AVISO1: Isto não me pertece. Os personagens e algumas referências foram retirados de livros de JK.
AVISO2: Esta fic contém cenas de sexo explícito entre homens. Se não te apetece a imagem, não leia.
Capítulo 3 – Conhecendo
- Karol! Hei, Karol!
- Ah! Oi, Harry! Tudo bem?
- Tudo. Preciso de um favor. Já está indo embora?
- Bem... Meu expediente já acabou... Acabei de entregar a edição de hoje para a impressão... Mas o que foi?
- Eu preciso descobrir quem é uma pessoa. Tipo, é um ex-colega de escola, mas ele está trabalhando aqui e eu quero saber com o quê. Sabe, descobrir onde posso encontrá-lo e desde quando ele está aqui e se vai ficar muito tempo e tal. Ele é importante na Inglaterra, acho que não vai ser muito difícil você conseguir contato com ele.
- O que você já tem sobre ele?
- Bem... Nome, fotos e informações desatualizadas.
- Nome e foto primeiro.
- Draco Malfoy. – Harry disse, entregando algumas das fotos feitas na igreja pra jornalista.
- Malfoy! Claro! Ele é o dono de uma empresa de arquitetura de renome. Foi fundada por ele mesmo há uns dois anos e conseguiu projeção internacional de forma surpreendente. Ele reúne profissionais de diversas nacionalidades a fim de mesclar estilos. Fez um trabalho muito interessante em um prédio na Itália. Mas eu não sabia que ele estava aqui. Essa é uma informação importante... – ela anotou em uma caderneta.
- Nada de contatos, então?
- Ah, desculpe, Harry, mas por enquanto não tenho nada... Tenha certeza que vou averiguar... Bonito ele, não? Meio... sério demais. Mas agora entendo porque você nunca quis sair comigo.
Karol era a húngara mais receptiva que Harry conhecera desde que chegara ao país, mas aquele comentário o surpreendera de forma desconcertante.
Então Draco Malfoy era arquiteto. Uma profissão tão... trouxa. Mas se encaixava com o deslumbramento dele analisando a igreja. E Harry duvidou que ele se restringisse a isso. E duvidou certo. Foi só pesquisar um pouco e mandar umas corujas que teve a confirmação que a empresa de Draco Malfoy era maior ainda no mundo bruxo. Por que ele sairia para se arriscar com os trouxas, então? Mesclar estilos e proporcionar total integração entre as duas arquiteturas – era o que dizia a propaganda da empresa.
Integração. Draco Malfoy propondo integração entre algo bruxo e trouxa! E pior! Cada vez mais influente nos dois mundos. Harry sabia que Malfoy se tornaria um homem poderoso, independente do que acontecesse na guerra. Primeiro, pela própria força do nome. Segundo, mesmo que o nome se desgastasse, havia aquela técnica toda Malfoy de rebaixar e influenciar ao mesmo tempo. E, se ele não havia rejeitado de todo os seus antigos ideais, pelo menos estava fingindo bem, pois a cultura trouxa realmente fora incorporada em seu trabalho.
Pesquisando sobre Malfoy, Harry constatou algo importante sobre si mesmo. Ele havia se afastado do mundo bruxo. Sim, ele já tinha isso claro antes. Mas agora ele via que ele havia se afastado demais do mundo bruxo. E sentia falta. E, acima de tudo, se sentia sozinho. Mas não tinha certeza se valeria a pena voltar. Talvez um dia. Ainda não.
Mas tudo aquilo o perturbava. Descobrir quem Draco Malfoy era significava mais do que trazer lembranças e fantasmas de volta. Significava se expor. Ele deixara o outro partir sem nenhuma garantia de que ele manteria segredo sobre sua localização. E sem nenhuma garantia de que fosse voltar.
Aquele convite passou a significar a volta de tudo.
E foi por isso que, quando Harry viu o brilho dourado atravessar a rua duas semanas depois, sentiu o ar faltar.
Draco Malfoy chegou do outro lado da rua e buscou seu apartamento com o olhar.
- Posso subir? – perguntou, despreocupadamente.
Harry acenou com a cabeça que sim, segundos depois ouviu a porta bater e sentiu, mais do que qualquer coisa, o outro se encostar à porta da varanda e esperar ele bater a foto do pôr do sol antes de se aproximar para cumprimentá-lo. Harry recebendo a mão estendida pela primeira vez na vida. Draco Malfoy tinha dedos frios e um pesado anel de ouro com um brasão brilhava em seus dedos.
- Isso é tão clichê. – comentou Draco, vendo o moreno preparar a máquina novamente – Não esperava que um fotógrafo profissional como você se ocupasse com fotos de pôr do sol.
Harry sorriu, ciente de que não fora o único a fazer pesquisas.
- Ora, mas clichê não seria a repetição de uma idéia? Como você pode dizer que toda essa explosão de cores é clichê? Como algo que muda todos os dias pode ser clichê? O mesmo acontece com as pessoas. Todas elas são iguais, se você for parar para pensar. E você cruza com tanta gente na rua que mal dá vontade de olhar na cara... Mas cada um tem suas particularidades. Cada um tem seus traços mais marcantes, suas características mais brilhantes. Assim como há um pôr do sol mais bonito que o outro. E o de hoje está particularmente lindo, clichê ou não.
Harry voltou-se para olhá-lo e Draco olhava o horizonte sorrindo. Um sorriso novo.
- Você fala de cores como eu costumo falar de ângulos. Eu olho para esse pôr do sol e vejo mais linhas do que eu jamais vou conseguir traçar. É como um diamante trabalhado. Cada face, cada entalhe, feito com o cuidado de um artesão, que trabalha sem desperdiçar a pedra. Da mesma forma, todo esse jogo de cores contrasta com frio do céu em um equilíbrio perfeito. Detalhes o suficiente pra enternecer, sem deslumbrar. Como a madeira sobre o granito. – ele riu para si mesmo e voltou a olhar para Harry – É... Acho que eu gosto de pôr do sol, no fim das contas.
- E de pedras. E de frio. – Harry mordeu o lábio antes de continuar – E eu fico me perguntando se todas essas paredes não te impedem de olhar mais para o sol.
Draco suspirou e voltou a fitar o céu.
- Eu não vejo o sol desde muito antes daquela guerra terminar. – disse, a voz triste, olhando diretamente para Harry, que não desviou o olhar, e o silêncio que pairou entre os dois enquanto o sol baixava era o vácuo de um passado compartilhado.
- Você... Bebe alguma coisa? – Harry perguntou, quando se deu conta de que ainda sabia respirar.
Draco concordou com a cabeça e os dois voltaram para a sala.
- Fique à vontade. – Harry disse e foi para a cozinha.
Draco tirou o sobretudo e colocou sobre a poltrona, observando o ambiente com mais atenção. Voltou-se pra parede de fotos, olhando uma por uma. Potter tinha razão. Rostos tinham uma beleza própria.
- Eu só tinha vinho, café e água. Espero que goste de tinto.
Draco sorriu meio de lado e aceitou a taça que o outro lhe oferecia.
- Decidiu posar? – Harry perguntou, se servindo também.
- Ainda não. Eu queria ver mais fotos suas.
Harry deu de ombros e fez um gesto displicente com a varinha. Uma caixa apareceu voando até pousar aos seus pés.
- Essas são fotos mais recentes. As suas estão aqui no meio.
Ambos se sentaram no sofá e Harry começou a espalhar algumas fotos pela mesinha de centro. Draco observava a caixa quase cheia.
- Potter, você já ouviu falar de álbum?
- Eu cheguei a comprar alguns, mas minha velocidade para fotografar ultrapassava a minha velocidade para encaixar as fotos nos plásticos. E, em geral, elas são para admiração própria... As do jornal são mais organizadas... Eu me entendo melhor com elas assim.
Draco sorriu e pegou algumas fotos na mão.
- E os fotografados não reclamam? – ele perguntou, examinando uma de um grupo de meninos brincando na rua.
Harry o olhou por um momento, um sorriso brincando em seus lábios enquanto via o loiro girar a foto a sua frente, a olhando com a testa enrugada, até chegar ao cúmulo de chacoalhar o papel, como se esperasse que ele fizesse algum barulho revelando seu conteúdo. Harry não agüentou e caiu na gargalhada. Quando ele conseguiu se controlar, encontrou um Malfoy de braços cruzados, o encarando visivelmente raivoso.
- Acabou?
- Desculpa, Malfoy. Mas é que... São fotos trouxas...
- Mas a sua câmera é mágica.
- Na verdade, não existem câmeras mágicas e trouxas. São todas iguais, pois o processo de fotografia é físico. O que diferencia as fotos é na hora da revelação. Algumas máquinas bruxas têm o revelador na própria câmera, e a foto sai na hora, o que não é o caso das minhas. E eu revelo poucas fotos com poções porque elas realmente não gostam de ficar em caixas, e fazem muito barulho, daí eu tenho mais trabalho para guardá-las. E eu gosto de fotos estáticas. Gosto de poder olhar o momento, sem me preocupar com a opinião do fotografado, ou se ele vai se esconder na moldura pelo resto da eternidade.
- Deixe-me ver as minhas.
Harry remexeu na caixa, tirando um envelope onde estavam separadas as fotos de Draco.
- Por que estão assim?
- Assim como?
- Separadas?
- Eu estava olhando muito, tentando te reconhecer... Deixei assim para ficar mais fácil de achar...
Draco começou a espalhá-las por cima das outras sobre a mesa, as observando com atenção. Harry capturava muitos detalhes nas fotos do mercado. E a luz estava mais quente. Realmente, em muitas ele tinha um ar diferente... Parecia mais... abandonado. Solitário. E meio... andrógeno.
Ele não gostou muito e pegou as fotos da igreja. Estavam mais escuras. Foram feitas mais de longe e o pegavam, em geral, de corpo inteiro. O cenário aparecia mais e toda a sua expressão de contemplação era muito evidente.
- Eu gostei dessa.
Draco apontou uma de corpo inteiro em que ele estava parado, encostado em uma coluna, observando o altar de forma quase distraída.
- Eu gostei dessa.
Harry apontou uma outra, de corpo inteiro também, de costas, em que ele andava no corredor entre santos, as mãos no bolso da calça. Um vento bateu e fez seus cabelos e o sobretudo voarem para trás.
- Não... Meio Super-man.
- Ele não é um herói trouxa?
- Me pediram para fazer um prédio com um globo igual àquele do jornal onde ele trabalha. Tive que assistir a alguns vídeos dele. – o loiro confessou.
Harry deu de ombros, voltando a se concentrar nas fotos.
- Por que você gostou da outra?
- Sei lá... Eu estou... Comum. Acho que nunca ninguém me fotografou assim, distraído. Tipo, só um cara encostado em uma coluna, sabe?
- Eu disse que teria uma visão pura sobre você.
Draco sorriu, pegando outras fotos na caixa, passando rápido em sua mão e separando algumas, que voltou a observar. Crianças, velhos, algumas de partes, como mãos e pés, objetos, muitos da própria casa de Harry que ele fotografava para se distrair.
- Essa moça me lembra a minha mãe quando era mais nova.
Harry se aproximou para observar a moça séria sentada à beira do Danúbio, olhando os carros passando na ponte movimentada ao fundo, o vento brincando com os longos cabelos loiros.
- Sua mãe não é tão evasiva... Ela teria uma pose mais arrogante...
- Não fale mal da minha mãe, Potter. – Draco respondeu com a voz um pouco mais baixa.
- Não estou falando mal dela. Ela salvou minha vida, Draco. Eu a admiro. Ela é corajosa e inteligente, além de uma mulher muito bonita, quando não está tentando manter aquela pose estranha... Mas, enfim... Você tem muito dela.
Draco o olhou com mais atenção.
- Acho que você é a primeira pessoa que me fala isso. Todo mundo diz que eu sou a cara do meu pai.
- Falam isso de mim também, tirando os olhos... E às vezes é um saco, né? – Draco riu e Harry continuou - Mas, sério... Tipo, não sei se é porque eu tenho uma certa birra com seu pai por ele ter tentado me matar assim, mais diretamente, e sua mãe ter me ajudado, mas é fato que eu te relaciono mais com ela. Você não consegue ser tão frio quanto seu pai, se envolve mais com o que te cerca, assim como sua mãe... Sem falar que... Sei lá... Acho que você tem os traços mais delicados mesmo... Tirando os olhos, claro, você tem muito dos Black.
- E o que você sabe dos Black, Potter? – perguntou Draco, mais displicente, enchendo novamente sua taça e voltando a pegar mais fotos.
- Bem, meu padrinho era um Black e eu vivi na mansão dos Black por um ano, e hoje ela me pertence. Acho que dá para ter uma idéia do que é um Black.
Draco o olhou por um tempo, antes de voltar sua atenção para as fotos.
- Você gosta de lá?
- Não. – a resposta foi mais seca do que Harry esperava.
- Não... Eu supus que não gostaria.
- Supôs?
- Bem... Não é difícil um Grifinório não gostar de uma casa enorme e fria cheia de cobras entalhadas e com tapeçarias milenares como decoração, não?
- Você já esteve lá? – Harry perguntou, espantado. Draco riu.
- Não lá. Mas mansões de famílias bruxas puro sangue tendem a ser parecidas.
Harry o olhou por um momento. Perguntar se Draco gostava de um lugar como aquele parecia meio idiota... Era a casa dele.
- Bem... Eu gosto de cobras. – ele tentou compensar.
- É mesmo... Eu tinha quase esquecido... – Draco deu um sorriso malicioso – Você é um grifinório que conversa com cobras. Não sei como não nos demos bem antes.
- É que nunca paramos para conversar.
- Bem... Eu tentei... Ou vai negar que um dia eu te estendi a mão?
- Você não me estendeu a mão em um gesto de amizade, Draco, aquilo foi quase um acordo de cooperação mútua. Você me viu como uma oportunidade. Da primeira vez que nós conversamos, você nem me notou. Você mal me olhou! Tanto, que não me reconheceu quando me viu no trem.
- Da mesma forma que você não me reconheceu agora. – Draco respondeu sério.
Os dois se encaram em silêncio. Harry queria dizer que era diferente. Que Draco não o reconheceu porque viu nele uma imagem, e não o menino que ele encontrou na Madame Malkin. E que aquela atitude o fez odiá-lo a ponto de mudar a decisão do chapéu seletor sobre que casa colocá-lo. Mas então ele percebeu que também tinha uma imagem de Malfoy, e que ele não o havia reconhecido, pois não procurou no homem do mercado essa imagem. Era somente um homem. Assim como ele era somente um menino.
- Gostar de cobras não te faz gostar mais da Mansão Black. – Draco desconversou, sentindo a tensão aumentar, voltando a examinar as fotos.
- Não... – Harry começou, ainda zonzo com a linha de seus pensamentos – Não... Era muito escura...
- A Mansão Malfoy é clara. Muito mármore e madeira. Mas eu acho que não é esse o problema. As pessoas é que são frias demais. É como se o lugar as doutrinasse a serem tão imponentes quanto ele. Não que eu não goste da minha casa... Foi o lugar onde eu cresci, entende? Onde eu vivi com meus pais...
Draco mordeu o lábio um momento, fitando as fotos a sua frente sem realmente olhar, antes de voltar a falar.
- É como se você não tivesse o direito de chorar sem se importar que alguém esteja vendo, entende?
- Eu já vi você chorando. – Harry disse baixinho, com medo do que viria.
Draco virou o rosto e respirou fundo, fitando a taça em suas mãos, antes de virá-la em um movimento rápido. Harry sabia no que ele estava pensando. Sabia que não era mais sobre a mansão e sangues puros. Sabia que era perigoso falar sobre isso.
- Eu nunca quis te matar, Malfoy.
A resposta ainda demorou um tempo pra vir, e quando veio, veio baixa.
- Eu sei. – o silêncio tomou seu lugar entre os dois por alguns instantes, antes que o loiro pudesse continuar – Naquele dia eu não sabia. Eu te odiei. Eu te odiei tanto, Potter. Primeiro, porque eu não poderia ter me exposto daquela forma, ainda mais para você. E segundo, eu... Eu acho que eu já não tinha certeza sobre o que eu queria. Eu estava com medo... Eu queria salvar minha família e fugir... Sumir... Esquecer aquela porra de guerra... E eu estava preso... Preso ao Lord e aos ideais que... que... – Draco olhou pra ele – Eu desejei que você vencesse. Desejei que você acabasse com toda aquela merda logo... Acreditei, nem que fosse com um mísero de força, que você realmente podia fazer o que fez, e quis que você fizesse. E então, você veio e me retalhou. Eu me senti traído, de algum modo... Mas, ao mesmo tempo, eu também precisava disso... Eu precisava matar Dumbledore e estava me sentindo fraco. Saber que você havia traído a minha confiança... Me sentir um pouco vítima do seu lado da guerra também, me fez querer continuar... Ir... Até o fim...
Harry engoliu em seco e sua voz tremeu quando ele recomeçou a falar.
- Malfoy... O que eu fiz com você foi o mais próximo que eu estive em toda a minha vida de me tornar um assassino de verdade. Mesmo quando eu matei Voldemort, o feitiço não saiu da minha boca. Eu não queria fazer aquilo, Draco. Eu não sabia o que aquele feitiço fazia e eu não queria te ferir tão profundamente...
- Eu sei, Potter. Eu sei. Hoje eu sei. Você me salvou três vezes em um único dia durante a última batalha. Você entrou em uma sala em chamas pra me tirar de lá. Você fez de tudo pra livrar a mim e a minha família de uma pena mais severa depois da guerra. Você quase chorou de desespero em cima do meu corpo naquele banheiro. Depois disso tudo, eu não podia continuar acreditando que você queria realmente me matar, podia?
Harry o examinava com atenção. Não saberia dizer qual era a parte de culpa do vinho naquela conversa, mas podia afirmar que o loiro parecia ter demorado tempo demais para poder lhe dizer aquilo tudo. E, de certa forma, sentia seu peito mais leve também, embora respirar ainda parecesse difícil.
- Não, Draco. Não podia. – respondeu com um fio de voz, observando o outro baixar a cabeça e voltar a analisar as fotos, antes de virar a própria taça e voltar a enchê-la.
Ficaram em silêncio por um longo tempo, até Draco sorrir e se voltar para ele novamente, comentando sobre as fotos.
- Você gosta de crianças.
- Elas sorriem fácil. – Harry deu de ombros – E gostam de serem fotografadas, em geral.
- Ham... Isso é raro.
- Eu que o diga.
Draco o olhou e o sorriso malicioso voltou ao seu rosto.
- Potter, você é a pessoa com mais publicidade que eu conheço, depois do Ministro da Magia. Não é pos...
- Você mesmo tem mais publicidade que eu hoje em dia, Malfoy. Não vê que é desse tipo de coisa que eu fujo?
Draco o encarou por um momento, antes de voltar às fotos.
- Realmente dá trabalho esse lance de publicidade. Cansa.
Harry revirou os olhos com o comentário artificial do outro.
- Pois eu sempre jurei que você tivesse inveja de mim.
- Não... Eu não tinha... Eu tinha tudo o que eu queria: dinheiro, amigos, família... Potter, por que eu ia invejar um cara ferrado como você? Para sair no jornal e ter aquele monte de gente enchendo o saco em cima de mim? – Draco tomou mais um gole de vinho e ficou repentinamente sério – Bem... Talvez hoje eu tenha um pouco de inveja...
- Sério? De quê? Eu não tenho mais nada!
Draco o olhou por alguns segundos antes de responder.
- Você pode ser só você, Harry. Não precisa manter uma imagem. Muito menos uma imagem de quem você não é. Você conseguiu se livrar disso. E eu invejo você.
- Você está sendo contraditório, Malfoy.
Draco deu um risinho contido.
- Faz parte. Representações têm esse direito. E é isso que eu sou hoje.
- Eu não vi uma representação no mercado.
- Não. Talvez não... E por isso não me reconheceu. Você já me conheceu como a representação de um nome, Potter. Depois me viu, como tantos outros, como uma representação do meu pai, e me odiou por isso. – Draco sorriu mais sincero do que Harry jamais o viu sorrir – Fico feliz que não o suficiente... Mas meus rótulos continuaram depois que você sumiu e a guerra acabou. Eu tentei ser algo só meu, mas cresci demais. Virei uma marca, a representação de um cargo, de uma empresa. Eu nunca fui simplesmente eu. Nunca simplesmente um loiro andando na rua. – Draco o olhou profundamente – Ou parado numa igreja.
Ouve uma pausa. Um momento de contemplação mútua, em que ambos se perceberam como seres despidos de títulos.
- Eu gosto do jeito que você me olha, Harry. E foi por isso que eu voltei aqui. Acho que eu quero que você registre isso.
- Tudo bem. – Harry tentou parecer seguro, mas algo falhou na sua voz.
- Mas tem um porém. Essas fotos, não importa como saiam, são minhas. Eu não quero cópias. Eu não quero publicações. Eu ainda sou um homem público, Potter.
- E sua imagem não pode ser manchada pelo que você é. – Harry completou, mordaz.
- Exatamente. – concordou Draco, frio.
- Eu sou um profissional, Malfoy. Sei atender os meus clientes.
- Certo, Potter. E onde é o seu estúdio?
- Há algumas quadras daqui. Mas eu não quero te levar lá. Tenho um lugar melhor, que eu acho que vai ser perfeito. Vem cá.
Harry se levantou e Draco o seguiu. Atravessaram a pequena sala e um corredor com duas portas.
- Aqui é o laboratório. – Harry indicou a porta lateral – E aqui, minha biblioteca. – ele abriu a porta de madeira escura a frente, deixando Draco passar.
O aposento não era muito grande. Havia uma mesa fina e comprida, de uns três metros, que ocupava uma das pontas. Em cima, um computador, papéis jogados, uma bandeja com uma cafeteira e um pote de bolachas, luminárias e painéis com fotos espalhadas. Atrás da mesa e por toda a parede à esquerda, se estendiam prateleiras de acrílico repletas de livros. Na parede da direita, quadros. Ao fundo, nada, somente um sofá encostado e uma luminária. Mas o mais interessante era a limpeza visual do ambiente. Tudo era branco, preto, metálico ou transparente, exceto os livros. Os móveis eram angulares e as lamparinas emitiam uma luz branca e fria pela sala.
Harry fez alguns gestos com a varinha, levando o sofá e a lamparina para perto da mesa e movendo dois conjuntos de prateleiras, de forma a ficar com um canto da sala composto somente por paredes nuas.
Draco andou pelo ambiente, examinando as paredes, parecendo intimidado pelo vazio. Então se voltou e olhou para Harry.
- Achei que você não precisaria de cenário. E a luz aqui é boa. Quero fotografar você, e só você.
Um sorriso brincou nos lábios de Draco. Ele deu de ombros.
- Então... Cadê a câmera?
- Já vou buscar. É que... Normalmente, se fosse qualquer outra pessoa, eu iria sugerir que você tirasse o casaco e poderíamos começar. Conforme você se acostumasse comigo, com a câmera, se libertando mais, eu poderia fazer esse pedido ou ir te conduzindo a ele aos poucos. Mas eu te conheço o suficiente para saber que não conseguiria com você. Por isso vou ser direto, Malfoy. Eu quero que você pose para mim. Pose como você. Só você. Nu.
- Nu? – Draco o encarou, pasmo.
- Sim, Malfoy. Nu. Como você veio ao mundo, antes de ter sobrenome, empresa, conceitos, ideologias.
- Não seja ridículo, Potter! Eu não vou deixar você me fotografar nu!
- Você acabou de me dizer que esperava que eu te visse como você é, e não como te rotulam. Retire seus rótulos, Malfoy. Ou você pensa que o que você usa não fala de você?
Draco abaixou os olhos para as mãos, onde brilhava o anel de ouro de seu pai. Harry suspirou e fez um feitiço em silêncio. Um robe de seda negra pousou sobre a mesa.
- Fique à vontade, Malfoy. Eu não vou te obrigar a nada. Faço as fotos como quiser. Só um momento que vou buscar a máquina.
Harry saiu e foi para o laboratório. Ele poderia ter convocado a câmera, mas sabia que Draco precisaria de algum tempo para pensar, e, talvez, se despir, e sua presença poderia inibi-lo. Limpou a lente, encaixou o filme enfeitiçado e fez alguns testes de luz. Estava perfeito. Voltou para a biblioteca mais tenso, mas mais decidido.
Ao fechar a porta, seu olhar recaiu sobre a pilha de roupas cuidadosamente dobradas sobre a mesa. O anel de ouro brilhava em cima das peças. Draco estava vestido com o robe, de costas, olhando os livros, batendo, ritmado, um pé descalço no chão, como uma criança ansiosa. Ele se virou assustado para a porta ao ouvir o primeiro "click".
- Solta os cabelos. – Harry pediu.
Draco, sério, voltou a olhar para a estante, dando as costas a Harry, e desfez o pequeno laço que prendia os fios loiros na fita negra, os dedos longos alisando os fios claros, colocando-os no lugar, antes que um movimento de cabeça os jogasse totalmente para longe do rosto.
Harry o rodeara, tendo se aproximado o suficiente para flagrar aquele último balanço. Draco o encarou, segurando o olhar verde que surgiu de detrás da lente para sustentar o seu.
- Pensei que queria me fotografar nu, ali.
- Eu disse para ficar à vontade.
Draco deu alguns passos em direção à parede ao fundo, negra. Afrouxou o aperto do robe em torno da sua cintura, permitindo que a seda escorregasse pela sua pele, deslizando até se acumular na cintura, impulsionada pelo balanço do seu andar. Parou de frente a parede e estalou o pescoço, deixando a cabeça pender para um lado e para o outro, antes de estalar as costas, forçando os braços para trás, tencionando os músculos da região. Então desatou o robe de vez, tomando-o na mão e o atirando por sobre a mesa com um movimento rude, se virando e encostando-se na parede, de frente pra Harry. Os braços cruzados sobre o peito, o rosto sério, sobre o qual alguns fios loiros pendiam, deixando o olhar de desafio mais insano do que realmente parecia.
Harry o fotografava sem parar, tentando captar cada detalhe, cada momento, cada movimento. E então um sorriso surgiu. Um sorriso irônico, tão desafiador quanto o olhar. Um sorriso de esfinge. E neste momento, Harry parou e o olhou atento por cima da máquina. Por somente um momento antes de voltar a se concentrar. Draco, mais do que nunca, estava ali.
Harry se aproximou até ficar a um passo do antigo rival, ficou na ponta dos pés, para estar mais alto que ele, e bateu uma foto do topo de sua cabeça, depois de sua testa, depois dos olhos, depois o nariz, a boca, o queijo, o pescoço, os ombros, o peito, a barriga, o umbigo. Draco se mexeu, incomodado quando Harry continuou, fotografando-o em partes até os pés.
Harry levantou o rosto, ajoelhado que estava, o olhando com um sorriso estranho, então bateu algumas fotos pegando Draco de baixo, fazendo-o parecer mais alto.
Draco deixou o corpo deslizar pela parede até se sentar, ficando na mesma altura que Harry, mas não o olhou. Estava sério, parecendo envergonhado. Ele abaixou os olhos, como que pensativo, e então os levantou de repente, de forma que Harry conseguiu capturar um brilho quase furioso em suas íris, perdidas entre os fios loiros que voltaram a cair sobre o seu rosto com o movimento.
Draco se afastou, e Harry o seguiu, sorrindo por trás da câmera. O loiro colocou um pé em seu peito, indicando para que se afastasse, e deslizou pelo chão, se deitando. Harry se ergueu, dentro do limite que o pé de Draco lhe impunha, e o fotografou de cima, o loiro olhando para qualquer ponto do outro lado da sala, primeiro sério, depois rindo da insistência do outro.
Harry se levantou de vez, tomando mais distância, pegando-o de corpo inteiro. Draco abriu os braços e relaxou no chão.
- Joga os cabelos pra cima.
O loiro obedeceu, deixando o ouro se espalhar contra o negro do chão ao redor de sua cabeça. Depois encolheu um pouco o corpo, dobrando as pernas, e se virou. Harry voltou a se abaixar, fotografando suas costas, onde ele parecia quase desamparado, depois deitando ao seu lado, pegando seu rosto, sério, e suave, quando com os olhos cinzas tão frios fechados.
Draco se afastou novamente, se sentando contra a parede. As pernas dobradas, os braços sobre os joelhos, o rosto escondido, os cabelos caindo aleatoriamente em torno do corpo que parecia pequeno demais. Harry se levantou, fotografando-o de cima, depois se afastou, pegando-o de cada um dos lados, e, por fim, de frente. Mas quando Draco ergueu o rosto, toda a impressão de desamparo sumiu com a malícia de seu sorriso. Um sorriso tão conhecido de Harry, meio de lado, em geral acompanhado por palavras irônicas, mas agora somente o olhar afiado se unia a ele.
Draco esticou as pernas, em um gesto infantil, para depois cruzar um pé sobre o outro, despreocupado, e olhou a volta com o rosto sem expressão, como quem procura algo. Em seguida voltou a encolhê-las e, com um impulso, sentou sobre os calcanhares, se pondo a andar em direção a Harry, devagar, usando as mãos como apoio, encarando-o fixamente por entre o cabelo que lhe cobria o rosto. Chegou perto o suficiente para Harry conseguir registrar os riscos azuis que havia em sua íris metálica. E não se afastou.
Harry tirou a máquina de frente do rosto por um momento e o encarou diretamente, como que esperando que o loiro dissesse alguma coisa. Mas ele somente retirou os óculos de seu rosto com cuidado, e os colocou, olhando por cima das lentes, sorrindo, para um Harry que voltou a fotografar, antes de empurrá-lo, fazendo-o cair sentado no chão, e capturar sua expressão de raiva, antes dele rir.
Draco se levantou e foi até a estante, pegando um livro qualquer e começando a ler, enquanto batia com a ponta do pé no chão, como um tique curioso. Sua imagem concentrada contrastava com o ambiente caótico atrás de si, dado o deslocamento para limpar o suposto cenário, os óculos redondos lhe dando um ar intelectual nada familiar. Ele olhou para Harry pelo canto do olho e deixou o livro de lado, indo a até a bandeja pegar o pote de bolachas e se sentou sobre a mesa, com ele entre as pernas cruzadas, começando a comer despreocupadamente. Depois de umas três, voltou o pote em seu lugar e passou a observar as fotos na parede, casualmente, ainda comendo uma última, ignorando o moreno que o seguia atentamente, registrando cada movimento, até que voltou ao cenário vazio, depois de devolver os óculos delicadamente ao rosto de Potter.
Encostou-se novamente na parede negra do fundo da sala e teve que imediatamente tapar os olhos com a mão quando Harry jogou uma luz forte, branca, sobre ele.
- Potter!
Harry abaixou a luz. Draco havia se encolhido no canto da sala, como que acuado por algo hostil, e Harry voltou a fotografá-lo enquanto ele recuperava a pose arrogante, ereta. Então se encostou relaxado na parede, os braços cruzados às costas, os ombros meio curvados, a cabeça baixa, os cabelos caídos sobre um dos ombros. Harry foi ao seu lado e o fotografou de perfil, sorrindo levemente contra o fundo branco da parede lateral.
Então ele se virou de costas, parado, reto, olhando fixamente a parede, e ergueu as mãos em seguida, acariciando a superfície, e as parou pouco acima de seu rosto, como se estivesse sendo rendido, e colou todo o seu corpo contra o negro, encarando o chão, sério, para então girar a cabeça devagar, olhando para a câmera, e se apoiar nos braços, como se estivesse fazendo flexões contra a parede, antes de virar o corpo, colando as costas na parede, e deslizar para o chão.
- Cansou? – perguntou Harry, mexendo na câmera.
- Estou com um pouco de sede.
- Tudo bem... Acho que por hoje basta... Já estamos há quase duas horas aqui.
Draco ergueu as sobrancelhas, impressionado por não ter percebido o tempo, mas não se levantou enquanto Harry pegava uma garrafa d'água de debaixo da mesa e o entregava. Draco bebeu e os dois ficaram em silêncio por um tempo enquanto Harry arrumava a câmera.
- Fica para ver as fotos? Não vai demorar muito...
- Tá... – Draco se levantou, vestindo o robe novamente, enquanto Harry servia duas xícaras de café, entregando uma para ele, que aceitou por educação depois de ter bebido tanta água, mas o aroma do primeiro gole era tentador.
Seguiram para o estúdio. A porta já era estranha, giratória, um tubo preto que se fechava atrás da pessoa antes de se abrir à frente, impedindo a luz de entrar. Em um primeiro momento, Draco pensou que a porta não havia girado, pois tudo a sua frente continuava escuro, seus olhos levaram alguns segundos pra perceber a luz vermelha banhando o ambiente frio. No centro, uma bancada azulejada, com algumas bacias cheias de químicas diversas, ao lado um balcão com uns aparelhos estranhos, nas paredes laterais, varais onde algumas fotos ainda estavam penduradas. Um cheiro estranho pairava no ar.
- Não é um lugar muito agradável a primeira vista, mas com o tempo você se acostuma. Senta a
Draco ocupou um banco alto perto da bancada enquanto Potter jogava luz sobre os negativos com os aparelhos, projetando as imagens no papel, que eram enfeitiçados pra voarem para as bacias, passando pelos produtos diversos.
- Vem cá. – Harry o chamou depois de um tempo, o levando ao tanque, e pegou uma espátula, mexendo nos primeiros papéis.
Draco deixou a xícara vazia sobre a bancada e se colocou ao lado dele, olhando atento. Aos poucos, formas difusas iam aparecendo sobre a superfície branca, tomando formato, cor, volume... A imagem surgindo como mágica.
- Você está usando poções para revelar?
- Para acelerar o processo, não para revelar. Não quero que as fotos se mexam. Quero o momento fixo, você agora, e só.
Draco olhou pra ele por alguns segundos, atento e curioso, antes de voltar sua atenção para as diversas imagens que surgiam a sua frente. Ele. Somente ele. Despido de toda a artificialidade. Para Harry. Surgindo como uma imagem nova. Que só ele viu.
Harry pegou as fotos já reveladas do último tanque e as levou para um dos varais, pendurando-as em fila. Havia muitas fotos. Ele as havia enfeitiçado para fazerem o processo sozinhas, de forma que muitos papeletes voavam pela sala, vindos dos aparelhos, passando pelos tanques e indo em direção aos varais onde as diversas faces de Draco começavam a se alinhar.
Ficaram lado a lado observando as imagens.
Muitas fotos. Umas duzentas. Muitas Draco se lembrava claramente de ter posado, como as que o retratavam deitado no chão ou as que Harry fizera em faixas de todo o seu corpo. Mas tantas outras eram detalhes, movimentos, que nem ele se lembrava de ter feito. Ele nu sentado ao lado da pilha de roupas dobradas, migalhas de biscoito no chão próximo aos seus pés, um olhar perdido enquanto pensava na próxima pose que faria, dedos longos ajeitando o cabelo loiro atrás da orelha, muitas de suas mãos, soltas, tensas, abertas, ele estalando os dedos, nervoso. Mãos sem anéis.
- Gostei dessa. – Draco se aproximou do outro, cruzando o braço à frente do outro para indicar a foto a que se referia, ficando muito próximo, falando quase diretamente ao ouvindo do moreno.
Era uma foto dele deitado no chão. Os braços abertos, as pernas dobradas viradas de lado, os cabelos soltos formando um manto dourado em torno de sua cabeça. O contraste da pele branca com o chão negro. Ele sorria e se viu ali de forma estranhamente livre.
A voz de Harry quebrou a sua linha de pensamentos, fazendo-o se aproximar mais do moreno para observar a foto que ele apontava. Era uma das últimas, quando ele estava de frente para a parede. Os braços tensos contra a superfície, o corpo colado nela, o rosto virado pra câmera, alguns fios de cabelos perdidos sobre o seu rosto. Sério. O olhar fixo.
- Eu gostei muito dessa. Está tensa. Você parece assustado e decidido ao mesmo tempo. Sem falar da intensidade do seu olhar. Parece... desejar algo.
Draco estremeceu, mas se aproximou mais, apoiando o rosto sobre o ombro do moreno.
- Eu estava olhando pra você.
Harry ficou tenso, sua mão ainda parada no ar em direção à foto. Ele piscou, absorvendo a informação implícita na frase, sentindo o calor do corpo do loiro colado ao seu, seu hálito tocando de leve sua face, em expectativa. Sua mão voou inconscientemente até o rosto pousado sobre o seu ombro, acariciando-o antes de se virar para encarar Draco, se afastando o mínimo possível e sem interromper o movimento. Talvez, se não fosse a luz vermelha do ambiente, Harry perceberia o loiro corando, como em poucas vezes na sua vida, mas sua expressão não demonstrava essa indecisão. Frente à hesitação do moreno, Draco se aproximou novamente, devolvendo-lhe o carinho antes que Harry extinguisse toda a distância entre eles, tomando seus lábios em um beijo assustado, ainda incerto. Somente um toque de lábios entre bocas entreabertas.
- Draco...
- O que foi, Potter? É profissional demais para aceitar o fato de que suas fotos, suas palavras, me conquistaram? Eu vi o seu olhar brilhando por trás da lente também, e sei que não é só interesse profissional.
Aquela imensidão verde voltou a fitá-lo de forma dissecante. Talvez Harry pensasse na história deles. Uma história feita de nomes, idéias voláteis e máscaras. Talvez pensasse no fato de serem dois homens. Mas o que importavam os valores distorcidos da sociedade frente à intensidade do que haviam vivido naquela tarde? Uma intensidade pautada pelo profissionalismo de Potter. Mas e todas as palavras, tudo o que ele havia dito sobre Draco analisando somente a sua imagem? Não podiam ser só palavras.
As dúvidas de Draco sobre a reação de Harry se findaram ao ter sua boca tomada novamente. Dessa vez não houve hesitação. Havia até uma certa ânsia em provar, em tocar. As bocas pareciam pequenas demais pra intensidade do movimento. Não era carinhoso, era devorador. Não estavam mais lidando com definições, e idéias, e palavras, e imagens. Eram somente dois homens abraçados em admiração mútua de sabor, toque e cheiro. A racionalidade de olhar e ouvir, embora presente, parecia dispensável no momento, quando se permitiam fechar os olhos e os únicos sons que interessavam eram ruídos ininteligíveis.
Harry estreitou mais o corpo de Draco em seus braços, como se quisesse sentir o calor que emanava sob a fina camada de seda e Draco gemeu em meio ao beijo, deixando a mão que o puxava pelo pescoço deslizar pelas costas do moreno, puxando mais seu quadril de encontro ao dele, enquanto a outra percorria seus cabelos, indicando claramente que não queria só um beijo. Harry rompeu o contato, ofegante.
- Aqui não...
Draco concordou. O lugar parecia conter uma magia própria, mas não era agradável. Entre beijos espaçados e ainda abraçados, cambalearam até a porta, onde tiveram que se separar para deixar o estúdio. Draco aguardou a porta girar, revelando Harry, para ser empurrado contra a parede do corredor imediatamente, sua boca tomada em um beijo quase violento, o desejo crescendo de forma incontrolável entre os dois. O cheiro de Potter era inebriante, suas mãos entrando pela abertura do robe, tocando sua pele, quente, seguro, o fazia se desmanchar contra a parede. Com um movimento rápido, puxou a camisa de Harry pela cabeça, interrompendo o beijo. Os dois pararam, se olhando, ofegantes, como que percebendo pela primeira vez o que estavam fazendo, examinando o corpo um do outro, enquanto Draco corria as mãos pelo peito do moreno.
Devagar, com uma lentidão que contrastava com os toques desesperados de até então e a necessidade gritante de se tocarem, Harry desfez o laço do robe, sem desviar os olhos dos de Draco, abrindo-o, se encostando contra a pele nua, pele contra pele, começando a beijar seu pescoço, e Draco suspirou, se abraçando a ele.
- Vamos para o quarto. Eu quero fazer isso direito. – a voz de Harry saía rouca, entrecortada pelos beijos espaçados que depositava sobre a tez branca, deixando pequenas marcas vermelhas nos pontos em que beijar não parecia suficiente para sorver a essência de Draco.
O loiro o empurrou contra a parede oposta com um sorriso cheio de malícia, e ajeitou o robe sobre os ombros, andando calmamente de volta para a sala, até ser interceptado pelas mãos de Harry que o puxaram, colando seu corpo às suas costas, envolvendo sua cintura, acariciando seu peito, beijando-o com volúpia enquanto o conduzia, deixando os sapatos pelo caminho.
Draco não conseguiu reconhecer o ambiente: foi imediatamente atirado à cama. Mas impediu que Harry se deitasse sobre ele, empurrando-o com um pé no meio do movimento. Levantou-se e foi até o moreno que observava o robe finalmente caindo ao chão. O beijou, acariciando seu corpo, deslizando suas mãos sobre a pele que parecia morena em contraste com a sua, atirando os óculos sobre um puf no canto do aposento antes de descer suas mãos até o cós da jeans escura, a abrindo de forma que Harry sequer percebeu até tocá-lo, gemendo em sua boca.
Ele o masturbou um pouco, vendo seus olhos ficarem cada vez mais escuros, beijando-o nos intervalos dos gemidos do moreno, enquanto era tocado também. Então puxou a calça e a cueca juntas, e Harry chutou suas roupas para longe, trazendo o corpo do outro mais junto ao seu. As pernas encaixadas e o leve movimento de seus corpos, as mãos que não paravam, apertando, acariciando, excitando, faziam o beijo ficar difícil, dados os gemidos incontroláveis.
Harry girou o corpo, prensando o outro contra a parede, e teve a cintura envolvida por suas pernas. Parou, ofegante, assim como o loiro em seu colo. Então passou os braços em suas costas e o levou para a cama, se deitando sobre ele. Draco o olhou, acariciando os seus cabelos, e sorriu antes de beijá-lo de forma mais calma, enquanto Harry o preparava com os dedos.
Harry alinhou seu corpo ao do loiro se apoiando nos braços, começando a penetrá-lo, seus olhos fixos nas duas contas metálicas, pequenos suspiros escapando dos lábios de ambos conforme forçava, entrando devagar. Draco mordeu o lábio e ofegou, fazendo o moreno recuar.
- Não... tudo bem... – disse, inseguro, puxando o moreno pra mais perto.
Harry voltou a tocá-lo com os dedos, fazendo pequenos movimentos, atento às suas reações. Draco o puxou para um beijo, gemendo baixinho em sua boca conforme os dedos foram substituídos pelo corpo do outro que voltara a investir, lentamente, até se sentir completamente envolvido.
- Tudo bem?
Draco não respondeu, somente aprofundou o beijo, puxando-o pelos cabelos, mexendo os quadris, incitando o outro a fazer o mesmo, de forma muito mais intensa, o que levou o loiro a romper o beijo, não podendo conter os gemidos, abraçando-o com força, enterrando as unhas em suas costas, arqueando em seus braços conforme Harry investia mais rápido, mais fundo enquanto beijava seu pescoço e gemia em seu ouvido.
- Ah... Eu... Ah...
Draco mordeu o ombro do moreno, tremendo, se abraçando com força a ele quando o prazer o envolveu, ao mesmo tempo em que Harry investiu mais forte, com um pequeno grito, relaxando sobre o seu corpo em seguida.
Os dois ficaram abraçados, tentando controlar a respiração, trêmulos, até que Harry se virou, se deitando ao seu lado. Draco o olhou e sorriu, afastando os cabelos do seu rosto, e Harry correspondeu ao seu sorriso, um traço de ternura e felicidade se espalhando pelo seu rosto enquanto o acariciava, puxando-o para mais perto para beijá-lo.
- Fica comigo hoje?
Draco o beijou.
Harry&Draco
Harry espalhou as fotos sobre a mesa.
Draco.
Draco nu, dormindo, atrasado, comendo, escrevendo, trabalhando, mal humorado, rindo, lendo, cozinhando, olhando fotos, se arrumando, provocando.
Definitivamente, a imagem do loiro invadira sua vida.
A porta bate e Harry ergue o rosto para receber um beijo rápido.
- Oi.
- Oi.
- O que está fazendo? – Draco olha as fotos e dá as costas, reclamando enquanto entra no quarto – Ah! Por favor, Harry! Estamos juntos há quase seis anos e você ainda não se cansou de mim?
- Eu convivi com você por seis anos sem gostar. Esperava mesmo que eu cansasse tão fácil?
Draco apareceu na porta do quarto enrolado na toalha.
- Eu sei que eu sou lindo. Meu medo é que você se inebrie com as minhas fotos e se esqueça do real. – disse com um sorriso malicioso no rosto, antes de entrar pro banho.
Harry sorriu e balançou a cabeça em um gesto conformado. Draco nunca mudaria.
FIM
N/A: Agradecimentos a DarkAngel, pela betagem.