Título: Smooth Criminal¹
Autora: Dana Norram
Gênero: Slash/Angst (mas só um pouco)
Personagem/Casal: Sirius/Remus
Sumário: Mas um pedido de desculpas doze anos atrasado não soa muito melhor do que aparecer no quarto dele, na calada da noite, esperando que Remus me perdoe por não ter lhe desejado feliz aniversário por tanto tempo.
Spoilers: HP3
Avisos: Fic escrita em tempo recorde e sem betagem whatsoever?


Projeto Like a Brother My Ass (5ª Edição)
Especial:
AR (Alternative Reality)
(Cenário: E se, em PoA, o Sirius tivesse aparecido para o Remus antes do dia do Salgueiro lutador?)


Smooth Criminal
por Dana Norram

Eu tenho esse medo. Se bem que considerando o tempo que passei trancado tendo nada além de dementadores por companhia, não é realmente de se espantar. Eu deveria ter vários desses medos. Mas eu só tenho um, na verdade, só um agora. Tenho medo que ele diga que não pode me perdoar. Tenho medo porque eu não posso exatamente culpá-lo por isso. Ele tem todos os motivos do mundo. Doze anos? É muito tempo. Eu até poderia dizer que ele tem parte desta culpa. Mas não, não hoje.

"Vejo que recebeu meu presente."

Remus não consegue largar a varinha ao mesmo tempo em que não tira os olhos de mim. Vestido apenas com seus pijamas, os cabelos ralos bagunçados, salpicados de fios brancos. Ou talvez seja a luz da vela, a única coisa que nos ilumina. Eu só tinha visto Remus de longe até então. Não achei que ele compreenderia. Não queria descobrir.

"É hoje, certo?"

Remus pisca. Ele abre a boca e eu não sei se quero escutar as palavras que ele esteve guardando por todos esses anos. Tento sorrir é apenas quando ele franze as sobrancelhas que percebo que falhei. Talvez eu tenha esquecido como sorrir. Remus respira fundo e dá um passo na minha direção, a varinha em riste, os olhos castanhos alertas.

"Você lembrou." Seu tom de voz não é exatamente convidativo, mas tampouco é arredio. Parece mais curioso. Incrédulo, quem sabe. "Você fugiu."

Eu sei que Remus se refere a Azkaban, mas é impossível não pensar que na verdade ele está falando sobre uma noite de Halloween, mais de uma década atrás. Quando decidi que era melhor deixá-lo dormindo e ir encontrar Peter no esconderijo, sozinho. Eu me preparara para contar para ele, naquela noite, mas nós discutimos e eu pensei... eu pensei que seja lá o que estivesse perturbando Remus na época não valia a vida de James e Lily. Eu poderia pedir desculpas, agora, mas um pedido de desculpas doze anos atrasado não soa muito melhor do que aparecer no quarto dele, na calada da noite, esperando que ele me perdoe por não ter lhe desejado feliz aniversário por tanto tempo.

"Eu perguntaria como você entrou aqui, mas acho que sei a resposta."

Sorrio. Tento. Dou de ombros. Queria perguntar se ele estava feliz em me ver. Se ele ia me entregar aos dementadores, lá fora, guardando os portões de Hogwarts. Queria saber se me perdoaria, se pudesse. Em vez disso, dou outro passo decidido na direção dele. Remus aponta a varinha para o meio dos meus olhos. A ponta brilha em vermelho, um estupefaça! pronto para me derrubar.

"Por favor-" Remus começa, sua mandíbula rígida, a respiração falsamente controlada. "Não me faça-" ele fecha os olhos e vira o rosto. Não podendo, ou não querendo me encarar.

E aquilo era tudo que eu precisava, tudo que eu queria. Mais tarde, talvez, eu me perguntasse se ele fez de propósito.

A varinha feita de tronco de cerejeira e corda de coração de dragão cai no piso com um estalo quando eu o seguro pelos ombros e o prenso contra a parede de pedra fria. Não é exatamente um gesto impensado. Era mais como o repetir de um velho padrão, esperando que de alguma forma, ele mudasse. O gosto da boca de Remus sob meus lábios, entretanto, era precisamente o mesmo. Dava para sentir o chá que ele tomara antes de se recolher, um gosto meio doce, meio amargo. Meio esquecido.

Seus olhos estavam fechados quando o soltei, o corpo contraído como se esperasse que o acertasse com um soco e acabasse com aquilo de uma vez por todas. Remus não se mexeu enquanto eu me abaixava para apanhar a sua varinha do chão. Quando resisti ao desejo de voltar a beijá-lo, de pedir perdão, de sentir um corpo quente junto ao meu. Era o aniversário dele, sim, mas no fim fora eu quem conseguiria algo em troca.

Remus não me entregaria. Eu sei e ele sabe. E eu também sei que não posso simplesmente deixá-lo assim. Com mais um peso para carregar sozinho. Não antes de fazer o que eu tenho de fazer. Não antes de poder lhe dizer a verdade sem ter medo de ser refutado, de ser perdoado sem uma boa razão.

Eu preciso de provas. Eu preciso de Peter.

"Feliz aniversário, Aluado." Eu digo e toco em seu rosto com a ponto dos meus dedos.

Mas quando Remus abre os olhos, já é tarde demais.

x-x-x

Ao acordar Remus franze o cenho para a enorme caixa de sapos de chocolates sobre a sua mesinha de cabeceira. Ele tem certeza de que aquela caixa não estava lá no dia anterior. Remus, porém, logo deixa o assunto de lado. Há muito trabalho a fazer, aulas para preparar, redações para corrigir...

Remus não sabe. Não tem como saber. Mas se tivesse pensando em conferir o último feitiço executado por sua varinha, teria ficado surpreso ao descobrir que se tratava de um Obliviate.

Fim


¹ Smooth Criminal, como a maioria deve saber, é uma música do Michael Jackson, cuja tradução seria algo como "criminoso insinuante" (ou suave/educado, se preferirem). Eu acho que combina com o Sirius, mas escolhi esse título porque estou atualmente viciada em uma versão da música (instrumental) tocada pelos músicos Stjepan Hauser e Luka Sulic.


Nda.: Faz anos que não escrevo uma fic de aniversário para o Remus, mas enquanto eu me arrumava para a faculdade percebi que hoje nosso (e do Sirius) lobo favorito faz anos! Mesmo quase não aparecendo mais no fórum 6V eu ainda planejava escrever algo para a 5ª edição do Projeto LABMA e, bom, aqui estamos. Não sou (nada) fã de fics Realidade Alternativa porque acho isso que não passa de uma desculpa para burlar o canon, então acabei trapaceando um pouco. A fic, aliás, meio que foi escrita em coisa de uns 50 minutos (é sério), se não eu ia perder meu ônibus, mas mesmo assim espero que alguns de vocês curtam a idéia. Ah, uma coisa engraçada é que, quando fui conferir, mais por curiosidade acadêmica, que dia da semana caiu o 10 de março de 1994 (ano em que se passa o final do terceiro livro), adivinhem só? Quinta-feira! Como hoje. É o destino, eu acho.