Aos vitoriosos...

Eu, Fantasma Miria, vejo a luta de Clare e Rigardo...

Clare está cada vez mais rápida e hábil com a espada, nem o Leão dos olhos prateados está mais vendo a espada dela... parece que temos chance de vencer.

Tudo acontece muito rápido... os olhos prateados do despertado macho se fecham... O Leão já não existe mais...

E Clare não quer morrer como uma despertada, pede para que uma companheira corte sua cabeça.

- Helen!! Por favor, corte minha cabeça! Quero morrer como humana... não espere mais, não conseguirei me segurar por muito tempo.

- !! Clare! Não fale besteiras!!! Você ainda pode voltar...

Esse foi o tempo necessário para que algo interferisse na consciência de Clare e a fizesse desistir de morrer. A guerreira precisava matar Priscilla, que dava sinais de seu youki...

- Teresa... - era o que a guerreira de olhos prateados pensava ao sentir aquele youki... - Finalmente... a minha vingança!!!

Sinto um poder muito forte, muito superior ao dos despertados que já enfrentei, superior até ao Leão...

Essa deve ser Priscilla, esse é o poder imensurável dessa criatura. Onde Clare pensa que vai!?

Não adianta chamá-la ou impedi-la, Clare deixou-se tomar pelo poder e pela vontade de vingança...

Só nos resta ajudá-la, reunir nossas forças e procurar Clare.

Espero que dê tempo, que ela não desperte.

E nem que Priscilla a mate...

- Helen, Deneve! Vamos atrás de Clare... ainda podemos salvá-la!

- Se eu não tivesse parado, se tivesse cortado sua cabeça quando me pediu... ela não estaria correndo um perigo ainda maior! - lamentou-se Helen.

- Helen, não é sua culpa... você faria se fosse possível... vamos atrás dela! - disse Deneve então, consolando a amiga.

Nós três partimos em direção ao youki de Clare, que parecia estar muito próximo de Priscilla, se já não tivessem se encontrado. Chegamos ao Vulcão, onde vimos duas figuras bizarras, que em nada lembram humanos, nem claymores...

Clare parecia transtornada, seu rosto antes tão belo, agora irreconhecível... a outra figura, possuía um youki poderoso, uma confiança inabalável... olhava-nos como suas semelhantes, Priscilla não se via como uma despertada.

- Claymores, por que me olham desse jeito? - perguntou o ser de um chifre.

- Quem é você!? - eu retornei.

- Sou Priscilla, nº 2. Tenho que matar a traidora. E vocês parecem estar do lado dela! Matarei vocês também...

- Nós vamos matar você, seu monstro!! - interrompeu Helen.

- Monstro!? Aonde!? Ela é o único monstro presente... eu não sou kakuseisha... eu não sou um monstro!... Eu preciso... matar... matar a traidora... matar Teresa!!! - a ex-claymore delirava, ela não sabia mais diferenciar o presente do passado, ainda se via como uma guerreira e ainda via Teresa em Clare.

O monstro alucinado vem em nossa direção, mas é tão rápida... nem meu poder fantasma consegue acompanhá-la...

- ... Te-re-sa... - Clare agora repetia aquelas palavras lentamente, revivendo em sua mente memórias do passado como se estivessem ali presentes, foi quando, em uma explosão de poder, a claymore quase totalmente despertada partiu para cima de Priscilla bruscamente, com ódio, desejo de vingança...

Aquela luta era impressionante demais para nos aproximarmos... Só conseguimos ficar olhando, observando... Todos nossos músculos estavam paralisados com aquele poder imenso que emergia do youki monstruoso daquele kakuseisha e de nossa companheira... Só conseguimos ficar torcendo por Clare, torcer por alguma chance dela não ser esmagada por aquele monstro de um chifre... torcer por alguma chance de sobrevivência...

Do outro lado, vejo Jean com um rapaz no colo. Quando ele se dá conta que é Clare que luta, entra em desespero e grita para impedi-las de se matarem.

- CLAREEEEEEEEEEEEEEEE!!! NÃO!!! PAREM COM ISSO!!! CLARE!!! Clare, eu sobrevivi para te encontrar!... não morra... - o garoto gritava em pânico, enquanto lágrimas caíam pelo seu rosto e ele corria em direção àquela luta num ato desesperado...

- É inútil rapaz! Se quer continuar vivo, saia já daqui! Dessa luta, apenas uma sairá viva. - eu interferi.

- Não pode ser! Eu vou proteger Clare... Eu PRECISO proteger a Clare!!! - o menino continuava a derramar lágrimas.

- Você não consegue nem proteger a si mesmo, moleque!! - tornou então Helen.

- ... P-Papai... mamãe... por quê!? Tá doendo... por que tá fazendo isso!? Papai... Teresa matou o papai... papai morreu... mamãe... por quê!?!?!? - a criatura de um chifre agora voltava novamente à sua forma humana, começando a delirar ainda mais, caindo de joelhos no chão - N-Não... não me machuque... p-papaaaaaai!!!

- ... Priscilla!!! - o garoto saiu correndo em direção à menina, abraçando-a ternamente, gritando para Clare tentando impedi-la de matar aquela menina com quem ele havia criado afeto.

Naquele momento, eu me lembro de ter visto alguma expressão de dor no rosto de Clare... seguida por uma explosão de youki. O que temíamos acontecia: Clare despertava... totalmente!

Aquele garoto não foi capaz de impedi-la, pelo contrário... apenas a deixou mais irada! Nossa companheira não estava mais em seu pleno juízo, não tinha mais consciência da realidade, tinha se transformado num monstro, um monstro sedento por sangue, por vingança... E, agora, não mais importava quem seria a sua vítima... ela mataria todos aqueles em seu caminho.

Não foi diferente com o menino, o que me espantou... Clare demonstrava um grande afeto pelo menino, mas não conseguia mais se conter, conter os seus instintos assassinos. O atacou. O desespero no rosto dele era visível para todas nós, a gente também compartilhava daquela dor de ver nossa companheira se tornar aquele monstro...

Para a minha surpresa e das meninas, Jean tinha entrado na frente do menino. Foi um esforço em vão tentar salvá-lo... Clare atingia mortalmente ambos os dois... O menino chorou, gritou pelo nome dela pelas últimas vezes até o último suspiro... não demorou a morrer, caído quase aos pés daquela que tentava proteger.

- Clare, me escute!!! Você AINDA pode voltar!! Se esforce... eu vou trazê-la... - ia dizendo Jean, segurando firmemente a companheira, tentando acalmá-la e fazê-la voltar à sua forma humana.

Uma lágrima... eu vejo claramente uma lágrima nos olhos de Clare. Sinto uma tristeza profunda em meu peito, como se pudesse sentir eu mesma a dor dela... Aquela lágrima veio do inconsciente, ela não volta a si... Jean não foi capaz de trazê-la de volta... nem aquele garoto. Clare chorava enquanto via os dois falecerem a seus pés...

- NÃOOO!!! - gritou Helen, partindo 'voando' pra cima de Clare.

- HELEN!!! - eu então usei minha alta velocidade para impedir minha companheira, não podia deixá-la ir de encontro com a morte. - Espere! Não podemos nos aproximar assim... temos que ter um plano!

- Um plano, Miria!? O que podemos fazer??? Ela está fora de si... - retrucou Helen comigo.

- Só há uma maneira... - eu disse melancolicamente.

- Miria!! Você não pode estar querendo dizer...

- Nós temos que matar Clare. - eu afirmei, interrompendo-a.

- MAS Miria!! Clare é nossa... - tornou Helen, bastante abalada.

- Nossa companheira que precisa de nossa ajuda. E nós só podemos ajudá-la matando ela! - interviu agora Deneve.

Enquanto a gente discutia, Clare partia novamente para atacar o kakuseisha em sua forma humana que delirava, porém o abissal das terras do norte, Easley, apareceu naquele momento, pondo Priscilla em seu colo e afastando-se dali, deixando-nas sozinha com nossa companheira que estava totalmente fora de si, talvez estivesse também delirando...

Enquanto Clare estava distraída, fora de si com o que acabara de fazer, decidi pôr o plano em pratica!

- Helen, Deneve... estão preparadas?

Helen entre lágrimas disse que sim, Deneve um pouco entristecida também concordou.

Eu parti na frente, restando somente a minha imagem por onde passava... desferi um golpe certeiro em Clare, cortando suas garras de despertada, enquanto as outras cortavam os braços dela também. Agora não poderia atacar.

Clare cai de joelhos no chão, em sua face não se via dor, apenas um alívio, tudo estava acabado...

Agora, deitada no chão, ela olha para cima como quem vê as portas do paraíso...

Eu tive que terminar o que comecei, finquei minha claymore em seu peito. Só foi possível matar Clare porque ela estava inconscientemente se culpando e realmente queria que tudo aquilo terminasse...

Vi seus últimos suspiros e lágrimas.

Não havia tristeza na partida, apenas paz. O que ela via, não sei dizer, mas estava indo para um lugar bom.

E me lembro bem de ter visto um sorriso no rosto de Clare. Ela estava em paz consigo mesma... Fiquei feliz ao ver aquele sorriso, apesar de ser um sorriso singelo, era bastante sincero... e profundamente belo. Eu também sorri... era o meu adeus à minha amiga...