Chapter 8: Oitavo Movimento: Zanshin


Oito Movimentos para o Disparo Perfeito

Zanshin: Continuação. A estrutura do corpo e do espírito resultante da finalização do disparo.

...

Oitavo Movimento –

Zanshin

...

Doumeki posicionou os pés. Ashibumi.

Posicionou a coluna e os ombros, se colocando em sua postura de arqueiro nato. Dozukuru.

Colocou a flecha na corda, afirmou o arco, fixou os olhos no alvo. Yugamae.

Ergueu o arco. Uchiokoshi.

Esticou a corda, concentrado. Hikiwake.

Apontou, equilibrando a mente e o corpo, mantendo a corda do arco em tensão máxima.

Kai.

Soltou a flecha, que voou célere até o centro do alvo. Hanare.

Ela atingiu o centro exato. Doumeki observou, avaliou, meditou. E respirou profundamente.

Zanshin.

Watanuki e Yuuko se levantaram, braços erguidos, comemorando o disparo perfeito que levara ao término do campeonato. Do outro lado da arquibancada, Imonoyama Nokoru, Ijyuin Akira, e Takamura Suoh também comemoravam em silêncio respeitoso. Imonoyama Nokoru usava um quimono preto e prata, os outros dois usavam jeans. Pareciam muito felizes e tranqüilos.

O que deixava Watanuki feliz, também. Quando olhava Nokoru-kun, não se lembrava dos lobos nem de nada ruim, apenas das coisas boas. Não lembrava das coisas confusas sobre os sentimentos do garoto louro por ele...

Mas o beijo que Nokoru-kun lhe dera ainda queimava em seus lábios, toda vez que olhava para... Doumeki. O que não fazia o menor sentido.

Mas tudo bem. Doumeki tinha ganhado o campeonato, e a vitória era um pouco de Watanuki também. Por isso ele sorria tanto, só por isso.

Doumeki estava cercado por colegas, e ainda iria receber a medalha, o cheque do prêmio e todas essas coisas. Yuuko sorriu, olhando para Watanuki.

– Quer ir conversar com Imonoyama-kun?

O garoto louro parecia estar tentando chegar até Doumeki, para congratulá-lo, enquanto seus amigos observavam sorrindo, meio de longe.

– Nah.

– Ele é seu amigo, não é?

– Era, mas de que adianta? Ele se esqueceu...

– Mas você não.

A lógica irrefutável de Yuuko-san. Watanuki desceu a arquibancada correndo.

Nokoru-kun e Watanuki tiveram uma conversa amigável. Falaram sobre kyudou e sobre comida, e várias outras coisas. E apesar de Nokoru não ter entendido porque aquele menino bonito e de olhos estranhos tinha ido falar com ele, o tratou com a elegância e a exuberância costumeiras, e logo estava um pouquinho apaixonado de novo.

E se apaixonou um pouco mais quando Watanuki lhe apresentou o sério e calado arqueiro vencedor da competição, e aquela mulher linda e absolutamente divertida. Viu que Watanuki amava os dois, de formas totalmente diferentes e igualmente puras. Era alguém que poderia amar todo mundo, era esse tipo de coração. Um coração que também amava Nokoru, de uma terceira forma diferente, embora o rapaz louro também não entendesse o motivo disso.

Watanuki preparava petiscos na cozinha da loja, enquanto Yuuko, Doumeki e Mokona bebiam. Em um certo momento, sentiu que Doumeki estava atrás de si, na cozinha.

– O que é?

– Toma. – Doumeki estendeu uma flecha para Watanuki.

– O que é isso?

– Eu ganhei o campeonato.

– Sabe que eu nem tinha reparado?! – Watanuki afetou surpresa, para logo se desmanchar em gritos. – Mas é ÓBVIO que você ganhou o campeonato, seu estúpido! Porque acha que eu estou aqui, de avental, preparando coisas para vocês três comerem enquanto bebem que nem umas esponjas?!

– Toma.

– O que eu vou fazer com essa droga de flecha? Porque está me dando uma coisa dessas de novo, aliás?

– Porque foi para isso que eu competi, e ganhei. – Doumeki disse calmamente, e se fez silêncio por alguns instantes. – Você deu para outra pessoa a flecha do outro campeonato que eu ganhei por você.

Watanuki sentiu as bochechas queimarem. Andava corando muito, e isso não era bom sinal. Pegou a flecha e colocou no bolso do avental, praguejando baixinho.

– Não acredito que a gente passou por tudo aquilo, que eu tive todo aquele trabalho, só por causa dessa coisinha aqui.

– Hum. Você está feliz?

– Do que está falando, agora?

– Imonoyama Nokoru-kun. Yuuko-san disse que vocês ficaram amigos de novo.

– E?

– Você vai beijá-lo de novo?

– Kya, idiotaaaa! – Watanuki jogou uma colher suja na direção de Doumeki, mas conseguiu apenas acertar e manchar de molho a parede atrás dele. Estava terrivelmente constrangido.

– Hum. Frite pastéis de creme. – Doumeki disse, e saiu.

Doumeki era a última pessoa com quem Watanuki gostaria de falar sobre romances ou sobre beijos ou sobre... qualquer coisa. Mas quando o arqueiro voltou para perto de Yuuko e Mokona, Watanuki sentiu na boca o gosto de muitas palavras não ditas.

Imonoyama Nokoru estava deitado na cama, ao lado da namorada. Olhava-a dormir, perfeita e linda como todas as mulheres. Pensava sobre sorte, sobre amigos e sobre a namorada, enquanto tentava esquecer o sonho horrível que tivera com os lobos, esta noite.

Tinha sonhos assim todas as noites, agora, e já eram parte dele tanto quanto seus amigos, tanto quanto as cicatrizes misteriosas em seu corpo e a dor que elas causavam, tanto quanto a saudade do kyudou.

Mas ele era feliz, muito, muito feliz. "Eu sou feliz,agora" Era uma frase que sempre vinha em sua mente, embora nunca se lembrasse de nenhuma época realmente infeliz.

Pelo menos, não acordado.

Agora, Watanuki tinha voltado a trabalhar e a dormir sempre em sua própria casa. Doumeki sentia muita falta dele andando pelo templo, uma falta ainda maior do que já sentia toda vez que estava longe dele. Era um pensamento simples e sincero, como Doumeki estava acostumado. Deitar e saber que Watanuki não estava dormindo ou trabalhando no quarto ao lado, acordar e saber que não havia Watanuki na cozinha. Tudo isso era um pouco doloroso demais, então, Doumeki agora o convidava para dormir no templo com uma certa freqüência.

Watanuki tinha aquele jeito dele, brigava e discutia, mas sempre aceitava. Parecia considerar que Doumeki se sentia solitário, e parecia querer ajudar.

Doumeki não imaginava que Watanuki, além desses motivos, ia porque sentia falta dele também. E que esse sentimento era um pouco doloroso demais.

Então, naquela noite, eles estavam no templo. Doumeki lia um livro qualquer, de pé, recostado na parede. Watanuki, sentado no chão, media e marcava um pedaço muito pequeno de tecido preto, desenhando nele linhas-guia arredondadas. Estava costurando luvas, mas escondia isso de Doumeki. Então, na frente dele, cuidava da luva do Mokona, que mesmo terminada, pouco pareceria uma luva.

– Ei.

– Deixa eu perguntar, Doumeki, você realmente ainda não decorou meu nome?!

Doumeki se sentou ao lado de Watanuki, no chão.

– ê tem andado com a flecha que eu dei?

Watanuki fez que sim, colocando o tecido e o material de costura de lado.

– Sempre na pasta, ou no bolso interno do casaco, ou coisa assim. Por que?

– Nada. Porque eu quero que você ande com ela, só isso.

– Sabe que eu não tenho que fazer tudo que você q...

Sua frase morreu em um instante de silêncio. E Watanuki pensou que o gosto das palavras não-ditas nem era tão ruim, se pudesse ter Doumeki assim, por perto.

A mão de Watanuki estava apoiada no chão, mas em um instante estava entre as mãos de Doumeki. Que a segurava de um jeito que era ao mesmo tempo rude e delicado, um pouco insensível e um pouco apaixonado. Seu toque era como seu disparo com o arco, e Watanuki, pensando nisso, esqueceu de protestar.

E esqueceu de empurrar e gritar quando Doumeki virou seu rosto para o dele, e quando viu tão de perto os olhos castanhos intensos. Watanuki se aproximou um pouco mais, só um pouco, para ver melhor apesar dos olhos embaciados. Talvez. A mão de Doumeki tocou seu rosto, o polegar acariciando sua boca, então tirou seus óculos.

A visão de Watanuki se tornou ainda mais difusa, e seus olhos doeram. Então, ele os fechou.

E quando os lábios de Doumeki tocaram os seus, esqueceu que não deveria corresponder a um beijo dado por ele. Esqueceu de odiar a sensação macia e quente que tocava sua boca, e também ao redor do seu corpo, com os braços fortes do arqueiro o enlaçando. Era doce se sentir assim, protegido, esse efeito que sua mente ligava imediatamente à presença, ao toque de Doumeki. Doumeki. Lembrou então de beijá-lo e abraçá-lo protetoramente, também, e de ser sincero consigo mesmo e com aquele que amava. Nem que fosse apenas dessa vez.

Então, essa era a resposta. Sempre tinha sido isso, claro. Watanuki sempre soube. Sempre, sempre, ele sabia que toda aquela proteção e dedicação que vinham de Doumeki eram, na verdade, amor. Sabia, a cada brincadeira inconveniente de Yuuko-san ou Himawari-chan. Sabia, em todas as vezes que, com o coração aos saltos, esperou Doumeki confessar isso – apenas para ouvir mais uma brincadeira sobre bentou, e respondê-la aos gritos.

Porque também sabia, já tinha descoberto que também gostava de Doumeki, há muito tempo – mas isso não tornava a presença dele mais suportável. Então levava em banho-maria e negação essa amizade ríspida que na verdade era amor, e agora tudo era esse único beijo.

Afastaram os rostos um do outro, hesitantes. Watanuki se levantou, olhos embaciados e confusos. Ia sair da sala, correndo, mas Doumeki foi mais rápido, e em um segundo se interpôs no caminho dele. Segurou o garoto pelos ombros, mas não disse nada. Quase nunca tinha vontade ou necessidade de dizer nada, ao contrário de Watanuki, que falava demais. E que já ia abrir a boca, se lembrando vagamente que deveria, sei lá, protestar e correr.

Foi calado e desarmado, com outro beijo, antes mesmo da primeira palavra de protesto. E colocou os braços em torno do pescoço de Doumeki, antes mesmo de perceber. Quando percebeu, fingiu que ainda não tinha percebido. Apenas enlaçou os dedos nos cabelos curtos e negros do arqueiro, e o puxou para beijar mais e mais. Esse beijo tão incerto quanto arrebatador, quente, com uma nota de alívio, dono de uma calma tão pouco condizente com tanta urgência.

Doumeki estava satisfeito. O coração de Watanuki era o alvo mais difícil e bonito, e o simbólico disparo final era digno de todo o esforço que seus movimentos custaram.

Era o beijo perfeito.


FIM


o/

Essa última cena deu um trabalho infeliz... eu a escrevi e reescrevi umas cinco vezes, para que ficasse no ponto exato que eu queria, ao qual os oito movimentos a levaram. Não podia não acontecer – eu tomei cuidado para que a história levasse a isso – mas não podia acontecer rápido nem melosamente demais. Espero ter conseguido...

Então, a quem for deixar review (todo mundo que ler, eu espero XD Sei que tem gente aí lendo e não comentando...), eu peço que, se puderem e quiserem, comentem esse capítulo, claro, mas também a fic como um todo e também essa última cena. Nem que só com uma única palavra pra cada coisa... XDD

E este é mais um projeto meu que vê seu final. Agora todas as minhas fics tem um 'complete' marcado. Eu sou ou não sou uma escritora confiável? XD
Espero voltar a escrever Dounuts em breve, porque eles são umas deliciazinhas... me apaixonei muito perdidamente.

Agradecimentos!
Obrigada
Hi-chan, por ser tão fofa, tão amiga, e por ter me deixado surtada com Dounuts a ponto de ter escrito minha maior fanfic até agora. Ah, e pelo presente amor-eterno XD Espero que tenha gostado mesmo da fic. E, se não gostou, tudo bem também XD
Obrigada
CrisPepper, por ter lido como sempre e gostado como sempre (ainda não decidi se é amor, falta de senso crítico, ou se ele gosta mesmo XD)
Obrigada
Anna-"Fay"-chan, por ouvir minhas chatices e responder minhas perguntas de "isso não está idiota?" XD
Obrigada mesmo
todos que leram a fic até o fim. Espero que vocês tenham se divertido bastante!
Obrigada todo mundo que deixou review:
Hi-"presenteada"-chan, Gustavo-chan, Kaza-chan, Joyce-san, Mitsuki-san, Nanda-san, Carola-san, Camis-san, vocês foram importantíssimos para que eu continuasse animada a escrever e a postar, e me deixaram tããããão feliz! Eu AMO vocês! (#agarra todo mundo com muita força e mooooorde#)

E caso alguém leia depois de agora, nem que daqui a anos, eu vou continuar aceitando e apreciando reviews! (#hearts pra sempre#)