"Todo mundo então era pérfido, mentiroso e falso?

E lágrimas lhe vieram aos olhos, pois choramos sempre a morte de nossas ilusões com a mesma mágoa que choramos os nossos mortos."

- GUY DE MAUPASSSANT


VOLTO para casa de noite, já que a sra. Reed insistiu que eu ficasse para o jantar.

Estou com uma sensação estranha, como um zumbido no ouvido, desde a conversa com Patti.

Largo a bolsa, tiro os sapatos, tomo um copo de água e começo a arrumar o apartamento. Sei que não é hora para isso, mas é que ocupar as mãos sempre me ajuda a pensar.

Sangue-ruim. Aurores. Faz muito sentido na minha cabeça. Quero dizer, eu sou sangue-ruim. E sou uma Auror. Mas é paranóia minha, porque eu certamente não sou tão importante assim para que Voldemort armasse um plano desses só para me eliminar. Se bem que eu tenho a impressão que Voldemort não armou aquele ataque ao Ministério. Estava muito desorganizado. E Você-sabe-quem não tolera desorganização nas suas fileiras, pelo que me parece.

Com a sala já mais ou menos arrumada, vou para o quarto.

Aquilo foi um imprevisto. E certamente deveria ser algum retardado que estava organizando a missão, para reagir violentamente daquele jeito. Por que foi muito, mas muito idiota eles terem atacado o QG daquele jeito. Em plena luz do dia.

Começo a sentir meu corpo doer e meus olhos começarem a me fechar. Automaticamente, tomo um banho e escovo os dentes. Então, caio na cama e adormeço.


ACORDO com o barulho de algo metálico caindo no chão.

- Merda. - Uma voz de homem diz e eu abro os olhos, puxando a varinha debaixo do travesseiro.

Tem alguém na minha casa.

Levanto o mais silenciosamente que posso. Não tem ninguém no corredor, e a sala também está vazia. Olho pela janela. Está chovendo.

Seguro a varinha com mais força. Sons vêm da minha cozinha.

Com cuidado, me aproximo do portal. Tem um homem na minha cozinha, percebo, e automaticamente ataco com um feitiço não-verbal, sem nem ao menos ver quem é. Meu visitante, entretanto, tem reflexos rápidos, e se abaixa, fazendo assim que o feitiço atinja o pingüim de cerâmica em cima da geladeira.

- Nossa, Lily, não precisa tentar me matar. - ele diz, enquanto volta a ficar de pé, arrumando as roupas.

Sinto meu queixo se deslocar verticalmente.

- Sirius, o que é que você está fazendo aqui? - dou uma olhada no relógio na parede. - São oito e meia da manhã.

- Bem, Lilizinha, alguém tinha que te impedir de ir para o trabalho hoje, e eu fui o premiado.

Levanto uma sombrancelha.

- Aliás, bonita camisola. - ele acrescenta, me olhando de cima a baixo, só para me irritar mais. Reviro os olhos. Durmo com uma camiseta velha, que mal chega à metade das coxas.

Bufando irritada, volto pro quarto e visto uma calça por baixo da camiseta.

- Não costumo esperar visitas à essa hora. Aliás, como foi que você conseguiu entrar aqui? - pergunto, voltando à cozinha.

- Ah, foi bem fácil. Arrombei a porta. - Imediatamente, me viro para olhar para a porta do apartamento. - Mas não se preocupe, eu já arrumei.

Olho mais uma vez para ele. Sirius está tentando fazer o fogão funcionar com a ajuda da varinha, mas sem muito sucesso. Passo por ele rapidamente e ligo o fogão.

- Obrigada. Não sabia que você tinha essas coisas trouxas em casa. - ele diz, pegando o maço de cigarros do bolso de trás da calça.

- Você disse algo sobre me impedir de ir trabalhar.

- Ah, é verdade. Você não pode ir trabalhar.

Reviro os olhos.

- Sirius, eu preciso ir trabalhar.

- Não, não. James há essa hora já deve ter entregado o atestado, então você está de licença.

- Que atestado?

- O atestado médico, Lilizinha.

Estou ficando realmente irritada, agora.

- Que porra de atestado é esse, Black?! Eu não fui no médico, eu estou bem! Eu vou trabalhar!

Sirius dá uma tragada no cigarro, e calmamente o coloca na borda da pia, na falta de um cinzeiro.

- Você quer brigar, a gente briga. Tudo bem. Mas me mandaram manter você em casa, e é isso que eu vou fazer, nem que tenha que ser a força. Não tenho medo de uns socos, Lilizinha. James me avisou que você poderia ficar meio violenta.

- Não me chame de Lilizinha. - resmungo, furiosa. Sirius Black não vai me prender na minha própria casa, ah, não vai mesmo. Só preciso distraí-lo, para então atacá-lo. A chaleira começa a chiar, e ele se vira de costas.

Apertando a varinha, uso um feitiço estuporante.

Ele desvia do feitiço de novo. Sorrindo selvagemente, o idiota pega a varinha, e, antes que eu possa dizer "merda", estou presa na cadeira da cozinha.

- QUE PORRA É ESSA!? ME SOLTA, SEU IMBECIL!

- Eu te avisei, querida. Agora, onde é que você guarda o café?


VIREI a cabeça para o relógio da cozinha. Quase onze horas. E eu ainda estou presa aqui.

- Black, dá para você me soltar um pouco? - pergunto, rangendo os dentes. Isso é ridículo. - Minha bunda está dormente. - acrescento, quando ele ergue uma sombrancelha.

- Desculpe, Lily, mas ainda não te perdoei por ter quebrado meu coração. - ele diz, então molha os lábios com a língua e continua a fazer a revista de palavras cruzadas que tinha trazido no bolso do casaco.¹

- Black, você é um homem morto. - digo.

- Sim, bem, todo mundo morre mais cedo ou mais tarde. - Ele diz, distraídamente.

- Vai ser mais cedo no seu caso. Muito mais cedo.

Mexo-me na cadeira. Sirius é bom, tenho que admitir.

Então, a campainha toca e eu me viro tão rápido que quase desloco o pescoço.

Sirius levanta meio distraído, e sai da cozinha para atender a porta murmurando algo que se parece muito com "esfarrapados, cinco letras".

- Prongsie! - ele cumprimenta, e eu me aprumo na cadeira. James está aqui. James vai me salvar.

- E aí cara? Nenhuma marca roxa, nenhum osso quebrado? O que foi que você fez para ela não te atacar? - ouço a voz dele, brincalhona.

- A prendi na cadeira da cozinha.

- VOCÊ O QUÊ?! - James passa por Sirius e entra no apartamento, e pára, olhando para os lados, provavelmente procurando a cozinha.

Então ele me enxerga presa e rapidamente se aproxima, procurando a varinha no bolso das vestes.

- Finite Incantatem - ele murmura, e eu me levanto imediatamente.

- Ela me atacou pelas costas. - Sirius anuncia, entrando na cozinha. - Com um feitiço não-verbal.

- Oh, pobrezinho. - ouço minha própria voz dizer, carregada de sarcasmo, e me preparo para voar em cima dele. - Seu filho-da puta!

Mas James me segura pela cintura, antes que eu possa alcançá-lo, seu corpo bloqueando minhas tentativas de me soltar.

- Você também não vai inventar de me prender, vai? - resmungo, cedendo e parando quieta.

- Não, Lils. - ele diz, e dá um sorriso. - Mas também não vou deixar você nocautear meu melhor amigo.

- Hey! - Sirius exclama, indignado com a suposição que eu poderia nocauteá-lo. Suposição verdadeira, devo dizer.

- Muito bem. - digo. Sei quando a batalha está perdida, e este é o caso. - Pode relaxar James, eu não vou bater nele. Não que ele não mereça.

James me olha, aqueles olhos impassíveis medindo minhas palavras, e então se afasta.

- Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui? - pergunto, esquentando o café que Sirius tinha feito. - Porque não posso ir trabalhar?

Sirius e James trocam um olhar e sinto minhas têmporas latejarem, de repente.

- Lily... - James começa, procurando pelas palavras, enquanto escolhe um cigarro do maço com cuidado. - Dumbledore está... como vou dizer, isso, Merlin? - ele olha para Sirius.

- Você vai ficar aqui com ela? - Sirius pergunta, e James faz que sim com a cabeça. - Então eu vou indo. Preciso trabalhar. - Ele pega o casaco e as palavras cruzadas, me dá um sorriso de desculpas e aparata.

James faz uma careta.

- Dumbledore acha que Voldemort está atrás de você. - ele diz, de uma vez só.

Sinto minha cabeça rodar, e tenho que me apoiar na pia.

- Por quê? - é a única coisa que consigo articular, minha cabeça funcionando rápido demais.

- Provavelmente para levar você para o lado dele, sei lá. - James diz, e, com um surto de energia, se levanta de um pulo e começa a andar de um lado para o outro.

- James, eu sou nascida trouxa.

- E daí? - Ele praticamente cospe as palavras.

- Bem, normalmente ele gosta de torturar e matar pessoas como eu, e não levá-las para tomar chá junto com os amiguinhos Comensais.

James pára de andar, suspira, e então estende a mão para me tocar, os dedos dele roçando de leve o meu braço.

E eu sinto uma vontade imensa de me jogar nos braços dele. E isso é perigoso. Afasto-me dele, caminhando até o armário para pegar uma xícara. Minhas mãos estão trêmulas, acabo de notar.

- Por que você não me disse isso antes?

- Porque eu não sabia. - Ele leva o cigarro à boca. - Dumbledore me procurou ontem à noite.

Começo a sentir uma bola quente se formando na base do estômago. Dumbledore não me procurou. Não me falou nada. Confiou a notícia à James. E é a porra da minha vida que está em jogo.

- Ele não me disse muita coisa, realmente. Eu estou tão às escuras quanto você. Só perguntou se você poderia ficar na minha casa, e eu concordei.

- Por quê? - pergunto, novamente.

- Por que o quê? Bem, eu me preocupo com você, você é minha amiga, minha parceira, e minha casa está sempre aberta para as pessoas que eu gosto.

- Não isso, James. Por que ninguém me avisou nada?

- Ah. Eu não sei, Lily. Eu realmente não sei.

Mordo a língua para parar de tremer. Tomo um golé do café, para empurrar o nó na garganta.

- Qual é o plano? - pergunto, sem encarar James.

- Dumbledore conseguiu um atestado com a Marly, dizendo que você estava com urticária, e ia precisar ficar uns dias em casa. Por isso Sirius veio hoje. Então, é para eu levar você para minha casa.

- Então Dumbledore supõe que eu vou ficar quieta, fazendo nada na sua casa, enquanto um bando de Comensais idiotas está por aí atrás do meu traseiro?

James sorri.

- Eu achei que você ia dizer isso. É só por uns dias, Lily. Até a poeira baixar.

- Ao inferno que eu vou ficar parada.

- Bem, você pode nadar.

Olho para James. Será que ele sofreu uma queda que afetou o cérebro ou coisa assim?

- Minha casa tem piscina. - ele explica. Eu bufo, então começo a rir.


N/A: Capítulo podre, de uma fic podre. Sério, não sei porque demorei tanto para postar essa droga. E o pior é que minhas idéias para fics parecem ficar cada dia pior. E a lista de defeitos que eu achei nessa fic vai ficando maior a cada dia... (ou a cada capítulo).

Bléh. Momento meio rebelde aqui.
Enfim.

Yuufu: Bem, se revela ou não revela eu não sei... Aliás, eu to mais perdida que cego em tiroteio nessa fic... oakdfokaodfkasodf Sério, eu me perdi total depois daquele capítulo do Ministério, porque tive que inventar todo um novo enredo para a fic.

Chocolate Cookie Cake.: Adorei a sua review! Rebolar hahahha :D E sim, a Patti é meio irritante às vezes, mas que amiga que não é?

Oliivia: Pois é pois é, eu também não sei onde estão os beijos, abraços e as cositas mas deles... Mas não se preocupa que eu to procurando hahahaha :DD Não, não. Se eu não inventar de ter mais um surto e escrever mais um capítulo nada a ver com o plano original, as coisas entre o James e a Lily vão começar a esquentar em breve...

Helena Black: James respondeu a sua questão? A verdade é que eu acho que a Lily voltaria para casa sim, porque não acredito que ela fosse se deixar amedontrar por uns comensais.

July Prongs: Sim, eles estavam. Eu acho :D

E eu não vou mais comentar o sétimo livro, porque acabei de ver que mais um pouco e temos spoilers nos comentários. :D

Dayane-chan: Atualizado, moça. Beijos.

Thaty: Ah, que bom. Isso me deixa muito, mas muito feliz. É o que me anima a não desistir da fic.

Mimi Granger: A melhor coisa do mundo é ter muitas coisas para fazer, mas não fazer nada. :D Beijocas!

Ms. Cookie: Mais :D E a review fez sentido para mim.

Miss Huyu: Eu acho que te add no msn, mas não tenho certeza. Daí, tu me avisa, tá?

Jhu Radcliffe: Mel de chá? Enfim, a Patti é assim mesmo. Hahaha Beijos!