História de Fantasma


N.A. - Dois anos depois e nada mudou. Spiral e seus personagens não me pertencem. Ainda acho isso triste! u-u

A quem esperava por essa segunda parte, devo dizer que nunca disse que era prioridade na minha lista de fics a serem feitos. XP

E, sério, agora acabou. ._.

Espero que gostem!



Conviver com Hiyono é um exercício constante da minha paciência. – Na verdade, acho que conviver com Hiyono é um exercício para a paciência de qualquer um. – Carente, sempre faminta, espiã, falante demais e, só porque a vida não seria interessante o suficiente sem isso, está sempre cantando aquela estúpida música estranha que só faz sentido para ela mesma.

Sério. Qualquer motivo é um bom motivo para ela cantarolar aquilo.

- Mado no soto Kira Kira Kira ri.

Sim, este é um destes momentos. E perceba que a coisa super ultra emocionante que estamos fazendo é apenas caminhar para a escola... Como todos os dias.

- Nagareboshi ga hitotsu nagareta.

E como todos os outros dias essa garota maluca está cantarolando, ignorando os olhares que atrai, enquanto caminhamos na direção do prédio da escola. Ironicamente, ela diz que' a ajuda a pensar'. Não acho que alguém a considere um ser pensante quando insiste em cantar uma música que nem ao menos tem uma rima. UMA rima sequer.

- Otsuki sama yura yura yura ri.

Não sei a razão de ainda me incomodar com isso quando o final de semana terminou sem que eu tivesse paz por sequer um segundo. Quer dizer, quando é que eu tenho paz e sossego com essa garota completamente lunática me perseguindo?

Enfim, acho que toda essa loucura deve ser contagiosa e está começando a me afetar porque, não somente concordei em acompanhá-la ao tal parque abandonado para... Caçar fantasma no sábado a noite. – No mesmo horário do meu tão aguardado programa de culinária. – Como cumpri a promessa, depois de ser arrastado durante todo o dia de um lado para outro da cidade, permanecendo a seu lado, encolhido e com fome, enquanto esperávamos que um estúpido fantasma aparecesse.

'Deus! Deve ter algo errado comigo. Muito errado mesmo.' Ayumu Narumi nem ao menos acredita em fantasmas. Muito menos em um que chama um parque de diversões abandonado de 'minha tumba'.

Sério, qual é o meu problema? Acabei de falar de mim mesmo na terceira pessoa...

- O que você fez para o almoço, Ayumu?

A pergunta me faz perceber que ela finalmente parou de cantar ao nos aproximarmos da sala de aula. Não que isso seja muito confortador... Afinal, ela só fez isso para perguntar sobre comida.

- Não é da sua conta.

Tenho uma teoria de que Hiyono é um algum tipo de monstro. Impossível alguém comer tanto quanto ela e não engordar!

-... – Hiyono pára quando chegamos em nossas carteiras e eu penso que irá explodir a qualquer momento, mas para minha frustração, ela simplesmente sorri, dando de ombros, antes de retirar a mochila das costas e sentar. – Descobrirei na hora do almoço. – Hiyono bate palmas, ainda sorrindo. – Será uma surpresa!

Suspiro desanimado, sem o menor ânimo de começar uma discussão e decido simplesmente imitá-la, tirando a mochila das costas e pousando-a sobre a carteira antes de me sentar. Tenho coisas mais importantes para me preocupar hoje, como por exemplo... Quem foi o imbecil que achou que seria uma grande idéia pregar uma peça na garota maluca da classe?

Desde o pequeno encontro no parque de diversões tem alguma coisa me incomodando. A voz parecia conhecida. Tenho certeza que se não estivesse tão ocupado com essa lunática durante o dia todo ontem, eu teria conseguido me lembrar quem era.

Eu sei o que você vai me perguntar... 'Por que ficou com ela o dia todo? Depois dela ter te torturado no dia anterior? Depois de ela ter feito você perder o programa sobre chefs internacionais que esperou durante meses...' e a resposta, meu amigo, é muito simples: Hiyono tinha deixado o vídeo programado para gravar o programa e apareceu logo cedo, com aqueles enormes olhos castanhos pidões, balançando a fita na minha cara e pedindo desculpas.

Certo, eu sei. Satisfaço-me com pouco.

- Ayumu...

- Estou ocupado, Hiyono. – Ignoro, usando toda a minha força de vontade, a maneira como ela cutuca meu ombro, tentando chamar minha atenção enquanto pego o primeiro livro ao meu alcance e finjo ler.

Eu normalmente não sou obcecado pelas coisas. Principalmente uma tão idiota quanto a identidade de um fantasma que diz se chamar Gasparzinho, ou a idiota da Hiyono ser enganada, mas eu sei que conheço aquela voz. Eu PRECISO descobrir quem é. É uma questão de honra!

- Escuta, Hiyono... – Viro na cadeira e a pego com a mão erguida, o dedo indicador esticado, pronto para voltar a me cutucar. Ignoro tal detalhe e continuo. – Quem foi seu informante para o Parque de diversões?

- Ah, você ainda está pensando nisso? – Ela suspira, girando os olhos. – Você é tão obcecado...

- Obstinado. – Corrijo, tentando não comentar o fato dela ter me arrastado durante todo o sábado por causa de uma 'obsessão'. – Quem foi?

- Alguns garotos do último ano. – Hiyono cruza os braços, recostando-se na cadeira, parecendo querer colocar alguma distancia entre nós.

- Você só pode estar brincando... – Suspiro. – Esses são os seus informantes confiáveis?

- Você é muito desconfiado, Ayumu... – Hiyono diz simplesmente. – Eles são mais velhos... Sabem mais do que nós.

- Não o suficiente para serem classificados como 'informantes confiáveis'. – Conto até dez mentalmente. – Quem exatamente?

- Alguns garotos do último ano. – Hiyono repete. – Por que você quer saber?

Aperto os lábios com força para não responder. 'Porque há uma grande chance deles se transformarem em fantasmas e você ter a chance de entrevistá-los.'

- Foi o Eyes?

- Hum... Não... – Sinto a carteira se mover quando ela debruça sobre ela e abaixar o tom de voz. – Quem é Eyes mesmo?

Giro os olhos, baixando a cabeça sobre a carteira. Arrependo-me quase no mesmo instante quando minha testa colide com a superfície de madeira.

- Machucou?

Esfrego a testa, apertando os lábios novamente para não responder.

Não pode ter sido o Eyes Rutherdord. Conheço o idiota a anos e sei perfeitamente bem que ele não possui esse tipo de senso de humor. Por outro lado, conheço alguém que se divertiria com tal tipo de piada idiota...

- Kanone Hilbert?

- Ah, agora eu já sei!

Eu, assim como as pessoas próximas, pulam no assento quando Hiyono acerta um murro na mesa e levanta. Até mesmo o professor, que estava entrando naquele momento, congela e se vira para fitá-la.

- Hiyono...

- São aqueles dois que sempre andam juntos!

- Hiyono... O professor...

- Você está certo, Ayumu, como não pensei nisso antes?

- Senhorita Yuizaki...

- Com licença, professor. – Hiyono continua sorrindo, ignorando totalmente a reação chocada das pessoas enquanto quase me derruba da carteira, puxando meu braço. – Ayumu e eu temos algo importante para fazer.

- Senhorita Yuizaki... – O professor tenta recomeçar, esperando poder controlar a força da natureza que é Hiyono enquanto ela me puxa na direção da porta. – A aula vai começar.

- Eu sei, professor. – Hiyono pára repentinamente, e mais uma vez eu quase caio pela parada abrupta. – Sentimos terrivelmente perder tão importante aula, mas é algo urgente.

- Senhorita Yuizaki...

- Faremos um trabalho sobre o tema para compensar nossa ausência. – Ela novamente corta o professor, que a fita espantado, antes de me empurrar para o corredor e fechar a porta, sem esperar por resposta.

O professor continua parado na frente da porta de vidro, nos encarando totalmente chocado. Não o culpo, a maior parte das vezes eu me sinto da mesma forma, com o pequeno detalhe que, ao contrário dele, não posso escapar de Hiyono tão facilmente.

- Eu não concordei em fazer trabalho extra. – Finalmente consigo dizer, pouco antes de ela, mais uma vez, me dar um empurrão. – Hiyono, pare com isso.

- Você sempre se preocupa com coisas tão pequenas... – Posso vê-la sorrir antes de agarrar meu braço para me puxar para a escada. – Você sabe que ele só está revisando matéria da prova. Não vamos perder nada importante.

- Mas você prometeu um trabalho.

- Esqueça. – Hiyono diz enfática. – Aposto que ele já esqueceu.

Enquanto me mantenho calado, ocupado em segui-la escada a cima sem tropeçar, penso que nosso pobre professor de literatura tem sorte se sequer conseguir se lembrar o que o atingiu, quem diria das promessas feitas por uma garota perturbada.

Suspiro, reconhecendo o andar da sala dos veteranos.

Este vai ser um longo dia.

-o-o-o-

'Por favor, que alguém me atinja com uma pedra da próxima vez que eu resolver interrogar Hiyono.'

Sinceramente, perdi as contas de quantas vezes repeti essa frase para mim mesmo durante toda a manhã, enquanto Hiyono me arrastava pela escola, empurrava para lugares minúsculos dizendo que eram esconderijos perfeitos e atraindo olhares estranhos de cada pessoa que passava. – Não me faça contar as desculpas que ela deu para um dos professores que nos pegou escondidos. Estou tentando MESMO apagar aquelas palavras da minha mente até agora. – Na verdade, foram tantas vezes que quando finalmente a hora do almoço chegou, eu estava com um pouco de medo de sair para um lugar descoberto porque... Algo poderia atender meu pedido e me acertar sabe-se lá com o que.

Claro que isso foi rapidamente resolvido por Hiyono reclamando:

- Estou com fome.

- E a novidade é?

Eu mal tinha acabado de proferir essas palavras quando uma sensação de deja vu me acertou. Certo, ela está sempre reclamando por essa mesma razão, mas não pude evitar de me lembrar da noite de sábado.

- Você devia ter pego sua mochila. – Hiyono continua, ignorando totalmente minha reação silenciosa. – Por que você não lembrou de pegar o almoço?

Viro o rosto lentamente em sua direção, observando a maneira como a mão dela repousa sobre seu estomago, os olhos com aquela expressão de cachorro de rua faminto enquanto tenta, mais uma vez, me convencer a dividir meu almoço com ela.

- Eu não sei Hiyono... – Começo lentamente, desviando os olhos rapidamente de seu rosto. – Talvez porque estava ocupado demais tentando não tropeçar e cair enquanto era arrastado pelo colégio?

Disfarçadamente a observo enquanto fecha os punhos com força, todo aquele ar de piedade desaparecendo de seu adorável rosto enquanto me fita com raiva.

- Você queria saber quem era meu informante.

- Um nome seria o suficiente. – Tento parecer distraído, desinteressado em suas reações exageradas, e acredito que estou fazendo um grande trabalho por alguns minutos porque ela simplesmente fica em silencio.

Claro que tal milagre dura pouquíssimo tempo, mais precisamente até o sinal tocar e os alunos começarem a deixar a sala. Nesse mesmo momento ela me empurra, e eu tenho que me agarrar ao corrimão para não rolar os degraus.

- Hiyono... Que diabo...?

- Vai buscar a comida e me encontra no pátio! – Ela se apressa a dizer enquanto corre pelos degraus, novamente puxando meu braço. – Eu sei onde eles vão!

E só porque eu sei o quão inútil é tentar discutir com ela, aperto os lábios novamente e me forço a obedecer.

Foi assim que acabei encolhido em mais um dos esconderijos perfeitos de Hiyono – também conhecido como: os arbustos que cobrem parte da cerca que divide o pátio. -, comendo o sobreviveu do meu almoço, enquanto desejo novamente que algo pesado acerte minha cabeça e acabe com miserável vida.

- Posso comer isso?

Nem me preocupo em levantar os olhos, apenas rodeio minha marmita com os braços, protegendo os restos mortais de meu almoço.

- Você é tão malvado comigo... – Hiyono suspira, em mais uma de suas encenações de vitima. – Eu só estou tentando te ajudar a descobrir quem nos enganou. Vou ter que fazer três trabalhos para compensar essas faltas...

- Você sabe que quem vai acabar fazendo esses trabalhos sou eu.

- Detalhes.

- Quanto tempo ainda vamos ficar aqui?

- Até que eu morra de fome e volte para assombrá-lo.

-...

'Criatura vingativa.'

Wow! O que foi isso?Lembro de ter uma conversa bem parecida com ela no sábado a noite.

Balanço a cabeça, tentando apagar esses pensamentos.

- Estou morrendo de fome!

Giro os olhos, dando-me por vencido, e estendo a marmita em sua direção. Hiyono sorri, começando a comer.

- Vocês precisavam ver os dois!

A voz de Kanone soa próxima, cheia de divertimento, e pela primeira vez percebo o quão próximos eles estão. Hiyono apenas pousa o dedo indicador sobre os lábios, em claro sinal para que eu fique em silencio.

- A discussão dos dois foi hilária.

Automaticamente franzo o cenho, não é possível que seja tão fácil. Eles devem estar falando de outra coisa, afinal quem é que considera pregar uma peça um bom programa de sábado a noite? Bom o suficiente para ficar espalhando para os amigos?

- A parte em que estavam discutindo a existência de fantasmas... – Kanone faz uma pausa e posso ouvi-lo rir. – Ou quando aquela garota esquisita disse que ia morrer de fome e voltar para assombrá-lo...

Lanço um olhar cuidadoso para Hiyono que parece a ponto de explodir a qualquer momento. Seu rosto está corado e os olhos castanhos estreitados.

Eu conheço essa expressão... Já fui o alvo dela várias vezes.

Estendo a mão e seguro seu pulso, lembrando-a que não deveríamos estar aqui. Isso, por milagre, parece ser o suficiente para que ela respire fundo e ajeite-se no esconderijo enquanto eu me ajoelho lentamente para observar com quem Kanone está conversando.

Como eu desconfiava, Eyes está presente, sentado despreocupadamente no banco, parecendo ignorar os olhares apaixonados que Ryo Takeuchi. – A mais nova do grupo – lança em sua direção. Ele parece entediado com a narração de Kanone.

- Mas é claro que você não podia se contentar com isso e simplesmente ir para casa... – Eyes finalmente fala, parecendo tentar dar um fim a narração do amigo, mas é ignorado.

- Foi para isso que você me ligou no sábado? – Kousake Asazuki, o rapaz ruivo de cabelo espetado pergunta. – Deveria ter sido mais claro, eu teria ajudado.

Giro os olhos, mordendo a língua para não comentar. Nunca gostei de Kousake, ele parece encrenqueiro demais. Até os professores tem medo dele. A única pessoa que parece conseguir controlá-lo é Ryoko Takamachi, a garota alta com cabelos curtos e castanhos a seu lado.

- Você estava ocupado estudando comigo, Kousake. – Ryoko diz com um suspiro. – Pare de mentir.

- Não foi preciso, Eyes me ajudou. – Kanone diz, parecendo ignorar a maneira como todos os olhares se voltam para o amigo.

Eu mesmo me vejo fitando Eyes, o qual sempre julguei o mais sensato do grupo, como se nunca o tivesse visto antes.

- Não é como se eu tivesse alguma escolha. – Eyes diz, dando de ombros. – Achei mais fácil do que gastar energia tentando convencê-lo a desistir da idéia.

Repentinamente sinto uma proximidade de Eyes. Compreendo perfeitamente como é ter que aturar alguém completamente insano todos os dias, e acabar simplesmente fazendo o que a pessoa quer.

É cansativo discutir o tempo todo.

- O que aconteceu depois? – Kousake pergunta, em uma tentativa de quebrar o silencio.

- Vamos ver... – Kanone começa, caminhando até o outro lado de Ryo e sentando-se no banco. – Eles estavam discutindo... A parte em que ela o acusou de ter um plano maligno tipo Scooby-doo foi a minha parte preferida... – Ele riu com a lembrança. – A expressão do Narumi foi impagável.

- Eu queria ter visto isso. – Ryo fala, pela primeira vez, voltando-se para encarar Kanone com adoração fraternal. – Ele é sempre tão sério... Imagina ser comparado com algum vilão idiota de um desenho animado!

O grupo riu, por alguns momentos e só percebi que estava esmagando parte do arbusto quando senti os caules das folhas espetarem minha mão.

- Foi perfeito quando ele virou para a garota, quase gritando. 'Não posso estar espantando os fantasmas porque... –A voz dele mudou, parecendo imitar a minha. – Um: Fantasmas NÃO EXISTEM. – Vejo-o erguer o dedo indicador da mesma maneira que fiz no sábado. – Dois: Mesmo que existissem, não se assustariam só porque algum vivo está fazendo barulho. –Ergueu um terceiro dedo, fitando Ryo. – Três: FANTASMAS NÃO EXISTEM!!!'

Fecho os olhos, tentando me acalmar enquanto ele continua narrando a noite de sábado, e o grupo ri divertido. Existe algo muito errado quando sua horrível noite se transforma em passatempo dos outros.

Percebo um movimento ao meu lado e reabro os olhos a tempo de ver Hiyono começando a se levantar. Agarro seu braço e a seguro a meu lado com um olhar de aviso para que continue escondida. Não tenho certeza de por quanto tempo isso vai funcionar, mas eu realmente gostaria que pelo menos até que eles admitissem a parte do Gasparzinho.

- A discussão por comida parecia ter terminado quando o Narumi decidiu ir embora, então tivemos que segui-los, Eyes tropeçou...

- Eu não tropecei! – Eyes protesta. – Você estava praticamente me arrastando. Tem alguma noção de como é difícil andar no escuro?

- Ok, ok. – Kanone concorda com um aceno. – Enfim, a garota viu o movimento e tivemos que improvisar.

- Você teve que improvisar. – Eyes o corrigiu novamente.

- Quem está contando a história? – Kanone suspirou antes de continuar. – Então, eles perceberam, o Narumi pareceu desconfiado, tive que improvisar.

Enquanto ouço ele continuar a narração, penso como alguém três anos mais velho do que eu pode ser tão idiota. Perder tempo enganado a garota maluca do colégio, que acredita em qualquer coisa que dizem, considerando qualquer relato maluco uma 'informação quente'...

Céus, e eu achando que tinha problemas com Hiyono...

- Ela pareceu bastante animada por encontrar um fantasma pervertido. – Eyes ofereceu.

Senti todo meu rosto aquecer de vergonha, só agora percebendo que se eles tinham presenciado toda a conversa, provavelmente também ouviram minha confusão com o 'Eu não amo você.'

Estou silenciosamente calculando quais as chances de acabar com as testemunhas da minha pequena idiotice quando Hiyono começa lutar comigo para soltar seu braço, e posso ouvir a voz de Ryo.

- Alguém tinha que fazer alguma coisa. – A garota diz, naquela voz enganadoramente infantil. – É tão claro que os dois se amam. Eles deviam se agarrar de uma vez e acabar com toda aquela tensão.

As palavras de Ryo me atingem e eu acabo soltando Hiyono que cai de costas na grama. O barulho parece chamar a atenção do grupo, posso ouvir os passos se aproximando, mas antes que eu possa agarrá-la e sair dali correndo, como fiz no sábado a noite, Hiyono consegue se levantar. Pisco espantado quando ela fica de pé tão de repente que quase acerta Kousake.

- Então vocês acham engraçado enganarem a garota estranha do colégio, não acham? – Hiyono quase grita, sua voz está mais aguda que o normal, se é que isso é possível, e eu vejo suas mãos pousarem em sua cintura. Algo que ela só faz quando está realmente irritada. – Acredito de boa fé que vocês estão falando sério e tentando me ajudar, e é assim que me pagam?

O grupo parece chocado demais com a súbita aparição de Hiyono para responder, ou notar minha presença. Por uns cinco segundos, penso que estou seguro, mas é então que Hiyono, parecendo ainda mais irritada, o rosto totalmente vermelho, resolve completar.

- Eu arrasto o pobre Ayumu por toda a cidade durante o dia TODO – A mão esquerda deixa seu lugar na sua cintura e o dedo indicador quase acerta meu olho quando ela aponta pra mim. – Faço ele esperar comigo naquela porcaria de parque gelado boa parte da noite e era tudo piada?

Kanone pisca, baixando a cabeça para mim.

- Acho que estávamos entediados.

- Você e o Eyes, a gente nem sabia o que tava acontecendo. – Kousake corrige, dando um passo para trás quando Hiyono o encara com raiva. – Sério, a gente não sabia.

Tenho que admitir que Hiyono brava é realmente demais... Puxa, até hoje só vi o Kousake reagir assim quando Ryoko o acerta. Não consigo esconder minha admiração pela pequena garota, de aparência frágil, que sempre é motivo de piada, conseguir fazer isso com um simples olhar.

- Você sabe... – Ryo começa, chamando a atenção de todos. – Você podia se livrar disso simplesmente se declarando para o Narumi.

Hiyono arregala os olhos, suas bochechas ficando ainda mais coradas e, sem nem pensar eu me levanto.

- Eu não estou apaixonado por ela!

Novamente percebo que fiz alguma coisa errada quando seis pares de olhos, uma vez que dessa vez até mesmo Hiyono participou, se viraram para mim.

- Sério. Não estou.

Kanone disfarça o riso, virando a cabeça para o lado, enquanto as duas garotas, Ryo e Ryoko sorriem divertidas, antes que a mais nova diga.

- Eu disse que Yuizaki deveria declarar seus sentimentos por você, Narumi, não o contrário. – Ryo sorri. – Mas obrigado por nos informar de seus sentimentos tão claramente.

- Eu disse—

- Cala a boca, Ayumu. – Hiyono diz quando consegue se recuperar. – Ela só está tentando te provocar.

- Mas eu só...

O sinal, anunciando o final da hora do almoço toca, e percebo que a maioria das pessoas já voltou para a sala a algum tempo. Acho que tenho que agradecer a algum deus por não ter tantas testemunhas sobre esse momento.

- Salvo pelo gongo, Narumi. – Eyes diz, apanhando suas coisas sobre o banco antes de começar a se afastar. – Literalmente.

As garotas riem divertidas e o seguem, assim como Kousake, apenas Kanone continua parado ali, olhando para Hiyono e eu.

- Mais alguma piada, Rutherford? – Hiyono pergunta com o máximo de dignidade.

- Não no momento. – Ele sorri, daquela maneira gozadora de sempre. – Apenas um conselho. – Ele apanha sua marmita do banco antes de se virar para nós. – Façam o que Ryo disse e se declarem de uma vez.

Hiyono volta a corar, sem saber o que dizer pela primeira vez em muito tempo, e apenas o observa se afastar.

- Eu realmente não gosto de Hiyono, Kanone.

Só percebo que disse essas palavras em voz alta quando ele se vira para me encarar divertido.

- Claro que não, Narumi, por isso a segue e incentiva em toda loucura que ela inventa.

- Eyes faz o mesmo por você. – Digo rapidamente a primeira coisa que me passa pela cabeça. – Isso não quer dizer nada.

- Claro, isso não quer dizer nada, mas Eyes nunca cozinharia para mim. Todo dia. – Kanone ainda está rindo antes de nos dar as costas. – Ou me pegaria nos braços e fugiria como você fez no sábado... E estava pronto a fazer novamente agora a pouco.

Um silencio inconfortável cai sobre nós quando a figura de Kanone finalmente desaparece dentro do prédio. Viro para Hiyono, sem conseguir encontrar o que dizer. Ela parece tão confusa e encabulada quanto eu, e apenas abaixa para pegar a marmita do chão.

- Vamos para a aula.

Continuo parado, fitando-a enquanto ela apanha as duas partes da marmita que se separam durante nossa pequena luta e as fecha calmamente. Então, como o idiota que cada vez mais tenho certeza de ser, digo:

- Eu realmente não gosto de você.

Hiyono levanta, os olhos castanhos fixos em meu rosto por alguns segundos antes que seus lábios se curvem em um sorriso.

- Claro que não.

- E você também não gosta de mim.

- Exato! – Ela pisca enquanto caminha em minha direção. – Eles são loucos.

- Eu sei. – Consigo dizer, sentindo-me um pouco mais relaxado. – Vamos voltar?

- Sim. – Ela continua sorrindo. – Rápido, ou vamos perder outra aula. – Hiyono suspira e vejo a franja se mover com sua respiração. – Não estou a fim de ter que fazer outro trabalho para compensar a falta.

- Você sabe que quem vai fazer esses trabalhos sou eu, Hiyono.

A garota ao meu lado apenas sorri enquanto caminhamos na direção do prédio.

- Nagareboshi kirakira kira ri.

Droga, ela está cantarolando aquela música idiota novamente, mas dessa vez não consigo me zangar.

- Hoshi no umi ni niji ga kakatta.

Sorrio comigo mesmo quando nos aproximando da sala de aula. Ela vira para mim, ainda sorrindo.

- Nagareboshi kira kira kira ri.

Não é necessário nenhuma razão especial para cantarolar essa estúpida música sem sentido. Que não possui uma única rima.

- Negai goto ga kanau to iina.

- Música estranha.

Hiyono sorri, mostrando a língua antes de entrar na classe e sentar-se em seu lugar. Dou de ombros, seguindo-a e sentando na carteira da frente e ainda posso ouvi-la.

- Guddo naito tuinkuru mai haato.

Sorrio comigo mesmo antes de girar na cadeira para fitá-la.

- Oyasuminasai. – Minha voz sobrepõe a dela quando proferimos o final juntos.

Hiyono arregala os olhos e eu rio antes de virar novamente para a frente da sala. A professora entra na sala, cumprimentando os alunos e posso sentir quando Hiyono se inclina sobre a carteira para sussurrar para mim.

- Isso foi melhor do que a sua declaração desajeitada, Ayumu.

Começo a me virar para perguntar o que ela quer dizer com isso, mas a professora percebe e lança um olhar de aviso em minha direção. Suspiro, fitando o relógio na parede, contando mentalmente quanto tempo levará até que a aula termine e eu possa perguntar a Hiyono o que ela quis dizer com aquilo.

Este vai ser um longo dia.