Depois de dois anos...

Hoje, Lady Mine se despede.

Depois de um longo trajeto... de muitos problemas... finalmente estou postando o último capítulo da fic. E devo dizer... enrolei e enrolei por que me deu uma dor no coração terminá-la.

Nessa história tentei mostrar a transformação de um homem frio em um homem capaz de amar. Espero que tenha consigo fazer isso sem parecer muito surreal. Tipo... ele descobrir que a ama do nada.

E vimos também como Kagome lutou para cicatrizar todas as suas feridas.

Espero que vocês tenham gostado de toda a história e que o final não desaponte vocês.

Agradeço pela paciência e o apoio de vocês. Não fazem ideia do quanto isso significa para mim.

Agradeço por todas as reviews que me enviaram. =D

Bem...

Não irei enrolar mais =)

Boa leitura. Espero que gostem.

T.R.


'·.¸.ღ Lady Mine ღ.¸.·'

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\Capítulo Quarenta e Três\

Era estranho como certos acontecimentos tendiam a lhe fazer prestar atenção em coisas, que antes, passavam despercebidas. Alguns acontecimentos deixavam de ser banais e tornavam-se… interessantes.

Nunca prestara atenção em um nascer do sol. Especialmente após uma noite fria e chuvosa. Nunca se dera conta de como tudo acontecia em sincronia, ou perfeitamente ensaiado. E, estupefato, deu-se conta que, há mais de dez minutos, assistia uma rara rosa branca com manchas azuis-escuros abri-se lentamente.

Uma rara rosa que fora criada por um Youkai para presentear a Tennyo por quem se apaixonara. Algo que, em outros tempos diria ser estupidez.

Sentimentos.

Necessidade.

Paixão.

Amor.

Sorriu com ironia.

Tudo o que ele considerava desnecessário. Coisas que um Youkai nunca sentiria. Nunca deveria sentir. Afinal, tudo aquilo era Humano e tudo o que pudesse iguala-los a tal fraca raça deveria ser mantido longe. Aquilo iria torná-los fracos. Entretanto, mesmo assim, muitos dos fortes Youkais se renderam aos encantos da raça.

Seu pai fora um deles. Rendido por uma princesa Humana que fora traída por seu reino. Uma Humana que ele encontrara quase morta em meio ao fogo e escombros do castelo onde ela nascera e vivera. E mesmo sem gostar de admitir, ele fora outro que caíra por uma Humana.

"Kagome…" O nome da Companheira veio em sua mente com facilidade. E ao mesmo tempo em que lhe trazia conforto, lhe trazia o vazio e a dor que ele ainda não conseguia controlar e compreender.

Sacudiu a cabeça com força.

De nada lhe ajudaria pensar em 'ses'. Não havia como mudar o passado. Não havia como mudar seus atos e escolhas.

'Não há como mudar o que já foi dito ou feito… Depois que escolhas são tomadas e caminhos são trilhados, apenas há uma coisa que pode ser feita… aceitar… aceitar seu destino.' Seu pai lhe dissera certa vez. E era isso o que iria fazer. Era isso o que tentava fazer. Aceitar e tentar corrigir todos os seus erros .

"Mas inferno… isto é mais difícil do que pensava."

Uma gota de água caiu de uma das pétalas da rosa, agora totalmente aberta, e apertou com força o cordão de ouro branco em seu bolso. O primeiro presente que iria dar a Unmei. O primeiro presente que daria a sua filha.

Ergueu os olhos para o céu, sem evitar que um som irônico lhe escapasse os lábios.

Filha. Ele tinha uma filha. Uma menina que completara três meses e possuía quase noventa por cento de sangue Humano. Ele jamais se imaginara naquela situação. Jamais imaginara que teria de aprender como lidar e cuidar de um bebê Humano. Uma frágil criatura que mais parecia uma boneca de porcelana, idêntica àquelas que eram expostas em algumas lojas de brinquedos.

A primeira e última vez que tivera Unmei nos braços fora há quase três meses. Após dois dias de testes, os médicos a liberaram e a entregaram a ele. No primeiro momento quisera se negar, quando Izayoi veio carregando o pequeno embrulho em sua direção. Mas ele não era covarde, não fugiria de um bebê. E com medo de que pudesse acabar por quebrá-la, aceitou-a.

Mas, mesmo sentindo-se aquecido e confortado por ter a menina, nada lhe impediu de pedir para que Izayoi a levasse para Miura. Naquele momento não podia ficar com ela e cumprir seu papal como pai. Não tinha forças nem ao menos para aprender como deveria lidar com tal fragilidade.

Mas, agora, estava na hora de levá-la para casa.

Encostando-se ao batente da janela, aguardou. E foi ali, parado, que Inu no Taisho o encontrou ao entrar em seu escritório.

Depois de quase três meses, ele finalmente revia o primogênito. Desde que deixara o Hospital, Sesshoumaru evitava o máximo possível suas ligações. Não ligava nem ao menos para perguntar como estava Unmei. Inu no Taisho era capaz de entendê-lo, embora não aprovasse totalmente a forma como ele lidava com tudo. Tudo aquilo era novo para seu primogênito e, a melhor reposta que ele conseguiu para aquele momento foi… a fuga. Sesshoumaru tivera de fugir, do que julgara ser seu inimigo, para tentar conhecê-lo antes de enfrentá-lo.

Caminhou pelo escritório, e serviu-se de uma bebida, sem desviar os olhos de Sesshoumaru. Ele não se moveu, aparentava mais interessado em algo no jardim de Izayoi.

Depois de alguns testes, Tomiyo expusera uma teoria para o que acontecera durante toda a gravidez de Kagome até a hora do nascimento. Afinal, certeza era uma coisa que, provavelmente, eles nunca teriam.

Kagome engravidara de gêmeos. Um menino completamente Youkai, e uma menina Hanyou que herdara o dom da mãe.

Unmei tinha poderes de Miko e ainda durante seu desenvolvimento os utilizara para purificar boa parte de seu sangue Youkai. Talvez, fosse por isso ninguém conseguia vê-la. Ela erguera uma espécie de barreira que a manteve invisível. Algo que também protegera o outro feto dos olhos de qualquer pessoa.

Apenas hipótese.

Kotaro, o menino, teria sido idêntico a Sesshoumaru se tivesse conseguido resistir. Mas nada do que a equipe médica fizera fora capaz de ajudá-lo. Estava debilitado. Ele recebera toda a pancada do acidente. Embora fosse um Youkai ainda era pequeno demais para resistir a certos tipos de ferimentos, e ferido e debilitado, não pudera se proteger a carga Miko que, naturalmente, fluía pelo corpo de Kagome e pelo de Unmei.

Outra hipótese.

E como hipóteses eram as únicas coisas que eles tinham, eles não tinham explicações para a razão de quase terem perdido Unmei por três vezes, quando acreditaram que estava tudo bem com ela.

"Se Mikos já eram um desafio para a medicina atual, imaginem a filha de uma Miko com um Youkai."

# Pensava que havia esquecido o caminho para casa. – Comentou, despreocupadamente, parando ao lado dele.

Sesshoumaru parecia cansado, abalado, mas ainda assim sorriu com a observação.

# Izayoi me disse que veio para levar Unmei.

# Sim. Já está na hora de levá-la para casa. Izayoi me pediu para esperar… disse que necessitava vesti-la e alimentá-la antes de me entregá-la. – estreitou os olhos. – Algo sobre, assim evitar que ela desse trabalho durante a viagem. – tornou a segurar o colar em seu bolso. – Como ela está?

# Saudável. Cresceu bastante nesses três meses. Unmei é calma. Como você quando recém-nascido. – Inu no Taisho comentou, sorrindo levemente. – Não dá trabalho algum se estiver arrumada e bem alimentada. A menina tem três meses, mas já mostra ter fortes características de seu gênio terrível. – sua expressão se tornou um pouco severa. – Sei a razão que o fez não querer levá-la para casa, Sesshoumaru. Mas poderia ter vindo visitá-la ao menos uma vez a cada semana. Você a segurou no colo antes de enviá-la para cá. Ela é pequena, mas sabe que o pai está ausente. Sente sua falta.

# Eu não podia levá-la antes. – virou-se para o jardim, apertando o pequeno pingente no cordão dentro de seu bolso. – Tinha de me acostumar a… - respirou fundo. Ainda lhe era complicado pronunciar certas palavras.

Quando ele passara a ser tão fraco com relação àquilo?

# Entendo. Como você está?

# Consegui fechar mais alguns contratos e o projeto de reerguer a DC está indo melhor que…

# Perguntei como você está, Sesshoumaru. Não quero saber da empresa. Sei de tudo o que preciso saber a respeito dela.

Sesshoumaru encarou o pai por algum tempo, antes de voltar a observar a rosa solitária no jardim de Izayoi.

Se nem ao menos ele sabia como estava, como poderia dar uma resposta para o pai?

Vez ou outra se sentia perdido em um labirinto. Outras vezes, desejava matar. Outras, sentia impulsos de simplesmente trancar-se e ignorar a presença de todos. Isto, sem contar às vezes em que sentia a forte dor, que ainda lhe era estranha, ao mesmo tempo em que lhe sangrava a marca de seu Compromisso.

Tudo aquilo ainda lhe era novo. Irritante. E… ele sentia medo do que tudo aquilo poderia acarretar.

Ele que nunca sentira medo, agora temia o que acabara de descobrir poder sentir. Devido a isso desejava que fosse possível apagar tudo e voltar a ser o que era antes. Mas apenas pensar nesta possibilidade lhe trazia um incomodo ainda mais terrível do que todo aquele… sentimento.

Ele não podia esquecer.

Ele não queria esquecer.

# Estou bem… não precisa se preocupar. – disse por fim.

# Mas eu me preocupo, pode ver?

Inu no Taisho estudou com cautela. A tristeza incomum dele lhe preocupava. Entretanto, não tinha ideia do que poderia fazer para alterar aquilo. Sesshoumaru era orgulhoso demais para aceitar consolo. Não aceitara nenhum há três meses, não o aceitaria agora, quando parecia mais conformado.

# Não quero falar sobre isso, Chichi-ue. – Sesshoumaru anunciou, lhe lançando um rápido olhar. – Sobre nada… a respeito disso. – enfatizou.

# Certo. – tomou um gole de sua bebida, e afastou-se para sentar-se.

Ele compreendia sua dor. Mesmo que ninguém o culpasse, ele se culpava pelo que acontecera a Kagome. Pela Lei do Casamento Youkai, o homem deveria proteger sua Companheira de todo e qualquer mal. Não podia deixar acontecer absolutamente nada a sua mulher. Pela Lei, ele falhara. Mas Sesshoumaru se castigava mais por ter falhado… por amá-la.

E por amar Kagome, ele faria de tudo para corrigir seus erros com ela.

# Encontraram a mansão de Naraku Danna totalmente destruída. – Inu no Taisho comentou, recordando-se da noticia que saíra no telejornal alguns dias antes. – Sabe de algo a respeito disso?

Sesshoumaru sorriu pelo canto dos lábios, produzindo um som de ironia.

# Por que saberia? – questionou, ainda de costas para o pai. – Tive coisas mais importantes com o que me preocupar do que naquele miserável.

# Sim… teve. – Inu no Taisho não parecia convencido. – Encontraram o carro de Kagura destruído na China. Não há sinal de nenhum dos dois. Nem ao menos a menina Kanna onde eles estão.

# Não sou o único inimigo deles, Chichi-ue. Naraku acumulou uma grande quantidade deles com o passar dos anos. – virou-se para encará-lo. – Não sou o único que quer destruí-los.

# Mas é o único que estava desejando ver o sangue jorrar. – Inu no Taisho manteve a firmeza de seu olhar. – Não me tome por um tolo, Sesshoumaru. Conheço-lhe. Não estaria tão despreocupado recebendo a noticia de que alguém se livrou dos dois antes que você pudesse fazê-lo… a não ser que esse alguém fosse você.

Sesshoumaru deu as costas ao pai, e caminhou pelo escritório.

# Não haja motivado pela fúria, isso pode lhe trazer problemas no futuro.

# Não tive envolvimento algum na casa destruída de Naraku e muito menos com o carro destruído de Kagura. – Sesshoumaru disse em tom baixo. – Nem ao menos sabia que a vadia estava na China. Patética… - sacudiu a cabeça em censura. – fugiu para um lugar tão perto.

# Sesshoumaru…

Pelo tom de seu progenitor, ele iria começar um de seus sermões a respeito de suas atitudes impensadas, mesquinhas e irresponsáveis. Especialmente por estarem falando de justiça com as próprias mãos, em um tempo onde isto era considerado errado e contra uma das famílias Youkais mais antigas do mundo.

Mas Sesshoumaru sempre fizera sua própria justiça. Não seria agora que as coisas mudariam.

# Entenda Sesshoumaru…

O que ele deveria entender, ficou vagando no ar. Seu objetivo de transformar aquela conversa em um sermão dissolveu-se quando a porta se abriu e Izayoi entrou no escritório. Sorrindo ela segurava Unmei, deitada sobre uma pequena manta branca e rosa, protetoramente nos braços.

# Desculpe a demora. – desculpou-se movendo os braços para acomodar melhor a menina. – Ela está mais agitada que o natural hoje. Quase não consigo fazê-la comer. Aqui está…

Izayoi inclinou-se um pouco ao parar ao seu lado. Unmei estava acordada. Seus olhos, tão azuis quanto os da mãe, se voltaram para ele com curiosidade e, parecendo reconhecê-lo, ela sorriu e estendeu o braço em sua direção.

# Tão pequena e já é capaz de sentir você. Vamos, pegue-a.

Ela crescera bastante desde a última vez que a vira, mas ainda era muito pequena. Poderia quebrá-la. Resistindo ao impulso de se afastar, Sesshoumaru estendeu o braço.

E assim que a acomodou em seus braços, Unmei sorriu e agarrou um fio de seu cabelo com as mãos pequenas. Mãos que eram menores que seu dedo mínimo e estavam cobertas por luvas brancas. Estudando-a, notou que Izayoi a cobrira totalmente com um quente macaquinho infantil branco.

# Está frio para ela. – Izayoi explicou passando os dedos nos curtos cabelos negros da menina. – Bebês têm que ser bastante protegidos contra o frio. Teria colocado uma touca nela, mas toda vez que tento fazer isso ela se queixa e arranca a touca da cabeça. A última ela jogou no chão. – riu. – Minha primeira neta é geniosa. E é linda, não é? – Izayoi questionou, enquanto Inu no Taisho passava o braço ao redor de sua cintura.

"Sim… é…" Sesshoumaru pensou, a admirando. Unmei era uma cópia de Kagome. Uma cópia mais delicada e com pele um tanto mais clara.

Segurando-a ali, Sesshoumaru sentiu um pouco de sua ansiedade ir embora. Segurando-a, percebeu que toda sua insegurança e temor eram coisas tolas. Ela era dele. Protegeria-a e a criaria como deveria ser feito.

Tomando cuidado para não machucá-la, Sesshoumaru a equilibrou em um de seus braços e retirou do bolso o cordão que mandara fazer para ela. O pingente delicado e na forma de meia lua – idêntica a que ele tinha na testa. – reluziu e balançou chamando a atenção da menina.

# Que lindo, Sesshoumaru. – Izayoi disse. – Quer que eu coloque ou que eu a segure para você o fazer? – em silêncio entregou a joia para Izayoi. – Viu que coisa linda seu pai lhe trouxe? – questionou, e cuidadosamente se pôs a prender o colar ao redor do pescoço da menina. – Sua primeira joia. – sorriu escondendo a joia embaixo da roupa dela, para evitar que a menina, curiosa, pegasse a joia. – Terá de manter as mãos dela longe do cordão por um tempo. Ah… - Izayoi lembrou-se de algo e pegou uma das mãos de Unmei. – Ela não é só Kagome… tem algo de você.

Ignorando os protestos sonoros da menina, que não queria soltar o fio de cabelo do pai, Izayoi segurou seu braço direito e lhe tirou a luva da mão. Ali, Sesshoumaru pode ver as mesmas duas linhas que ele tinha em seu punho e mão. Não eram tão vermelhas quanto as dele, mas estavam ali. E, estranhamente, aquilo lhe trouxera grande orgulho.

# Começaram a aparecer há um mês. – Inu no Taisho disse, enquanto Izayoi voltava a complicada tarefa de recolocar a luva na neta, que demonstrava estar com raiva dela. – Ou talvez já estivesse ai e aos poucos está começando a escurecer.

Unmei fez um som, que parecia significar alegria e satisfação, quando finalmente teve as mãos livres. Sacudiu os braços, e tornou a agarrar uma mecha do cabelo dele enquanto fechava os olhos.

"Tão pequena…" Como se cuidava de uma criatura tão pequena?

E se ele falhasse?

"Não!" Ele não iria falhar.

Sentiu uma mão tocar seu ombro, e voltou-se para o pai que fez um gesto positivo com a cabeça. Um movimento silencioso, a indicar que ele acreditava nele. Um gesto que o confortou ainda mais.

"Sim… eu vou cuidar de meus bens…"

# Oh… Adormeceu. - Izayoi tocou a testa da neta. – Ela realmente só estava esperando você, para dormir. – sorriu para ele. – Deverá dormir a viagem inteira.

# Agradeço por ter cuidado dela, Izayoi. – Sesshoumaru desviou o olhar da filha.

# Não necessita de formalidades comigo, Sesshoumaru. – ela disse, e segurou a mão do Companheiro. – E depois, foi um prazer. Avós adoram mimar os netos, vez ou outra. Bem… acredito que esteja com pressa para voltar para casa, e já devem ter preparado seu carro para a viagem.

# Sim. Deve ir. – Inu no Taisho disse, o acompanhando até a porta do escritório. – Assim o risco de Unmei acordar antes que chegue em Tóquio será menor. – riu, e enquanto Izayoi se adiantava para o lado de fora da mansão, ele parou diante de Sesshoumaru na porta do escritório. – Se precisar de qualquer coisa… qualquer coisa… - repetiu com força. – fale comigo, Sesshoumaru. – estendeu a mão e o tocou para impedi-lo de passar, quando não obteve resposta. – Falo sério, Sesshoumaru.

# Eu sei, chichi-ue. – sustentou o olhar dele. – Lhe deixarei saber se necessitar de algo.

Satisfeito por ouvir aquilo, Inu no Taisho o deixou partir com Unmei, e sentiu-se estranhamente cansado. Aqueles últimos meses haviam sido difíceis. Acompanhar as reações de Sesshoumaru ao que acontecera, foi complicado… ainda estava sendo complicado.

Uma parte de si aguardava o momento em que ele cederia a dor ou ira, e acabaria por cometer um ato impensado. Ele ainda não estava totalmente reestruturado. Os olhos dele denunciavam a dor que ele negava existir. Por isso, durante toda aquela semana, ficara se perguntando se seria uma boa ideia permitir que Sesshoumaru levasse Unmei.

Entretanto, todas as suas dúvidas desapareceram assim que vira a forma como Sesshoumaru segurara e admirara Unmei. Sesshoumaru faria de tudo por ela, pois a amava.

# Fico feliz por ver que mudou tanto… - disse em tom baixo, para si mesmo, observando o primogênito atravessar o jardim em direção ao carro.

Apenas detestara o que fora necessário acontecer para que aquilo fosse possível.

# Acha que foi uma boa ideia? – a voz de Inuyasha o despertou de seus devaneios, no momento em que Sesshoumaru entrou no carro para partir.

# Unmei é filha dele, Inuyasha… - lembrou ao filho caçula, sem desviar os olhos do carro que acabava de atravessar os portões de sua casa, e desejando que o primogênito fizesse uma viagem tranquila. – Não há pessoa melhor para cuidar dela no momento. – inclinou a cabeça para o lado, olhando Inuyasha pelo canto do olho. – A menina já começava a sentir a falta da presença dele.

Inuyasha não disse nada, apenas estreitou os olhos para o local por onde o carro de Sesshoumaru acabara de sair. Por toda a sua vida o vira sendo insensível. Incapaz de se preocupar com qualquer um exceto si mesmo. Era-lhe complicado aceitar que Sesshoumaru mudara e se tornara capaz de cuidar de alguém. Mesmo sendo sua filha.

# Sesshoumaru mudou. – defendeu-o, já sabendo exatamente o que passava pela mente de Inuyasha. – Esses últimos acontecimentos mudaram, não totalmente, mas consideravelmente, a maneira como ele vê e lida com a vida. – suspirou. – Estive esperando essa mudança de seu irmão há muito. Sempre soube que Sesshoumaru não era totalmente mal. – estudou a rosa que Sesshoumaru admirara. – Tudo não passava mais de uma maneira de esconder a mágoa por eu ter me comprometido com Izayoi. Por eu ter dado a uma Humana, a imortalidade que a mãe Youkai dele não teve direito de usufruir.

# Acha que todo esse ódio dele por Humanos foi por isso?

# Tenho quase certeza. – sorriu. – Mas não irei discutir seu irmão com você. Apenas desejava que não houvesse tido a necessidade de acontecer tantos… problemas… para que ele descobrisse que sentimentos lhe dão força e não fraqueza. – virou-se e tocou no ombro dele. – Se pensasse que ele poderia ser prejudicial, eu teria tirado todos os direitos dele, Inuyasha. Mas este não é o caso. Ele cometeu erros e sabe disso, e agora irá lutar para corrigir todos eles, em seu modo. – fez uma careta. – Mesmo que eu não aprove alguns de seus métodos.

# Kagura?

# Sim. – pressionou os olhos. – Ele diz que não sabe de nada… mas tenho certeza de que ele tem Kagura, e até mesmo Naraku, em seu controle. – deu de ombros. – Não se preocupe, Inuyasha. – pediu, enquanto andava para fora do escritório. – Sesshoumaru irá cuidar bem de seus bens.

Sim. Inuyasha esperava que seu pai estivesse certo.

ღ.ღ.ღ

Sesshoumaru não se lembrava de que horas deixara Miura. Mas ao atravessar os enormes portões de sua Mansão, teve certeza de que a viagem demorara muito mais tempo que o natural, pois se sentia terrivelmente cansado.

Pressionando a ponte do nariz com os dedos de uma mão, agradeceu por finalmente ter chegado no lugar que agora chamava de lar.

Quando chegara ali, vira a Mansão de Tóquio como uma de suas inimigas. Um local que almejava por abaixo e destruir, especialmente por todo aquele ambiente harmonioso que existia do lado de fora das paredes da mansão. Amaldiçoara-a juntamente com a existência da menina Humana que o estava obrigando a ir viver ali. Agora ali estava ele. Agradecendo por estar em casa, onde viveria na companhia de outra menina, enquanto se dizia que nada o faria deixar aquele lugar. Seu lar.

Não. Ele jamais deixaria aquele local. Não depois de Kagome ter trabalhado tanto naquele jardim, para ajudar-se a chamar a mansão de lar.

"Flores…"

Kagome gostava de flores.

O baixo ruído na parte de traz do carro, assim que estacionou, o recordou de que Unmei estava acordada.

Quase na metade da viagem a menina despertara, por causa do som excepcionalmente alto da união da buzina de um caminhão e um carro. E, ouvindo pela primeira vez o som do choro da menina, Sesshoumaru teve de parar o carro enquanto, apenas podia almejar a morte dos responsáveis por aquilo.

Acalmá-la fora uma tarefa quase impossível. Depois de alguns minutos tentando fazê-lo sem deixar o banco, se viu obrigado a descer do carro e tirá-la da cadeira especial que prenderam no banco. Tentara alimentá-la com a mamadeira que Izayoi lhe mostrara. Tentara acalmá-la sacudindo-a levemente, como Izayoi também lhe mostrara. Mostrou brinquedos e tudo mais, entretanto ela continuara chorando por muito tempo após isso. Ele não sabia que um bebê podia ser tão persistente em seu choro.

Todo aquele choro, apenas começara a cessar quando ele apoiou-a contra seu peito e deitou a cabeça dela um pouco acima de seu coração. Agarrando sua roupa com suas pequenas mãos, ela foi parando de chorar. E assim que ela se acalmou, voltou a sentá-la e prende-la na cadeira com dois dos bonecos que ele tirara da bolsa para tentar acalmá-la. Bonecos, que ela passara momentos sacudindo, enquanto seus olhos azuis o encaravam com atenção.

Desligou o carro, e virou para olhá-la de frente. Neste momento Unmei tinha as duas mãos livres das luvas e um de seus pés estava quase que totalmente descalçado da meia, que ela puxava dos pés. Algo, ele supunha, ela não deveria estar fazendo, afinal Izayoi dissera que ela ainda era frágil ao frio. E uma ação que ela parou de realizar, para lhe sorrir, assim que notou seu olhar.

# Você não deveria estar tirando isso.

Como se houvesse lhe entendido, ela puxou a meia e terminou de arrancá-la. E soltando um curto grito agudo de alegria, ela ergueu os braços sacudindo a meia, como se fosse um troféu que acabara de ganhar. Rindo, jogou a meia para o lado e agarrou o pé descalço.

Crianças se contentavam com coisas tão simples.

Saltou do carro, e no mesmo instante dois dos empregados da Mansão apareceram para retirar os pertences de Unmei e levá-los ao quarto dela.

# Bem vindo de volta, Senhor Sesshoumaru. O almoço será servido daqui há meia-hora, Senhor Sesshoumaru. – anunciou Jaken, surgindo por entre as árvores, enquanto ele retirava Unmei da cadeira. – Oh… Essa é a pequena Lady. Seja bem vinda, Lady Unmei.

Parando de puxar a outra meia – que se tornara seu novo objetivo. – Unmei observou Jaken com atenção.

# Ajude-os a levar essas coisas para o quarto dela, Jaken. – mandou tirando a meia que faltava. – Há uma bolsa com algumas coisas que devem ser levadas para a cozinha. Não remova nada dela por enquanto. – equilibrou Unmei, que jogava o corpo para frente, melhor em seus braços. – Depois que Unmei almoçar a levarei para cima. Pode ir. – entregou as meias dela a Jaken.

# Sim Senhor. – e fazendo uma mesura, ele se afastou para cumprir as ordens.

# Vai acabar caindo. – disse para a menina, que agarrara os dois pés agora que Jaken deixara de lhe ser uma distração. – Que fixação é essa por pés? – segurou-a por debaixo do braço, a erguendo diante de seus olhos. Um movimento que a fez rir.

E Sesshoumaru gostou de ouvi-la rir.

# Izayoi disse que você come a cada três horas e meia. – falou para a menina, e lançou uma rápida olhada no relógio em seu punho. – Já está na hora.

Mas não seria ele quem a alimentaria. Ainda não fazia ideia de como se alimentava uma criança, e Unmei já o havia deixado exausto com sua crise de choro, para se arriscar a fazê-la chorar novamente por cometer algum erro durante sua alimentação. Era mais apropriado deixar esta tarefa de outra pessoa. Alguém mais capacitado para isso.

Ajeitou-a em seu braço e entrou na mansão. Assim que atravessou a porta, Unmei ficou quieta observando todo o local, como se tentasse descobrir onde estava. Ela fez um som e estendeu o braço quando passaram pela entrada da sala de jantar, provavelmente podendo sentir o cheiro da comida que vinha da cozinha, mas ele continuou em direção a entrada da parte posterior, onde ficava a piscina.

# Boa tarde, Senhor Sesshoumaru. – saudou-o Aishu, vindo em sua direção. – Não houve problemas na viagem, eu espero.

# Não. – olhou para a espreguiçadeira que estava mais além, próximo a borda da piscina. – Tudo bem por aqui?

# Nenhum problema. – Aishu confirmou. Notando o olhar curioso da menina, estendeu a mão e deixou que ela agarrasse seu dedo. – Se me permite dizer, Milord… A menina é a cara da mãe. – sorriu retribuindo o olhar que a pequena lhe lançava. – Minha prima se apresentará a partir de amanhã para ajudar a cuidar de Unmei, Milord.

Sesshoumaru fez um gesto de entendimento, lembrando-se de Aya, a jovem Youkai parente de Aishu, que ele contratara para cuidar de Unmei.

Seu pai lhe recriminara por não querer Kaede. 'A mulher ajudara a criar Kagome, seria ótima para Unmei.' Ele dissera. Mas Sesshoumaru não estava com humor para ter aquela mulher novamente sobre o mesmo teto que ele. Ela estava arrependida, ela garantira certa vez quando tivera a ousadia de lhe ligar, mas ele não estava interessado em seus arrependimentos.

Kaede não pisaria mais naquela casa. Não chegaria perto de sua filha. E muito menos se aproximaria de sua Companheira novamente.

# Como ela está?

# Milady se negou a se alimentar ou a deixar-me levá-la para dentro. – voltou seu olhar para Sesshoumaru. – Também não permitiu que a Senhorita Higurashi a tirasse daqui para banhá-la e trocá-la. Como ela está tranquila esta manhã… acreditei ser melhor deixá-la aqui e esperar por Milord.

# Fez bem. Pode deixar que irei me ocupar disso. Peça para levarem o almoço para meu quarto daqui à uma hora. – fez um movimento leve com o braço e deixou que Aishu segurasse Unmei, a lhe lançar um olhar intrigado, enquanto se deixava ir. – Izayoi preparou o almoço dela. Está numa bolsa que foi para a cozinha. Acredito que há uma instrução do que deve ser feito. Pode fazê-lo?

# Sim, Milord. – ele sorriu. – Com licença. – com a menina nos braços, Aishu entrou na casa.

Sesshoumaru sorriu quando viu Unmei esticar a cabeça por cima do ombro de Aishu para olhá-lo, e assim que ela saiu de seu ângulo de visão, deu as costas para a porta francesa de vidro. Unmei já estava segura em casa, então, agora ele iria se preocupar com outra pessoa.

Lentamente se aproximou da espreguiçadeira que estava ao lado da piscina e que era protegida por um guarda-sol. Ali ele viu Kagome, e como sempre acontecia desde que Unmei nascera, sentiu-se ainda mais tranquilo… feliz.

O desespero que lhe atingira desde que, naquele dia, descobrira que ela estava entre a vida e a morte numa mesa de cirurgia, ainda durou quase uma semana. Ela resistira a cirurgia, ao parto, e subira para cinquenta por cento suas chances de conseguir sobreviver, mas ainda assim, ela não estivera salva.

As horas e dias que seguiram a cirurgia foram ainda mais terríveis. Paradas cardíacas, que, disse Tomiyo, por sorte não acabaram se tornando fatais. Hemorragias, que a mandaram de volta para a sala de cirurgia. E, como se aquilo não pudesse ter fim, sequelas do acidente começaram a aparecer no terceiro dia. Fraturas surgiam como se já estivessem lá, escondidas… mascaradas pelo poder Miko. Problemas que sempre estouravam quando, mesmo em coma, ela chorava. Complicações que desapareceram um dia antes de ela sair do coma.

"Sair do coma… para ficar como estava há mais de dois meses."

Kagome não falava. Não havia lesões na coluna, mas não movia as pernas e os braços. Apenas abria os olhos e, quando não chorava, encarava fixamente o nada.

Tomiyo não pudera lhe dizer quando ela abandonaria seu estado atual. Apenas garantira que aconteceria aos poucos. Garantira que não era definitivo. Mas, depois de tanto tempo, a única mudança foi que ela passara a virar o rosto quando não desejava algo. E isso só não o preocupava mais que as lágrimas dela. Lágrimas que não via há dois dias, mas, ele tinha quase certeza, que ela derramava pelo filho que sabia ter perdido.

Sentou na beira da espreguiçadeira e segurou sua mão direita, para beijá-la e se preparar para conversar. Um ritual do qual ele não queria se desfazer, e que o ajudava a enfrentar tudo aquilo.

Kagome o mudara, sem dar-lhe a chance de perceber ou lutar contra ela. E ele necessitara quase perdê-la por mais de uma vez, para dar-se conta de que já não podia viver sem ela. De que… ela era sua vida, pois a amava. Ela o curara, quando ele nem sabia que estava doente, e por amá-la, ele iria lutar para curá-la. Ele iria ouvir a voz dela novamente. Ira vê-la andar e sorrir. Iria vê-la abraçar a filha ao invés de chorar copiosamente – a ponto de necessitar de calmantes – como fizera quando Kikyou e Izayoi levaram a menina ao hospital para conhecer a mãe.

# Está na hora de subir e se arrumar para almoçarmos. – tocou a perna dela, mas o olhar dela não se desviou. – Kagome… Anjo meu… - tocou o rosto dela. – Não me faça esperar muito. Nunca fui paciente. – sorriu, tornando a beijar a mão dela. – Ah… Antes de irmos… - colocou a mão fechada sobre o colo dela. – Tenho um presente para você.

Abriu a mão e usando seus poderes Youkais, fez surgir aos poucos o presente que estivera pensando em dar para ela, desde sua saída de Miura.

A rosa apareceu sobre sua mão, e tinha a cor da neve. Neve manchada pelo mesmo azul dos olhos de Kagome e pelo mesmo dourado dos seus. Uma rosa que não possuía talo e espinhos, mas se apoiava em pequenas folhas a parecerem chamas ao redor da neve.

# Somos nós. Você o fogo e eu o gelo que se deixou envolver por você. – deixou a flor sobre o colo dela. – Gostou? Deixarei que você a nomeie.

Levantou se preparando para erguê-la nos braços e levá-la para o quarto, mas viu-se obrigado a parar.

Kagome abaixara a cabeça e observava a rosa, com lágrimas nos olhos.

"Inferno!" Pensou, sentindo ódio por tê-la feito chorar. "Quando vou ser capaz de fazer algo certo? Não serei capaz de salvar minha Companheira?"

E antes que pudesse se abaixar para acalentá-la e pedir para que não chorar, ela tornou a mover a cabeça. Mas, desta vez, não foi para voltar a admirar o nada.

Olhando-o, Kagome lhe mostrou que sua recuperação total, talvez, não demorasse tanto. Mostrou, que ele estava agindo certo e que iria conseguir salvá-la. Naquele momento sua Lady fez o que ele desejava vê-la fazendo há meses:

Sorriu.

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