Disclaimers na primeira parte
Das Cores da Bruma
Parte Dois
Das cores da bruma foi feito seu sorriso, que era vago, inconstante e etéreo. Irreal porque sempre esteve ali, mas eu jamais realmente o vi. Das cores da bruma foram feitas suas feições, uma máscara encobrindo suas verdadeiras reações, sempre à margem de realmente aparecerem. Das cores da bruma foram feitos seus olhos, enevoados e intensos, mas encobertos por camadas de mistérios que eu sempre quis desvendar. Das cores da bruma foram feitos seus sentimentos, que bastava que alguém se aproximasse para que se mostrassem ainda mais distantes e intocáveis, chegando ao ponto que duvidassem da real existência deles.
Das cores da bruma foi feito você, que tal qual sua progenitora desapareceu ao raiar do dia, deixando o sol a brilhar e pássaros cantando num dia claro e brilhante, fingindo que sua presença nunca havia estado ali.
Das cores da bruma...
A mesma constância que tem a névoa, teve você, durante todo o tempo em que esteve aqui. Não digo ao meu lado, você nunca esteve ao meu lado, você esteve, simplesmente, aqui. Assim como a mais leve brisa fazia as brumas mudarem de direção, seus beijos se tornavam escárnio; como o sol pálido fazia com que a cerração desaparecesse, suas promessas tornavam-se ameaças.
Nunca o compreendi, mas entendo hoje que compreendê-lo seria perdê-lo. Assim como aprisionar a bruma é torná-la água, simples água, compreendê-lo era torná-lo humano, simples humano, e isso teria garantido sua presença aqui, mas não sua vontade de permanecer.
Eu imagino que você jamais quis permanecer, uma vez que sempre teve tudo tão metodicamente planejado para sua partida.
Eu sinto a sua falta.
Nunca pensei que chegaria o dia em que eu admitiria isso com tanta facilidade, mas sinto sua falta.
Como uma dor física, uma consistência que você nunca teve, por ser feito de brumas, a sua ausência dói, pesa, oprime, machuca.
Eu sinto sua falta.
Por vezes, encarando o lago e os pátios do castelo, me pego pensando que sentimos falta apenas do que nos machuca e que, talvez, a disposição de nossas almas seja, por princípio, sofrer. Não sentimos falta do que está aqui e por isso, jamais apreciamos a presença amada como deveríamos.
No momento em que perdemos, sentimos toda a sua falta, toda a sua ausência, toda falta que cada gesto querido a nós traz e, por isso, sofremos. Descobrimos que amamos quando temos plena consciência que tal amor já não é mais possível, e por isso, a pessoa perdida torna-se cara às nossas almas e a nosso coração.
Amamos plenamente apenas o que jamais possuiremos e perceberemos a perfeição de cada gesto quando já não os podemos observar.
Amamos apenas o que nos faz sofrer. Acabo por me convencer que, além de sentir sua falta, também o amei. Ainda o amo.
E tenho plena certeza que, se você tivesse permanecido aqui, Salazar, eu jamais admitiria isso. Não por teimosia, ou orgulho, mas simplesmente porque não perceberia o quanto sua presença me alegrava, o quão privilegiado eu deveria me sentir ao tê-lo ao meu lado.
Você nunca foi algo que eu deveria ter considerado como constante, como garantido, eu deveria ter lutado mais para realmente estar ao seu lado e, por isso, não posso deixar de me culpar pela sua partida. Culpa, saudade e amor. Tudo dói junto e pesa, mais do que sua presença pesava, porque a sua presença tinha a cor das brumas, leve e inconstante, um tanto volúvel, chegando a beirar o fútil da beleza comum, para então me surpreender e me rejuvenescer, e me fazer alegre com algo corriqueiro como seus olhares. O brilho deles, que chegava a me dar esperança e me derrubar de meu semiêxtase no segundo seguinte, quando escarnecia de meu comportamento alegre e, nas suas palavras, infantilmente inadequado.
Eu sinto a sua falta, porque você sempre soube o quão fraco eu era, e nunca se importou em me fazer mais forte. Você compreendia a minha fraqueza, assim como eu via a sua força e ambos sabíamos que ninguém além de nós mesmos perceberia o quanto nos completávamos. Mas nossos nomes, nossas crenças, nossas vidas nos queriam em lados opostos.
Ideais opostos em almas gêmeas, tal como imagem e reflexo em um espelho de prata, destinados a suportar suas crenças e lutar pelo que achávamos certo, mesmo que de maneira tão diferente.
Fui tolo. Sinto sua falta porque defendi meus ideais, sinto saudades porque você não estava certo e eu não conseguia suportar injustiças.
Explique-me, Salazar, como pude amá-lo tanto, se jamais compreendi o que você pensava? Se jamais concordei com suas principais crenças? Como pude amá-lo tanto, como posso, ainda, amar com tanta força, alguém feito de brumas, com crenças de mármore e alma de gelo?
Como posso amar você, meu caro amor feito das cores da bruma, se você nunca me amou de volta?
E como continuar sentindo tudo o que sinto, se você partiu? Ou talvez seja apenas eu sendo tolo e não percebendo que a base dos meus sentimentos está exatamente na sua partida, que ao tornar-se inatingível você se tornou, também, amado, pois eu jamais sofreria sua recusa, já que você não está aqui para expressá-la, ou jamais terei que enfrentar sua aceitação, caso você retornasse meus sentimentos?
Ironia que o fundador da casa dos Corajosos seja, por definição, covarde.
Covarde por não ver que amava, ou por apenas se permitir amar o que já não pode ter. Covarde por querer ver nas brumas a solidez das rochas, apenas por saber que jamais a teria.
Covarde por ver o amor feito das cores das brumas partir e deixá-lo partir, para poder contemplar em paz o amor que sempre senti e nunca teria descoberto, se você tivesse permanecido aqui.
Covarde e amando.
Porque mesmo composto por brumas, você á mais real do que jamais serei.
Agradecimentos à twin, Agy, que betou esta parte, que foi escrita antes da primeira, mas eu sou estranha assim. (O.õ) e a todas as pessoas que revisaram a primeira parte. XD Bjs!
R E V I E W !