Título: Um Desejo a Mais

Gênero: Romance / General

Classificação: Yaoi / Slash

Par: Harry x Draco

Aviso: HP e personagens pertencem a JK Rowling, fic sem fins lucrativos.

Observação: contém spoilers do livro 7!

Nota: este fic é um pequeno presente de Ano Novo que acabei de escrever agora e posta-lo, portanto, peço desculpas por não estar betado. Escapulir-me da bagunça e falta de tempo nesse fim de ano só para lembra-los que não esqueci de vocês é regra. Feliz 2008!


Harry maldisse o tempo por uma fração de segundos, se perguntando porque teria que cair uma nevasca justo quando estava pronto para ir buscar o filho.

Tentou se comunicar via lareira, para pedir que Albus voltasse pra casa via rede flú, mas suas chamadas nunca eram respondidas. Usar a aparição não seria uma boa idéia, pois sabia que o lugar era protegido contra aparições, justamente as de estranhos que nunca botariam um pé naquele terreno e que estava incluído nessa lista.

O jeito foi colocar um casaco negro de pele, botas de couro de dragão e encarar o frio e a neve nessa noite de fim de ano.

Por acaso Albus não percebia que era quase meia noite e que por regra, deveria estar na Toca para passar a virada do ano junto com a família?

Ginny o observava com o semblante carregado. – Eu disse que não era para deixa-lo ir lá hoje.

- Eu sei, eu sei... – suspirou erguendo as mãos em sinal de paz. Não queria discutir com ela justo hoje, justo agora.

Ginny voltou a fechar a cara e lhe dedicar um olhar de indignação. – Então vá logo busca-lo, só temos quarenta minutos antes da virada do ano! – ordenou de modo ríspido.

Harry não disse nada, afinal, realmente a culpa foi sua por passar por cima da distinta ordem da esposa que dizia: "Não passará o dia na casa daquela gente e ponto final, mocinho. E não discuta comigo!". Mas ver a raiva mal contida e a tristeza nos olhos do filho o fez pronunciar, para desgraça própria e moléstia de Ginny um: "Tranqüilo Albus, pode passar o dia com seu amigo, mas terá que voltar para passar a virada do ano conosco, sua família, ou seus avós ficarão chateados".

A felicidade que pintou no rosto do garoto foi sublime e o fez sorrir por estar sendo um bom pai, algo que James, Albus e Lilly pudessem ao menos gostar em parte. Por outro lado, o desgosto no semblante da mulher foi toda uma promessa de um ano novo mais problemático no matrimônio do que esse ano havia sido.

"Como teve coragem de sobrepujar minha ordem direta, Harry? Sou a mãe dele e ele tem que me ouvir. E sabe que hoje todos estarão reunidos para passar o dia em família, se divertindo todos juntos!". Foi o sermão assim que o filho partiu para a casa do amigo, mais feliz que nunca.

Não adiantou muito tentar faze-la entender que esse era o primeiro fim de ano que o filho passaria se divertindo junto com o melhor amigo. Muitas foram as vezes que Ron e até mesmo Ginny ficaram em Hogwarts quando estudavam, para passar o fim de ano consigo, não entendia porque Albus não podia fazer o mesmo se era o que ele queria.

Fechou o casaco e abriu a porta para enfrentar o frio.

Quarenta minutos para a virada do ano, ir até a Mansão Malfoy, pegar o filho e regressar à Toca. Não precisava ser um experto em Adivinhação para saber que nessa nevasca perderia no mínimo e com muita sorte a seu favor, vinte minutos para se orientar, aparatar perto da residência ou até onde o feitiço de proteção permitia aparações e tentar manejar a situação da melhor forma possível para entrar ali e chamar a Albus.

Assim que se aparatou, notou que estava no meio de um caminho estreito com fileiras de árvores a cada lado que conduziam à mansão que aparecia diminuta na paisagem branca.

O resto do caminho teve que seguir a pé debaixo da neve que caía copiosamente e enchia seu cabelo negro de flocos brancos. Não se importou em se apresentar, pois era evidente que o feitiço que envolvia aquele lugar já teria anunciado sua chegada no mesmo momento em que pisou no jardim.


Albus e Scorpius se divertiam muito quase sumidos no meio da multidão que lotava o salão de festa, só não eram ignorados por serem exatamente quem eram.

Draco sorria discretamente ao vê-los passar juntos de um lado a outro, hora comendo, hora bebendo, hora conversando e por vezes pilava Potter cochichando ao pé d'olvido de seu filho, tão perto e de olhar tão intenso que não precisava refletir para saber que ali amizade literalmente não era a única coisa que existia entre ambos.

E via como Scorpius sorria ou tentava camuflar com a taça seus sorrisos quando o outro lhe fazia isso. Os olhos fitando o chão para não desvendar o brilho que certamente também estava presente em seus olhos.

O garoto filho de Potter estava tão alegre e natural, que ao menos se dava conta do avançar das horas. Assim como o som alto da música e das conversas dos convidados não deixou que ninguém notasse a lareira anunciando que alguém tentava se comunicar.

Com um longo suspiro de satisfação, Malfoy olhou pela janela vendo que a forte nevasca havia diminuído, mas a neve continuava a cair abundante. Foi então que sentiu a magia de proteção da primeira barreira anunciando que alguém entrou em terreno particular e quem era esse alguém. Caso fosse algum inimigo, poderia deixar que atravessasse a segunda barreira de proteção e que era a agressiva e que causaria em sérias lesões no invasor. Ficou um pouco surpreso que seu inesperado visitante era Harry Potter, mas de todas as formas anunciou mentalmente à magia que o deixasse passar livremente.

Seus olhos claros pousaram sobre os garotos. Mesmo eles estando com treze anos ainda os consideravam garotos e talvez Potter achasse o mesmo para vir busca-lo.

Ia avisar a Albus que o pai estava ali para leva-lo, mas nesse momento Scorpius o puxava pela camisa e o obrigava a olha-lo nos olhos inquirindo persistente que respondesse algo, ao julgar pela convicção e ordem que o filho expressava e no sorriso nervoso que o pequeno Potter tinha no rosto. Então leu a frase mágica que foi o melhor regalo para Scorpius: "Te amo, seu idiota, e você sabe disso".

Seus olhos então se deram conta que faltavam três minutos para a entrada do ano novo e decidiu que não estragaria esse momento que o filho estava passando por culpa de Harry Potter.

Deixou que os meninos saíssem de seu campo de visão em direção ao grande terraço para apreciarem junto aos demais convidados a queima de fogos mágicos e sorriu mais uma vez pela alegria que Scorpius estava sentindo e que ele nunca pôde sentir.


Harry olhou a beleza da paisagem de inverno que era toda a mansão. Era como olhar pessoalmente alguns daqueles postais que os muggles tanto gostavam de mandar aos seus queridos amigos e familiares quando saíam de férias.

Mas a beleza maior, que prendeu seu olhar e sua mente, saiu por uma das portas que davam ao jardim.

Viu como aquele loiro caminhava devagar e elegante, o corpo coberto apenas por uma fina e cara camisa de seda branca. Logo um suave vapor escapou pelos lábios róseos de Draco e uma camada de cor recobria delicadamente as maçãs do rosto, dando mais vida ao pálido natural de seu rosto.

Seus olhos se encontraram e nenhum teve coragem de iniciar conversa.

Como Harry não se movia, nem dizia uma palavra, Draco voltou a caminhar, dessa vez deixando a proteção da alameda e baixando os degraus que conduziam ao jardim, onde o moreno estava parado de pé o observando atentamente.

Pequenos flocos de neve começaram a adornar o cabelo e as roupas de Draco, mas este ao menos se importou com isso, cruzando os braços para se proteger do frio.

Para Draco, ter Harry Potter vestido de negro em seu jardim, com a neve caindo sobre o cabelo e sobrancelhas escuras que enfatizavam o olhar verde livre de lentes não era bem o que esperava de novidade para esse ano que começava.

E para Harry, ter a escassos metros de distância de si, um alinhado e elegante Draco Malfoy, vestido de branco, tão etéreo como um facho resplandecente de luz em meio à neve, os flocos de neve a umedecer-lhe os fios platinados e a boca se tornando escarlate pelo frio que fazia, não era a imagem que esperava encontrar assim que pisasse naquele terreno.

E nenhum dos dois notou a explosão de fogos e as diversas formas que estes aderiam no céu noturno, apenas foram cientes das cores que cobriram seus corpos como uma onda tridimensional.

Essa muda contemplação perdurou por alguns instantes, mas sabiam que seu efeito perduraria longos anos...

Um estremecimento percorreu o corpo de Draco finalmente arrancando a Harry de seu estupor. Sem perder tempo, o moreno acabou com a distancia que os separavam quitando o casaco de pele o qual jogou pelos ombros de Draco. A peça o cobriu perfeitamente.

Seus dedos apertaram a grossa gola enquanto ajeitava sobre os ombros do loiro, ciente de estarem frente a frente, tão perto que sentia o cálido alento que escapava desses lábios ainda escarlate.

- Em que momento das nossas vidas deixamos de ser inimigos? – Draco perguntou a meia voz.

- Não sei... Talvez no momento em que te encontrei naquele banheiro e lágrimas deslizavam de seus olhos tristes... – o moreno manteve agarrado à gola do casaco.

- Talvez quando salvou minha vida e me jurou com o olhar que nunca deixaria que eu morresse... – o loiro murmurou.

- Talvez agora... Depois de tanto tempo e a única coisa que desejo é... – Harry se calou.

Draco ergueu os olhos que até então não o fitava diretamente e percebeu o que Potter desejava nesse momento.

- Deseja me beijar... – voltou a murmurar, passando a sentir o mesmo desejo que via nesses olhos esverdeados.

Então Harry se afastou soltando a capa e levando consigo o calor da proximidade, o que afetou também ao próprio moreno, essa distância.

- Esse é apenas mais um desejo que você conseguiu surgir em meu intimo no curto espaço de tempo em que saiu pela porta.

- Então estamos iguais, pois te beijar também me é apenas mais um desejo que tenho por ti...

Vozes foram ouvidas, as pessoas regressavam para dentro do salão de festa.

O tempo havia acabado.

- Feliz Ano Novo, Harry...

- Feliz Ano Novo, Draco...

Albus saiu da casa e foi se encontrar com Harry. Scopius se juntou ao lado do pai enquanto a esposa de Malfoy parava na soleira da porta para não tomar o vento frio tão deliberadamente. Os dois Potter se despediram de todos com educação e um brilho no olhar para regressarem ao lar e à família.

E Harry sabia que para esse ano que se iniciava, desejava ver seus filhos crescerem, prosperarem e serem felizes. Desejava tudo de bom para a família Weasley, muita sorte para os melhores amigos, muita saúde àqueles que estavam internados no St. Mungus e paz eterna para que ninguém mais passasse pelo que tivera de passar.

Mas havia mais um desejo, que guardaria no mais profundo de seu ser...

Desejava ter a Draco o infernizando a cada segundo de sua vida, em todos os sentidos que essa palavra poderia levar. Bom, mau, físico e mental... E talvez tinha certeza que para o loiro, esse também era mais um desejo que se somava furtivamente dentre todos os demais que poderia desejar, não apenas em mais este ano, mas em todos os momentos vindouros que tiverem a sorte de viver...

Afinal, uma obsessão que durou tantos anos, não se acabava assim tão facilmente...

E sabia que no meio dos turbilhões de emoções que compunham a obsessão, uma delas era a paixão mórbida, tanto para o bem como para o mal, e o ódio extremo, que de tão extremo, poderia leva-lo ao limite que suplanta o próprio ódio e que todos que se dão ao luxo de saberem, o ódio é o nome que damos ao amor doentio, àquele amor que não sabe se expressar firme e sublime, e que tenta de várias formas se fazer notar, mesmo tomando as ações mais equivocadas...

Sim... Harry voltou a sorrir enquanto observava a neve que caía tranqüila através da janela tendo de fundo o som das conversas animadas de sua família.

Sentia amor doentio por Draco e era correspondido de igual forma, só que com o passar dos anos, esse amor começou a se curar e agora não poderia ser denominado doentio, tratando de adicionar em sua lista mental dos desejos que realizaria este ano, trazer a Draco o mais perto possível de sua vida, pese aos riscos que tiverem e talvez, poderia curar de vez esse amor mal-entendido...

- Pai. Em que está pensando? – Albus o regressou de volta ao mundo.

- Apenas em mais um desejo a ser realizado... – e sorriu, ao receber um carinhoso sorriso do filho.