Capítulo 1
ACCEPTANCE
Nota do Autor: Essa fanfic foi escrita para o challenge H/L e Adultério ao mesmo tempo, e CONTÉM SPOILERS DE HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS. Ela se passa cerca de 22 anos depois do sétimo ano do Harry, e é de certa forma uma seqüencia de Vindaloo Curry, embora não seja necessário ler VC para entende-la (a menos que voce queira saber como foi que o Harry se separou da Ginny, como ela ficou com o Draco, e etc). A Luna está casada, por que a Rowling declarou em uma entrevista que ela tinha se casado "mas muito depois do trio" e com o "neto do Newt Scamender". Eu dei a ele o primeiro nome de Kneazle, que é Amasso em inglês, de acordo com "Fantastic Beasts and where to find them".
Como em Vindaloo Curry, o título da Fic – e sua sinopse – vem de um episódio de House MD (terceiro episódio, primeira temporada). Seguindo a linha de Vindaloo Curry, os capítulos têm títulos de diversos episódios da série.
Agradecimentos: A A. Mira Black, que me inspirou inicialmente com sua proposta pro chall H/L, a Just e a Aldara, que tornaram a fic consistente com seus itens maravilhosos. A Tray, minha beta e parceira em Vindaloo Curry que usou toda sua criatividade e escrita pra me auxiliar com alguns dos diálogos da fic, sobretudo os que envolviam Lily e Scorpius, nossa querida caixinha. A gutenha e Alix, sempre estimulando a continuar a história, com seus comentários nada construtivos mas hilários, a Prica, melhor ex-namorada do mundo me deixando abusar do espaço dela em sua wiki, a Luiza e ao DNA por me ensinarem tudo que sei sobre algemas, e sempre ao Macarrão por roubar completamente meu tempo, me impedindo de escrever, mas sempre auxiliando as NCs a saírem decentes risos. E ao Arthur, claro, por resolver acordar nos MELHORES momentos. Ahh, e claro, a Pichi por ter mandado a fic pra Mira, e dado xiliques constantes no meu e-mail, quase me enlouquecendo quando eu começava a receber e-mails simultâneos dela, da Tray e da guta como se a fic não estivesse sendo escrita online hahahaa. Ah, e claro, ao David Shore. Por que ele sempre merece.
Havia algo de curioso naquele dia. A maneira como ela o olhou e sorriu, como se soubesse perfeitamente bem que ele estava ali apesar de estar tentando desaparecer nas sombras. Tinha deixado a capa com seus filhos, confiando que fariam melhor uso em Hogwarts do que ele, mas se arrependia naquele mesmo momento. Ela vinha andando claramente em sua direção, o vestido azul da mesma cor dos olhos e o cabelo arrumado de uma forma que raramente vira antes. Quando o casamento era com ele certamente não tinha tido tanto cuidado em não ser excêntrica.
Ela sorriu para ele, ainda próxima. Não parecia ter passado dos trinta anos e, apesar de a guerra ter endurecido sua personalidade, ainda havia algo de sonhador naqueles olhos. Notou que parecia muito mais feliz do que quando era ele o noivo e chegou a se perguntar se só Ron o preferia em relação ao novo marido de sua ex-mulher. Nem seus filhos pareciam se importar tanto assim: Lily estava encantada com a nova casa (não queria pensar no que mais poderia ser), Albus fascinado com o fato de se tornar como irmão de seu melhor amigo e James, do alto de seus quinze anos, eventualmente tinha dito que era melhor que fossem felizes separados que infelizes juntos.
No começo, Harry achou que tinha sido a partida dos filhos que tinha destruído seu casamento. Quando Lily finalmente entrou em Hogwarts apenas para se juntar ao irmão mais velho na Grifinória e implicar com Albus, que tinha ficado na Sonserina, parecia que Ginny finalmente começara a se incomodar com a notoriedade do marido. Com o tempo que passava fora de casa. Com como passava tempo com Ron e Hermione. Com como ficava introspectivo às vezes. Tinha se culpado e pensado que tinha expulsado a esposa de sua vida, mas meses depois as coisas ficaram muito claras. Não tinha sido a partida de Lily, e sim a morte de Romilda Malfoy após quase um ano de doença, que colocara um ponto final no seu casamento.
Só podia desconfiar há quanto tempo haviam sentimentos reprimidos entre Ginevra e o maldito Malfoy. Décadas, provavelmente. Ela garantiu que jamais o traíra. Ele acreditou — tinha que acreditar para ter um mínimo de sanidade mental. E agora se escondia nas sombras da grande Mansão Malfoy para observar a caminhada de sua ex-mulher para a felicidade nos braços de outro homem.
Ninguém, nem mesmo Ron, tinha olhado duas vezes para o canto escuro onde se encostara. Mas Luna tinha visto, e seus passos lentos eram uma linha reta até seu esconderijo. Ele lembrou, conseguindo achar um pouco de graça em algo, que no primeiro casamento que fora na vida ela o tinha reconhecido apesar de estar usando a Poção Polissuco. "É a sua expressão", dissera. Ele a recebeu com uma tentativa de sorriso, que o fez parecer mais ter dor de dente do que realmente sorrir, mas a mulher sorriu de volta de qualquer forma.
— Olá Harry — ela falou levianamente. — Que bom que você decidiu vir. Ginny estava com medo que você não viesse e isso fizesse as crianças se sentirem culpadas.
— Isso é tudo que importa? Que os meus filhos não recriminem a atitude dela?
— Você gostaria de viver com ela a vida inteira a fazendo infeliz? — perguntou com um olhar penalizado.
— Não é isso — respondeu, balançando a cabeça, mas ainda irritado. — Era de se imaginar que depois de vinte anos comigo ela ao menos tivesse me convidado porque me queria aqui, e não porque estava com medo da reação das crianças.
— Não seja idiota, é claro que ela quer você aqui — respondeu, muito séria. — Ela e Narcissa bateram o pé firmemente quando Draco sugeriu não te convidar. Acho que ele estava preocupado com você fazer uma cena.
— Covarde — murmurou entre os dentes.
— Narcissa ainda é muito grata a você — falou a loira, sem razão aparente.
— Bom, eu também ainda sou muito grato a ela.
— Não seja egoísta, Harry — lembrou Luna antes de sair do salão novamente.
O salão estava cheio de bruxos e bruxas sentados em cadeiras prateadas. A música começou a tocar e logo pôde ver um Arthur parecendo levemente embaraçado enquanto trazia Narcissa Malfoy pelo braço, e Molly claramente corada enquanto entrava atrás dos dois de braços dados com Lucius Malfoy. Ele viu Hermione ralhar com Ron, que olhava de cara feia para a procissão. Independente de gostar ou não das decisões da cunhada, Hermione claramente as respeitava.
Blaise Zabini, que aparentemente era o padrinho do casamento, estava ao lado de Draco no altar. Neville veio de braços dados com Luna pela lateral e acenou a cabeça gravemente para Harry quando a mulher o apontou discretamente. Ele se perguntou onde estaria Kneazle por um momento, costumava largar tudo para compromissos sociais, mas não o via em lugar nenhum. James olhou também e deu um sorriso encorajador, mas Albus e Scorpius não pareciam estar prestando atenção. Pelas histórias que Neville contava, os dois meninos eram como uma reencarnação de James Potter e Sirius Black na escola, embora o amigo costumasse os comparar a Fred e George.
E então ela veio. De braços dados com Bill, como tinha escolhido, em um belo vestido branco. Parecia ainda mais bonita do que estivera quando se casaram. Mais feliz. Mais realizada. Todos estavam de pé, observando a noiva caminhar para o altar com passos lentos e firmes, os olhos brilhantes visíveis mesmo através do véu. A tiara que Muriel não tinha querido emprestar no primeiro casamento — alegando que nunca mais a emprestaria porque os Weasley tinham ficado mais de seis meses com ela depois do casamento de Fleur —, agora era de Molly e enfeitava o cabelo preso da noiva.
Atrás dela, Rose e Lily vinham. Era muito mais simples vestir duas meninas que tinham a mesma cor de cabelos do que tentar combinar o cabelo absurdamente vermelho de Victoire com os negros da filha de Percy. Ele sabia que poucas cores ficavam tão bem em ruivas quanto verde, mas a combinação das duas com as cadeiras prateadas era tão claramente sonserina que se sentiu desconfortável.
Desviando o olhar, viu novamente a ex-mulher. Ela parecia completa e absurdamente feliz, e Bill levantou seu véu para dar um beijo em sua testa antes de abaixá-lo novamente, apertar a mão de Draco e sair para seu lugar na primeira fila ao lado de Fleur. A francesa parecia absolutamente radiante. Ele se perguntava por que só ele tinha sido infeliz no casamento. Tão infeliz que Ginny preferiu passar por todo o complicado processo de procurar todas as testemunhas ainda vivas — todos os bruxos e bruxas que estavam na cerimônia — para realizar os complicados feitiços que desfaziam o laço entre os dois.
Não pôde deixar de notar que havia ainda mais convidados do que em seu casamento. Era como se Malfoy quisesse garantir que ela teria muito trabalho para conseguir se separar dessa vez — ou como se ela quisesse garantir o mesmo, pensou. O bruxo que presidia a cerimônia estava falando, mas não conseguia prestar atenção. Meramente encarava a cena à sua frente com um estranho desligamento, como se aquilo não estivesse acontecendo com ele.
E foi com alguma surpresa que viu a chuva de estrelas sobre o casal, o sorriso no rosto de Ginny, a prova de sua felicidade. Tão diferente do olhar de determinação que ela tinha no rosto quando o beijou. As mãos dela estavam no cabelo dele enquanto Malfoy segurava sua cintura possessivamente. Os aplausos quase o ensurdeceram e as cadeiras foram movidas de lugar. A música começou a tocar levemente e o noivo e a noiva seguiram para o meio da pista para dançar sozinhos. Estavam mais abraçados do que dançando, na verdade.
Harry se sentiu estranho. Era simplesmente errado vê-la nos braços de outro homem, mas era muito diferente do que tinha sentido ao ver a menina aos beijos com Dean em um dos corredores. Logo Arthur e Molly estavam deslizando pela pista, tentando não demonstrar o quão surreal achavam a decisão da filha, enquanto Lucius e Narcissa não pareciam se importar com a estranheza da situação. Viu Michael Corner levar sua esposa, Cho, para a pista, enquanto James parecia encantado com a perspectiva de dançar com a filha mais velha dos dois. Victoire dançava com o pai, enquanto a mãe dançava com George.
Harry ficou um pouco surpreso quando viu Luna chegando perto dele e o puxando pela mão. Ele a seguiu, sem realmente pensar no que estava fazendo, várias memórias de casamentos se misturando em sua mente. Via Ginny dançando com ele no casamento de Ron e Hermione, Molly chorando no seu casamento, os olhos opacos de Ginny enquanto mantinham as aparências comparecendo ao casamento de Draco e, principalmente, Luna dançando sozinha no casamento de Bill e Fleur. Agora ela estava mais velha, o vestido amarelo trocado por vestes formais azuis, mas havia algo em seus olhos que era o mesmo.
A mulher pousou sua mão em seus ombros e ele automaticamente segurou sua cintura, movendo-se lentamente ao som da música. Hermione lhe sorriu e Ron fez uma careta. Ele riu e Luna o olhou estranhamente. Ginny e Draco não pareciam ter reparado no casal ao lado. Era como a sensação de tentar mover uma perna com câimbra.
— Não há nada que você possa fazer para mudar — a voz de Luna falou leve perto de seu ouvido. — E ela está feliz.
— Sem dúvidas — ele respondeu, tentando desviar os olhos. — Sem um pingo de dúvida, ela está feliz. Eu só queria saber por que eu não a fazia feliz assim.
— Você devia perguntar isso diretamente para ela. Mas eu não diria que você nunca a fez feliz. Só é... Diferente.
— Diferente como? — perguntou, olhando diretamente nos olhos de seu par.
— Era simples, era fixo, era um costume. Você sempre foi mortalmente previsível, não apresentava um desafio para ela. E você conhece Ginny, ela não gosta de ficar sentada esperando as coisas que sabe que vem. Ela gosta de tentar, de lutar. Ela precisa de desafios.
— E quando ele não for mais um desafio? — perguntou, piscando.
— Eu não esperaria por isso, se fosse você — respondeu, rindo. — Eles dois são como... Fogo contra gelo. Completamente opostos, mas ambos capazes de queimar.
— Eu não acho que vá durar.
— Vamos ter que esperar para ver, não é? — perguntou Luna, ainda sorrindo. — Como eu já disse, as pessoas também não acreditavam que existia um Blibbering Humdinger.
Harry não pôde deixar de rir ao lembrar que mais ou menos cinco anos antes tinham sido descobertos evidentes filhotes do fatídico animal. Ele e Ron tinham decidido não falar nada para Hermione e demorou mais de uma semana até que alguém tivesse coragem de mostrar para ela as notícias e as fotos dos bichos. Não que ela tivesse acreditado, precisaram levar a garota até a exposição para que percebesse que existiam afinal.
— E, no final, também havia aurores envolvidos na tomada do Ministério — relembrou ele enquanto paravam de dançar e andavam para fora do salão. — Seus palpites costumam ser bons.
— Assim como os seus — ela respondeu, mexendo a cabeça em direção ao canto em que estivera escondido, onde podia observar os cabelos compridos de Victoire aos beijos com alguém que ele sabia ser Teddy.
— Acho que nunca mais vou conseguir namorar. Eu sempre fui péssimo nessas coisas.
— Você não é tão ruim. Mas, ah, você foi o primeiro cara com quem eu saí, então é difícil comparar. Nunca ninguém tinha me chamado para uma festa, como amigo, lembra?
— E você me perguntou se devia arrumar sua sobrancelha para a festa — ele respondeu, sorrindo. — E Pirraça saiu cantando pelos corredores.
— E as meninas estavam esperando que você me beijasse debaixo do azevinho. Honestamente, elas deviam ser cegas. Ginny estava esperando que você me beijasse, também.
— Nem me passou pela cabeça — ele falou honestamente. — Eu já estava apaixonado na época.
— Por Draco? — perguntou a loira, rindo. — Você saiu logo atrás dele, lembra? Era uma piada normal entre mim e Ginny, que você estava obcecado por ele.
— Isso ofende minha masculinidade — falou, afastando-se, mas ainda sorrindo.
— Bem, você vivia falando nele, e isso é verdade.
— Mas eu estava certo. Ele estava aprontando algo.
— Eu não disse que não tinha motivos — ela riu novamente. — Estou apenas dizendo que fazíamos piada.
— Eu também fazia piada com você, no começo — confessou. — Mas não depois que você e Neville foram conosco tentar salvar Sirius, nem nunca depois disso. Sua coragem foi admirável.
— Você era admirável como um todo — ela respondeu, agora séria. — E por isso eu achei que valia a pena.
Ele fez carinho no cabelo dela por um instante, antes de pousar a mão em seu rosto. Ela olhou para cima e riu.
— Visco.
— Eu deveria me preocupar com os Nargulés?
— Provavelmente — ela respondeu, ainda sorrindo. — Eles costumam estar infestados.
— Foi o que eu disse antes do meu primeiro beijo.
— Aposto que Cho continuou chorando. Eles têm esse efeito, os Nargulés.
— Ao menos você não está chorando — ele respondeu em um sussurro.
E, como se o mundo estivesse em câmera lenta, os olhos arregalados de Luna estavam encarando os dele, ela parecia não se mexer de tanta tensão enquanto ele abaixava a cabeça devagar. Luna fechou os olhos e por um instante ele a viu, vulnerável, antes de fechar os olhos também e a beijar. Definitivamente, havia algo de curioso naquele dia.