Capitulo I – Um péssimo dia

A tempestade castigava os campos aquela noite, enquanto o vento rugia espalhando estranhos sons que se confundiam com os gemidos dos mortos nos lugares mais afastados, onde o tempo se perdia entre as sombras. Àquela hora, era difícil visualizar qualquer ser vivo em meio ao dilúvio que se abatia sobre a Terra. Difícil, mas não impossível.

Não se você fosse um ninja. Não se você possuísse o byakugan.

Porém, a jovem de longos cabelos escuros, que tentava desesperadamente soltar as amarras que a prendia, não queria acreditar no que via. Ou melhor, no que não via. Sua linhagem sangüínea, considerada a mais forte em termos de percepção, parecia tê-la abandonado naquele momento. Por que ela ouvia os murmúrios, sentia o toque, se impregnava com o cheiro, mas seus olhos nada viam além dos pequenos seres da natureza que nada podiam fazer contra um ser humano. Desespero a dominou por completo quando, inutilmente tentou desativar seu byakugan, que continuava a ver tudo menos seus inimigos, que agora começavam a machucá-la, rasga-la, violá-la, enquanto seus gritos se perdiam no vazio. E foi então que aconteceu o mais improvável.

Hyuuga Hinata acordou de seu pesadelo.

Igual ao seu sonho, a tempestade castigava a noite. A janela do seu quarto batia descompassadamente com o vento, salpicando o tatame de água e lama. Por um momento ela imaginou que aquilo fosse outra peça pregada por sua mente, já que sentia dentro de si uma tempestade como aquela amedrontando sua alma. Ainda deitada na cama, tentava se livrar das sensações aterrorizantes causadas pelo pesadelo. Observou os contornos que as sombras faziam pelo quarto, enquanto seu coração ainda batia descompassado. Foi então que ela sentiu a bílis subindo pela garganta.

"Não, de novo não!" pensou enquanto se levantava e apressadamente se dirigia ao banheiro.

Aquelas crises de vômito estavam cada vez mais constantes, ela percebeu. A cada dia mais perto de seu martírio, elas se intensificavam, sempre no meio da noite, como se aguardasse a escuridão para atormentá-la, até atingir seu apogeu. Não conseguia mais manter qualquer comida dentro do seu estômago, e já havia perdido peso desde que seu pai havia anunciado seu futuro naquela fatídica noite. A data já estava marcada, não teria retorno. Seu aniversario de dezoito anos. O dia que oficialmente seria a líder do clã Hyuuga. O dia que seu pai fazia questão de frizar como o início da decadência dos Hyuuga...

Esse pensamento fez com que Hinata se debruçasse sobre a pia sentindo uma dor no peito, como se sua alma estivesse sendo partida em duas. Ninguém dentro do clã confiava em sua capacidade, em sua força. Na realidade, nem ela própria acreditava que alguma coisa dentro dela pudesse corresponder às expectativas de toda sua família quanto à sucessão. Lembrava claramente a reunião que tiveram dois meses atrás, onde toda a Souke se viu reunida na sala de reuniões. O único representante da Bouke era Neji, seu primo, que ficara sentado ao seu lado. Mesmo pertencendo à casa secundária dos Hyuuga, ele era muito respeitado dentro do clã por todos os membros.

Quando a reunião se iniciou, Hinata já sabia qual seria seu foco.

- Hiashi-sama – havia dito um dos membros da Souke – Não creio que Hinata-sama esteja preparada para assumir um cargo tão importante quanto à liderança do clã. Seria mais prudente se déssemos mais tempo para ela se preparar, ou entregarmos o controle do clã para alguém mais... – ele deu uma pausa e falou olhando para Hinata – Disposto.

- Quem decide o que deve ser feito nesse clã sou eu, Shota. – dissera seu pai aparentemente irritado. – E é direito de Hinata assumir esse cargo, mesmo que no momento ela não esteja preparada adequadamente.

Fechando as mãos no colo, ela desejou ardentemente sumir daquela reunião. Queria evitar aqueles olhares acusatórios que recebia agora de todos, como se culpassem a sua existência, ou a desafiasse a mudar a opinião de todos ali.

- Hinata assumirá o clã Hyuuga no dia de seu aniversário de dezoito anos – concluíra seu pai – Ou seja, daqui a em torno de três meses, no dia vinte e sete de dezembro, ela assumirá o controle da família. – olhando diretamente para ela, Hyuuga Hiashi acrescentou – Caberá a ela decidir se isso será o inicio do nosso declínio ou não.

Mas ninguém ali parecia disposto a concordar plenamente com o que dissera o seu líder. Alguns burburinhos foram ouvidos antes de alguém falar de novo.

- Não seria mais prudente – continuou o homem chamado Shota – Que esperemos Hanabi-sama atingir a idade apropriada e ela assumir o clã? Tenho certeza que todos, assim como eu, acreditam que ela terá mais condições de estar no cargo que sua irmã.

Hyuuga Hanabi, uma menina de treze anos que estava na sala, ao lado de sua irmã, levantou a cabeça diante da citação de seu nome e encarou profundamente o homem que falara.

- Não tenho interesse em ocupar o lugar de minha irmã. – sibilou entre os dentes.

A força e personalidade de Hanabi eram reconhecidas dentro do clã, e ninguém ousou discordar dela. Hinata a invejava. A menina sabia se expressar melhor que ninguém ali.

- A partir de hoje – continuou Hiashi como se não houvesse tido nenhuma interrupção ou questionamento – Hinata estará sobre os cuidados de Neji, que irá acompanhá-la nos treinamentos, bem como Hanabi também. Esperemos sua evolução durante esse tempo.

Neji, que até então estivera aparentemente alheio à situação com os olhos cerrados, abri-os lentamente. Todos o encararam, apreensivos. Seria digno de um gênio ser posto como um simples guardião?

Mas ele não se importou com nenhum daqueles que o encaravam. Os seus olhos se encontraram apenas com os de sua prima, que parecia apreensiva.

- Ajudarei Hinata-sama no que for necessário. – falou por fim.

Hiashi parecia satisfeito.

- A reunião está encerrada. – anunciou o líder do clã se levantando – Dispensados.

Depois que consideraram sua irmã caçula mais apta que ela, Hinata decididamente ficou decepcionada consigo mesma. Havia deixado que todos se retirassem e ficou sozinha na sala com Neji e Hanabi. A caçula havia pegado em sua mão e dito:

- Esqueça esses idiotas e se esforce. – e saíra em busca do pai.

Neji não dissera nada, apenas se levantara. E fora naquele dia que começaram suas crises. E apenas em relembrar tudo isso, fez com que elas se intensificassem mais. Vomitou novamente até que nada restou no seu estômago. Apenas um gosto amargo sobrara em sua boca.

"E dia ainda mal começou", pensou triste "se ao menos eu tivesse em quem me apoiar...".

Não queria sua irmã ou Neji olhando com compaixão para ela. Gostaria de alguém com quem partilhar os momentos de tristeza e alegria. Alguém em quem ela pudesse encostar sua cabeça e se deixar levar por seus carinhos. Ela sabia quem queria. Sabia quem podia fazer ela se sentir viva de novo.

Uma figura risonha de cabelos espetados surgiu em sua mente. Ele sempre enfrentava tudo de cabeça erguida. A força de vontade que ele demonstrava pra conseguir seus objetivos era invejável, e era o que ela mais admirava nele. Sempre lutador... Sempre confiante... Talvez por isso ele nunca houvesse reparado nela. Uma menininha fraca, que teme suas responsabilidades, indecisa, e que se debatia quase insanamente todas as noites em crises sem fim, trancada no banheiro ao menor sinal de cobrança lançada sobre sua cabeça... Deveria se envergonhar de si mesma...

Mesmo passado todos aqueles anos, mesmo que agora a Vila Oculta de Konoha fosse a de maior poderio militar, parecia que seus sentimentos eram inalterados. Ainda sentia aquela mesma palpitação no peito quando o via. E da mesma forma que quando tinha doze anos, não conseguia se aproximar dele. Estava agora quase uma mulher, cujo corpo já chamava a atenção de muitos homens. Mas não se interessava por ninguém. Seu coração estava preso às amarras daquele sentimento.

Sacudindo a cabeça para tirar esses pensamentos, ela se menosprezou por pensar em si mesma enquanto em breve teria a responsabilidade de todo um clã sobre seus ombros. Devia fugir dali se não quisesse enlouquecer diante daquela idéia.

Ou seguir o exemplo que ele sempre dera a todos e enfrentar tudo de peito aberto... Ou pelo menos tentar.

Sim, era isso que faria. Não podia fugir. Senão nunca poderia olhar para aqueles olhos azuis de novo de cabeça erguida.

Esse pensamento reconfortou um pouco seu coração. Lavou-se e voltou para seu quarto. Fechou a janela que ainda batia, e se deitou no futon.

Distante dali, o rapaz chamado Naruto dormia tranquilamente sem nem desconfiar que, àquela hora, uma bela garota chamada Hinata dormia e sonhava com ele, desejando somente uma vez poder confessar todos seus sentimentos mais ocultos.

O dia amanhecia sem nuvens e quente. Somente as poças d'agua pelo chão denunciava a chuva da noite passada. Os pássaros voavam em bandos pelo céu como uma celebração pelo novo dia. Em seu apartamento, porém, Naruto nada via desse espetáculo da natureza, pois ainda estava adormecido. Rolava por sua cama inconscientemente, até que fortes batidas na porta o derrubaram da cama.

Literalmente.

- Ai! – exclamou ele quando sua cabeça bateu no chão - Droga de cama está pequena pra mim... – resmungou passando a mão no lugar dolorido.

As batidas na porta continuaram insistentes. Alguém realmente estava com presa de falar com ele.

- Quem será a essa hora? – perguntou a si mesmo, tirando o gorro de dormir da cabeça e procurando se levantar - Ai! Droga de lençol!

Enroscado no lençol, que se recusava deixa-lo se levantar, ouviu as batidas se tornarem mais insistentes. Depois de travar uma pequena batalha com o lençol, Naruto finalmente conseguiu ficar de pé e abriu a porta. Não havia ninguém mais lá.

-Hã?! – foi tudo que ele conseguiu dizer diante do vazio – Droga! Fazem-me acordar por nada!

Quando ele se virou novamente para seu quarto, tomou um grande susto. Um anbu havia entrado pela janela de seu quarto e agora segurava uma carta diante de seus olhos. Então fora aquilo. Ele tinha uma mensagem e se cansara de bater na porta e agora estava ali, com sua máscara de urso, olhando fixamente para ele, e sem dizer uma palavra lhe estendeu uma carta. Olhando para o selo oficial da vila, exclamou:

– Uma carta da vovó Tsunade há essa hora?! – Naruto pegou o envelope e o analisou. Era realmente a letra dela e parecia uma convocação urgente. Sem tirar os olhos do envelope, acrescentou - O que ela quer?

Mas quando encarou o inesperado visitante, teve uma surpresa.

- Cadê ele? - ao virar-se pra falar com o anbu ele havia desaparecido.

O anbu já havia ido embora, e a janela do quarto de Naruto estava totalmente aberta, deixando a brisa fria da manhã entrar no aposento.

- Detesto quando eles fazem isso... – resmungou para o vazio.

Naruto rasgou ansioso o envelope imaginado o que a Hokage queria com ele a ponto de tirá-lo da cama aquele horário. Devia ser algo muito urgente.

- Uma convocação? Droga...

Deveria ser outra missão urgente, pensava ele se dirigindo ao banheiro. Aquilo já virara rotina desde que derrotara a Akatsuki e Orochimaru, três anos antes. Não tinha mais tempo de ficar em casa. Estava sempre em missões. Não que aquilo incomodasse, de forma alguma. Muito pelo contrário. Gostava de se manter ocupado. Mas ele era um jovem de dezoito anos já, e às vezes sentia necessidade de se distrair um pouco. Queria ter tempo de convidar Sakura para sair, mesmo que já imaginasse que ela diria um não, ou então, se aceitasse, acabaria levando Sasuke junto. Não que isso fosse ruim, mas queria ficar um pouco a sós com ela.

Sentiu-se mal ao pensar isso. Era bom ter o amigo de volta na vila, apesar de todos os percalços que enfrentaram para que ele fosse aceito novamente pelas pessoas de Konoha. Mas simplesmente não conseguia deixar de enxergá-lo agora como rival pelo amor de Sakura. Deixou que a água levasse aqueles pensamentos e depois se vestiu apressado.

- Vou tomar logo meu café da manha antes de ir lá. – falou baixinho como se avisasse a alguém.

Era comum ele falar sozinho. Talvez fosse uma forma que encontrara de aliviar a tensão de estar sempre sozinho. Enquanto o sol esquentava lá fora, ele procurou por qualquer coisa que fosse comestível para poder sair o mais rápido possível.

Todavia, ao abrir a geladeira, ele percebeu que precisava fazer urgentemente algumas compras. Era decepcionante ver que sua geladeira estava composta apenas por água, embalagens de ramen vazia e um leite talhado.

- Aiai... Vou ter que ir comer algo lá no Ichiraku. – disse fechando a geladeira e procurando sua carteira - Na volta, preciso passar no mercado.

Mesmo que não tivesse mais doze anos, Naruto não perdera o costume de se vestir de sua cor favorita, laranja, mesmo que a combinasse agora sempre com preto. Estava bem mais alto também, já passava inclusive de Sasuke e devia ter mais que um e oitenta de altura. Seu corpo havia se desenvolvido muito devido aos intensos treinamentos e ele se sentia mais confiante com sua nova forma, onde não estava nem muito leve, nem pesado demais. Mas seu apetite por ramen continuava tão apurado quanto antes. Depois de pegar sua carteira, Gama-chan, Naruto se dirigiu à barraca de ramen mais famosa da vila.

- O que vou comer hoje?- pensava em voz alta, com as mãos cruzadas atrás da nuca - Ramen com frango, legumes ou carne de porco? - abriu um grande sorriso - Acho que vou pedir um com tudo isso! – e apressou animadamente o passo.

Quando chegou em frente ao seu lugar favorito em toda Konoha, sentiu uma grande decepção.

- Droga, hoje definitivamente não é meu dia... - exclamou ao ver a barraca de ramen fechada – Vou ter que falar com a vovó Tsunade de barriga vazia... Espero que ela não demore...

Apressando-se, Naruto começou a pular de casa em casa em direção ao escritório da Hokage. Já imaginava que tipo de missão ela estaria preparando para ele. Com certeza seria mais uma daquelas missões de rank A onde ele passaria semanas afastado de Konoha. Deveria ser algo muito importante assim para tirá-lo da cama tão cedo e repentinamente. Quando estava na metade do caminho, ouviu alguém o chamando:

- Yo, Naruto! – era uma voz conhecida e sonolenta.

Era um rapaz muito alto e com os cabelos negros amarrados no alto da cabeça e que vestia um uniforme de jounin. Ele se aproximou e começou a acompanhar Naruto em direção ao prédio da Hokage.

- Shikamaru! – exclamou Naruto animado em ver o amigo - Como vai?

- Com sono... – respondeu ele bocejando – Detesto quando a Quinta me chama a essa hora. – e bocejou novamente aparentemente emburrado com o chamado que recebera.

- Oh, você foi chamado também? – surpreendeu-se Naruto.

Começava a ficar preocupado. Será que Shikamaru seria enviado para a missão junto com ele? Isso significava que era algo muito perigoso. Já não achava que era algo rank A. A presença de Shikamaru em uma missão junto com ele aumentava as possibilidades de ser uma missão rank S.

- Que cara preocupada é essa? – perguntou Shikamaru analisando seu rosto.

- Se você foi convocado também, imagino que tipo de missão a Vovó Tsunade tem para nós dois. – ele estava sério quando falou – Deve ser algo muito complicado.

O rapaz do clã Nara olhou por um momento confuso com a reação de Naruto, para depois da um sorriso discreto de compreensão.

- Ah, entendi. Você ainda não sabe né? – Shikamaru deu um sorrisinho malicioso

- Você sabe do que se trata Shikamaru? – perguntou Naruto preocupado.

- Sim eu sei. – falou triunfante – Mas se a Quinta não quer que você saiba então eu não vou te contar.

- Pô, Shikamaru, eu tô curioso! – protestou Naruto.

Por mais que ele insistisse, não consegui nenhuma palavra do amigo, somente sorrisinhos que o deixavam irritado. E assim seguiram os dois até a presença da Hokage.

O gosto amargo e ruim ainda persistia em sua boca naquela manhã. Hinata vestira sua roupa de treino tão logo o dia amanhecera. Encaminhou-se relutantemente até o jardim de sua casa. Neji já a esperava em seu habitual traje de treino. Ele se levantou logo que a viu se aproximar.

- Bom dia Hinata-sama. – cumprimentara ele formalmente.

- Bom dia, Neji-nii-san. – retribuiu ela procurando sorrir para seu primo.

Neji não retribuiu o sorriso, mas ela não estranhou que ele não o fizesse. Talvez ele estivesse irritado por ser alguém com tanto potencial que estava sendo relegado a ajudar alguém como ela. Mas se ele não estava se sentindo bem, ela poderia liberá-lo dessa obrigação facilmente, bastava ele exteriorizar o que sentia. Mas demonstrar sentimentos nunca foi o forte de Neji. Então, se ele se sentia mal por estar treinando com ela, não deixou transparecer.

Como era de se esperar em todos seus treinamentos, ela não era páreo para Neji. Seu domínio de Taijutsu sequer o ameaçava. Não que fosse fraca. Muito pelo contrário. Comparado com as ninjas de sua idade, como Sakura e Ino que haviam se especializado em suporte como ninjas médicas e de manipulação de mente, e Tenten, que era perita em combate a distância, Hinata sabia que em nível de luta corporal era a melhor, sem dúvida. Mas ninguém reconhecia isso. E sempre a comparavam a Neji.

Seria realmente justo comparar alguém normal com outro que nascera um gênio?

- Você não está se concentrando na luta, Hinata-sama. – alertou ele depois de derrubá-la pela segunda vez.

- Desculpe Nej-nii-san. – pediu ela sinceramente – Vou me esforçar mais.

- Não faça isso por ninguém. Faça por você mesma.

Hinata o encarou um pouco surpresa. Parecia que ele sabia o que se passava em seu interior. Mas quando buscava por respostas, ele apenas desviou o olhar.

- Vamos continuar. – disse Neji assumindo a postura de luta dos Hyuuga.

Foram duas horas de treino, até que o sol ficou mais forte. Hinata suspirou ao perceber que o tempo já avançara bastante.

- Neji-nii-san, vamos parar por hora? – pediu ela olhando para o relógio na parede do clã – Preciso ir.

Ele também olhou para o relógio e concordou com a cabeça.

- Você não pode deixar-los esperando. – falou ele seriamente.

Concordando com a cabeça, ela se levantou e foi até seu quarto. O dia estava esquentando rapidamente. Tomou um banho bem frio para acalmar seus pensamentos e também seu corpo. Quando vestiu seu uniforme de jounin, seus olhos se detiveram instintivamente no calendário. Novembro chegava ao fim. O verão avançava e com ele a promessa de ter os seus dias de liberdades trancafiados. Sentiu novamente seu estômago se revirar, mas ainda não havia nada nele que pudesse colocar para fora. E decidiu não tomar café da amanhã naquele dia. Não queria passar mal na frente daqueles que a esperavam

Não podia se mostrar fraca diante de seu time. Eles precisavam dela.

Sorrindo ao pensar nos garotos que a esperavam no campo de treinamento, pensou que pelo menos aquela responsabilidade era satisfatória.

- Bom dia nee-san! – cumprimentou Hanabi passando rapidamente por ela.

A garota nem ao menos deu chance da irmã responder e já sumiu pelo portão do clã. Estava treinando com força total para se tornar Chunin, e Hinata invejava o bom trabalho que estava sendo feito por Rock Lee no time de Hanabi. Esperava que também estivesse fazendo um bom trabalho com os seus.

Já havia alcançado a porta de casa quando ouviu alguém chama-la discretamente.

- Hinata-sama.

Neji aparecera em sua frente, já de trajes mudados e também com os cabelos molhados como os dela.

- Algum problema Neji-nii-san? – perguntou preocupada.

- Não vai tomar café da manhã?

- Não. – respondeu corando. Talvez fosse medo de ter sua doença descoberta – Acho que nos empolgamos demais no treinamento e se eu for comer agora deixarei meu time esperando.

Não sabia se ele havia acreditado nela ou não. Mas Neji se aproximou dela e pegou a sua mão. Surpresa, Hinata viu que ele depositara nela uma maçã bem vermelha e madura.

- Aqui, para caso sinta fome. – disse ele se afastando em seguida.

Mesmo que ele não pudesse ver, ela abriu um grande sorriso.

- Obrigada Neji-nii-san!

E saiu alegremente pelo portão.

Depois que ela saiu, Neji ficou observando o lugar por algum tempo. Assumira a função de protetor de Hinata. Mesmo que muitos não considerassem aquele uma obrigação ao seu nível, fôra o que o líder do clã havia designado para ele. E iria cumprir-la rigorosamente. Mas naquele momento Hinata não precisava dele. E se voltou para o clã, disposto a assumir seus outros afazeres.

Naruto e Shikamaru entraram ao mesmo tempo na sala da Hokage. Diferente do colega, o rapaz do clã Nara já sabia o que iria encontrar ali e não escondeu o sorriso diante do olhar abismado de Naruto.

Naquele momento, no escritório de Tsunade, a surpresa não deu trégua a Naruto. Se o chamado àquela hora já fora estranho, e a presença de Shikamaru a tornara preocupante, o que ele podia pensar agora diante do que via? Ali, naquele momento estavam reunidos todos os sensei da vila de Konoha, inclusive Kakashi, que lhe acenou com uma mão enquanto a outra segurava o Icha Icha Paradise vol 16. Naruto sorriu lembrando de Jiraya, que não aparecia por ali há algum tempo. O capitão Yamato, que acompanhara seu treinamento durante o período que tentava dominar seu jutsu para enfrentar a Akatsuki também sorriu para ele. A única pessoa que ele não viu entre os presentes fora Kurenai. Lembrava vagamente que ela estava afastada de suas atividades, mas não sabia o motivo. Além dos professores, estavam também todos os examinadores do Chunin Shiken, e os anciões da vila que ele não lembrava o nome, mas sabia que foram companheiros de time do Terceiro.

Olhando para todos aqueles presentes o encarando tão seriamente, não pode deixar de ficar nervoso. Parecia mais um julgamento que uma reunião, e todos aparentemente estavam apenas esperando por ele. Olhando para a Hokage depois de sua vista ter passado sobre todos os presentes, ele sentiu que estava em uma situação inusitada.

- Eu cometi algum crime e não percebi? – comentou Naruto tentando parecer descontraído, coçando a cabeça e soltando uma risadinha nervosa.

Os presentes começaram a rir também, exceto a Hokage e os conselheiros que continuavam sérios. Tsunade sequer olhava para ele, e trazia sua cabeça baixa, analisando um documento à sua frente. Pequenas conversas imperavam na sala enquanto esperavam o pronunciamento dela.

-Uzumaki Naruto – disse Tsunade finalmente, fazendo todos se calarem – Eu estive analisando sua ficha juntamente com os conselheiros Koharu e Homura. Temos designado mais missões para você que para a maioria dos ninjas na vila – Ela deu uma pequena pausa, onde cruzou as mãos e olhou fixamente para ele - Você tem sido um dos melhores ninjas de nossa vila, tendo sua margem de falhas quase inexistentes em missões...

Naruto sentiu o rosto ficar vermelho diante do comentário. Por que Tsunade o elogiava perante todos aqueles ninjas da vila? E o que Shikamaru fazia ali? Onde estavam os seus outros amigos? Não havia nenhum deles ali, nem mesmo Sakura e Sasuke.

- Puxa valeu... – agradeceu em jeito – Mas eu não...

- Não me interrompa! - esbravejou ela parecendo realmente irritada.

- Sim senhora! – respondeu ele corando mais.

Muitos riram diante da cena. A vila em peso sabia do enorme carinho da Hokage para com Naruto. Muitos inclusive quando se referiam ao rapaz o faziam como "o preferido", alcunha que o próprio Naruto não gostava. Mas após presenciar o comportamento que um tinha com outro, era realmente difícil não concordar com aquilo.

- Como eu ia dizendo – pigarreou a Hokage acabando com os poucos murmúrios da sala - Apesar de todo sucesso você é ainda um mero genin.

Aquela era uma verdade que doía ainda nele. Até mesmo Sasuke, que passara tanto tempo longe de Konoha conseguira se tornar Jounin. Naruto não sabia se aquilo era apenas acaso, ou se tentavam mantê-lo afastado de qualquer responsabilidade. O fato era que, sempre que havia um Exame chunin, ele estava em uma missão. Na verdade, nos últimos tempos nem sabia como conseguia ter uma noite descente de sono. Estava sempre fora de Konoha. No inicio, sabia que tinha que ajudar a manter a vila estabilizada depois das perdas que houve com a guerra contra a Akatsuki e depois contra Orochimaru. Porém, parecia que Tsunade havia se acostumado a sempre designar as piores missões para ele. E agora, apesar de tudo, dizia claramente a ele que estava no mesmo nível de um garoto de doze anos que acabara de sair da academia.

- Nem me lembre disso – ele começou a reclamar, mas parou logo que viu o olhar dela.

Naruto não sabia, mas a Hokage se ressentia tanto quanto ele da sua posição dentro da vila de Konoha. Ela sabia de todo o esforço feito por ele em prol da população de Konoha. E naquele momento, queria poder retribuir tudo. Segurou o envelope nas mãos, com as ordens que pretendia dar para mudar o destino dele.

- Por ser um genin, há varias coisas que lhe são negadas. Então, eu reuni o conselho da vila para decidir quanto a seu futuro.

O estômago vazio de Naruto se contraiu ao ouvir essas palavras. O que ela preparara para ele? Achava que ele tinha responsabilidades demais para um mero genin e ia rebaixá-lo a fazer apenas missões de rank D? Mas essas especulações não duraram muito tempo. Pelo menos não quando ele viu o semblante satisfeito de Tsunade. A Hokage o olhava sorrindo e todos ao redor dela compartilhavam desse sorriso.

- Eu decidi o que fazer com você, Naruto, e fui apoiada pelos conselheiros e também por todos os examinadores chunins. – dando uma pausa para que suas palavras saíssem com efeito, ela decretou - A vila irá permitir que você se torne um jounin, mesmo que não seja um chunin ainda.

O choque inicial foi precedido por uma alegria nunca sentida antes por Naruto. A vila finalmente o reconheceu! Sem saber exatamente o que dizer, e com a certeza que estava fazendo a expressão mais idiota possível, Naruto simplesmente deixou toda a felicidade que sentia vir a tona.

- Yes! Viva!Yuuupiiiii!!! – gritava ele dando saltos de felicidade.

Ao lado dele, Shikamaru começou a rir. Mesmo com todo poder que ele tinha, mesmo tendo dezoito anos de idade, Naruto ainda era muito expansivo e ninguém se surpreendia que suas atitudes ainda lembrassem aquele menino de doze anos que pichara os rostos dos Hokage, na tentativa de chamar a atenção dos outros.

- Espera que ainda não acabou. – alertou Shikamaru colocando a mão no ombro do amigo.

Naruto se calou e parou de pular. Olhou para Tsunade, que ficara seria novamente e o olhava por cima das mãos cruzadas. E teve o pressentimento que o titulo de jounin não viria fácil.

- Porém, há uma condição. – esclareceu Tsunade

- Sabia que era bom demais para ser verdade... – comentou o garoto colocando as mãos atrás da cabeça.

Kakashi sorriu para ele incentivado-o. Todos ali, pareciam estar querendo mostrar uma confiança nele, que nem o próprio Naruto sabia que seria capaz de ter. Mas deveria ter. Era sua obrigação. Se quisesse ser um Hokage no futuro, não podia mostrar preocupação diante de todos aqueles presentes, principalmente dos membros do conselho. Sorriu de volta para seu antigo sensei e respirou fundo.

- Que condição é essa, Vovó Tsunade? – perguntou ficando sério de repente e encarando-a com os olhos azuis refletindo determinação. Não podia ficar amedrontado daquilo. Não já havia vencido coisas terríveis? Nada deveria superar tudo que já passara.

– Você terá que prestar um teste de habilidades. – revelou a Hokage.

- Teste de habilidades? – ele parecia não estar entendendo.

- Sim um teste para provar que você realmente tem condições de se tornar um jounin. – e entregou o envelope para Shizune, que se aproximou de Naruto e o estendeu para ele.

Então era isso! Um teste de habilidades. Sorriu ao receber o envelope de Shizune.

- Obrigado, Shizune-nee-san! Haha, um teste de habilidades? Isso será fácil! – sorriu confiante abrindo o envelope. Afinal, não havia coisa pior que enfrentar o líder da Akatsuki não?

- Serão dois teste: um escrito e outro de combate. – disse Tsunade como se quisesse acabar com a sua alegria

- Não, não será fácil... – murmurou ao ouvir a palavra "escrito" e ver as instruções nos papeis que recebera.

"Acho que prefiro enfrentar o líder da Akatsuki novamente..." pensou tristemente encarando a enormidade de conteúdos escritos no papel, que davam agora um nó em seu cérebro. E gemeu baixinho quando viu que a tal prova escrita seria em apenas um mês.

"Tanta coisa pra estudar e ela me dá só um mês?!" pensou horrorizado.

- Então aceita? – perguntou Tsunade diante da expressão mortificada dele.

Depois de um breve silencio, em que procurou toda a coragem que havia dentro dele, Naruto sorriu. Não ia se amedrontar por tão pouco. Tinha um longo caminho pela frente. E sentia que dava o primeiro passo naquele momento quando falou:

- E eu deixaria passar uma oportunidade como essa? – e apontando o polegar para si mesmo falou convicto – Pode escrever aí Vovó Tsunade, eu, Uzumaki Naruto, serei o próximo jounin da Vila de Konoha!

Os presentes manifestaram sua aprovação sorrindo para ele. Shikamaru bateu de leve no seu ombro e falou:

- É assim que se faz Naruto!

- Obrigado, Shikamaru. – agradeceu sinceramente.

- Ótimo! Dispensados! – disse a Hokage.

As pessoas começaram a sair e o cumprimentavam.

- Coragem que tudo dará certo Naruto! – falou Yamato dando uma tapinha nas costas dele.

- Vou avisando que ser um jounin não é fácil... – lembrou Kakashi.

- Se você quiser, te dou outra roupa igual a minha para você estudar! – disse Gai, fazendo a pose "nice guy".

- Err... – murmurou Naruto se imaginando naquele colante verde – Não obrigado Gai-sensei, fico com essa roupa mesmo...

Quando quase todos já tinham saído da sala, ele ouviu a Hokage o chamando:

- Naruto?

- Sim? – perguntou ele se aproximando.

Ele já estava bem perto dela com um sorriso grande nos lábios, quando Tsunade deu um socão que fez Naruto voar porta afora. Todos os remanescentes, inclusive os conselheiros e Shizune, ficam boquiabertos.

- Tsunade-sama! – exclamou a secretária.

- Isso é pelo "vovó" – falou Tsunade irritada com a mão ainda fechada.

Fim do capítulo I!