Kagome's POV

O branco me enchia o corpo dos pés até a altura do pescoço, eu me enroscava com frio e medo no casaco transparente e me mantinha encolhida enquanto Fugini contava como havia parado ali, servindo a Naraku. Parecia ser uma boa mulher, apesar de ter o patrão que tinha, porém nem mesmo sua sensibilidade comigo conseguia melhorar meu humor.

- Anime-se, jovem - ela me disse enquanto arrumava as outras camisolas de dentro do armário - Sei que você preferia estar em casa, mas se fizer tudo o que ele mandar... Logo estará em paz.

Não respondi, me mantinha com o olhar fixo na parede só desejando que Inuyasha e Sesshoumaru realmente conseguissem me resgatar ou pelo menos soubessem onde me encontrar.

Era impossível ouvir qualquer barulho do lado de fora do quarto, então não haveria como eu tentar escapar. E de qualquer forma, Fugini me dissera que provavelmente haveriam guardas cuidando para que ninguém entrasse ou saísse enquanto Naraku não desse ordens.

- Não tema - ouvi-a sussurrar antes de se aproximar de mim -, conversei com o patrão pouco antes de vir aqui e ele me garantiu que apenas ficaria aqui contigo. Apesar do que a aparência mostra, Naraku é um bom homem e...

- Não se atreva a dizer algo assim! - gritei fitando-a com mágoa e sentindo lágrimas de raiva descerem por minha face - Este homem nunca será bom. Nunca! Não sei o que ele te fez pra fazê-la acreditar nisso, mas nada no mundo mudará minha opinião quanto a ele. Naraku é um monstro...

As palavras escaparam mais duras e frias do que eu pretendia expressar, ainda mais para a única pessoa ali dentro que estava sendo cuidadosa e atenciosa comigo. Segundos depois de se recompor dos meus gritos, Fugini virou-se outra vez e começou a limpar o espelho que ficava na frente da cama.

Fiquei me sentindo muito mal pelo que lhe fiz e por isso, sussurrei um "Desculpe" logo em seguida. Ela apenas me lançou um sorriso fraco e compreensível, sem mais nada a dizer. Acredito que era tão boa que entendeu meu sofrimento e não se importou quando descontei minha infelicidade nela. Quem sabe com quantas garotas assim - ou piores - ela já teve que lidar? Só pensar que outras garotas já estiveram aqui me deixam completamente arrepiada.

Continuamos um bom tempo sem falar mais nada, até que ela fez menção de abrir a porta. Antes que o fizesse, eu a parei.

- Espere! Aonde está indo?

- Irei levar essas toalhas sujas para lavar e... Creio que Naraku já deve estar esperando meu regresso para vir aqui ficar com você.

- Por favor, Fugini, não me deixe sozinha aqui... - exclamei me levantando e caminhando na direção dela.

- Repito outra vez, garota: Não tema.

Quando a porta se abriu tive o impulso de me movimentar na direção da saída e correr o mais rápido que pudesse, mas um dos homens que me levara da cela até o quarto estava ali e me encarou com seus olhos escuros e perigosos até que eu me mantivesse bem afastada dele.

Voltei a permanecer trancafiada e sozinha. O barulho do ar-condicionado era a única coisa que eu escutava. Me encarei no espelho; continuava com a mesma aparência só que minha cor estava de volta, talvez por conta do choro ou pela raiva. Eu vestia uma camisola branca, não daquelas bem vulgares, de seda e até que não era tão mal. (Nunca que eu abriria minha boca para admitir isso!)

Mas ficar imaginando o porquê de ter sido obrigada a usá-la era o que mais me assustava. Fiquei em pé, exatamente aonde estava, e esperei durante um bom tempo. Não queria ser pega de surpresa ou terminar caindo no sono e acordar em uma situação ruim como me acontecera da última vez.

Ele continuava do mesmo modo repugnante de antes. Seus cabelos escuros entravam em contraste com sua capa preta que ele retirou no instante que adentrou o recinto. Parecia surpreso em me ver ali parada como um poste em vez de encolhida na cama, tremendo de medo... Que era justamente o que eu mais queria fazer.

- Vejo que lhe caiu perfeitamente bem - comentou sobre a camisola branca.

Ele se debruçou sobre uma mesinha no canto do quarto que, só agora, eu tinha notado a existência de uma garrafa de vinho. Naraku trazia em suas mãos duas taças e as encheu devagar como se realmente estivesse em um encontro. O pensamento de que era eu o motivo do encontro me fazia ter ânsia de vômito.

- Por favor, Kagome, será que seu pai não lhe ensinou a ter modos quando se está na presença de outros?

- Claro que me ele me ensinou - respondi mal-criada, cruzando os braços e lançando-lhe um sorriso irônico, do mesmo jeito que Inuyasha costumava fazer comigo ou Sesshoumaru - Mas a regra não é aplicada para monstros!

Naraku apenas riu da minha petulância e caminhou em minha direção. Estendeu uma das taças com o vinho esperando que eu a aceitasse, mas não movi um único dedo.

- Tudo bem... Assim que quiser dar um gole, - retornou até a mesinha e depositou a taça de volta - ela permanecerá aqui.

Ele se dirigiu até a cama e jogou alguma das almofadas no chão e reclamou de Fugini sempre exagerar na decoração. Continuei com os olhos fixos em cada movimento seu, não queria ter que me distrair e acabar sendo surpreendida.

- Por que não se deita comigo? - sugeriu enquanto relaxava o corpo na cama.

Fiz uma expressão de nojo e juro que me controlei seriamente para não vomitar ali mesmo. Repugnante era a palavra que melhor o descrevia.

- Eu nunca me deitaria com você. Nem que fosse paga pra isso! Nem que a minha vida dependesse disso!

O sorriso não lhe escapava dos lábios por mais que eu o xingasse ou ameaçasse. Parecia que eu estava contando como havia sido meu dia na escola e ele apenas apreciava cada segundo de meu desespero.

- Por favor, Kagome, não me obrigue a trazê-la a força.

Desta vez cada letra foi pronunciada de forma mais rígida e perigosa, mesmo o semblante continuando o sereno de sempre.

- Não vou! - apesar do medo precisei me manter firme.

Imaginei que ele fosse revirar os olhos e correr atrás de mim até finalmente alcançar-me ou quem sabe gritaria quantas vezes fosse necessário para que eu obedecesse suas ordens. Mas diferente de qualquer outra coisa... Ele desapareceu.

Não com aquelas fumacinhas de show de mágico, foi mais do tipo aquele gato sinistro do filme da Alice No País Das Maravilhas que vai sumindo gradualmente por partes do corpo até não poder mais ser visto por ninguém.

Senti minha respiração acelerar, eu ainda o sentia por perto e por isso me encostei na parede que estava apenas a alguns metros de mim. Se ele fosse me pegar, não seria por trás!

Porém, assim que encontrei o apoio do gesso duro e gelado, o que encontrei foi na verdade algo pulsante, ainda mais frio e... mole.

Gritei e corri para a outra extremidade do quarto. Naraku estava bem ali e eu nem ao menos o havia percebido.

Antes que conseguisse alcançar a porta, ele puxou meu cabelo com muita força e me prendeu nos braços impedindo que eu caísse no chão. Em uma fração de segundos, eu estava deitada na cama, as luzes foram apagadas completamente e o peso do corpo dele apareceu em cima do meu.

Lágrimas começaram a escorrer de meus olhos quando Naraku amarrou cada uma das minhas mãos acima da cabeça, na madeira da cama. Só se podia ouvir os meus gemidos que aumentavam cada vez que suas mãos percorriam e tocavam alguma parte da minha pele. Uma delas tapou a minha boca, eu a mordi e em pouco tempo de liberdade que tive, gritei:

- O que quer de mim?

Rapidamente Naraku usou um pano para me impedir de falar outra vez. Abaixou sua cabeça em direção ao meu ouvido - virei o rosto o máximo que pude para evitar mais um contato - e sussurrou:

- Não quero nada, minha princesa... Apenas, relaxe...

- Não! Não! - berrei desesperadamente na esperança de que alguém conseguisse me resgatar, mas a cada torturante segundo sentindo sua boca percorrer meu rosto e suas mãos acariciarem meu cabelo, parecia que eu havia sido esquecido por todos, que ninguém mais se importava comigo.

Meu corpo doía tamanha era a força que eu utilizava para fazê-lo sair de cima de mim, mas em comparação a ele eu era fraca demais.

Só o que se ouvia eram meus gemidos angustiantes, como uma criança birrenta que não quer ir ao médico ou tomar injeção. Mas dessa vez eu não estava com meu pai pra me dizer que tudo terminaria bem no fim das contas.

E depois do que me pareceram horas, finalmente, um estrondo eclodiu de fora para dentro do recinto. Naraku se assustara com o barulho e afrouxou seu aperto sobre mim, erguendo o rosto e dirigindo-o à Inuyasha!

Eu o encarei grata por ver que ele me achara! Me perguntei mentalmente aonde estava Sesshoumaru, porém na hora não importava tanto, só pela presença do Inuyasha ali já me tranquilizava. Eu estava segura.

- Ora, ora - riu o monstro - Não é que você puxou mesmo ao seu velho pai... Ele também era muito bom em acabar com meus momentos de privacidade.

Inuyasha não respondeu. Apenas permaneceu parado na mesma posição, com os olhos arregalados, a respiração arfante e o semblante preocupado. Não entendi bem o porquê dele estar daquele jeito... Desde pequeno, sempre fora muito estorado, ia pra cima, atacava como um verdadeiro animal. Não era a toa que eu o chamava de cachorro às vezes...

E aparentemente, Naraku também percebera que ele estava um pouco fora do normal, pois saiu de perto de mim como se ele não representasse nenhum tipo de perigo.

- O que foi, Hanyou? Não consegue acreditar que eu estou a poucos passos de vencê-los como sempre?

Inuyasha não respondeu.

- Sabe... Estávamos conversando a pouco sobre você e seu irmão. É patético ver o quanto demoraram para sacar o que realmente estava acontecendo, precisam ser mais rápidos da próxima vez!

Como se ele fosse permitir que houvesse próxima vez!, quis gritar mas me segurei. Seria com certeza pior para mim se me intrometesse.

Pude perceber, erguendo um pouco minha cabeça que algumas sombras se movimentavam rapidamente atrás de Inuyasha. Eram provavelmente os guardas de Naraku que estavam vindo na direção do quarto para prender o intruso, mas tudo aconteceu tão rápido que mal pude perceber.

No segundo em que os homens de Naraku corriam pela corredor prontos para derrubar Inuyasha, ele começou a ficar agitado, parecia que estava pegando fogo por dentro porque se remexia todo e sua pele começou a ficar avermelhada e a suar, fiquei extremamente preocupada e terminei gritando seu nome, mas ele não me ouviu. Seus olhos também estavam mudando de cor, saindo do seu lindo dourado brilhante para um vermelho sanguinário.

Um urro estridente escapou de sua boca e os homens atrás dele pararam rapidamente antes de darem de cara com a fera em que ele havia se transformado. Suas unhas cresceram e se tornaram afiadas, ele agachou-se e pulou em cima de Naraku que o olhava com medo e pavor. Tentara fugir, desaparecendo aos poucos como da última vez, porém não foi o suficiente, Inuyasha fora mais rápido.

Não consegui entender o que estava acontecendo com os dois, se misturaram com a escuridão do quarto e eu só escutava o barulho de seus corpos sendo lançados violentamente contra as paredes e os poucos objetos do quarto. Desci da cama, mas não me permiti sair sem Inuyasha de lá. Esperei próxima a porta, os homens estavam em dúvida se entravam para me prender ou se continuavam parados esperando alguma ordem.

Aproveitei o momento de demência deles e tive uma ideia. Lembrei-me do dia em que Inuyasha brigou com Kougra e a mesma situação o envolvera completamente. Ele não voltou a si até que eu o acertei com o vaso de flores do papai. Como não havia nenhum vaso por perto, tateei no escuro até alcançar a mesinha do canto e assim que senti a garrafa de vinho corri para onde o barulho dos dois estava e, rezando, atirei a garrafa contra um deles.

O som de outro urro - mais forte que o primeiro - me fez abrir um sorriso e como confirmação de que tinha acertado o meu alvo, ouvi Inuyasha gritar:

- Mas que droga, Kagome!

Claro que o xingamento utilizado não foi esse, mas enfim...

Ele voou em minha direção e me abraçou rapidamente, mal me dando tempo de apreciar aquele momento.

- Vamos, não temos muito tempo, você me acertou bem na hora em que o deixei inconsciente também - falou rapidamente me guiando pelo braço em direção ao corredor.

Os homens haviam sumido, creio que por medo de se tornarem parte da confusão que Inuyasha criara. E meu querido meio-irmão-meio-namorado parecia estar se divertindo com sua posição de fera assustadora.

- Você nem é essas coisas toda - reclamei revirando os olhos enquanto parávamos e ele me carregava em seus braços.

- Cale a boca, Kagome! Tenho que me concentrar para lembrar onde é a saída.

Ele virou de um lado para o outro, tenho certeza de que coçaria a cabeça repetidas vezes se não estivesse comigo ocupando-as. Foi só então que ele olhou para mim de verdade, dos pés a cabeça.

- Que roupa é essa?

- Será que até agora você não se tocou que isso é um sequestro e que ele estava prestes a me...

Fui cortada no meio da frase quando o chão estremeceu. Acima de nós, algumas pedrinhas desabaram ao se soltaram do teto. O nariz de Inuyasha entrou em ação, sentindo o cheiro ou provavelmente pressentindo o que havia causado o tremor. Apesar de vivermos em um local que frequentemente recebe a visita dos queridos terremotos, dava pra perceber quando era um ou quando era apenas obra do vilão da história.

- Vamos correr? - perguntei mais calma do que aparentava realmente.

- Vamos correr.


É o seguinte, galera do mal...

Não tive culpa da demora do post dessa vez. Sério mesmo, difícil de acreditar né? Mas juro que é verdade.

O capítulo deveria ter sido postado há pelo menos umas três semanas atrás, mas como o mundo é cruel, o site do Fanfiction (pelo menos aqui em casa) ficava dando erro toda vez que eu tentava fazer o login e entrar na minha conta daqui. E como não há possibilidades de postar sem entrar na conta... Não deu. Pra piorar a situação passei dois finais de semana seguidos sem internet e durante a semana é impossível pra mim postar! Então, me perdoem o atraso, e rezem pra que nada disso aconteça outra vez.

Ah e não se assustem... A Erinn B. ainda sou eu mesma! Podem continuar chamando de Bia-Chan ainda se quiserem x) rs

Espero que tenham gostado do capítulo. Um beijo bem grande pra todo mundo.

NÃO ESQUEÇAM DAS REVIEWS! *O*