Brigadu pelo coment Yasmim!!!

Watchmen é perfeito, mas eu mudaria N coisas pra me agradar hehehehe


Continuação...

O Espectro de Jupiter

Ela engoliu em seco e suspirou. Lágrimas molhavam todo o seu rosto e ela deitou na cama, pensando em tudo o que leu.

Alguns minutos depois, tentou voltar a ler a carta, mas não conseguiu e se encolheu na cama tremendo, e finalmente adormeceu.

Não choveu, só escureceu mais cedo naquele dia.

Preocupada com Sally, Berta foi até a porta do quarto e constatou que não estava trancada.

Andando na pontinha dos pés ela viu que Sally dormia profundamente em meio àqueles papéis e resolveu deixá-la como estava. Berta sabia muito bem o que Edward Blake significava para ela, já tinha visto todas as fotos dele que Sally escondia num fundo falso da gaveta do criado-mudo.

Alguns minutos antes da meia-noite, Sally acordou. Não sonhara, parecia que tinha acabado de pegar no sono e se sentiu invadida por uma nostalgia avassaladora. Viu o perfume homônimo que Adrian Veidt tinha lhe mandado há uns meses atrás e lembrou-se o que ele tinha feito com Eddie.

Se ele não tivesse assassinado o Comediante pelo bem da humanidade, será que as coisas agora seriam diferentes?

Será que eles teriam esclarecido tudo?

Enquanto essa pergunta ecoava em sua cabeça, ela lembrou do que leu no jornal, sobre o Diário de Rorschach. Ela concordava com aquele maluco, odiava Adrian Veidt!

Então pegou o perfume com ódio e jogou na parede. O frasco espatifou-se em milhares de pedaços e espalhou a fragrância por todo o quarto.

Aquele cheiro doce e ao mesmo tempo forte que o perfume tinha, a envolveu numa nuvem de pesar e rapidamente ela pegou a carta e respirando fundo, recomeçou a ler.

O Hollis nem me olhava mais na cara depois que tudo aconteceu, a Silhouette voou em cima de mim pra me bater no meio da rua, mas o Dollar Bill segurou ela. O J.E nem se fala, ele queria me matar!

Depois, o teu agente me disse que você não daria queixa de mim se eu saísse do grupo, e eu aceitei de cara. Ninguém gostava de mim mesmo, só você, mas depois daquilo, achei que você tinha toda a razão de me odiar, então resolvi sair logo, sem alarde e me joguei na vida. Não vou te contar tudo o que eu fiz de ruim depois disso, senão você não iria agüentar ler e quando você tentasse ler, pingaria sangue no teu colo, na tua casa, enfim... esse cretino desgraçado aqui não quer te traumatizar mais do que já traumatizou.

Você não foi pra guerra Sally, e nem a Laurie, por serem mulheres, e agradeço a Deus por isso! Porque se vocês vissem o que eu vi, e tivessem de fazer o que eu fiz, o restante de inocência que vocês nem imaginam que ainda tem seria esmagada, completamente destruída e sumiria em meio àquele monte de corpos e àquela mistura nojenta de sangue e lama.

Ela ficou parada, chocada, imaginando o porquê de ele não querer contar a ela. Devia ser mesmo horrível.

Quando ela soube que ele havia assassinado a sangue frio uma vietnamita grávida de um filho dele, em 75, ela quis morrer. Passou mal enquanto Jon Osterman, ou melhor, o doutor Manhattan lhe contava, e ele mesmo a socorreu. Enquanto passava mal e Laurie ficava desesperada, Sally conseguiu pedir segredo sobre isso a ele. Se Laurie soubesse de mais este crime, jamais poderia vir a gostar de Eddie, se algum dia Sally fosse corajosa o suficiente pra contar-lhe que ele era seu verdadeiro pai.

Quando eu soube que você tinha casado com aquele careca feioso, me subiu um ódio tão grande, porque eu não podia fazer merda nenhuma, que tomei um porre tão grande, mas tão grande, que me lembro de ter ficado três dias bebendo sem parar. Bebi tanto que precisei tomar soro num hospital depois.

Ver as fotos de vocês, sorrindo, junto de todos os Minutemen, me dava nojo Sally, nojo!

No lugar daquele idiota, tinha que ser eu, deveria ser eu!

Eu sempre fui mais bonito, mais charmoso, mais tudo que ele! Você podia até ter casado com o J. E. se ele não fosse gay., mas com aquele aeroporto de mosquito?! Você tão linda, tão alegre e tão sensual e... com ele?!

E eu não podia fazer nada, só tentar me conformar porque fui eu que fiz merda, fui eu que te bati e te machuquei de muitas formas.

Você não pode imaginar como isso dói. Ter feito você sofrer daquele jeito tão bruto, tão primitivo, e... ahhhh, Sally eu te amo!

Eu te amo tanto, nunca deixei de te amar, nunca! Mesmo com você me rejeitando a cada vez que ficávamos juntos e quando eu dizia ou fazia alguma idiotice. Mesmo com você me abandonando tantas e tantas vezes. Eu não tinha razão nenhuma pra me sentir no direito de reclamar mesmo. Eu mendigava teu amor e você me dava de boa vontade. Você é a mulher mais gentil do mundo. Depois do que fiz com você, você ainda conseguia me amar daquele jeito tão romântico, tão inacreditável, tão... era como um sonho pra mim! Tá, você nunca disse com todas as letras que me amava, mas eu sei que, pelo menos em alguns momentos, acho que na maioria deles, você me amou de verdade. Eu sei disso.

Ela lia freneticamente, como se estes fossem seus últimos instantes de vida. Ela soluçava tanto que tremia e respirava com dificuldade. Ele a amava, a amava. Ela sempre soube, sempre.

Ele tinha dito isso todas em as vezes que eles se encontravam, todas as vezes que faziam amor e em todas as vezes que brigavam. Ele sempre fazia questão de que ela soubesse que ele a amava. Talvez por culpa pelo que tinha feito e 1940 ou talvez porque era verdade mesmo.

Ele inúmeras vezes implorou pelo amor dela com declarações secretas ao resto do mundo, ele pedia de joelhos que ela dissesse que o amava, mas ela não disse, ela nunca disse e agora provava o amargo sabor do arrependimento mortal.

Nenhuma mulher nunca fez um carinho inocente em mim, só você. Só você ficava acariciando minhas costas por horas, ouvindo minha respiração. Só quando eu tava com você eu largava o maldito charuto porque você não gostava de fumaça. Só quando eu tava com você eu não pensava em sair quebrando tudo. Você me acalmava, oh Sally, como me arrependo de ter sido tão violento com você! Foi covardia, uma puta covardia!

Ela respirou fundo, nem mesmo ele esquecia o fato. Sempre dava um jeito de relembrar a dor. Talvez isso os tenha afastado durante toda a vida.

Eu tô me lembrando agora do dia que te achei naquele hotel em Cancun. Eu tinha te seguido por semanas, e quando um informante meu disse que você tinha ficado sozinha num hotel porque seu maridinho teve que atender um cliente especial e não podia adiar, eu vi a minha chance de finalmente falar com você. Já tinha quase 10 anos que não nos falávamos, a Guerra tinha acabado e o meu amor tava queimando em mim. Eu precisava pelo menos do teu perdão. Mas você nunca me perdoou né Sally?

Você me amou, você se entregou a mim, mas nunca teve coragem de assumir isso em público, nunca pôde dizer em alto e bom som pra todos que nos conhecem que você me amava! Eu entendo Sal, eu entendo.

Ela nunca tinha dito pra ninguém além do Laurence e do Hollis, que ela tinha se entregado a ele. O Hollis se espantou e ficou furioso com ela por vários anos, mas sabia de todo o romance, já o Laurence pensava que tinha sido uma vez só. Ela nunca pôde admitir que o amava. Era muita vergonha, ela se sentia uma criminosa, uma maldita traidora. Amar o homem que tentou estuprá-la.

Lembra quando eu cheguei lá no hotel, no final da tarde, todo cheiroso, arrumado e com rosas vermelhas nas mãos? Nada mais clichê não é?

Ela sorriu. Ela sentiu o coração afundar no peito. Lembrando daquele dia, ela não podia fazer nada além de sorrir.

Ele chegou de surpresa, ela ainda estava de biquíni, sentada numa cadeira do hotel, em frente ao mar. Aquele pôr-do-sol magnífico do final de uma tarde de verão no Caribe e ele lindo, com um terno branco, bem barbeado, mas mantendo o bigode, com rosas nas mãos, e um pedido de perdão desesperado e romântico nos lábios.

Eu cheguei de mansinho pela areia, suspirei, pensei várias vezes se eu devia e finalmente fui pra tua frente. Teu olhar não negou o horror da minha presença logo de cara. Você gritou, quis bater em mim. Tu me jogou um copo de rum na cara! Eu tava todo arrumado.

Nisso eu já tinha preparado um discurso, mas me deu um branco tão grande quando eu te vi, que eu esqueci tudo e o que saiu da minha boca foi realmente do fundo do meu coração escuro.

Você me deu um murro tão grande, igual ao do daquele maldito dia quando jurei que te amava segurando teus braços. Eu não tive coragem de te contrariar e aquela foi a primeira vez que me ajoelhei implorando perdão a alguém. Nessa hora você me olhou de um jeito tão lindo e tua respiração mudou de ritmo. Eu notei.

Você não esperava isso de mim né? Com certeza não.

Sally, naquele dia você deixou que eu fosse ao teu quarto, pra gente conversar melhor longe daqueles malditos turistas curiosos.

Você já pensava em se render a mim? Se pensava, acredite, não foi você quem se rendeu! Fui eu que baixei a guarda, fui eu que implorei pra que você pelo menos me beijasse. Você nunca tinha me beijado. Nunca!

Eu fico tão orgulhoso e feliz porque foi você quem me agarrou. Jogou as flores em mim e me esmurrou outra vez, mas no mesmo instante você puxou meu rosto e me beijou com raiva misturada a ternura...

Aquele foi o meu primeiro dia de felicidade.

O dela também. Ela sentiu um arrepio quando se lembrou do toque da pele dele, do cheiro dele e quão natural e gostoso foi beijá-lo. Sua razão dizia que aquilo estava errado, que ele era um maldito estuprador, afinal se ele tentara com ela, era bem provável que ele tivesse tentado com outras – mas o coração dela dizia para ir em frente e como ela sempre se dera bem quando escutava aquele maldito músculo em seu peito...

Fazer amor com você foi como perder a virgindade pela segunda vez! Eu sei que isso é ridículo e vindo de um homem como eu é mil vezes pior, mas como já tô com o pé na cova mesmo, tanto faz né? Pelo menos você não vai morrer sem saber do que eu senti naquela noite.

Eu não sabia o que fazer logo no início, foi você quem comandou, eu achei muito sexy você tirar meu terno, desabotoar minha camisa... nessa hora, eu ainda queria esperar pra ter certeza que você tinha certeza do que estava fazendo. Lembra que fiz questão de saber se você estava bêbada?

Quando você disse que não estava e que me queria, eu surtei, fiquei maluco de tesão, eu já tava doido, mas depois você disse que me queria, que me queria Sally!!!

Ainda lembro de cada palavra tua: "Eu não estou bêbada, mas devo estar louca... por você! Oh Eddie, eu te quero tanto que dói, não brinque comigo! Faça amor co..." e eu não deixei tu terminar a frase, voei em cima de você e rasguei aquele biquíni vermelho! Não sei por que tu usava vermelho naquele dia, se você gostava tanto de amarelo e preto!

Ela riu, ele se lembrava desse detalhe que ela nem dera importância.

Fechando os olhos Sal, eu ainda te vejo nua, com as pernas ao redor da minha cintura, ainda vejo teu sorriso lindo, o jeito como você gemia no meu ouvido, o cheiro doce do teu suor, os teus cachos espalhados no travesseiro... deu até pra esquecer nosso passado né?! A sensação de estar dentro de você, de te dar prazer, de ter prazer com você, eu nem tenho palavras pra descrever!

Eu nunca tinha feito amor.

Eu fiz sexo com vagabundas que queriam me dar por pura curiosidade, desejo de se sentirem famosas, por fetiche ou só por sacanagem mesmo.

Com você sempre foi amor, e eu não entendendo... você consegue me deixar aceso até hoje!

Na época dos Minutemen, no dia que eu tentei te... você sabe, eu me excitei! Você me sentiu atrás de você, eu tenho certeza! Você deve ter sentido um nojo tão grande de mim e isso era a última coisa que queria!

Eu devia estar louco, levar muita porrada mesmo pra deixar de ser safado e miserável!

Eu merecia morrer por isso! Eu repito isso toda hora né? Não posso evitar, isso destruiu qualquer esperança de felicidade nessa vida pra mim e eu não me conformo!

Ela soluçou forte. As lembranças daquela noite estavam marcadas a ferro na alma dela. Se entregar ao homem que tentou violentá-la era vergonhoso e deprimente, mas ela o amava, não importava o que ele fizesse de errado. O amor é ridículo, idiota e não guarda rancor. É um perfeito simplório, um bobo alegre que se derrete por qualquer olhar que pense ser carinhoso.

Ela sentiu nojo dele uma única vez, e não foi naquela noite em 1940 como ela deveria e sim quando ele matou a vietnamita grávida de um filho dele. Ele não parava de lembrar a tentativa de estupro. Isso definitivamente era o maior muro entre eles, mesmo se amando, isso era tão grave, vergonhoso e forte que não conseguiam superar. Ele demorou pra entender o lado dela, mas pelo menos no fim da vida ele entendeu. Quando não adiantava mais.

Depois aqueles dias no bangalô alugado, nossas tardes na varanda rindo por qualquer bobagem ou apenas nos beijando, nossas noites na areia, na cama. Tudo tava perfeito demais pra ser verdade, eu até tinha feito planos pra gente, bem longe dos Estados Unidos, longe da imprensa, longe dos que sabiam quem a gente era. Eu queria começar uma vida nova com você em algum país tropical onde eu pudesse viver de verdade, sem medos, sem as lembranças medonhas do meu passado. Mas isso só acontece em filme.

Eu ia te roubar do teu marido bem ao estilo Zorro. Era meu sonho – olha que ridículo – subir num cavalo preto depois de quebrar a cara do Schexnayder, te puxar pra cima da sela, te colocar na minha frente e cavalgar por uma praia deserta e de água verdinha até parar numa clareira e fazer amor com você à luz da lua.

Pode rir Sal, é ridículo, mas eu sonhei isso várias vezes.

Ela riu. Limpou as lágrimas, suspirou e continuou a ler.

Me perdoa por ter insinuado que você era uma puta quando você não quis ir morar comigo, porque eu achava que você tava se vendendo ao teu marido e a fama que ele poderia te dar. Eu sou muito ignorante e agi mal, a gente não devia ter brigado naquele dia! Eu não devia ter falado aquelas barbaridades e você nem discutiu comigo. Que merda!

Você só me olhava, como se estivesse diante de um doente mental, e tava mesmo! Eu gritando asneiras e você balançando a cabeça e suspirando, quieta e triste.

Eu fiquei pirado com tua recusa ao meu pedido. Eu não entendia direito que mal havia em nós fugirmos juntos. Eu não entendia o porquê do teu medo de mim, medo de ficar comigo, da vida que esse maldito aqui poderia ter dar. Eu nunca tinha entendido o porquê de você ficar com tanto medo de mim, eu achava a violência uma coisa tão normal quanto respirar.

Acho que eu precisei fazer aquilo com você pra respeitar uma mulher. Mas eu aprendi isso aqui, no final da vida, enquanto me lembro das coisas e raciocino tudo o que aconteceu comigo. Aquilo não foi por acaso, Deus pregou tantas peças na gente Sally, será que era pra servir de exemplo pra alguém ou era pra eu ter do que me arrepender amargamente pro resto da minha vida pelo que eu nem tinha feito ainda?

Isso ela já tinha questionado muitas vezes, tinha o culpado e se culpado inúmeras vezes em suas noites de solidão desesperada. Ela nunca seria feliz na vida, nunca! Não poderia ter o Eddie, não poderia ter nada.

Depois que Laurie nasceu ela transferiu todos os sentimentos bons e frustrações para a menina sem nem se dar conta. Ela era seu pedacinho dele. Ela olhava para a menina, e via o mini Comediante fazendo traquinagens, sendo violenta e rindo do mesmo jeito que ele, mas quando estava com ela, no colo dela, a menina era um doce, fofa e sorridente, como ela própria era antes de 1940. Até então ela achava que não causava tanto impacto sexual num amigo, porque amigo para ela era igual a mulher.

Menos ele. Ele nunca foi amigo.

Depois do encontro violento com ele, ela aprendeu a grandiosidade do efeito que causava nos homens. Depois disso, ela percebeu que até o Hollis a olhava faminto, mesmo não gostando e criticando o jeito "meio prostituta" que ela tinha. O extremo cuidado e os paparicos do Coruja I logo começam a confundi-la.

Durante toda a minha vida, eu nunca diferenciei meu tratamento entre homem e mulher a não ser na hora de transar. Eu sempre queria comandá-las, fazê-las fazer aquilo que eu queria, eu batia nelas, xingava elas. Eu nunca respeitei ninguém além de minha mãe, que era uma santa!

Depois dela, eu só enxergo você como mulher de verdade, você e nossa menina.

Você foi forte o suficiente pra agüentar o sofrimento que te causei, anos depois você me amou como ninguém, e agüentou uma criança fruto do nosso caso, por nove meses.

Sally, eu até me arrepio quando penso na Laurie. Ela é tão você!

Só muda o cabelo, que é igualzinho ao meu e você não imagina como fico satisfeito em ver um pouquinho de mim nela! Mas o rosto, o jeito de andar, de falar, o sorriso e a pintinha são todos seus! A pintinha é a mais linda do mundo! Só combina em vocês, perfeitas, lindonas!

E pensar que aquele mulherão lindo é minha filha, porra, eu sinto um orgulho do cara... ai desculpa os palavrões, mas não dá pra falar da imensa beleza dela sem exagerar nos palavrões!

Eu queria tanto ter participado da vida dela, de ter ensinado ela a falar, Sally, eu nunca fui chamado de papai!

Lembra daquele jantar em homenagem a tua aposentadoria?Quando eu te vi grávida?

Primeiro veio o deslumbramento. Depois eu fique matutando e quando a possibilidade daquela criaturinha que tu tinha na barriga ser minha surgiu na mente, eu senti tontura!

Na hora que você puxou minha mão pra tocar tua barriga, me deu tanto medo Sally, tanto medo de ser minha. E você sorria boba, não me disse uma palavra.

Quando fui procurar você pra tirar essa historia a limpo, tu tava sentindo as dores e me tratou mal. Nossa Senhora do Céu. Aquele foi um dia arrepiante. Eu nunca tinha visto uma mulher com a dor do parto, nunca tinha imaginado que era tão assustador, mais assustador que a guerra.

Sally, quando tu agarrou minha mão dentro do carro daquele homem que eu amedrontei com a arma pra nos levar ao hospital.

Nessa altura ela percebeu manchas e borrões na carta. Ele tinha chorado em cima dela? Ou teria sido ela? Não, não foi ela, as manchas pareciam velhas. Tinha sido ele!

Isso a chocou! Foi como um peso caindo em cima dela. Não agüentava mais chorar, só soluçava, e a cada soluço, seu peito doía.

Eu vou parar por aqui! Eu tô derretendo como uma bichinha!

Quero que saiba que eu te amo desde sempre e que sempre vou te amar. Me perdoe por tudo que eu te fiz sofrer! Perdoe minha burrice, minha ignorância, minha violência, as merdas que te falei, os murros, o chute... tudo!

Eu te amo muito, nunca houve ninguém além de você no meu coração! Depois veio a Laurie e acho que vocês dividem bem o espacinho aqui dentro.

Você nunca me fez mal nenhum, você só me fez bem e eu queria que o amor que sei que você teve ou tem por mim, pudesse ter salvado minha alma!

Eu queria voltar no tempo e corrigir tudo... mas não dá! Talvez numa outra vida, se é que existe essa história de outra vida, a gente se encontra de novo e talvez eu possa te dar toda a ternura e o carinho que não tive tempo, oportunidade ou coragem de dar a você e a nossa filha.

Diga a Laurie que eu a amei desde o dia que eu soube que você tava grávida, mesmo que fosse filha do careca idiota, eu a amaria apenas pelo fato de ser sua Sally!

Peça perdão a ela pela ausência, pelo sofrimento, por tudo de ruim que ela acha que eu tenho culpa!

Vocês são as únicas mulheres da minha vida, as únicas pessoas que eu me importo realmente!

Sally e Laurie, eu sempre vou amar vocês, mesmo depois que queimarem meu corpo, ou mesmo depois de estar a 7 palmos no chão!

Que minha mãe me perdoe, que vocês me perdoem e que a Laurie um dia me ame e que Deus tenha piedade de mim!

Com todo amor que eu sei que posso sentir.

Seu eterno Eddie Blake.

Até porque você sempre foi a única a me chamar carinhosamente de Eddie, mesmo quando tava brava ou chorando.

P.S. Na caixa tenho muitas surpresas boas pra vocês, caso você ainda não tenha as visto.