Oi! Bom, eu sei que demorei uma vida inteira pra postar, mas, por favor, me perdoem... Eu estava tendo sérios problemas em desempacar esse capítulo, tive que mudá-lo várias e várias vezes.

Recebi um review da Mandy que me fez cair a ficha pra uma coisa: eu não expliquei direito sobre o trecho em itálico. Na verdade, o que está em itálico não é um flashback do Edward. A conversa entre o Ed e a Bella é só um mote para contar a história da Catherine, e nem tudo o que aconteceu o Edward vai, necessariamente, contar à Bella.

Ah! Também esqueci de falar que os trechos Ed/Bella se passam entre "Crepúsculo" e "Lua Nova", portanto, antes do Edward ir embora. bjos e boa leitura!!!


"Além da Eternidade"

Para Pamella Baldesini

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Capítulo Segundo

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Eu não pude evitar ficar decepcionada com o que ele acabara de dizer.

- Então você podia ouvir a mente dela?

Ele havia colocado seu braço direito sobre os meus ombros, e agora se inclinava para olhar nos meus olhos, com suas sobrancelhas arqueadas.

- E porque você achou que eu não poderia? – Ele analisou minha expressão, e o que quer que viu, fez o divertimento na sua voz sumir por completo – Bella, eu não quero que você imagine que... – ele suspirou, não conseguindo finalizar aquele raciocínio – Catherine não era você e, pensando bem,vocês duas não têm tantas coisas em comum assim... Fora o fato de serem humanas sem muito senso de perigo. –Então ele riu, um riso sincero, mas carregado de dor. – Bem, ela também encarava o mundo de uma forma distinta da das demais pessoas, mas creio que também seja bastante diferente da forma como você encara.

Eu fiquei imaginando que forma tão peculiar seria essa que Catherine tinha de ver o mundo, e se ela também seria uma "anormal" como eu. A voz aveludada de Edward me fez voltar à realidade.

- Onde foi que eu parei? Oh, sim! Quando Rosalie deixou a cidade e nós conhecemos Cat...

- Porque foi que... – eu abaixei ainda mais o tom da minha voz - ...Rosalie deixou a cidade?

Ele riu.

- Não se preocupe, ela não está ouvindo... Eu saberia, se estivesse. Rose estava passando por uma fase ruim, não conseguia controlar seus impulsos – ele me lançou um olhar significativo, e eu soube de que "impulsos" ele falava – Então Carlisle achou melhor mandá-la para uns tempos com os Denali, no Alaska. Ela foi a Nova York primeiro, apenas para justificar sua saída... – Ele fez uma careta e completou – quanto menor a cidade, mais rápido as notícias correm...

Deveria ser realmente difícil para eles manter a privacidade necessária em uma cidade tão pequena, aonde todos se conheciam e sabiam tudo uns dos outros. Eu mostrei ter compreendido o que ele dizia, e Edward voltou a se concentrar na história.

- Quanto à Catherine... – Ele voltou a fixar seus olhos dourados em um ponto qualquer do chão do quarto – Assim como você é um imã para perigos, creio que Cat era um imã para desgraças... E o destino deu muitos empurrões para que ela se jogasse de cabeça na maior de todas...

...

Uma semana depois de ter chegado ao seu novo e nada promissor lar, Catherine já sabia tudo o que havia para saber sobre o lugar. Conhecia todos os caminhos que poderia fazer da escola até o hospital e do hospital até em casa. E, obviamente, para os dias de folga da sua mãe, conhecia todos os caminhos de casa até a escola.

A rotina era essa: ia com a mãe de carro até o trabalho dela, e de lá ia para a escola. Depois da aula, rumava novamente para o hospital, onde ficava até o fim do turno da mãe, às 18, e então iam juntas pra casa.

E tudo seria terrivelmente maçante, não fosse pelo garoto moreno – que agora já tinha um nome conhecido para assombrar seus sonhos – Emmett, a razão pela qual se levantava da cama todas as manhãs para ir a aula. "Mr Cullen" , como a secretária da diretora o chamara, foi, coincidentemente, o aluno indicado por acaso para mostrar-lhe as dependências da escola.

Cat admitia que ele era estranho, até mesmo um pouco grosseiro, brusco. Nunca dizia mais do que três palavras numa mesma frase e, sempre que possível, dava respostas monossilábicas. Mas ele possuía algo que Catherine não conseguia nomear, e a que não era capaz de resistir. Era alguma espécie de magnetismo, ela imaginava, algo que a fazia olhá-lo sempre que tinha chance, que a fazia ter vontade de ser agradável com ele, por mais anti-social que ele fosse.

Suas suspeitas iniciais eram verdadeiras, ninguém naquele lugar queria fazer amizade com a latina mestiça que tinha sotaque do sul. Então, ironicamente, Emmett era a única pessoa que lhe dirigia a palavra. Se é que se podia dizer que ele lhe dirigia a palavra.

Durante a primeira semana da menina na escola, Emmett foi praticamente obrigado a ajudar Catherine, já que os outros cinco alunos chamados para a tarefa se recusaram e, com as muitas faltas em sua ficha, não seria adequado discordar das decisões da diretoria. Não quando se tenta manter a maior discrição possível. Na segunda-feira seguinte, ele dava graças aos céus por estar livre dela. A pobre garota tentou, de todas as formas, iniciar algum tipo de "amizade" com ele. Emmett não gostava de ser grosseiro, mas era mais seguro, para a própria garota, se ela pensasse que ele era um estúpido. Seria mais seguro que ela mantivesse distância.

Nessa mesma segunda-feira, enquanto Edward e Emmett fingiam humanidade, permanecendo sentados sob uma árvore durante o intervalo, Catherine, de certo modo, os encarava à distância, sozinha. Sozinha, aliás, era o seu estado mais comum, desde o dia em que chegara naquele maldito lugar. Sua mente estava completamente vazia, e seu rosto destituído de emoções.

Era uma dádiva dos céus poder ficar daquela maneira. Desde a morte da irmã gêmea, quando ambas tinham cinco anos, Cat conseguia ficar no piloto automático. Ela praticamente hibernava, por longos períodos de tempo, imóvel, olhando para o nada, e se condicionava a apenas voltar à realidade quando chamavam seu nome, ou quando se sentisse "vazia" o suficiente para evitar lembranças infelizes.

Claro que nem sempre era assim que funcionava. Dessa vez, por exemplo, foi o golpe da bola de Football¹ batendo com força em sua nuca que a "acordou". Os garotos que brincavam de lançar a bola um para o outro riam, alguns metros atrás dela. A bolada abriu o fecho da correntinha que ela usava no pescoço, lançando-a na grama.

Um dos garotos se aproximou para apanhar a arma do crime, mal segurando o riso diante da figura de Catherine ajoelhada no chão, enquanto juntava seu objeto.

- Oh... Me desculpe, Maria – Todos os outros alunos riram, exceto os Cullen.

- É Catherine – ela rosnou por entre os dentes cerrados.

Um quase-sorriso apareceu no rosto de Edward e, ao olhá-lo, Emmett percebeu que ele devia estar gargalhando por dentro, observando a garota no chão.

- Qual a graça? – Emm tinha o mesmo tom brusco e desinteressado desde a partida de Rosalie, coincidentemente, também desde a chegada de Catherine.

- Eu só gostaria que a Williams tivesse coragem pra dizer ao David Anderson todas as maldições que ela está pensando agora... Seria engraçado se alguém, finalmente, colocasse o pirralho no seu devido lugar.

"Isso não é problema nosso, Ed", ele pensou, tentando cortar o assunto, trazendo-o para o plano mental. Ao passar os olhos por Catherine, no entanto, durante uma fração de segundo, a curiosidade o tomou de assombro. Ela permanecia ajoelhada na grama, acariciando algo na palma da mão, com uma devoção incomum.

- O que é aquilo?

Edward ergueu o queixo, e fingiu observar o movimento das nuvens acinzentadas, que se agitavam fortemente no céu.

- É um colar. Uma correntinha de prata com um pingente de cristal... Vai achar isso irônico, mas o pingente tem o formato de um urso de pelúcia – Edward estreitou os olhos, a mente dela era confusa, nublada – Era da irmã dela...

Ao cabo dos dois segundos de diálogo, eles viram ela se levantar e dar as costas, caminhando em direção à biblioteca e fingindo não escutar os cochichos e risos, quando passou.

- Não há. Não mais – Edward respondeu à pergunta que Emmett não chegou a verbalizar – Mas houve, uma gêmea, que morreu. Acho que ela bloqueou as lembranças tristes, eu só vi duas meninas brincando... Samantha.

...

Levou algum tempo pra que Catherine desistisse de falar com os Cullen. De um modo estranho, eles tinham qualquer coisa em comum, já que pareciam, os três, repelentes naturais de pessoas. Claro, Cat tinha total noção de que estava em situação bem pior que eles. Os garotos Cullen tinham um ao outro, enquanto que ela não tinha ninguém, além do que, eles não pareciam querer companhia, pelo contrário, afastavam qualquer um que tentasse aproximação. Exatamente como faziam com ela.

Então era tudo tão terrivelmente monótono, que ela tinha vontade de gritar. Todos os dias, quando chegava em casa, Cat se esforçava em não demonstrar tristeza, ou mesmo frustração. Era como um autômato, apenas respirando, fazendo o que tinha que fazer, deixando as situações guiarem a forma como reagia, ditarem as coisas que falava.

Naquela sexta-feira, dia de folga da sua mãe, ela trilhou sozinha, como sempre, o caminho de volta para casa. Passava por tudo sem ver nada, praticamente não pensando em nada. E, de repente, lembrou de Samantha. Como seria a vida das duas, se aquele incêndio não houvesse levado sua irmã? Pelo menos teria com quem falar... Sammy provavelmente entenderia as coisas que se passavam com Catherine, a ouviria, lhe daria conselhos. E seria uma amiga. Pelo menos, uma amiga.

Ela entrou em casa tentando fingir-se animada. Sabia o quanto sua mãe estava feliz com a nova vida, a nova cidade, o novo emprego, e não pensava ter direito de importuná-la com seus problemas. Não depois de tudo o que passaram. Ela subiu ao seu quarto e trocou de roupa, descendo em seguida.

Dolores estava na cozinha, terminando o jantar das duas. Catherine entrou com o mais forçado de todos os sorrisos, e beijou a mãe no rosto.

- Como foi seu dia?

- Normal... Aulas, aulas, aulas. É bom estar em casa, finalmente.

- Não gosta de ficar com seus amigos, depois da escola?

"Que amigos?" Catherine pensou. Estava mentindo para a mãe desde seu primeiro dia na escola, mas naquela época ela não imaginava que teria de mentir por tanto tempo. Havia um mês que começara suas aulas e, fora os eventuais insultos e piadinhas, ninguém sequer falava com ela.

- Gosto, mas prefiro estar em casa. Me sinto mais confortável sem todo esse vento bagunçando meu cabelo e levantando minhas saias – ela tentou fazer com que parecesse uma piada, embora fosse puro sarcasmo.

Lolla pôs dois pratos sobre a mesa, e indicou para que Catherine se servisse.

- Por acaso os garotos Cullen não estavam na escola hoje, estavam?

- Não prestei atenção, mãe – Catherine mentiu – Por quê?

- O dr Carlisle disse que iria levá-los pra acampar, nesse final de semana – Elas se sentaram para comer, e Lolla deu o sinal para que Catherine fizesse a oração – São uma família encantadora, não acha? – ela perguntou, quando começaram a comer.

- Os Cullen? – Catherine se fez de desentendida – São uma família como qualquer outra...

- Bem, eu acho formidável a maneira como o doutor e a sra Esme acolhem essas crianças sem lar... E eles têm uma menina, também, sabia? Chama-se Rosalie, eu ouvi dizer. Ela deve ter a sua idade, e está em Nova York, na casa de uma irmã do doutor. – O olhar de Dolores se tornou distante, de repente – No hospital, todos comentam o quanto o doutor Cullen é devotado a esses garotos... Todos os três são órfãos, e dizem que a esposa dele, Esme, não pode ter filhos.

Um arrepio estranho percorreu a espinha de Catherine ante a palavra "órfãos", com um dejavú. Ela não respondeu, limitando-se a acenar com a cabeça.

...

- Não, Edward, você não vai!

A voz de Emmett era baixa, agressiva. Edward balançava diante dele uma pequena pedra de cristal, como se fosse um pêndulo.

- Eu preciso devolver pra ela, Emmett. – Edward escondeu o colar dentro da mão em punho – Além do mais, trocar duas palavras com a pobre da garota não vai matar ninguém...

- Você mesmo disse que ela estava procurando algum pretexto pra falar conosco! – Emmett bufava, e seus olhos dourados haviam adquirido uma tonalidade profundamente negra. Haveria uma veia pulsando em sua testa, se isso fosse possível – Jogue esse troço fora, Edward. Vai nos evitar problemas... Ela não deve nem ter percebido que perdeu essa coisa!

- Você lembra do que foi que eu disse, há uns quatro meses atrás, sobre o colar? – Emmett apenas revirou os olhos, como se não se importasse nem um pouco – Era da irmã, dela, Emmett... A irmã dela que morreu. Eu duvido muito que ela não tenha dado falta.

Emmett respirou profundamente, como se realmente precisasse de ar pra viver, ou, no mínimo, pra acalmar os nervos. Ele estendeu a mão direita, a palma virada para cima, impacientemente para Edward.

- Me dê.

- O quê?! – as sobrancelhas do outro se arquearam.

- Me dê isso logo! Eu vou devolver pra ela – Edward parecia espantado com o que lia na mente de Emmett, ele recuou, trazendo o pingente de volta pra perto de seu corpo, sem entregá-lo – O que esperava, que eu fosse falar com ela? E o que eu ia dizer? Que encontrei a droga do pingente, e que sabia ser dela porque sou muito observador?

- Seria educado... Além do que, eu mesmo posso entrar no quarto dela enquanto ela dorme, e deixar o pingente em algum lugar, pra que ela pense que o perdeu ali. Sou menos desajeitado que você.

Emmett pareceu perder de vez a paciência. Avançou sobre Edward, que o deixou pegar o pingente de sua mão.

- Boa educação não é a minha maior qualidade – Ele guardou a corrente no bolso da jaqueta – E você acabaria vendo os sonhos dela, ficando com pena... Já até te vejo trazendo sua nova amiguinha pro jantar! Essa sua piedade com ela ainda vai colocar todos nós em problemas.

Emmett saiu ainda bastante irritado, deixando Edward, decepcionado, para trás, e indo em direção ao lado oeste de Bloomfield, mais precisamente à casa de Catherine.

...

- Foi assim que você aprendeu a pular a minha janela, é?

Edward me deu um meio sorriso que pareceu ter derretido os ossos das minhas pernas. Eu me perguntei se ele tinha total consciência do charme que possuía.

- Não sei do que está falando... – Ele respondeu, com cinismo óbvio.

...

Ele estava paralisado. Teria sido realmente uma boa idéia não deixar que Edward fizesse aquilo? Entrar pela janela foi pateticamente fácil, não estava nem ao menos trancada. Deixar o objeto em um lugar qualquer também foi bastante simples; da forma como ele o havia colocado, no chão, embaixo da escrivaninha, não havia possibilidade de alguém suspeitar que não estivera ali todo o tempo.

O problema era em cima da escrivaninha. Todas aquelas fotos... Duas crianças, duas meninas, brincando na areia da beira da praia, sentadas no colo dos pais, abrindo presentes de natal. A foto de um soldado de olhos claros, vestindo a farda dos aliados, em uma pose tipicamente séria, cheio de medalhas no peito. Em um segundo, ela deixou de ser a "srta Williams", a garota nova e estranha, insignificante, e passou a ser simplesmente Catherine; uma pessoa – praticamente uma criança – com sentimentos, dores, uma história de vida.

Oh, e claro... Tinha também aquele maldito caderno velho, com encadernação de couro. O inferno de um diário. Pior ainda, um maldito diário que estava aberto, em uma página escrita com tinta preta, em uma caligrafia incomum, mas bonita. Mesmo não querendo ler, Emmett acabou passando os olhos por cima do papel, e captou as palavras "Samantha", "Cullen" e "Emmett". Ele decidiu que deveria ler – afinal, era apenas uma medida de precaução; pela segurança de sua família e da própria garota, ele tinha que saber o que ela havia escrito sobre eles. E poderia ser engraçado, também, como saber o que Edward ouvia nas mentes dos humanos, de como eles os temiam, de suas teorias para explicar a estranheza da família.

"Samantha,
O que há com aquele garoto, hein? Ou será que todas as pessoas dessa cidade idiota simplesmente decidiram que eu era invisível? Eu sei que isso é meio estúpido, sei que não existe a mínima possibilidade de você ler isso, Sammy, menos ainda de responder, mas simplesmente não tenho ninguém com quem falar, por aqui, e contar à nossa mãe seria crueldade; ela está tão feliz!
Eu imaginei que talvez os Cullen pudessem ser algum tipo de companhia, mas até mesmo eles me evitam, como se eu tivesse uma doença contagiosa. E pra piorar, a senhora Lolla Williams agora acha que eles são a família modelo, e fica falando a respeito deles sempre que tem oportunidade, como se quisesse me vender um estilo de vida... Isso tem sido muito freqüente, é esquisito.
E o estranho, o mais estranho de tudo, é a maneira como parece que nós
deveríamosnos falar, como se alguém tivesse dito que seríamos amigos – e me fez acreditar nessa mentira. É como se eu fosse um prego burro, diante de um ímã; sei que vou bater a minha cabeça com força, mas não consigo evitar ser atraída pra perto dele...
Emmett – o filho mais velho do doutor Cullen, e o aluno que foi meu guia, na primeira semana de aula, há alguns meses –, já falei dele, não? Existe alguma coisa nesse garoto que eu não consigo explicar... Ele é bonito – muito bonito, na verdade – mas não é exatamente isso. É como se houvesse algo mais, como se nós já nos conhecêssemos desde sempre... Eu não sei exatamente o que é, mas decidi que vou ignorá-lo a partir de agora,
tenho que ignorar. Talvez, se eu me mantiver distante o suficiente, eu esqueça essas besteiras, e pare de perder o sono, tentando descobrir o que está acontecendo.
Amo você"

Ele simplesmente não sabia o que fazer, parado ali, olhando para aquele estúpido caderno, enquanto a garota que o escrevera ressonava tranqüilamente, a menos de dois metros de distância dele. Tinha sido um erro ir ali pessoalmente. Edward poderia até mesmo olhar os sonhos dela, mas seria educado o bastante para não ler nenhum papel que encontrasse. Além do que, brigara com Edward por causa da maldita piedade, e agora era justamente o que sentia por Catherine.

Emm estranhou o fato de ela começar o relato como se fosse apenas uma carta para a irmã morta, ao invés de iniciar com algo do tipo "Querido diário", ou a data do dia. Ele folheou o diário, percebendo que todas as páginas anteriores tinham o mesmo formato; cartas endereçadas a Samantha, ou Sammy, ou Sam, e que sempre terminavam com "Amo Você" ou "Sinto sua falta". Os escritos mais antigos eram vagos, superficiais, e, pelas datas registradas, bastante esporádicos, mas, depois do dia de sua chegada a Bloomfield, eles se tornaram mais densos, descritivos, e, sem sombra de dúvidas, bem mais freqüentes.

E saber que ela percebera, mesmo sem se dar conta, a atração que ele exercia nela – o predador encantando a presa – o perturbava. Aliás, saber que ele ocupava parte dos pensamentos de Catherine, era algo bastante perturbador.

- Quando Emmett voltou pra casa, naquela noite, eu pude ouvir a sua mente de longe... Ele estava muito confuso – Edward riu de repente, como quem desvenda o segredo mais bobo de outra pessoa – Era tão estranho vê-lo impressionado daquela forma por alguém que não fosse a Rose! Eu podia ver cada traço da caligrafia de Catherine, de tanto que ele pensava no maldito diário...

- Ele não... ahn... Tinha desejo pelo sangue dela? Ela era tão atrativa quanto...?

- Quanto você é pra mim? – Ele riu, e me fez sentir muito estúpida – Não... É meio estranho, mas Catherine não era... Como dizer? Comestível, eu acho. Carlisle achou, na época, que a miscigenação era responsável por isso. Dizem que misturar etnias, raças, cria indivíduos mais fortes, e ele achava que pessoas como Catherine têm melhores defesas contra... bem, contra predadores.

- Quer dizer que ela cheirava mal?

Edward gargalhou, sem sequer tomar cuidado para não ser ouvido... Mas, afinal de contas, acho que o fato de ele rir não poderia ser encarado como suspeito.

- Claro que não! É só que... – Ele pensou por um pequeno instante, e então sorriu – falar de alguma forma que você entenda... – Ok, ele me fez sentir MUITO idiota, com esse comentário – Lavanda. Cheira bem, certo? – Eu assenti – Mas você não tem vontade de beber o desinfetante, não é? O cheiro de Catherine era agradável, mas não despertava tanto os nossos instintos... Claro, a menos que estivéssemos com muita sede...

Eu fiquei imaginando onde estaria Catherine Williams nesse exato momento. Teria ela presenciado algum momento de sede extrema de um vampiro? Então lembrei de um comentário recente de Edward...

- Você disse que o destino deu muitos empurrões para que ela se jogasse na maior desgraça de todas... Estava falando sobre se envolver com... vampiros?

Ele desviou os olhos de mim, e ficou sério. Era assustador, como se estivesse desenterrando antigos demônios. Lembrando de coisas que não queria lembrar. Fiquei com medo do que aquelas lembranças poderiam nos trazer.

- A vida de Cat foi completamente guiada pela desgraça... – Ele começou, com um tom quase inaudível – A morte da irmã a tornou reservada, melancólica; a do pai fez com que tivesse que se mudar para Bloomfield e a... – Ele virou-se para mim, e segurou a minha mão – Bem, se passaram uns dois meses, e nós não nos preocupávamos mais com Catherine. Até mesmo Emmett já havia deixado de pensar no assunto, e ela parecia não se interessar mais por nós... – ele mexeu nos cabelos e estreitou os olhos, como se visualizasse uma cena em meio a um nevoeiro – Nevou muito naquele ano, e era véspera de Natal...

Catherine insistiu para que elas ficassem em casa, disse que havia nevado muito lá fora, que estava frio e úmido, que a estrada deveria estar escorregadia e que levariam cerca de uma hora e meia pra fazer o trajeto de três quilômetros. Na verdade, não tinha a mínima intenção de sair de casa, se espremer entre desconhecidos e socializar. Mas sua mãe estava totalmente empolgada com a festa de Natal do hospital de Ontario County.

Então elas estavam a caminho da cidade, com a neve caindo, vez por outra, em flocos pálidos e delicados, sobre o pára-brisa do carro. Já fazia cerca de quinze minutos que haviam deixado o portão de casa, não andando mais do que uns poucos metros. A semana havia sido tediosa ao extremo, com as aulas suspensas, por conta do recesso de Natal, e dias maçantes nos quais não havia nada para fazer, nem ninguém com quem falar. O diário de Catherine ganhara muitas páginas escritas.

A garota já estava disfarçando sua insatisfação durante sete longos meses, mas ficar presa dentro de um carro lento, de mau-humor e na companhia de alguém muito empolgado seria demais mesmo para o maior dos otimistas. Catherine começou a deixar transparecer sua irritação, seu tédio. Bufava, de momento a momento, quando os pneus pareciam rodar e não sair do lugar.

- Qual é o problema, Cat?

Ela olhou para a mãe de soslaio, e riu, irônica.

- O problema? Depende, mãe, por qual deles quer que eu comece?! Talvez seja essa maldita cidade, onde está sempre frio, nevando, ou chovendo. Talvez seja o fato de que eu não fale com ninguém, aqui, exceto você e os meus professores... – Parou para suspirar e depois acrescentou, pausadamente – Eu odeio esse lugar.

- Mas, querida, você parecia estar gostando tanto...

- Não, você achou que eu estava gostando porque queria que eu gostasse. – Catherine olhou para Lolla, que parecia surpresa, e apontou o indicador para ela – E tem sido assim desde que o meu pai morreu! Aliás, tem sido assim desde que a Sam morreu... Eu venho fazendo absolutamente tudo o que você espera que eu faça, dizendo aquilo que você espera que eu diga! Se me conhecesse um pouquinho só; se não estivesse o tempo todo pensando no seu maldito trabalho, e prestasse um pouco de atenção em mim, teria percebido que eu não estou nada feliz aqui!

- Catherine, isso não é verdade. Você está sendo injusta – Elas alcançaram a auto-estrada, Dolores acelerava cada vez mais o carro, à medida que a discussão ficava mais intensa – Eu sempre fiz tudo pensando em você, Catherine! O que queria, ahn? Ficar na Califórnia e morrer de fome? Eu tinha sido demitida, Cat, e esse aqui foi o único lugar... – ela sacudiu a cabeça, e então recomeçou – Se estava tendo problemas, era só ter me falado, e eu daria algum jeito de ajudar você!

- A única coisa que poderia realmente me ajudar seria voltar pra casa, mãe, e duvido muito que você estivesse disposta a isso!

Quando Lolla abriu a boca para rebater, a atenção das duas foi desviada pelas luzes altas de farol, que invadiram o carro pela janela lateral, e o som da buzina que se tornava mais forte, mais próxima. Elas haviam entrado em um cruzamento; Dolores tentou frear, mas os pneus apenas escorregaram na pista congelada, e o carro continuou se movendo, em uma velocidade considerável.

Foram poucos segundos; estranhos, surreais. Lolla retirou a mão direita do volante, e segurou a de Catherine, elas trocaram um olhar assustado. A caminhonete que vinha no sentido cruzado acertou o carro delas em cheio, pelo lado do motorista. Catherine viu as luzes fortes inundarem tudo, o som estranho e metálico da batida, sentiu-se estranha, nauseada. Então veio a dor; a pressão em suas costelas, algo rígido batendo contra seu peito. E ela perdeu a consciência.

...

- Eu me lembro como se tivesse sido ontem... Carlisle havia acabado de voltar de uma caçada com Esme, quando um homem bateu à nossa porta. Disse que havia acontecido um acidente, e que alguém estava muito mal. – Edward me sorriu um sorriso triste e rasgou meu peito de lado a lado – Ele falava de Catherine. A mãe dela morreu na hora, e o motorista do outro carro, também.

Eu desviei os meus olhos dele, e senti as lágrimas mornas escorrerem pelo meu rosto. Como eu havia sido estúpida por achar que me parecia com Catherine. Eu nunca soube o que era ser completamente sozinha nesse mundo, ela sim.

Fim do Capítulo

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Notas:

¹Football – escrevi dessa forma, evitando usar o modo português "futebol" pra que não fosse confundido. Essa bola é aquela oval, daquilo que os americanos chamam de football.


A fanfic MESMO vai começar a partir de agora... Catherine está completamente sozinha, mas a mãe dela fez um último esforço pelo bem-estar da filha, e isso vai mudar completamente a forma como ela encara a vida...

Agradecimentos MAIS DO QUE ESPECIAIS às queridas:

Mandy M. Cullen

Christye-Lupin

Isabella

Soft P Cullen

Julie Hale P Cullen