Leilão de Natal

Madam Spooky

Para Lika Junge

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Retratação:Querido Papai Noel, eu fui uma menina Cof Cof muito boa esse ano e mereço Yu Yu Hakusho como presente de Natal...

Nota: Eu pensei 87348374873 vezes antes de publicar esse fanfic porque... bom, porque o meu histórico de fanfics incompletos depõe contra mim. Mas, infelizmente, eu não vou estar na cidade por muito tempo mais e não ia conseguir terminá-lo. Acabei decidindo arriscar.

Esse é o meu presente de Natal para a Lika, em ocasião do quarto Amigo Secreto do fórum Mundo dos Fics.

Lika, está incompleto e não ficou lá uma obra, mas espero que dê para divertir um pouquinho. :D

Vai ser um fanfic curtinho, então, er... é imensamente provável que tenha final.

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- Botan, isso é ridículo!

Keiko me puxa pelo braço uma segunda vez, mas minha mão direita continua firmemente agarrada à grade da porta. Uma dupla de homens meio bêbados passa pela calçada bem nesse momento e assobia, olhando descaradamente para as minhas pernas um pouco mais que expostas pelo vestido vermelho curto que a minha ex-melhor amiga me aconselhou a colocar antes de sair.

Vermelho. Curto. Eu sabia que não devia ter comido toda uma caixa de chocolates com recheio de licor enquanto assistia à maratona de filmes natalinos na TV a cabo durante todo o fim de semana. O álcool e o excesso de Jingle Bells devem ter causado um curto no meu cérebro para que eu acreditasse que estava vestida assim para uma ceia de Natal no asilo para idosos onde Keiko é voluntária duas vezes por semana.

- Concordo plenamente! Por que então você não me solta e me deixa voltar lá para dentro? Se eu subir rápido o bastante ainda posso pegar o começo de Milagre na Rua 34...

Oops, resposta errada. Keiko solta o meu braço e me encara furiosa, as mãos na cintura em uma postura com a qual sempre a vejo gritar com Yusuke quando ele dá uma desculpa esfarrapada para não ajudá-la com as compras ou veste aquela camisa havaiana ridícula que ele adora para sair com ela em uma sexta-feira à noite.

- Tanaka Botan! Você tem cinco segundos para soltar essa grade e me acompanhar com um sorriso no rosto! Que espécie de pessoa você é para recusar contribuir em um evento de caridade em plena véspera de Natal?

Minha mão agora não se segura mais tão firmemente. Incrível como Keiko consegue parecer exatamente igual à minha avó quando está zangada, só que sem as rugas e um metro mais alta.

- Você me enganou sobre o evento de caridade – eu tento ganhar tempo, sabendo muito bem que nada que eu disser vai fazer com que ela mude de idéia.

- Há caridade envolvida! – ela retruca, estreitando os olhos. Ok, isso nunca é um bom sinal. Da última vez que Yukimura Keiko me encarou desse jeito, eu acabei em um palco de karaokê, cantando faixas do CD especial de Natal da Mariah Carey com uma fantasia de coelho. Nem perguntem!

- Mas... Mas... – tento um último argumento. – Não há velhinhos envolvidos como você disse antes!

Keiko relaxa a postura e revira os olhos, o que me deixa muito aliviada. Ela estava começando a me assustar com uma imitação tão perfeita de Genkai.

- Se eu dissesse que os fundos seriam revertidos para a operação de mudança de sexo de um colega de trabalho de Yusuke, você nunca ia sair da frente daquela televisão!

Ela tem razão! Quem nesse planeta já ouviu falar em uma grande festa natalina beneficente em pró de uma operação de mudança de sexo? Aparentemente a idéia tinha sido toda de Yusuke, que não agüentava mais ouvir falar do tal colega de trabalho, Itsuki qualquer-coisa, ameaçando se jogar do terraço do edifício porque um Sensui qualquer-outra-coisa preferia perseguir as secretárias avantajadas que a ele, uma vez que não tivera a sorte de nascer avantajado também.

Segundo Yusuke, isso tudo era uma grande piada porque, em primeiro lugar, Sensui só olhava para as estagiárias quando queria pedir café; em segundo, Itsuki não estava sofrendo por ter nascido em um corpo masculino, como ele vivia declarando para quem quisesse ouvir, ou não se daria ao trabalho de freqüentar academia duas horas todas as tardes para manter os músculos bem definidos. Ele provavelmente faria uma plástica para ficar com a cara do Michel Jackson se achasse que o outro cara tinha algum fetiche por homens sem nariz.

- O que eu ganho indo nessa festa com você? – pergunto fazendo o meu melhor beicinho. – Eles vão leiloar um monte de coisas caras que eu não vou ter dinheiro para comprar de qualquer maneira. Vou passar a noite toda sentada em uma mesa, bebendo e assistindo enquanto as pessoas discutem seus dramas pessoais a minha volta. Eu posso fazer isso em casa assistindo dramas!

Keiko sorri de lado, de uma maneira que me assusta por eu não fazer a menor idéia do que pode significar.

- Se você for boazinha e me acompanhar sem fazer escândalo – ela diz – eu compro algo que você gostar.

Franzo o cenho e a encaro um instante, esperando que ela faça qualquer coisa que denuncie suas verdadeiras intenções.

- Qualquer coisa?

Keiko assente, dessa vez com uma expressão impaciente. Solto a grade, pensando se eles venderão coisas interessantes, como os DVDs da primeira temporada de Desperate Housewives ou qualquer outra temporada de série que eu também esteja querendo. Haverá champanhe, música e, com um pouco de sorte, um casal de celebridades não muito conhecidas beberá demais e lavará a roupa suja em voz alta, bem no meio do salão onde todo mundo possa ouvir.

Nada que eu não possa controlar facilmente.

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Eu não acredito que estou fazendo isso.

Quando Yusuke aparece em um sábado, dez horas da manhã – sim, porque ele considera qualquer horário antes do meio dia parte da madrugada – com olhos implorantes pedindo um favor, você tem obrigação de ficar desconfiado. Eu devia ainda estar dormindo, depois da longa noite acompanhando a maratona de filmes natalinos que quase todos os canais a cabo não param de exibir desde a última sexta feira, quando as palavras "me substituir no leilão de Natal" escaparam da boca do meu amigo.

Meu ex-amigo, devo lembrar. Apesar de que eu tenho que assumir a culpa por não ter perguntado exatamente no que consistia substituí-lo. Pelo menos não até quase doze horas depois, em algum momento entre O Conto de Natal do Mickey e Férias Frustradas de Natal, quando eu liguei para perguntar se teria que vender alguma coisa ou apenas conduzir senhoras de noventa anos à suas cadeiras no auditório, como sempre me mandam fazer quando aceito acompanhar a minha mãe nos eventos que ela promove; só então Yusuke resolve me lançar a bomba:

- Vender? Velhinhas? Do que é que você está falando? Eu não te disse que era um leilão de homens solteiros em pró da... uh... caridade? Por que acha que fui correndo te pedir para ficar no meu lugar? Keiko me mata se eu subir naquele palco e um bando de mulheres histéricas começarem a brigar por mim, o que sem a menor dúvida aconteceria.

Na hora eu fiquei sem palavras, como qualquer pessoa normal ficaria ao saber que disse sim a ser exposto em um palco de apenas dois metros, com metade da população de solteiras de Tokyo tentando arrancar algum pedaço lá de baixo. O minuto de silêncio, porém, foi longo o suficiente para que Yusuke gritasse algo sobre ter que alimentar o cachorro (ele nem tem cachorro!) e batesse o telefone na minha cara. Vinte quatro horas depois, quando finalmente consegui que o telefone dele desse sinal de vida, foi um muito emocionado Kuwabara com quem falei. Aparentemente ele mal podia esperar para contribuir na nobre causa do pobre Itsuki, que há anos sofria por não poder liberar seu verdadeiro ego estando dentro de um corpo que não tinha absolutamente nada a ver com ele.

Caridade, heim? Eu vou matar Yusuke!

- Então, Kurama, animado?

Viro-me e vejo Kuwabara se aproximando enquanto endireita a gravata. Nós dois estamos usando ternos brancos quase idênticos, o que nos deixa parecidos com membros de algum tipo de coral. Pensar em corais me leva a lembrar do palco, então de que eu vou estar lá de pé daqui a pouco, pedindo a todas as divindades existentes para não ser comprado por alguma solteira desesperada ansiosa por me arrastar para o beco escuro mais próximo. Preciso lembrar-me de perguntar a alguém no que consiste exatamente aquela regra de "a compradora possui o acompanhante pelo resto da noite e o mesmo deverá atender a todos os seus desejos". Quem diabos criou uma regra tão fácil de ser mal interpretada?

- Oh, sim, muito.

- É tão bom poder contribuir para uma causa – diz Kuwabara.

Percebo que ele continua afastando a gravata de um lado para o outro e penso se na verdade não estará pensando a mesma coisa que eu, sobre com quem sairá daqui esta noite. Não é segredo para ninguém que Kazuma Kuwabara é completamente apaixonado pela irmã mais jovem de um astro emergente do rock conhecido como Hiei. O que também não é segredo é que Hiei prefere gravar uma parceria com o Puffy Ami Yumi que ver a irmã sequer olhar na direção dele.

- Cá entre nós – Kuwabara se aproxima de mim olhando de um lado para o outro, como se temendo ser ouvido. – Ouvi dizer que você já tem uma compradora garantida.

Eu estremeço. O que foi que Yusuke aprontou agora? Só o que falta é ele ter pedido a alguma conhecida para fazer o favor de me distrair, já que eu tinha a intenção de ter uma noite de Natal tranqüila, na companhia da minha TV e de uma pizza gigante com muito queijo... Por favor, que não seja nada disso! Eu prefiro mil vezes encarar o batalhão de solteiras desesperadas e desconhecidas. Da última vez que Yusuke me arranjou um encontro, terminei a noite no hospital, já que a minha adorável acompanhante considerou meu comentário sobre verde limão e magenta não serem uma boa combinação de cores, uma indireta sobre como ela devia se vestir, o que feria diretamente seus princípios feministas, e me mostrou a força de sua opinião acertando o punho direto contra o meu nariz. Eu nem teria dito nada se ela não tivesse perguntado em primeiro lugar.

- Diga que Yusuke não me arrumou um encontro – imploro.

- Yusuke não arrumou um encontro para você – diz Kuwabara, parecendo confuso.

- Não está dizendo isso apenas porque eu pedi para não dizer, não é mesmo? – meu tom continua implorante.

- Não, a não ser que você considere Keiko um encontro. Yusuke disse que ela vai comprar você por um lance de...

Ele continua falando, mas eu estou chocado demais para ouvir. Keiko vai me comprar? Yusuke pediu para a namorada dele me arrematar no leilão para que assim eu não precise passar pelo constrangimento de ser jogado em um beco escuro por uma solteira desesperada? Por que ele faria uma coisa dessas por mim? Se a coisa da solteira realmente acontecesse, ele teria motivo para me arreliar pelo resto da vida!

- Kuwabara, você tem certeza do que está falando?

- Claro – ele responde, mas sem me olhar nos olhos. Kuwabara sempre me olha nos olhos a não ser que não esteja dizendo a verdade.

Abro a boca para pressioná-lo, mas uma mulher aparece de repente para avisar que o evento está prestes a começar. Kuwabara deixa escapar um grande suspiro e corre na minha frente, seguido pela mulher que sai, mas não sem antes me lançar um olhar que me faz sentir completamente despido. Por Kami, se as coisas já estão assim nos bastidores...

Juro que sobreviverei a essa noite só para ter o gosto de matar Yusuke!

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Privisão para o capítulo 2: Assim que eu voltar de viagem. Ele já está parcialmente escrito, então, se eu conseguir acesso a um computador por lá, antes disso. :)