Queridos, peço que leiam as notas da autora no final do capítulo. Serão importantes para vocês entenderem o propósito da fic. Boa leitura!

Disclaimer: Naruto não me pertence. Naruto pertence a Masashi Kishimoto. E espero muito que ele aproveite o enredo que tem em mãos, sem fazer nenhuma tolice.

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I – Menina violeta

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Ah, as malditas impressões.

Só achava que ela era uma garota comum. Tímida e estranha às vezes. Voz muito sumida, baixa. Os dedos indicadores girando um no outro, naquele gesto lento, de puro recato. Olhos tão claros que pareciam sem vida, a alma sendo arrancada no inexpressivo da íris. O cabelo cortado curto, uma mecha insinuante de cada lado. Os fios eram de um tom diferente, mistura de azul e roxo, um propósito violeta, talvez. Mas ele preferia flores de cerejeira. Sakura, a kunoichi rósea, encantadora que só ela.

A menina Hyuuga não tinha nada de especial. Tão pequena, quem sabe a única garota da escola de estatura inferior à sua. Miúda, encolhida em casacos enormes. O corpo não parecia ter a menor graça, escondido nas vestes amplas, pouco valorizado por sua tímida portadora. Passiva, fácil de ser esquecida. Assim pensava Naruto. Assim era Hinata aos olhos dele.

Sakura era diferente. Sua companheira de time exalava ânimo, disposição, afeto. Se os olhos dela brilhavam para Uchiha Sasuke? Naruto fingia não saber. Se ela dissera odiá-lo logo no primeiro dia de convivência mútua? Ódio esconde amor, não era o que dizia a sabedoria popular, tão perita em casos de esquina e quartos de aluguel? A garota rósea amava-o, tinha certeza. Teria o viscoso esmeralda entranhado em seus olhos azuis, herança de pai desconhecido, e de quebra exibiria ao amigo e rival o troféu conquistado às custas de desejo e perfídia.

Nos olhos de Hinata não dava para se afogar assim. Eles pareciam arrancar um pedaço do interlocutor, serenos mas assassinos, disparados sem piedade. Tão transparentes que davam medo. É, ele a temia. Já era mais do que o descaso, mas talvez fosse pior, o receio calando a garganta até então extrovertida e dada a gracejos. Evitá-la redimiria suas dúvidas, silenciaria aquele pânico do mal? Menina violeta e transparente, tão misteriosa.

Naruto vai cumprir uma missão, volta ferido e herói. Será que Sakura se impressionara com a genialidade de seu plano, a coragem em batalha, o confronto fatal contra a dupla da Névoa? Ou temera o monstro que o habitava, nuvens de laranja e negro a cercá-lo por completo, os orbes transmutados, a voz tão rouca? Chegara perto da morte na visão do seu bijuu, assumindo, pela primeira vez, a postura em campo de um jinchuuriki. Será que a flor de cerejeira tremera, pensando por um instante que perderia o portador da Kyuubi? Era o amor por ele que fazia Sakura soluçar, arqueando o corpo frágil de menina? Estranho... Ela parecia chorar por Sasuke.

Em campo, sua imprevisibilidade o ajudava. Contudo, uma folha foi posta à sua frente, e suas reticências o venceram. Teoria e cálculo: jamais venceria um teste por escrito, fosse na medição do conhecimento humano ou exato. Tantos vigias o cercavam. De repente, o sonho de infância parecia tão distante, impedido pela barreira burocrática do exame. Haveria ajuda, de qualquer lado? O lugar de Sakura era distante. O de Sasuke também.

Do seu lado, ela. Tão retraída e quieta. Solícita como jamais alguém fora para ele, estendendo a própria folha em avidez, em ânsia de cooperação. Um truque, talvez? Mas não havia malícia na retina clareada, nos olhos agora carinhosos, apesar de ainda assustadores. A pele era tão clara que parecia poder arroxear-se a qualquer toque. Manchas escuras se espalhariam por toda ela, combinando com a coloração capilar incomum.

Seria talhada mesmo para ser uma ninja? Tão delicada, construída em porcelana e assoprada por Kami, que a fizera nascer, bibelô envolto em rendas, sedução de criança indefesa. Se necessário, Naruto a protegeria. Os seus olhos insanos já o haviam rendido, fatalmente; o enredado para a tecitura daquela menina que, se não tão bela quanto Sakura, ao menos também trazia nos cabelos uma analogia floral.

Algum tempo depois, nas provas do Chuunin Shiken, ele conheceu o toque. Foi um instante fugaz, sob o pretexto de um mísero potinho preenchido com curativo. Mãos tão pequeninas como toda ela. A quentura da palma contrastava com o suor frio que dela escorrera. Sorte dele que os olhos apáticos estavam sempre baixos, ou ele se renderia inteiro, tão curioso que estava em desvendar os pedaços dispersos de boneca porcelanada, indefesa e ingênua. Paradoxal. Instigante.

E ele descobrira que aqueles olhos marcavam um sobrenome e um legado. Mais impactantes ainda ficavam, sempre que ela chamava o seu poder mais secreto. As veias saltavam por sua face em êxtase; a íris como que petrificada. Ver a circulação de chakra do inimigo, travá-la, tudo era banal diante da magnitude da sua técnica ocular. Podiam enxergar por dentro, assim dissera Kakashi-sensei.

Só que aqueles orbes já o dominavam. Mal sabia por quê, mas seus olhos o esquadrinhavam, repletos de ciência, desde muito tempo. Tão tímida e tão capaz. Ainda a julgara pouco eficiente para ocupar um lugar como kunoichi! Toda a platéia se impressionava com a dita capacidade ocular de um Hyuuga. Mas Naruto só conseguia vê-la. De tudo, o que valiam eram os olhos de Hinata. Sem prenomes.

Da brancura infinda daquela pele, do tom de voz moderado, derivaram poças vermelhas, gemidos de dor. Hinata caía, aparentemente vencida pelo primo que a odiava. Mas ela se renderia assim tão fácil? Foi então que Naruto ouviu sua voz entoando gritos de incentivo; compulsiva. Desejava a vitória da menina violeta, tanto quanto quisera a sua própria. Era doloroso ver o sangue cuspido, o corpo atravessado pela mão ágil do algoz. Das suas palavras, brotavam o estímulo necessário, tremendo os joelhos hesitantes de sua boneca, braços mal arqueados, a constituição física abatida, a moral abalada e remodelada por suas palavras insistentes. Surpreso, constatou que a persistência dela era a felicidade dele.

Sangue espalhado no solo, escorrendo pelas frestas. Ele a viu ser levada, impassível, por enfermeiros, sobre uma maca tão fúnebre. Deixou que a carregassem, incapaz de suportar ou entender o bolo que lhe subia estômago acima, bílis esverdeada e sufocante. Era também um calor insuportável, um ódio genuíno e uma resolução convicta. Sem que ela o cobrasse, ele oferecia vingança.

Certamente a teria. Não voltava atrás em circunstância alguma. Aquele era o seu jeito ninja. O jeito de ambos.

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CONTINUA...

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Olá...

A ideia dessa fic surgiu a partir dos spoilers do capítulo 437, que davam a Hinata como morta. Fiquei revoltada, indignada, tristíssima - sou NaruHinática, admito. Eu estava redigindo o capítulo dois de Sina (para quem acompanha, prometo atualização em breve), mas ao abrir o orkut e ler as novidades, minha cabeça explodiu. Tentei escrever minha fic NejiTen, mas não estava fluindo. Do nada, me veio essa ideia aqui – saí redigindo, terminei o que considero um primeiro capítulo bastante razoável, embora pequeno, e vou postar sem nem mesmo revisar. Venha o que vier.

Acho que essa fic vai acabar sendo uma espécie de releitura dos acontecimentos da trama. Os capítulos são menores e eu espero, por isso, poder atualizar com maior frequência. Ainda não sei ao certo o que minha mente vai inventar daqui por diante na fic; aceito sugestões.

Quem leu, por favor deixe uma review. Se estiver maravilhoso, se estiver horrível. Preciso saber, ainda mais com essa história, que me surgiu tão do nada. E acreditem: reviews aceleram o trabalho.

Beijos, Nina

p.s.: chorei com o 437. A declaração da Hinata é a coisa mais linda que já apareceu no mangá. Espero que Pain não a tenha matado – ou eu irei ao Japão liquidar o Kishimoto.