Leilão de Natal
Madam Spooky
Para Lika Junge
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Retratação:O Dia de Reis passou e eles continuam não sendo meus. Não espere cartinha ano que vem, senhor Noel.
Nota: Eu devia ter publicado esse capítulo quase uma semana atrás, mas estava tão pé atrás sobre ele que o segurei até agora, quando é publicar ou esperar mais uma semana. Não acontece muita coisa e eu estava sem muito humor para comédias, mas espero que dê para o gasto. Pelo menos tive tempo de acrescentar uma ou duas coisinhas.
Obrigada, carol, Misao Kinomoto, Teella,Vane, Limão, Katryna Greenleaf Black, Yasashiino Yume (vou te adicionar :D) Coala, DM, Pri e Maia pelos comentários no último capítulo. Fico feliz que estejam se divertindo.
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Um leilão de homens.
Tudo bem, não é como se essa fosse a coisa mais estranha sobre a festa de Natal em que estou. A parte da caridade ainda tem o topo do pódio, sem mencionar Yusuke completamente sóbrio quando há garçons circulando com taças cheias de bebida até a borda. O fato de Keiko ter resolvido que seria uma boa idéia comprar um dos 'artigos' para me dar como presente de Natal é apenas um detalhe no meio de tudo isso. Compreensível que pensar no cenário geral está me dando uma terrível dor de cabeça. Isso ou o fato de eu já estar na quarta taça de saquê e nenhuma intenção de parar.
'Meu presente' está bem do meu lado, segurando sua própria taça e tentando me ignorar enquanto espera... não faço a menor idéia do que ele espera. Talvez seja a coisa da compradora poder fazer o que quiser com o produto. Eu falei produto? Ele é um homem, Botan, trate de não esquecer isso! E o tipo de homem que não se vê dando sopa por ai, se você levar em conta a incrível combinação de cabelos vermelhos e olhos verdes em um rosto de traços orientais.Claro, todas essas qualidades devem se limitar ao exterior. Se eu resolver conversar com ele, acabarei descobrindo que é retardado, usuário de drogas pesadas ou adepto de alguma seita radical suicida. Nenhuma chance de que um cara desses, sendo amigo de Yusuke, possa ser normal.
Obrigada, Keiko, muitíssimo obrigada mesmo. Ou será que eu devo culpar a mim mesma? Se eu não tivesse sido a responsável direta por ela e Urameshi Yusuke terem finalmente confessado seus verdadeiros sentimentos um pelo outro, trancando-os em um galpão abandonado durante doze horas inteiras até que eles decidissem canalizar suas energias para algo mais satisfatório que tentar matar um ao outro, isso não estaria acontecendo. Agora os dois acham que precisam retribuir o favor encontrando o cara perfeito para mim e não param de armar encontros com gente estranha sem perguntarem primeiro a minha opinião. Será que eles não têm mais o que fazer do que me torturar com espécimes masculinos defeituosos em toda ocasião especial do ano? Por que ninguém entende que uma garota pode estar perfeitamente feliz vendo filmes de Natal e espalhando notícias sobre a última infração cometida por Hiei em fóruns na Internet?
Um garçom passa por mim e eu pego uma quinta taça de saquê automaticamente. O ruivo, Kurama, acho, ergue as sobrancelhas para mim como se perguntando o que eu penso que estou fazendo. Obviamente, finjo que não percebi; do mesmo jeito que fingi não ter notado a maneira como ele não conseguia desviar os olhos das minhas pernas mais cedo. Homens. Ruivos, louros ou morenos, todos eles só pensam na mesma coisa.
- Hum... Senhorita...
Eu deixo cair um gole da bebida quando ele fala. Voz levemente rouca e na altura certa. Tudo bem, mais um ponto para o senhor-artigo-de-leilão aqui. Mas eu devo descontar mais do que isso do fato dele ter se oferecido para ser vendido a uma desconhecida qualquer em um evento de fins duvidosos em primeiro lugar. Um homem não se expõe dessa maneira a não ser que seja pervertido, santo ou tenha absoluta certeza de que não vai ser comprando por alguma maníaca... Será que ele sabia que Keiko ia comprá-lo? E se ele estava sabendo da armação de Yusuke para fazê-lo sair comigo essa noite desde o começo? Não é como se fosse algo difícil. Tudo bem, mas se for assim, o ruivo deveria estar sorrindo e tentando me agradar ao invés de ficar com essa cara de quem espera que eu vá pular em cima dele com garras afiadas a qualquer momento.
- Tanaka. Botan. Você pode me chamar de Botan – eu respondo sem muita certeza se dou a ele o benefício da dúvida. Ele é amigo de Yusuke! Esse é um detalhe impossível de se ignorar.
- Ah, ok, Tanaka-san.
Giro os olhos e suspiro, dando a entender claramente que não estou exatamente feliz com esse arranjo. Essa é a hora em que ele dá uma desculpa qualquer e sai correndo, como qualquer cara normal faria se a garota a quem ele acabou de ser atirado não estivesse parecendo feliz em permanecer com ele. Fecho os olhos e conto até dez, pensando em como sairei daqui direto para casa, onde poderei pedir o jantar e comer deitada no meu sofá, perto da árvore, ouvindo o novo CD de Natal do Josh Groban ou vendo a maratona natalina do Cartoon Network, uma vez que eu duvido que esteja passando qualquer filme interessante quando eu finalmente conseguir sentar na frente da TV. Abro os olhos e, para minha surpresa, ele continua parado lá, me observando. Eu sabia que não devia ter saído de casa com esse vestido!
- Botan – repito.
- Tanaka-san – ele diz sem olhar para mim. – Você tem algum problema com as luzes ou é um tique nervoso? Porque não pode ser por minha causa que a senhorita não para de girar os olhos desse jeito.
Qual é o problema dele? Ah, é, eu quase esqueci novamente: ele é amigo de Yusuke! É claro que deve ter um ego do tamanho da Via Láctea. Não consegue conceber a idéia de qualquer garota no mundo preferir a TV aos estúpidos olhos verdes e cabelo ruivo lambido dele. E daí se ele é bonitinho? Há um monte de caras bonitos nos meus filmes de Natal e eles não costumam me aborrecer porque eu tenho uma tendência involuntária a revirar os olhos quando estou louca da vida com alguma coisa.
- Botan! E é claro que é por sua causa! – estou praticamente rangendo os dentes. – Caso não tenha percebido, Keiko esqueceu de deixar a nota de devolução!
Ele faz uma expressão estranha, com os olhos muito abertos e a boca curvada em um quase sorriso. Isso mesmo, QUASE sorriso. O que eu não sei se significa que ele está rindo da minha cara por eu estar meio que rosnando ou se apenas não consegue acreditar que alguém o devolveria, já que ele se acha lindo, alto, ruivo e está muito consciente dos tais olhos verdes... Mané!
- Qual o seu nome? – pergunto com a voz mais falsamente macia que consigo emitir depois de todo aquele saquê. Talvez ele perca o interesse em me fitar se eu começar a ser agradável. Segundo a minha mãe, e ela pode dizer que entende de homens porque se casou quatro vezes, sem mencionar aquela em que estava bêbada e teve que correr para anular tudo no dia seguinte, a maior parte da população masculina tende e ficar mais interessada quando você não está.
- Kurama – ele diz. Só isso, Kurama. Que espécie de nome é Kurama? Parece mais nome de molho para salada ou marca de xampu.
Já que estou completamente convencida de que não vamos chegar a lugar nenhum com essa tentativa frustrada de conversa, na qual eu nem mesmo estou tendo sucesso em fingir interesse, me viro para sair correndo. Não sinto nenhum remorso em deixá-lo plantado no meio do salão, uma vez que não parece disposto a colaborar com as minhas tentativas de espantá-lo e eu tenho certeza de que a alta opinião que parece ter de si mesmo (e as mulheres olhando cobiçosamente na nossa direção) vai consolá-lo muito bem. No momento em que olho para trás, porém, percebo Keiko acenando na minha direção com um sorriso de encorajamento que só não é maior que a carranca de Yusuke ao lado dela, extraordinariamente ainda sóbrio, apesar da hora. Ele não parece nem um pouco interessado em mim agora, encarando os garçons e as taças de saquê como um olhar desesperado, mas eu tenho absoluta certeza de que se eu ousar dar um passo, sozinha, em direção à rua, o infeliz estará na minha frente para me impedir antes mesmo que eu possa dizer "Feliz Natal".
Tudo bem, eu fico com o maldito presente. Mas eles estão malucos se acham que vou gostar.
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Graças aos céus a maníaca finalmente entendeu por que eu continuo parado aqui ao invés de sair correndo pela saída mais próxima. Para mim é bem óbvio que Yusuke não só me impediria de sair correndo, como daria um jeito de todos os meus conhecidos – todos os que já ouviram o meu nome em algum momento da vida, para ser mais especifico – ficarem sabendo que fugi de uma garota na noite de Natal porque... Tenho certeza de que ele seria muito criativo na hora de explicar a razão.
Botan, heim? Ela terá um lugar bem destacado na minha lista de encontros bizarros, bem entre a feminista radical e a minha namorada do segundo grau, Maya, que tentou me trancar em um armário de vassouras com um dos membros do cube de teatro, exatamente aquele que vivia cantarolando I Feel Pretty, para ver se a inspirava com o mangá yaoi que estava tentando desenhar. Botan pelo menos mantém uma distância segura. E ela pareceria bastante normal se parasse de rosnar por um instante.
Claro, tem também a coisa do vestido. Meus olhos, involuntariamente, ficam se deslocando para as pernas dela toda hora, o que deve ter sido estrategicamente previsto por Keiko quando ela sugeriu essa roupa em especial à garota. A razão pela qual eu sei que Botan não escolheu isso sozinha é a maneira como ela fica puxando a saia para baixo sem nem mesmo parecer notar, como se isso fosse fazer o tecido esticar ou estender-se magicamente.Eu estaria bastante tentado a tentar puxar conversa se não fosse pela coisa do rosnado, mais sua aparente compulsão incontrolável por saquê. Será que todas as garotas interessantes do país estão associadas à Yusuke? É por isso que já me acostumei com a idéia de que morrerei sozinho, vendo reprises de clássicos hollywoodianos, perfeitamente feliz com a situação quando pensar no que poderia ter sido.
- Eles estão olhando para cá – diz Botan. É a primeira vez desde que estamos sozinhos que ela parece ter esquecido completamente de sua decisão de encher a cara ao invés de me dar atenção. Eu tenho a impressão desagradável de que ela não gosta de mim e o meu comentário infeliz sobre a mania que ela tem de ficar revirando os olhos está diretamente relacionado a isso. Até mesmo Hiei teria tido a presença de espírito de pensar em alguma coisa melhor para dizer aquela hora.
Olho para Keiko e Yusuke e agora ambos estão acenando. Será que vão ficar nos assistindo a noite toda? Pergunto-me se esses dois não têm nenhum outro amigo para quem empurrar suas conhecidas que mais parecem terem fugido de algum tipo de clínica de reabilitação.Provavelmente não, porque a última vez que fiz essa pergunta diretamente recebi como resposta um discurso sobre como sou o único homem com menos de cinqüenta anos em todo o Japão que prefere ver TV a sair em uma sexta feira à noite como qualquer pessoa normal. Talvez eu não preferisse se tivesse amigos que compreendessem minha opção por ser solteiro convicto. E se a minha mãe não parasse de ligar para eles, implorando que me apresentem a alguma garota decente, já que o meu irmão vive dizendo que prefere se tornar monge a se casar e ter filhos e ela não tem nenhuma intenção de abdicar da idéia de netos.
- Eles continuam olhando para cá! – Botan parece estar em pânico, o que me faz sorrir outra vez. Uma das coisas que percebi é que ela odeia quando eu sorrio e reage cerrando os dentes e fazendo aquele barulho muito semelhante ao de um tigre pouco antes de dar o bote.
- Eu ouvi da primeira vez – respondo nas minhas maneiras naturalmente tranqüilas.
A parte boa de tudo isso é que a garota parece tão feliz em estar sozinha comigo quanto eu estou com a situação inteira. Uma vantagem e tanto em comparação as outras vezes, quando as mulheres ficavam se jogando no meu pescoço enquanto eu tentava desesperadamente convencê-las de que o fato de nunca ter conhecido o meu pai poderia significar defeitos genéticos desconhecidos em minha linhagem que automaticamente me desclassificariam como bom candidato a procriador.
Tudo bem, não há outra solução, nós vamos ter que sair daqui juntos. O problema é como dizer isso a Botan sem fazê-la pensar que estou querendo levá-la para o quarto mais próximo ou coisa pior. Pela minha experiência com mulheres meio bêbadas, essa é a primeira coisa que vai passar pela cabeça dela se a frase não for muito bem formulada.
- Tanaka-san – escolho as palavras com cuidado. – Você conhece Keiko e Yusuke, não é mesmo?
Ela apenas acena nervosamente. Talvez seja efeito da bebida porque pela expressão no rosto dela parece mais que estamos sendo caçados por uma dupla de assassinos profissionais que vigiados por um casal de amigos dispostos a nos fazer ter um encontro. Minha nossa, ela deve realmente me odiar. Ou aos homens em geral, vai se saber.
- Eles vão ficar nos vigiando para ter certeza de que não despachamos um ao outro, não é verdade?
Outro aceno. Dessa vez parece que capturei a atenção dela.
- Você não acha que é uma boa idéia se nós sairmos juntos daqui?
Essa não. Acho que não formulei a frase tão prudentemente quanto deveria, porque ela me encara com olhos largos, parecendo exatamente estar pensando sobre o quarto e as minhas supostas segundas intenções. Não ajuda os meus olhos abaixarem na direção das pernas dela mais uma vez, mas ainda acho que devo estar grato pelo vestido ser curto ao invés de ter um enorme decote. Sorrio gentilmente, tentando não demonstrar que estou assustado com a possibilidade dela resolver distorcer aquela história de que tem direito a me usar como quiser hoje à noite e partir na direção do meu pescoço com fins destrutivos. Parece funcionar porque ela deixa escapar um suspiro rendido e relaxa.
- Não vai ter outro jeito.
Botan acena para os nossos amigos – que em algum momento entre a minha retrospectiva e meu quase ataque de pânico começaram a discutir por alguma bobagem da qual devo ouvir falar durante toda a próxima semana, quando eles terminarem pela sétima vez esse mês e Yusuke ligar declarando o quanto odeia as mulheres e como Keiko nunca mais conseguirá um homem tão cheio de qualidades quanto ele – e então me puxa pelo braço, nos conduzindo na direção da porta.
- Não fale, não respire, não olhe em volta – ela diz. Minha companheira de fuga parece ter muita experiência em situações como essa. – O plano é seguirmos adiante o mais rápido possível e não pararmos até estarmos fora de alcance do som dessa horrível versão remix de Silent Night. Chegando lá é cada um por si. Você volta para seja lá o que estivesse fazendo antes de vir ser vendido para alguma solteira excêntrica sem nada melhor para fazer que gastar dinheiro com homens no Natal, e eu para o meu sofá. Com sorte eles estendem a maratona de filmes para pelo menos duas horas depois da meia noite...
- Okay – respondo ainda tentando assimilar tudo o que ela acabou de dizer. Para quem está bêbada, essa garota raciocina muito bem. – Mas você sabe que nem todas elas são solteiras, não é mesmo?
Eu falo a última frase em voz baixa, mas se Botan fincando as unhas na minha mão é uma indicação, ela me ouviu muito bem. Perfeito, Minamino, o seu talento para dizer a coisa errada é realmente fora do comum.
Continuo sendo praticamente arrastado para frente e é nesse ponto que eu posso olhar para a situação e apontar a enorme injustiça em torno de tudo. Eu não queria estar aqui hoje. Por que Kuwabara não podia ser o cara a terminar a noite vagando pelas ruas da cidade depois de ter perdido todos os especiais de Natal interessantes, puxado por uma garota bonita e bêbada que o abandonará na primeira esquina sem adeus e sem carona, e ouvir mais de um discurso no dia seguinte sobre o que um cara normal faria com alguém como ela nessas condições...? Não que eu deseje o mal a um amigo, mas, inferno, era ele quem estava interessado em fazer caridade!
Espere um instante, o que ela disse sobre maratona de filmes?
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Previsão para o capítulo 4: O mais rápido possível!!!
Ele pode demorar um pouquinho (mas só um pouquinho!) porque será o capítulo a decidir se terminarei no quinto como era a intenção ou terei que ir um pouco mais longe. Mas já sei mais ou menos o que escrever, o que já é bom.
Obrigada por ler!