redor da casa.
- Não muito. Logo estarão de volta. – Alice respondeu, voltando a sentar ao lado de Jasper.
Soltei o ar pesadamente e sentei no sofá que antes estivera com Bella. Ficamos em completo silêncio, cada um perdido nos próprios pensamentos e vez ou outra eu pegava Garrett me avaliando de cima a baixo.
Alguns minutos depois Bianca entrou na sala com Bella logo atrás. E por mais que pudesse parecer impossível naquele momento, ela sorria.
- Vamos Garrett. Aro nos espera. – Bianca chamou, estendendo uma mão para o vampiro que rapidamente se pôs de pé e se aproximou dela, entrelaçando os dedos nos dela.
- Ele não espera por mim. – Garrett retrucou.
- Mas tenho certeza que ele ficará feliz em te ver.
- Duvido muito. Sei que ele ficou contente com a minha partida.
- Isso porque você não tinha serventia alguma para ele. – Bella falou de forma seca, ainda com o sorriso nos lábios. – Apenas ocupava espaço.
- E namorava com a favorita dele. – Garrett completou, não parecendo nem um pouco chateado por ter sido chamado de estorvo. – Aro odiava quando eu te roubava dele.
- Você nunca fez isso. Quando você me chamava, eu apenas ia porque preferia qualquer coisa a ficar na companhia de Aro e dos outros.
- Está me chamando de qualquer coisa?
- Posso saber por que o senhor está incomodado com isso, meu amor? – Bianca perguntou, nitidamente descontente com aquela conversa. Quase tanto quanto eu estava.
- Não estou incomodado, meu amor – ele rapidamente falou, puxando Bianca para um abraço de lado e beijou o topo da sua cabeça.
- Acho bom. Agora vamos antes que Aro descubra que estamos aqui e mande alguém nos pegar. Nos vemos em breve, Bella. – Bianca falou num tom sinistro, embora sorrisse de leve, enquanto puxava Garrett para fora da casa.
Logo em seguida Jasper levantou e Alice, como se já tivesse ensaiado aquele movimento com ele antes, imediatamente pulou nas suas costas, sorrindo para nós dois.
- Agora que não somos mais necessários... – ela falou apenas e no segundo seguinte os dois não estavam mais na sala.
Quase tão rápido quanto os dois tinham se movido, Bella veio até mim, envolvendo meu pescoço com seus braços gelados e delicados. Sem perder tempo, prendi seu corpo contra o meu, deixando uma mão nas suas costas e a outra na sua nuca, acariciando a pele sensível e macia.
- Oi. – ela sussurrou, ficando na ponta dos pés para tentar chegar à minha altura.
- Olá. – sussurrei em resposta, depositando um pequeno beijo nos seus lábios.
Por mais que eu quisesse beijá-la novamente, por mais que eu sentisse uma falta absurda daquela vampira que eu tanto amava, aquele não era o momento para aplacar a saudade que eu sentia dela. Nesse momento, tudo que eu mais queria e precisava, eram respostas.
- Como foi a conversa?
- Tranqüila. – ela respondeu apenas, ainda concentrada apenas em me beijar.
- Só isso?
- O que mais você quer saber? – ela perguntou, parando de tentar me beijar e saiu da ponta dos pés.
- Tudo. – respondi, guiando-a de volta para o sofá. – Sobre o quê vocês conversaram? E mais importante: o que te fez sorrir assim de forma tão relaxada?
- Bem, digamos apenas que Bianca mudou bastante nos últimos anos. – Bella falou, ainda com aquele sorriso radiante, sentando de lado no sofá, de forma a ficar de frente para mim.
- Mudou para melhor, devo presumir.
- Sem dúvida.
- Ela vai nos ajudar?
- Hum... De certa forma. Será mais uma troca de favores.
Bella então me contou tudo que tinha conversado com Bianca. O que ela ia fazer por nós seria muito além do que nós poderíamos pedir, embora o risco de tudo dar errado fosse enorme. Se alguém descobrisse o que íamos fazer, ou melhor, o que Bianca iria fazer, as coisas poderiam sair muito pior do que se ficássemos quietos apenas esperando Aro chegar e nos punir.
Ainda assim, quando eu me uni à Bella naquela noite, nossos corpos sedentos um pelo outro, qualquer preocupação sumiu da minha cabeça.
Não havia Aro Volturi. Não havia ex-namorado vampiro. Não havia vampira inimiga que poderia colocar tudo a perder. Não havia nem mesmo uma pequena e frágil irmã à beira da morte.
Naquele momento, meu corpo colado ao de Bella no sofá da sala, tudo que importava era senti-la por inteiro, sentir seu corpo gelado correspondendo aos meus toques, sentir meu próprio corpo reagindo aos toques dela. Estar junto à Bella novamente era muito mais do que eu podia pedir. Muito mais do que eu poderia sonhar em um momento como esse. Ela era a minha luz, a minha vida. E estar com ela era como voltar a viver.
E quando nossos corpos explodiram no prazer mais puro e intenso que um homem e uma mulher poderiam experimentar juntos, eu tive a certeza de que queria passar o resto da minha vida ou eternidade ao lado dela. Mesmo que essa vida encerrasse no dia seguinte, com a visita de Aro e os outros Volturi.
O dia começou cedo para mim naquele domingo. O sol nem bem tinha nascido e eu já me sentia sendo acordado por um carinho de dedos frios no meu rosto. Abri os olhos e encontrei Bella me observando com o semblante preocupado. E foi essa preocupação tão nítida que me fez acordar de vez.
Bella logo notou a minha reação e sentou na cama, ainda sem deixar de me olhar.
- Carlisle ligou. Precisamos ir.
E ela não precisou falar mais nada para que eu soubesse o que me esperava.
Menos de cinco minutos depois já estávamos a caminho do hospital, com Bella ao volante dirigindo tão rápido que qualquer um poderia considerar suicídio. Mas não eu. E muito menos não naquele momento.
Mas assim que chegamos ao hospital, vimos que aquele dia seria muito mais do que o dia em que eu perderia a minha irmã.
Meus pais ainda não haviam chegado – provavelmente porque eles não dirigiam tão rápido quanto Bella –, mas os Volturi estavam lá. Aro, Jane, Demetri, Felix, Bianca e Garrett, que não era mais um Volturi, mas estava junto ao grupo, em frente à porta do quarto da minha irmã. Carlisle também estava lá e parecia bastante desconfortável com aquela situação.
- Agora não, Aro. – Bella falou firme, mas num tom tão baixo que eu quase não ouvi.
Aro, por outro lado, não teve dificuldade alguma para entender, mesmo ainda estando a alguns metros de nós, e respondeu num tom de voz normal, nem um pouco preocupado com as enfermeiras que passavam apressadas pelo largo corredor.
- Não farei nada agora, pequena Bella – ele falou naquele irritante tom de voz que tentava ser calmo e carinhoso, mas que só deixava nítido o quanto ele era falso. – Apenas estou me assegurando que ninguém tente fugir quando tudo isso finalmente terminar.
- Eu não vou fugir. – Bella falou, parando em frente à porta do quarto de Emma, ao lado de Carlisle, em momento algum soltando a minha mão. – E se alguém conseguiu convencer você de que eu posso tentar fazer isso, é porque você está muito mais influenciável do que antes. – ela alfinetou, olhando significativamente para Jane e depois voltando o olhar para Aro que agora a encarava com fúria nos olhos.
- Não gosto do seu tom, Isabella. Se você acha que...
- Eu não acho nada, Aro. – ela interrompeu, ainda com aquela voz firme e poderosa que ela só usava quando estava realmente irritada. – E nesse momento eu estou pouco me importando com o que você gosta ou não em mim. – Então seu olhar virou para mim, aquela máscara de fúria desaparecendo no instante em que nossos olhares se encontraram, e quando ela falou, sua voz tinha voltado ao tom suave. – Vamos?
- Vamos. – concordei, apertando de leve a sua mão, e então demos as costas aos Volturi, entrando em seguida no quarto da minha irmã, acompanhados de Carlisle que imediatamente fechou a porta atrás de si.
- Desculpe por isso, Bella.
- Você ligou para eles também?
- Não. Ele mandou Felix ficar aqui no hospital a espera de alguma novidade.
- Típico.
Nada mais foi dito depois disso e eu respirei fundo antes de me aproximar da cama de Emma, levando Bella comigo porque eu simplesmente não conseguiria soltar a sua mão agora.
Emma estava claramente pior, se é que isso poderia ser possível quando ela já estava respirando por aparelhos em uma UTI, mas os batimentos do seu coração estavam cada vez mais fracos e falhos.
Um nó se formou na minha garganta quando eu olhei para aquele rosto pálido, mas nenhuma lágrima veio aos meus olhos. Era como se eu estivesse paralisado internamente. Nem mesmo meu coração apertou como sempre vinha fazendo nas últimas semanas. E o único sinal que eu estava demonstrando sobre o quanto tudo aquilo estava me afetando, era a força com que eu apertava a mão de Bella. Se ela não fosse tão forte, certamente estaria machucada agora. Mas tudo que ela fez foi apertar a minha de volta, não com tanta força, mas o suficiente para deixar claro que ela estava tentando me passar alguma mensagem de "eu estou aqui para você" sem emitir nenhum som.
Havia mais duas enfermeiras do quarto, uma conferindo os aparelhos que estavam ligados ao corpo pequeno da minha irmã, e a outra conversando algo em um tom bem baixo com Carlisle. Mas eu só fui dar pela presença das duas quando a porta se abriu novamente e os Volturi entraram.
- Aro, agora não! – Bella praticamente rosnou naquele mesmo tom autoritário que usara antes com o vampiro.
- Vocês duas, – Bianca falou, olhando para as enfermeiras que observavam a entrada dos seis vampiros com olhares curiosos – parem de ver ou ouvir qualquer coisa que será dito e feito aqui dentro.
As duas imediatamente assentiram e seus olhares perderam o foco, deixando-as com um ar etéreo e relaxado.
Foi só então que eu reparei que todos os outros que entraram com ela, com exceção de Garrett, estavam com o mesmo olhar.
- Bianca, o que você...?
Mas Bianca fez um sinal para que Bella não continuasse e olhou para Aro.
- Aro, você entendeu o que eu disse?
- Sim. – ele respondeu num tom monótono e automático.
- Repita. – ela ordenou.
- Eu vou esquecer da punição de Bella e Edward. E também da punição que será aplicada aos Cullen.
- Jane?
- Eu vou esquecer da punição de Bella e Edward. E também da punição que será aplicada aos Cullen. – a pequena vampira repetiu naquele mesmo tom de submissão.
- E o que mais?
- E vou deixar Bella em paz.
- Muito bem. Felix?
Em seguida, Felix e Demetri repetiram a mesma ordem que lhes foi dada.
- E todos vocês vão voltar a Volterra ainda hoje e vão convencer a todos de que essa foi a atitude mais sensata, já que nenhum de vocês querem perder uma vampira tão poderosa quanto Isabella. – Bianca continuou e eu teria sorrido se não estivesse tão tenso pela situação e pelo aparelho que marcava os batimentos do coração de Emma que ficava mais errático a cada segundo. – E que não matar Edward foi a única maneira de impedir uma luta indesejada.
- E por que eu não vou punir os Cullen? – Aro perguntou, não como se a desafiasse, mas apenas parecendo encontrar uma falha na história.
- Simplesmente porque Carlisle é um grande amigo e você não quer ficar indisposto com ele e sua família.
- Então Isabella deverá transformar o humano – Aro falou novamente naquele tom de quem ainda vê algo na história inventada que poderá levantar suspeita. – Ele sabe demais.
- Ela vai transformá-lo apenas se quiser – Bianca retrucou tentando soar firme, mas claramente falhando ao ver que Aro tinha razão.
Relanceando um rápido olhar para Bella, eu percebi que ela pensava o mesmo.
- Ninguém vai aceitar deixar o humano vivo se ele sabe tanto. São as nossas leis. Ele deve ser transformado.
- Eu vou transformá-lo. – Bella falou pela primeira vez desde que os seis vampiros entraram no quarto. Quem não a conhecesse bem, acreditaria nas suas palavras sem titubear. Eu, no entanto, conhecia cada nuance da sua voz e sabia exatamente quando ela estava mentindo ou não. Mas Aro certamente não a conhecia assim tão bem.
- Tudo bem, então. Que seja logo.
- Assim que tudo isso acabar. – ela assegurou, apertando minha mão de leve mais uma vez. – Agora saiam.
- Eles não vão obedecer a sua ordem, Bella. – Bianca falou com um pequeno sorriso nos lábios. – Não enquanto ainda estiverem sob o meu controle.
- Por favor, Bianca – ela pediu num tom sério e levemente urgente – faça-os sair. Não precisamos de mais esse problema. Não agora.
Quando Bianca relanceou um rápido olhar para a cama de Emma, eu vi preocupação genuína estampada nos seus olhos vermelhos e ela nunca tinha me parecido tão humana.
- Jane, Demetri, Felix. Saiam! – ela ordenou e imediatamente os três saíram do quarto. – Aro, – ela chamou, ainda sem desviar os olhos da minha irmã – se Edward quiser conceder a imortalidade à irmã, você vai permitir, ok?
- Ok.
- Você quer, Edward? – ela perguntou, finalmente desviando o olhar de Emma e me encarou com urgência.
- Eu... Eu não sei. – respondi, subitamente confuso, pego de surpresa com aquela possibilidade. Eu queria muito que a minha irmã vivesse, mas não tanto depois do que Bella tinha falado. – Eu não quero que ela tenha que morar com ele – falei, apontando para Aro com o rosto.
- Você não acha que vale a pena? Seriam só alguns anos. O que são alguns anos quando se tem a eternidade? – Bianca perguntou sabiamente e eu realmente vi um traço de esperança em toda aquela confusão. Além de não estar mais no corredor da morte, eu ainda poderia ter a minha irmã ao meu lado? – Decida rápido, Edward. Eu tenho a eternidade pela frente, mas a sua irmã não tem assim tanto tempo.
Desviei o olhar da vampira e voltei a observar Emma. Ela tinha razão. Emma estava morrendo.
Eu não tinha mais que alguns minutos – se muito – para decidir.
Emma poderia viver. Depois de tanto sofrimento, ela sairia viva. Mesmo que para isso tivesse que passar alguns anos em Volterra. E, por Deus, valeria a pena. Imaginar Emma morrendo era muito pior do que isso. Então, sim, eu queria que a minha irmã fosse transformada.
A resposta quase veio aos meus lábios quando eu lembrei de outro detalhe.
Bella tinha mentido quando disse que iria me transformar. Emma teria a vida eterna, mas eu não.
- Me transforme. – eu pedi sem conseguir me conter, encarando Bella novamente.
Seu olhar ficou levemente espantado com o meu pedido súbito, mas ela logo relaxou e eu quase podia ver o "não" se formando nos seus lábios, mas eu a interrompi antes que ela falasse algo.
- Eu não tenho nada além disso, Bella. Você e Emma são tudo para mim. Eu quero que você a transforme e quero que me transforme também.
- Eu não posso te condenar a essa vida, Edward. – ela falou com a voz pesarosa.
- Me condenar a que vida, Bella? A uma vida ao lado da mulher que amo? – retruquei, soltando a mão de Emma para segurar o rosto de Bella entre as minhas duas mãos, forçando-a a me encarar quando ela desviou o olhar. – Emma pode morrer hoje e você pode mudar isso. Eu vou morrer hoje ou amanhã. Ou daqui a alguns anos. Mas eu vou morrer. E você pode mudar isso. Eu quero ficar ao seu lado, minha Bella. E eu quero que seja pela eternidade. Você não quer isso?
Bella não respondeu nada, mas manteve seus olhos presos nos meus, me encarando com tanta intensidade que poderia achar que ela começaria a chorar se eu não soubesse que vampiros não choram.
- Decida logo, Bella – Carlisle falou num tom urgente, mas baixo. – Emma não tem muito tempo.
Me refreei no impulso de encarar a minha irmã e continuei segurando o rosto de Bella entre as mãos, em momento algum desviando os olhos dos dela.
- Por favor, Bella. – pedi, finalmente sentindo meu coração disparar no meu peito quando vi no seu olhar que ela havia tomado a decisão. – Você quer ser minha pela eternidade?
Mais uma vez eu vi a resposta nos seus olhos antes mesmo que ela as falasse em voz alta.
- É o que eu mais quero. – E então ela pulou nos meus braços, envolvendo meu pescoço com seus braços delicados e eu a abracei de volta, segurando-a firme pela cintura.
Mas o abraço não durou muito, a voz de Carlisle logo nos trazendo à realidade.
- Faça agora, Bella. Transforme-a antes que não nos reste mais tempo.
- Eu nunca fiz isso. – ela falou, a alegria dando lugar ao nervosismo, depois que nos soltamos e ela se aproximou mais de Emma.
- Você quer que eu faça? – Carlisle perguntou, também se aproximando, saindo do lado da enfermeira que continuava encarando o nada.
- Não. Eu consigo. Só me diz o que devo fazer.
- Libere todo veneno que puder. Fará a transformação iniciar mais rapidamente. E só lembre de parar.
- Eu vou conseguir. – ela falou mais para si mesma do que para qualquer pessoa naquele quarto de hospital.
- Eu sei que vai – a tranqüilizei, pegando sua mão na minha e a apertei de leve. – Obrigada por isso, Bella.
- Não me agradeça ainda. Aceito a sua gratidão depois que terminar isso sem matar a sua irmã. No sentido literal, eu digo.
- Fique tranqüila, Bella. Não é como se fosse o primeiro Masen que você morde. E você parou com Edward. – Carlisle falou sabiamente, um pequeno sorriso aparecendo nos seus lábios, embora fosse nítido que ele estava tão nervoso quando qualquer um ali dentro.
Bella sorriu de leve para ele e então respirou fundo.
- Bianca, tranque a porta e ordene às enfermeiras para declarar Emma como morta. Faça-as acreditarem que viram-na morrer. – Bella ordenou, e mesmo não tendo o poder de dar ordens a ninguém, a vampira a obedeceu de pronto.
Enquanto Bianca fazia o que Bella instruiu, Carlisle começou a retirar todos os aparelhos que estavam conectados em Emma e desligou o aparelho que marcava seus batimentos quando esse começou a sinalizar a perda do contato com ela.
Depois de respirar fundo mais uma vez e repetir "eu vou conseguir" algumas vezes como um mantra, Bella soltou a minha mão e sentou na cama. Então puxou Emma para cima, aninhando-a no seu corpo como uma mãe que conforta uma filha, e seu rosto sumiu na curva do pescoço dela, seu ato sendo camuflado pelos cabelos ondulados e acobreados da minha irmã.
Nada denunciava o que estava acontecendo ali. Nenhum som atípico, nenhum movimento suspeito, nenhum sangue sendo derramado. Se não fosse pela tensão que pairava no ambiente, ninguém poderia imaginar que Bella estava mordendo a minha irmã para transformá-la em vampira. E Emma já estava tão mal que não esboçava nenhuma reação com a mordida que eu sabia ser dolorosa.
Eu estava tão concentrado nas duas que me assustei quando a voz de Bianca interrompeu o silêncio do quarto.
- Aro, eu estou saindo de Volterra.
- Por quê? – ele perguntou com o olhar cravado em Bella e Emma, mas sem parecer se dar conta do que estava acontecendo realmente.
- Porque eu odeio tudo que aquele lugar representa. E você vai mandar Caius me deixar em paz.
- Certo.
- E não vai levar Emma com você. – ela falou, não como se ordenasse, mas como se constatasse algo óbvio.
- Eu tenho que levar. São as leis.
- Você não vai levá-la com você! – Bianca falou agora ordenando. – Não tem o direito. Bella a transformou. Emma é de responsabilidade dela.
- Eu me responsabilizo também. – Carlisle assegurou. – Farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-la na adaptação à nova vida.
- Está decidido então. Você não vai levar Emma para Volterra. – Bianca repetiu.
- Ok.
- Carlisle. – A voz fraca de Bella soou, me trazendo de volta à situação em que nos encontrávamos. Ela continuava com o rosto escondido nos cabelos de Emma. – Tire-a daqui. Ela logo vai começar a sentir os efeitos do veneno.
Carlisle não esperou um segundo pedido e tirou Emma dos braços de Bella, abriu uma janela e saiu por ela sem falar nada.
Normalmente eu teria comentado algo quanto ao fato dele ter pulado do terceiro andar, mas quando meu olhar caiu sobre Bella mais uma vez, qualquer comentário ficou esquecido.
Bella estava com a cabeça baixa fazendo os cabelos cobrirem parcialmente seu rosto, mas ainda assim eu podia ver a sua expressão tensa.
- Bella?
- Eu quase não consegui parar. – ela falou num tom baixo, quase culpado.
Me aproximei dela mais uma vez e sentei ao seu lado, puxando-a para perto.
- Mas você parou, meu amor.
- Foi tão difícil. – Bella murmurou, descansando a cabeça no meu peito – Ela tem o sangue quase tão gostoso quanto o seu.
- Acho que é de família.
Um leve chacoalhar do seu corpo me fez perceber que ela ria, e só então eu relaxei.
- Acho que sim.
- Falando em família – Garrett falou e eu quase esquecera da sua presença – acho que tem alguém aí fora querendo entrar. Felix está barrando a entrada deles alegando que Emma não está mais aqui, mas eles querem entrar. Daqui a pouco eles vão acabar chamando a atenção de alguém.
- Ele tem razão. – Bella concordou, se afastando um pouco e me encarou. – O que vamos falar para eles?
Eu realmente não sabia responder a essa pergunta.
- Apenas deixe-os entrar antes que façam confusão. – falei, tentando pensar em algo.
Quando meus pais entraram e eu vi as lágrimas nos rostos dos dois, quase compartilhei da dor que sabia que eles estavam sentindo, mas então lembrei que não havia mais motivos para prantos. Mas eles não sabiam disso. E, se dependesse de mim, eles iam continuar sem saber.
Pode parecer egoísta, mas eu não queria meus pais naquele mundo. Eu os amava demais, mas eles saberem de tudo iria apenas implicar em mais pessoas envolvidas naquela loucura e eu certamente não queria que eles fossem transformados.
Minha mãe era católica demais para querer uma vida daquelas e ela nunca me perdoaria por fazê-la viver daquela forma. E meu pai teria que deixar o trabalho e... Bem, como a minha mãe sempre fazia questão de nos lembrar, o trabalho do meu pai era a coisa mais importante para ele.
E foi pensando nisso que eu tomei a minha decisão sobre o que devíamos fazer.
- Edward, que história é essa que esse homem nos contou? E quem é ele? – meu pai perguntou, visivelmente confuso e triste.
- Onde está Emma, Edward? – minha mãe perguntou com a voz cortada pelos soluços do choro que não cessava. – Eles não podem tê-la levado sem a nossa autorização. Eu preciso ver a minha filha.
Mas eu ignorei qualquer pergunta e me dirigi à Bianca, ainda sem sair do lado de Bella.
- Faça-os acreditarem que eles viram Emma, que autorizaram a cremação dela e me deixaram encarregado de tudo.
- Como é? – meu pai perguntou ainda mais confuso que antes.
- É para já! – Bianca concordou, dando um pequeno pulo de alegria e abriu um sorriso.
Os próximos cinco minutos se passaram com Bianca contando uma história para os meus pais que tinham assumido aquele ar disperso enquanto ouviam, e eu ajudava falando algumas coisas que faria com que eles não duvidassem de nada.
Depois que ela terminou e se certificou de que eles tinham entendido tudo, eu anunciei que ia embora com Bella para terminar meus estudos em outro lugar. Eles não gostaram muito da idéia e chegaram a dizer que eu estava sendo precipitado, mas eu aleguei apenas que já tinha tomado a minha decisão e Bianca ajudou fazendo com que eles aceitassem aquilo sem questionar.
Tudo que eu menos queria agora era discutir com meus pais e lancei um olhar de gratidão para a vampira antes de puxar Bella contra o meu corpo e beijei seus lábios de leve.
- Vamos embora?
- Vamos.
Abracei meus pais, me despedindo deles sem saber quando ou se voltaria a vê-los e saí do quarto com Bella, Bianca e Garrett, deixando meus pais, as duas enfermeiras e Aro voltando à realidade.
- Eu serei eternamente grata, Bianca. – Bella falou enquanto passávamos pelos Volturi que estavam no corredor e mal pareciam se dar conta de onde estavam. – Te devo uma.
- Com esse favor, Bella, você me deve várias. – Bianca falou, apertando o botão do elevador. – Mas não se preocupe, porque eu já sei bem como vou cobrar. – ela falou num tom de voz misterioso, me deixando curioso sobre esse favor. E pela expressão de Garrett, eu não era o único que estava sobrando ali.
Mas ninguém falou mais nada enquanto descíamos até o térreo e eu só me atrevi a perguntar quando nos separamos nos estacionamento e os dois desapareceram, saindo correndo na velocidade vampiresca que muito em breve eu também teria.
- O que foi que ela pediu em troca? – perguntei assim que entramos no carro.
- Eu estava me perguntando quando a sua curiosidade viria à tona. – ela comentou com um sorriso, dando partida e começando a manobrar para sair.
- Não vai me responder? – perguntei quando ela não continuou.
- Claro que vou. – Bella falou, mas não respondeu de imediato. Estava quase perguntando de novo quando, depois de sair do hospital, ela olhou rapidamente para mim e só então me respondeu. – Ela pediu para que eu a ajudasse a se adaptar à dieta de sangue animal. – ela falou e eu não teria achado nada de mais, nem uma retribuição à altura para um favor tão grande, se ela não tivesse continuado. – E ela me pediu para convencer Garrett a mudar de dieta também.
- Por que você tem que convencer ele?
- Porque ela tem medo de que ele pense que ela só o convenceu porque usou o poder. E ela estando longe, Garrett não tem como pensar que eu estou usando o poder dela. – Já ia retrucar que isso não daria certo quando, mais uma vez, ela continuou – E ela sabe que eu sempre consigo convencer Garrett a fazer o que eu quero.
- Com que tipo de argumentos? – perguntei tentando não deixar o ciúme transparecer na minha voz, mas obviamente não fui bem sucedido porque Bella riu de leve e pegou minha mão na sua, repousando as mãos entrelaçadas na sua coxa.
- Com palavras, meu amor. – ela falou ainda naquele tom divertido, descrevendo pequenos círculos na minha mão com o polegar. – Garrett sempre foi muito influenciado por mim. Talvez isso se deva ao fato de que eu tenha salvado sua vida quando ele quase foi assassinado depois que se envolveu em uma briga de bar. Eu o levei quase morto para o castelo e Rurik o transformou. – mais uma vez eu tentei não demonstrar ciúmes à menção do vampiro Russo que tinha sido o primeiro namorado de Bella e que ela tinha matado durante uma discussão. – Garrett sempre deixou claro o quanto era grato à mim e desse dia em diante, a minha palavra era como lei para ele. Acho que até hoje é assim. E Bianca sabe disso.
- Eu posso estar com você quando você for conversar com ele?
- Não confia em mim? – ela perguntou, me olhando de relance. O sol começava a nascer agora e a leve claridade que despontava no horizonte fazia seu rosto brilhar apenas um pouco, deixando-a ainda mais perfeita.
- Eu não confio nele.
- Não se preocupe. Garrett não vai fazer nada. E parece que ele está realmente apaixonado por Bianca. Comigo ele nunca demonstrou afeto em público. Sempre dizia que isso era coisa de gente idiota e que queria provar algo. E eu concordava. Mas acho que era apenas porque nós não nos amávamos. Ele tinha esse carinho quase excessivo por mim, mas era mais como gratidão ou algo do tipo. E para mim ele era apenas conveniente. É diferente quando se ama de verdade. Agora eu sei disso.
Um sorriso surgiu nos seus lábios e ela olhou para mim rapidamente mais uma vez antes de voltar a atenção à estrada.
Não falamos mais nada pelo resto do caminho.
Quando chegamos à casa dos Cullen, descobrimos que Carlisle tinha levado Emma para outra casa deles, longe da civilização e longe de qualquer humano. Esme estava em casa, assim como os outros Cullen e eles me garantiram que seria melhor assim.
- Os três primeiros dias não serão fáceis e ela precisa de paz. – Esme falou, tentando me tranqüilizar. – E depois ela precisa ficar longe do cheiro do sangue humano. Vai ser muito difícil no começo.
- Então eu não posso vê-la?
- Ainda não. É perigoso.
Suspirei cansado e sentei no sofá da sala. Bella ficou em pé atrás de mim, começando a massagear meus ombros, fazendo pressão nos pontos certos. Repousei minha cabeça no encosto e me deixei levar pela incrível sensação.
- Quer dormir um pouco? – ela perguntou depois de um tempo.
Esme tinha saído para ficar com Carlisle, e Emmett e Jasper estavam entretidos ali mesmo na sala, sentados no chão, jogando videogame. Alice e Rosalie, inacreditavelmente, estavam planejando o guarda roupa novo de Emma.
- Não. Acho que nem conseguiria se tentasse. E além do mais, eu não preciso mais dormir. – Inclinei meu rosto mais para trás para conseguir encará-la e sorri para ela. – Você poderia me transformar logo, não é? Assim esse cansaço vai embora.
O sorriso que tinha aparecido nos seus lábios vacilou um pouco e ela interrompeu a massagem.
- Eu preciso de um tempo para me recuperar. Ainda não estou pronta para fazer isso de novo.
- Isso, por acaso, não é você tentando ganhar tempo para tentar me convencer de que não deve me transformar, é?
- Não – ela respondeu rápido demais para que eu pudesse acreditar. Vendo que não tinha sido convincente o suficiente, Bella deu a volta no sofá e sentou ao meu lado, pegando minhas mãos nas suas. – Isso não sou eu tentando te convencer a nada, Edward. Eu apenas estou tentando deixar você aproveitar um pouco mais da sua vida como humano. Vivo de verdade.
- Bella, eu estou vivo apenas por estar ao seu lado. Com coração batendo ou não, se estiver com você, eu vou estar bem.
O sorriso voltou aos seus lábios e ela ergueu uma mão para acariciar meu rosto de leve.
- Vou sentir falta do seu calor.
- Credo, Bella! Você vai mesmo fazer isso aqui e agora? – Alice exclamou aparecendo na sala de repente, carregando uma pilha de tecidos, Rosalie logo atrás com vários papéis nas mãos. – Nem para procurar um quarto? Sua indecente!
Apesar das palavras, Alice ria e rapidamente mandou os outros saírem da sala, fechando a porta atrás de si depois de desejar "boa sorte", não sei se para mim ou para Bella.
- Está pronto? – ela perguntou, arqueando uma sobrancelha, como se me desafiasse.
- Mais do que você possa imaginar. – respondi sentindo meu coração acelerar tanto que se me concentrasse um pouco, poderia ouvi-lo batendo. E sabia que Bella podia ouvir também.
- Você vai sentir dor – ela sussurrou, inclinando seu corpo sobre o meu, me fazendo deitar no sofá, ficando por cima. – Muita.
- Tentando me amedrontar? – perguntei mais concentrado no fato de que seu corpo estava sobre o meu, do que em qualquer outra coisa. Como se tivessem vida própria, minhas mãos foram para o seu quadril, pressionando-o contra o meu, e quase esqueci do que Bella estava prestes a fazer quando ela se mexeu em cima de mim, deixando um joelho de cada lado do meu quadril, ficando na posição certa.
- Apenas anunciando o óbvio.
- O que são três dias de dor quando eu terei a eternidade ao seu lado?
- Boa resposta.
- Posso te fazer apenas um pedido? – perguntei, guiando seu quadril contra o meu, ainda num gesto automático, fazendo-a gemer baixinho quando nossos sexos se encontraram, o meu já dando sinais do quanto eu era fraco por aquela vampira.
- Qualquer coisa.
- Não fale com Garrett enquanto eu estiver desacordado – pedi. – Quero ser capaz de dar uma surra nele se ele tentar algo.
Bella riu com gosto diante do meu pedido e afundou o rosto na curva do meu pescoço, me deixando ainda mais excitado quando seu hálito gelado fez contato com a minha pele quente.
- Você é um ciumento, Edward Masen. – ela falou, parando de rir, mas ainda sorrindo, erguendo o rosto para voltar a me encarar. – E para a sua informação, eu não pretendo sair do seu lado um só segundo pelos próximos três dias.
- E depois disso? Você vai sair do meu lado?
- Só se você quiser.
- Então se prepare para uma eternidade ao meu lado, porque eu nunca vou deixar você sair de perto de mim.
- Acho que posso agüentar isso.
E Bella cumpriu a promessa. Depois da mordida, que era muito melhor do que eu lembrava, a dor começou com uma pequena queimação que se espalhava suavemente do meu pescoço para o resto do meu corpo. Mas essa leve queimação logo se transformou na pior dor que eu poderia um dia imaginar sentir.
Eu queria gritar. Queria pedir, implorar, para fazer aquilo parar. Cheguei a pensar, em um curto momento de lucidez, em pedir para Bella acabar logo com aquilo de me matar. Mas eu não fiz nada disso exatamente porque ela estava ali.
Bella estava ao meu lado, o tempo todo segurando a minha mão e murmurando palavras de conforto, mas que eu mal entendia, a dor me impedindo de usar os meus sentidos.
Mas eu sabia que ela estava lá. Por isso eu me mantive o mais imóvel que aquela dor me permitia, tentando aparentar uma calma que eu não sentia.
Várias vezes eu tentei falar com ela para dizer que eu estava bem, mas cada vez que eu abria a boca, um gemido de dor escapava, então eu desisti de tentar. E várias vezes eu tentei abrir os olhos para ver Bella, mas cada vez que eu tentava fazer isso, era como se agulhas em chamas estivessem furando meus olhos e, mais uma vez, eu desisti de tentar. Então apenas permaneci imóvel até que aquela dor acabasse.
Eu sabia que apenas três dias tinham se passado, mas mais pareciam anos. Mas quando tudo finalmente acabou, quando a dor foi embora, eu me senti tão estranho que demorei um pouco para abrir os olhos.
Era como se estivesse oco. Vazio. Como se não tivesse nada dentro de mim. Eu sabia que todos os meus órgãos estavam lá, que apenas tinham deixado de funcionar, mas era estranho não sentir o coração disparado estando tão nervoso quanto eu me sentia no momento. Era estranho não me sentir cansado depois de tanto tempo tenso por conta da partida de Bella e depois por causa da doença de Emma. Mas, mais que estranho, era ótimo. Eu me sentia vivo como há muito não tinha estado.
E finalmente, quando aquela sensação de estranheza deu lugar à curiosidade, eu abri os olhos.
Eu poderia ter ficado impressionado com a forma com que as coisas ao meu redor pareciam mais nítidas, as cores mais intensas, os cheiros mais acentuados, os ruídos mais claros. Poderia ter visto que no teto havia ranhuras decorativas que eu nunca tinha percebido. Poderia ter ouvido o som de água corrente de um rio que eu nem sabia que havia ali perto. E poderia até ter sentido o cheiro da terra molhada por conta da chuva que eu lembrava ter ouvido caindo enquanto estava desacordado. Mas nada daquilo aconteceu. Eu não vi, ouvi ou senti nada que não estivesse ligado a ela.
- Minha Bella. – sussurrei e me surpreendi em como a minha voz saiu forte mesmo depois de ficar tanto tempo sem falar.
E o sorriso que ela abriu naquele momento foi o que faltava para me despertar.
Sem nem perceber que agora estava me movendo tão rápido quanto ela, eu levantei e a puxei contra o meu corpo, deitando-a no mesmo sofá que tinha permanecido por três dias, ficando por cima do seu corpo pequeno.
Minha visão patética e distorcida de humano não fazia jus à beleza dela. Era como se antes eu visse apenas uma pintura feita às pressas da mulher mais linda do mundo e agora eu a via pessoalmente. E simplesmente não havia palavras para descrever o quanto ela era linda.
E a cada segundo que eu passava olhando para ela como eu fazia agora, observando-a como se quisesse memorizar cada traço daquele rosto delicado, mas perfeição eu encontrava.
Ela parecia estar passando pelo mesmo processo de adaptação que eu porque não parava de me olhar e suspirar a todo instante.
- Você ficou ainda mais lindo como vampiro, meu amor. – ela murmurou depois de longos minutos de contemplação. Até a sua voz me soava mais musical que antes.
- Eu sinto como se estivesse te vendo pela primeira vez. – sussurrei em resposta, acariciando seu rosto delicadamente.
Ela fechou os olhos apreciando o contato e eu tentei me acostumar com o fato de que agora ela não era mais gelada para mim. Nossas peles tinham a mesma temperatura. Os dois quentes ao seu modo.
Mas eu teria muito tempo para me adaptar àquelas mudanças. No momento, eu só queria uma coisa.
Sem perder tempo, cobri seus lábios com os meus e Bella correspondeu no mesmo instante. Beijá-la também estava diferente. Melhor. Muito melhor. Mais intenso. Ela sabia que agora não poderia me machucar e não perdeu tempo em cravar as unhas na minha nuca, me puxando para mais perto e eu imediatamente puxei suas coxas para que ela envolvesse as penas no meu quadril, passando a percorrer seu corpo em seguida.
"Eu não acredito que eles vão fazer isso quando está todo mundo aqui fora querendo vê-lo."
"Esse barulho que eu estou ouvindo é o que estou pensando que é?"
"Acho que eu devo levar os outros daqui. Eles precisam de privacidade agora."
"É isso aí, Edward! Não perde tempo!"
Me afastei de Bella quando ela riu contra a minha boca.
- Isso é Emmett? – perguntei, rindo também.
- É. Ele está lá no jardim.
- E Alice e Carlisle também. E acho que a outra voz é da minha irmã, se não me engano. – comentei, me referindo a segunda pessoa que falou. – Está um pouco diferente.
- Emma? Não sabia que ela estava aqui. – ela falou, franzindo o cenho e olhou para o lado na direção da parede que dava para o jardim da casa. – E como você sabe que Carlisle e Alice estão aqui também? – Bella perguntou voltando a me encarar.
- Da mesma forma que eu sei que Emmett está. Eu os ouvi.
Bella continuou com o cenho franzido e olhou novamente na direção do jardim.
- Eles falaram? – ela perguntou, voltando a me encarar e me empurrou de leve pelos ombros.
- Você não ouviu? – perguntei, me afastando, estranhando tudo aquilo e sentei no sofá no instante em que a porta abriu e Carlisle entrou acompanhado de Alice, Emmett, Esme, Rosalie e Jasper.
- Ela não nos ouviu porque nós não falamos, Edward. – Carlisle falou. – Nós pensamos.
"Edward lê mentes?" Foi a pergunta que eu ouvi de todas as vozes ali dentro – mesmo sem ninguém mexer a boca – inclusive de uma pessoa que eu não conseguia ver.
- Emma? – chamei, esticando o pescoço para um ponto atrás de Carlisle de onde tinha ouvido a "voz" vir. Naquele momento eu nem me importei com o fato de que poderia estar ouvindo as vozes mentais.
Timidamente eu vi uma cabeça aparecendo por trás de Carlisle. Uma cabeça com cabelos ruivos ondulados, pele muito pálida e olhos vermelhos.
- Oi. – ela falou com um pequeno sorriso e no segundo seguinte voava para cima de mim, me derrubando do sofá num abraço forte demais para alguém daquele tamanho.
Depois de longos segundos naquele abraço e várias vozes na minha cabeça, eu sentei novamente com Emma ao meu lado e Bella do outro.
- Eu acho que estou lendo as mentes de vocês. – falei, apontando o óbvio. – E, Emmett, você quer parar de olhar para a bunda de Rosalie e pensar que não vê a hora de sair daqui com ela?
- Ei, isso é invasão de privacidade. – ele reclamou com uma risada que mais parecia um rugido.
- Você quer mesmo sair daqui, ursão? – Rosalie perguntou com a voz sedutora e Emmett logo voltou a atenção para ela, praticamente babando quando ela passou a mão pelo seu peito.
- Você sabe que sim, minha deusa.
Ele não precisou falar mais nada e ela praticamente o arrastou para fora da casa.
- Então você lê mesmo mentes. – Emma comentou. – Curioso.
- O que é curioso? – Bella perguntou.
- Emma também tem um dom parecido. – Carlisle respondeu por ela. – Ela lê as expressões.
- Como é isso? – perguntei, olhando para Emma.
- Eu meio que sei o que a pessoa vai dizer só pela expressão.
- É? – ela fez que sim e eu sorri. – E o que eu vou dizer agora?
- Que você é um idiota? – ela perguntou com um sorriso enorme e riu alto quando eu fiquei sério. – Brincadeira, seu bobo. Você vai dizer algo do tipo que está muito feliz por eu estar bem e todo esse blá blá blá sentimental de irmão mais velho.
- Incrível como você ficou mais insuportável depois que virou vampira.
- E mais linda também. – ela comentou despreocupadamente, ficando em pé e jogou os cabelos sobre os ombros sorrindo e piscando para mim. – Agora eu vou dar o fora daqui porque estou sentindo uma certa vibração sexual no ar e eu sou muito nova para esse tipo de coisa.
- Cai fora, Emma! – gritei, jogando uma almofada na sua direção que ela facilmente desviou.
Ela jogou um beijo para mim e saiu da sala, não sem antes falar comigo, dessa vez apenas para que eu ouvisse.
"Só para constar, eu também estou feliz de te ver bem."
Emma poderia ser muito irritante, mas vampira ou não, eu a amava demais.
"Também te amo." Ela falou e saiu da casa.
- Seja bem vindo, Edward. – Carlisle falou com um sorriso gentil e saiu da sala com Esme depois que ela também desejou as boas vindas para mim.
- Pode deixar que eu vou tomar conta de Emma, Edward. – Alice falou, já adivinhando o que eu ia pedir e então saiu da sala também, acompanhada de Jasper que apenas sorriu e acenou se despedindo.
E então se fez o silêncio.
Não apenas um silêncio comum. Eu não ouvia voz nenhuma. Falada ou mental. Nem mesmo da mulher ao meu lado.
- Eu não posso te ouvir. – falei, mudando de posição no sofá para ficar de frente para ela.
- O poder de Aro não funciona comigo também.
- É, mas Aro tem que tocar em você para te ouvir. E o seu poder bloqueia o dele.
Ela deu de ombros e começou a deitar no sofá, lentamente, me olhando de forma sugestiva.
- Veja por esse lado: nem te tocando eu posso te ouvir ou aos outros.
- Incompatíveis? – perguntei, sorrindo torto para ela e fiquei por cima do seu corpo novamente. Bella imediatamente envolveu meu quadril com as pernas.
- Você acha que é isso?
- Não. – respondi, sentindo muita dificuldade em me concentrar numa conversa agora que a tinha embaixo de mim, movendo o quadril provocativamente contra o meu. – Acho que nós estamos em uma sintonia única e ler a mente um do outro simplesmente não é necessário.
- Eu assino embaixo.
E, honestamente, pouco me importava o "porquê" de ler ou não a mente de cada um. Eu não sabia como seria a minha vida dali para frente. Mas eu sabia que estando ao lado de Bella, nada mais importava. Eu não sabia se conseguiria me adaptar à dieta dos Cullen, mas achava que sim. Uma vez que nunca tinha experimentado sangue humano, deveria ser mais fácil, certo?
Eu também não sabia se viríamos a ter problemas com os Volturi mais uma vez depois de tudo que Bianca fez. Mas ao menos agora eu sabia que estava à altura para enfrentá-los caso eles aparecessem de novo.
Mas naquele momento isso não importava.
Para mim, tudo que importava agora era a consciência de que Bella tinha me dado uma nova vida e eu pretendia passá-la ao lado da mulher que eu amava. Independente das dificuldades que poderíamos vir a ter, estar ao lado dela era tudo que eu precisava.
** FIM **
Aêêêêêêêêêêêêêêê
ACABOU \o/
OMG! Nem acredito que acabou mesmo!
Minha primeira fic de Twilight.
Não a primeira que concluo, mas foi com ela que eu comecei a postar fics da Saga *-*
Tão bom... Mais uma tarefa cumprida!
Demorou, mas finalmente saiu.
Obrigada a todos pelos comentários.
Até a próxima!
Bye Bye