Parte V – Palácio do prazer
Capítulo 21 – Olhos fechados de um terror sagrado
Tempos mais tarde, a tarde modorrenta e fria em nada ajudava a aliviar os corações de quem olhava a paisagem circundante da prisão. O prisioneiro, porém, nem se importava com isso.
Ouviu o ruído da porta sendo destrancada, e não pôde evitar sentir-se surpreso. Era o fim da tarde, mais ainda não era hora do jantar. O que estaria acontecendo?
Uma pessoa entrou na cela, e o prisioneiro estreitou os olhos. Uma raiva gelada percorreu seu corpo.
– Sr. Malfoy. – O recém-chegado era polido.
Lucius retribuiu a gentileza. Ele era, afinal, um homem de berço.
– Sr. Potter. O homem responsável por minha estada neste estabelecimento tão tradicional. – Ele abriu os braços, mostrando em volta. – Lamento não ter nada melhor a oferecer ao herói do mundo bruxo.
– Não precisa me oferecer nada, Sr. Malfoy. Mas eu posso lhe oferecer uma coisa. Se estiver interessado.
– E o que você tem que possivelmente possa me interessar, garoto?
– Informações.
– Oh. – Lucius soltou um som cheio de desdém. – Informações, hein? Claro, posso ver como isso me será útil em minha presente situação.
– Se não está interessado, tudo bem. – Harry se virou para sair. – Só estou cumprindo uma promessa.
Era uma mentira. Harry queria muito continuar o diálogo, mas Lucius tinha que pensar que aquilo não era importante para Harry.
– Espere! – Lucius o viu deter-se. – Promessa a quem?
– Pensei que não estivesse interessado.
– Improvável como parece, o senhor atiçou meu interesse. Informações sobre o quê?
– Draco.
Os olhos cinza brilharam com fúria.
– Como ousa? Draco está morto. Faz mais de sete anos.
– Então está interessado no que tenho a dizer?
Lucius olhou Harry de cima a baixo. Pirralho irritante, aparecendo quando Lucius estava em desvantagem. Era óbvio que o pirralho tinha algo em mente...
– O que você quer, Potter?
– Apenas conversar.
– Sobre o quê?
– Nada demais: velhos amigos, velhos tempos...
– Em troca disso, você me dará informações sobre meu filho?
– Sim, isso mesmo.
– O que você quer saber?
– Estava pensando sobre Prof. Snape. Ou melhor, Severus, como você costumava chamá-lo.
– Você realmente quer falar de gente morta, não?
– Então, você soube sobre ele?
– Claro. O traidor morreu como merecia.
– A autópsia revelou que ele carregava uma criança.
– Sim, o filho do Dark Lord e minha cunhada. – Malfoy olhou para o finalzinho da tarde, sonhador. – Nosso futuro.
– Mas Severus também estava cheio de maldições. O que vocês fizeram com ele?
– Oh, o de sempre: Crucios, Sectumsempras, Diffindos... Algumas para ele manter o bebê enquanto era torturado, outras para que ele não se esquecesse de nosso Lord se sobrevivesse ao parto. O Lord nos deixava brincar com o traidor, desde que isso não prejudicasse o bebê ou o colar encantado.
Harry o ouviu com atenção, o cérebro maquinando. Lucius percebeu o brilho nos olhos verdes e indagou:
– Meu filho... O que tem sobre ele? Vai me dizer onde foi enterrado? De que adianta se não posso visitar seu túmulo?
– Que mais sabe sobre Severus?
– Não direi nada até me falar de Draco.
– Ah, é assim? Bom, então vou lhe dizer apenas uma coisa até me dizer o que quero saber. Draco está vivo.
Pausa. Os olhos cinza o olharam, calculando, medindo, avaliando.
– Prove.
Harry procurou no bolso dentro do casaco e de lá tirou uma foto. Era uma foto bruxa, e Draco observava o pôr-do-sol em Xanadu. De repente, ele olhava para o fotógrafo, sorria e acenava. Era um Draco mais velho e mais amadurecido, o que indicava uma foto recente, não uma foto tirada anos antes. Obviamente não era um truque ou magia: era dificilíssimo adulterar uma foto bruxa.
Durante vários segundos, Lucius olhou a foto, em silêncio. Em seguida, entregou-a de volta a Harry, que indagou:
– Agora vai me falar sobre Severus?
– Por que está tão interessado nele?
– Isso é problema meu. Agora me diga se ele realmente tinha uma maldição de que não poderia amar e ser amado.
– Oh, essa. – Lucius sorriu, de uma maneira especialmente perversa. – Essa foi o extremo do requinte do nosso Lord. O idiota jamais sonhou com isso. Teria valido a pena acompanhar o sofrimento dele. Pena que morreu antes que isso acontecesse.
– E como suspender essa maldição?
– Simples. Um encantamento. Qualquer um pode dizer as palavras, desde que não seja nenhum dos dois amaldiçoados. Eles devem estar juntos quando o terceiro disser as palavras. Só isso.
– Então me diga.
Ele disse, mas logo se arrependeu.
– Foi isso que você veio fazer aqui, Potter? Severus também está vivo e tem alguém que ame aquele traste? – Ele estreitou os olhos. – Não me diga que é você que está atrás daquela bunda seca!
– Oh, Merlin, não. Estou de olho em outras bundas. Uma delas é a do seu filho.
– Deixe meu filho em paz! – rosnou Malfoy Sênior. – Você não é digno sequer de limpar suas botas.
– Oh, nós temos feito bem mais do que limpar botas. Fizemos dois herdeiros Malfoy, se quiser saber. Mas não se preocupe: eles não sabem que vovô tá na prisão. Os dois moram numa linda mansão chamada Tintagel, e o tio Severus vem visitar várias vezes. Como Draco pode ter problemas com a lei, moramos muito longe daqui. Melhor mesmo, porque a mansão de Wiltshire foi confiscada e hoje abriga órfãos da guerra. Sangue-ruins, Squibs e tudo o que você mais odeia, Malfoy. Seu dinheiro foi para o Ministério, e Draco adotou o sobrenome Potter. Seus netos não são Malfoy. Você vai morrer aqui dentro, e com você o nome Malfoy será enterrado.
Lucius estava lívido, à beira de um ataque apoplético. Harry olhou pela janela, viu que o sol morreria em alguns minutos.
– Não que você mereça, mas direi à direção da prisão que você cooperou muito. Uma palavra de Harry Potter carrega tanto poder quanto a de um Malfoy já carregou algum dia. Pedirei algumas regalias. Talvez uma torta de Natal extra... Obrigado, Malfoy. Você realmente ajudou mais do que imagina. Vai ser um lindo presente de Natal.
Lucius rosnou, fora de si:
– Eu vou sair daqui e vou perseguir você e seus amiguinhos até os confins da Terra... Não pense que se livrou de mim, Harry Potter. Vai engolir sua bravata quando eu terminar com você, pode escrever isso.
O Garoto-Que-Matou-Voldemort sinalizou ao guarda que estava disposto a sair. Ainda deu um risinho, dizendo:
– Bravatas não são típicos de Slytherin, Lucius. E eu tenho muito mais de Slytherin do que você imagina. Draco não sabe que eu estou aqui. Quando disse que pensava vir, ele me proibiu de fazer isso. Mas eu precisava vir. Afinal de contas, você merece ter notícias de seu único e desnaturado filho.
A porta se abriu, e Lucius parecia prestes a pular no pescoço de Harry.
– Adeus, Sr. Malfoy. Que o senhor morra logo. Assim, as histórias que Draco costuma contar a seus netos sobre o avô se tornarão verdade.
– Seu pequeno sangue-ruim...! Eu vou...!
– Oh, e antes que eu me esqueça: Feliz Natal. Se os Dementors deixarem alguma lembrança feliz em sua cabeça, claro.
Harry deixou Azkaban quando já era noite escura, e sorriu consigo mesmo quando ouviu o que parecia ser o ruído de coisas se quebrando – ou alguém tendo uma crise nervosa. O barulho era tão alto que se ouvia do lado de fora da prisão.
Ainda que seu plano não desse certo, teria valido a pena só por isso.
Capítulo 22 – Grutas de gelo num palácio ensolarado
Os festejos de Natal começavam cedo em Xanadu. Como todos os anos, Draco e Harry chegavam com as crianças logo depois do café. Eles vinham carregados no limite da capacidade: traziam comida para a ceia de Natal e o almoço natalino, os sacos com presentes (disfarçados para as crianças não verem), as caixas com as decorações natalinas, as roupas para passar praticamente dois dias na casa dos padrinhos e, finalmente, uma nada desprezível quantidade de brinquedos e diversão para todos.
Severus abriu a porta e ergueu uma sobrancelha:
– Vocês vieram de visita ou pretendem se mudar para cá?
– Hahaha – disse Draco, azedo. – E bom dia para você também, Severus.
Snuffles latiu, e Damien e Derek correram para ele. Os adultos entraram na casa, colocando os pacotes na mesa. Severus chamou Snuffles, que correu para ele. Os meninos vieram seguindo o cachorro, e Severus se dirigiu às crianças:
– Estão todos prontos para um belo Natal?
– Sim! – disseram os dois, quase pulando de excitação.
– Mas vocês terão que ajudar a armar a árvore, caso contrário Papai Noel não será capaz de encontrar a casa de noite.
– Tá bom, tio Sev!
– Papai Harry e Papai Draco vão procurar uma árvore bem bonita e bem alta na floresta, certo?
Harry sorriu, mas Draco olhou para o teto. Ele ainda resistia às tradições Muggles de irem pessoalmente à floresta escolher a árvore de Natal, mas todo ano terminava se derretendo todo ao ver o brilho nos olhos dos filhos.
Severus sugeriu:
– Snuffles vai gostar de sair. Não vai gostar, Snuffles?
O cão latiu, como se concordasse, e Harry começou a prepará-los para a aventura. Draco indagou a Severus:
– Não precisa de ajuda com a ceia?
– Estarei bem, obrigado. Na verdade, o peru está pronto; falta apenas assar. Mais tarde, porém, será bem-vinda uma ajuda para preparar os pratos da parte francesa da família Malfoy.
– Eu posso começar agora! Sem problema!
Severus o encarou.
– Pare de tentar se esquivar, Draco. Vá buscar uma árvore de Natal e não volte sem trazer uma digna do nosso Natal.
Derek veio correndo nesse momento, puxando Draco pela calça:
– Vem, papai, vem!
– Calma aí, tigre. As árvores não vão a lugar algum.
O menino tinha quatro anos e a paciência de um filhote de elefante. Aliás, ele bem que parecia um, agora tentando empurrar Draco usando as mãozinhas e a cabeça:
– Vamô, paiê! Eles vão terminar não esperando a gente!
– Está bem, está bem! Agora dê tchau a seu padrinho.
– Tchau, tio Sev!
Os dois se juntaram a Harry e Damien, que tentavam controlar Snuffles. O cão estava praticamente frenético com a perspectiva de correr solto e livre pela floresta.
Severus sorriu ao observar o grupo se afastando, pela janela. Ele sabia o quanto Sirius gostava de Natal, e de ter a casa cheia. À noite, Sirius estaria à mesa, celebrando a ceia com sua família possível, e Severus perderia esta cena. Ele sentiu uma dorzinha no coração.
O almoço foi leve e divertido. Severus achou melhor alimentar Snuffles também, para Sirius não voltar à forma humana com muita fome, no pôr-do-sol.
Durante a tarde, começou a função de decorar a árvore de Natal. Harry levitava as guirlandas prateadas com Damien, e Draco ajudava Derek a pendurar as bolinhas e outros enfeites. Severus desceu as escadas trazendo mais decorações, Snuffles grudado atrás dele. A família passou horas decorando a árvore de uma maneira quase Muggle, e Harry comentava (sem detalhes) como eram os natais de seus tios Muggle. Severus não disse nada, pois seus natais infelizes não deveriam ser descritos para crianças tão pequenas.
Estava um dia tão gostoso e aconchegante que Severus viu com pesar o sol descendo no céu. Ele adoraria passar a noite de Natal com os garotos, Harry e Draco, sem mencionar Sirius. Severus podia ver o brilho dos olhos de Snuffles ao olhar a imensa árvore toda decorada, com luzes mágicas cintilantes. Seu coração se apertou, mas, como todo Slytherin, ele encarou a dura realidade e avisou Snuffles:
– É hora de irmos lá para cima.
O cachorro abaixou as orelhas, mas foi para junto de Severus, que o acariciou, antes de chegar perto de Damien, ajoelhar-se no nível dele e dizer:
– Damien, receio que eu precise ir me deitar agora. Provavelmente não poderei estar presente ao jantar.
O menino ficou decepcionado:
– Ah, vai deitar agora? Mas nós vamos esperar o Papai Noel!
Derek concordou, com a sabedoria de seus quatro anos:
– Papai Noel, tio Sev!!
– Eu adoraria, mas infelizmente não será possível. Mas quero que você me diga tudo amanhã. Quero um relatório completo. Você também, Derek.
O pequeno se abraçou a Severus:
– Toma uma poção, tio Sev! Dodói vai embora com poção.
– Vou tomar, sim. Quem sabe mais tarde eu fico melhor, aí desço. Está bem?
– Tá bom!
Damien perguntou:
– E o tio Sirius? Papai disse que ele ia passar a noite de Natal com a gente!
– Ah, ele já está chegando. Ele disse que ia deixar um bilhete para o Papai Noel e chegava para o jantar.
– Um bilhete?
– Sirius ficou com medo que o Papai Noel passasse na sua casa e não achasse vocês. Então, ele deixou um bilhete avisando ao Papai Noel que vocês tinham vindo passar o feriado de Natal aqui.
– Oba! – disse Damien.
Derek se abraçou a Severus:
– Fica bom logo, tio Sev.
Ele abraçou o pequeno, doído. Damien também o abraçou, e, emocionado com o abraço dos dois meninos, Severus não ouviu Harry pronunciar uma palavra que fez Draco o encarar com surpresa.
Capítulo 23 – Traçai um círculo em torno dele três vezes
Os últimos raios dourados iluminavam Snuffles, e Severus não se furtou a acariciar o pêlo lustroso e sedoso do cão, o coração sangrando de tanto amor. Era Natal, e ele não podia passar com o homem que amava por causa da odiosa maldição. Severus sabia que Sirius sofria muito a distância entre eles, mas, nas festas, a dor era ainda maior.
Era como se estivessem longe por anos, e isso era literalmente verdade. As fotografias bruxas tentavam diminuir a distância, mas não era a mesma coisa. Cinco anos de distância, cinco anos de espera. Pareciam cinco séculos.
E nenhum fim para essa aflição.
Severus olhou para Snuffles, que o encarava, a língua para fora, cheio de expectativa, como cães costumam ser. Acariciou-lhe a cabeça, fazendo carinho atrás das orelhas. Ele precisava se cuidar, porque se o sol sumisse, seus dedos se transformariam em garras – Sirius já fora sido arranhado por Nilyx antes nessa circunstância.
Severus viu a transformação começar: o focinho diminuir, os pêlos se retraírem, dando lugar à pele. Mas Nilyx parecia lento em sair da casca aquela noite.
Em segundos, o rosto adorado de Sirius estava diante dele. E Severus ainda tinha os dedos no rosto do amado. Ainda o tocava.
Como não o tocava há cinco anos.
Não era uma fênix. Ele era Severus.
Sirius franziu o cenho:
– Sev.. – A voz falhou. – Severus?...
– Sirius... – Os olhos se encheram de água.
– Merlin, eu acho que estou sonhando. Isso só acontece em sonho.
– Então, eu estou sonhando junto... – Os dedos não paravam de tocar o rosto de Sirius, mas agora eles tremiam, como a voz. – Oh, Deus...
– Você está aqui.
– Você também. Será... possível?
Sirius o encarou, olhos cinza brilhando. Olhou para o janelão. A noite já estava escura e fechada. Severus mal conseguia articular:
– Eu... não entendo...
– Severus – A voz de Sirius soou clara, firme, quase impositiva. – Cala a boca e me beija.
Foi rápido, muito rápido. Mas foi desesperado. Cinco anos de espera fazem isso com qualquer um.
Roupas voando, os lábios grudados, a respiração alta, ai, as crianças embaixo... Mas nada deteve os dois.
Severus parecia ter criado dois braços extras, de tanto que suas mãos percorriam a pele de Sirius. Agora eram carícias, ainda que desesperadas, quase desajeitadas.
Sirius também não estava em melhores condições, agarrando os cabelos de Severus enquanto o beijava como se aquilo fosse apenas um sonho prestes a terminar. O animago se deitou por cima de Severus no sofá, tentando fazer seus membros se esfregarem.
Havia gemidos, e respirações arfadas, e barulho de línguas na pele. Sirius tinha se atracado ao pescoço de Severus, cobrindo-o de beijinhos e mordidinhas, e o Slytherin se retorcia de prazer, sentindo as duas ereções firmes se esfregando.
Sirius levou a mão ao membro farto de Severus, massageando-o, fazendo o parceiro gemer alto. O rosto de Severus era o retrato do delírio e da devassidão, e ele chamou:
– Sirius... Sirius... Eu quero você...!
Sirius não respondeu. Ele se ergueu, murmurou um feitiço tão baixinho que Severus não ouviu qual era, e depois um feitiço silenciador. Em seguida, debruçou-se sobre ele, arfando no seu ouvido:
– Não, Severus... Esta noite, eu sou seu... Todinho...
Num movimento rápido, sem qualquer preparação, ele se posicionou, sentando-se sobre a ereção de Severus. Só então Severus se deu conta de que Sirius tinha lançado um feitiço lubrificante. Sua ereção foi engolida por uma abertura impossivelmente apertada e quente, e convidativa.
Sirius lançou um grito alto, e Severus se lembrou do feitiço para abafar os sons. Seria bem útil, porque ele também estava soltando uns sons bem altos. Especialmente agora, que Sirius começara a deslizar lentamente, abaixando e erguendo-se, empalando num ritmo doce, mas dava para ver que ele não aceitaria ficar muito tempo nessa suavidade.
De fato, em breve o ritmo se intensificou, e Severus também ajudou, movimentando os quadris para estocar mais fundo. O animago quase uivou, bem como Snuffles faria, o prazer percorrendo seu corpo em espasmos.
As emoções internas eram tão intensas quanto as sensações de sua alma. Severus sentiu-se preenchido dentro de sua alma, no mesmo lugar onde por muito, muito tempo, havia um buraco imenso, um que ele nem pensava que pudesse ser preenchido novamente. Ele se sentia inteiro de novo, como se estivesse voltando a um lar. Ele nem sabia que Sirius era esse lar, mas agora que ele estava de volta, ele sabia de tudo isso.
Em pouco tempo, coisa de minutos, ambos chegaram ao ápice de sua paixão. Ao sentir que Sirius estava para gozar, Severus tomou-lhe a ereção, que já vazava copiosamente, e estimulou-o com intensidade. O animago começou a gritar como uma banshee, e, com um espasmo, explodiu espetacularmente, lambuzando toda a mão de Severus. Em seguida, foi a vez do Slytherin gozar ruidosamente.
Sem sair de dentro de Severus, Sirius se inclinou para deitar-se sobre o parceiro, que ofegava ruidosamente. Ele fechou os olhos, também tentando recuperar a respiração.
Ficaram assim alguns minutos, em silêncio.
– Cara, eu acho que fiquei grudado no teto.
– Sim.
– Se isso for um sonho, por favor, não me acorde.
– Eu poderia dizer o mesmo – sussurrou Severus. – Mas não estou entendendo nada.
– Ora, a poção funcionou. Ou os planetas se alinharam sob a Estrela de Belém. Talvez tenha sido um encantamento de efeito retardado. Ou ainda, a maldição simplesmente acabou, expirou por decurso de prazo. O que importa?
– Sirius, se não soubermos por que acabou, como saberemos se realmente acabou?
– Não acha que pode voltar, acha?
– Acho que não temos garantias de que não volte se não soubermos por que estamos juntos agora.
– Droga, Severus. Eu estou muito feliz para pensar nisso.
– Entendo. Mas precisamos pensar nisso.
– É Natal, Severus. Anime-se! É um milagre de Natal.
– Considerando quem lançou a maldição, acho que milagres estão descartados.
– Seja como for, é bom descermos logo. Os outros vão ficar preocupados. – Sirius ergueu a cabeça e sorriu para ele. – Esse vai ser o melhor Natal de todos os tempos!
Severus não pôde evitar um sorriso. Sirius parecia uma criança de tão feliz. E, sim, ele concordava: aquele Natal tinha todos os requisitos para ser o melhor Natal de todos os tempos.
De repente, Sirius se ergueu e olhou o janelão:
– Acho que uma coisa vai deixar esse Natal perfeito. – Sirius virou-se para Severus, ainda deitado no sofá estreito. – Vou precisar de sua ajuda.
Severus ergueu uma sobrancelha.
Capítulo 24 – Pois com orvalho de mel me alimentei
Draco Potter, ex-Malfoy, tentava fazer Derek ficar quieto alguns segundos, para tentar ajeitar o trajezinho de festa do garoto e ele ficar pronto para a festa. Tanto o pequeno quanto Damien estavam excitadíssimos, dispostos a permanecerem acordados para ver Papai Noel chegar trazendo seus presentes. Harry tentava explicar, pela enésima vez, que Papai Noel não entrava nas casas se as crianças estivessem acordadas.
Nenhum deles prestava atenção à escada até que Derek gritou:
– Tio Sev! Tio Sirius!
O pequeno agilmente se livrou de Draco e correu a abraçar seus dois tios, que desciam a escada juntos, de mãos dadas, como dois príncipes. Draco não ralhou com o menino, porque estava boquiaberto. Harry também parou de falar com Damien e ergueu o olhar. O menino mais velho também ficou feliz:
– Que bom que você está melhor, tio Sev!
Severus sorriu:
– Segui o conselho de Derek e tomei a poção, por isso fiquei melhor.
O pequeno se atirou nos braços de Severus:
– Eu ajudei! Ajudei tio Sev a ficar bom!
– Obrigado por isso, Derek.
Draco admitiu:
– Eu não achei que isso fosse possível.
Sirius o cumprimentou:
– Na verdade, não sabemos o que houve. Severus acha que pode ser temporário.
– Não é, não. – Todos se viraram para Harry, que sorriu, dando de ombros. – Bom, esse ano escolhi esse presente para vocês. Portanto, não esperem ganhar gravatas nem livros.
– Harry! – O grito foi de Draco,vermelho e tremendo de ódio. – O que você fez?
Os meninos estremeceram diante do tom de voz do pai. Na verdade, eles nunca viram os pais brigando. Derek se agarrou a Severus com ainda mais força.
Harry abraçou Draco, tentando acalmá-lo:
– Desculpe. Eu não queria esconder isso de você, mas eu não podia mais ver isso e não fazer nada. Desculpe, meu amor. Pense só no quanto eles estão felizes.
– E... a que preço?
Essa era a preocupação de Draco. Ele não queria que Harry procurasse Lucius porque temia o tipo de exigência que seu pai faria para revelar a informação.
– Nada que comprometa ninguém, muito menos que leve a uma soltura. Apenas... melhores condições para Lucius.
Foi a vez de Severus tremer.
– Harry!... Você foi até...
– Você também? Vai me censurar?
Severus colocou Derek nos braços de Draco e chegou perto de Harry:
– Durante todo o tempo em que fui seu professor,você me odiou. Eu sei que sim. Acredite, era recíproco. Com o tempo, fui aprendendo a conhecê-lo melhor. A guerra foi importante no contexto, mas finalmente conseguimos nos ver. Sua generosidade não tem limites. Você é, sem dúvida, filho de sua mãe. Eu tenho uma dívida eterna para com você, Harry Potter. Não é uma dívida bruxa. Essa dívida, contraída hoje, aqui e agora, não vai ser paga nunca.
Todos pareciam admirados com essas palavras. Severus explicou:
– Eu não quis dizer nada a Sirius, mas tive a impressão de que a maldição se interrompera porque uma das condições tinha sido desfeita. – Ele tremeu um pouco. – Achei que Sirius tivesse deixado de amar. Se esse fosse o caso, eu teria que ir embora, pois não acredito que conseguisse ficar ao lado dele sabendo que não me amava. Mas você me devolveu a alegria, Harry. Esta é minha dívida eterna.
Ele abraçou Harry como nunca tinha feito na vida. O jovem até estranhou:
– Sev, que exagero.
– Não há exagero nenhum. – A certeza veio de Sirius, que pegou a mão de Severus. – Eu me sinto da mesma maneira. Não temos como retribuir o que você fez, Harry.
Harry sorriu, emocionado. Sirius se virou para Severus:
– E você, seu teimoso, pare de achar que não é digno de ser amado. Eu te amo, e você merece ser amado. Nós dois merecemos. Agora pare de achar que eu não amo você e outras bobagens.
Eles se abraçaram, e Severus soluçou baixinho, na frente de todos. Derek indagou a Draco:
– Por que o tio Sev tá chorando? Ele ainda tá dodói?
– Não, filhinho – disse Draco, evitando que uma lágrima caísse de seus olhos. – É que Papai Harry é o melhor papai do mundo.
Antes que a coisa virasse muito emocional, Sirius bateu palmas e indagou:
– Puxa, estamos todos aqui e não vai ter jantar? Eu ouvi dizer que hoje ia ter um jantar especial, mas acho que não tem ninguém com fome...
Damien falou:
– Eu! Eu tô com fome!
Derek, na idade de querer fazer tudo que o irmão fazia, acompanhou:
– Eu também!
Enxugando as lágrimas, Severus colocou-se em ação:
– Muito bem, vamos então terminar os pratos deliciosos que vocês todos estão esperando.
Sirius disse:
– Só um minutinho, Severus. Tem uma coisa que eu acho que os meninos vão gostar. Quem quer vir comigo à janela? Tem uma coisa interessante lá fora.
Os garotos correram e Derek foi o primeiro a dizer:
– Tá caindo uma coisa do céu!
Damien franziu o cenho:
– O que é aquilo?
Harry explicou:
– É neve. Um tipo de chuva em flocos que cai quando está muito frio. Você viu isso no livro que eu lhe dei, Derek.
– Nossa! – Ele agora estava boquiaberto. – Eu nunca vi assim ao vivo!
– Podemos ir lá para fora? Eu quero ver!
– É melhor não – disse Harry. – Vocês não estão vestidos adequadamente, e além disso a neve não vai a lugar nenhum. Amanhã, vai estar tudo branquinho, e aí podemos brincar na neve.
– Ah, pai. – Os dois se viraram para Draco, tentando ver se tinham mais sorte. – Podemos ir?
– O pai de vocês está certo. Amanhã, vamos todos fazer uma farra na neve. Vamos construir um grande homem de neve, e ele vai ser mágico. Que tal?
– Oba!
Sirius disse:
– Eu quero fazer uma guerra de bolas de neve. – Sorriu maliciosamente. – E jogar Quidditch de neve: bludgers de gelo!
Os olhos verdes de Harry brilharam:
– Nunca joguei isso. Vamos ver isso de perto.
Draco notou:
– Xanadu tem uma temperatura tropical controlada magicamente. Como, de repente, a gente tem um Natal branco?
– É meu presente para os meninos. Eles nunca tinham visto neve antes. Se nevar a noite toda, quando amanhecer, vai ter neve suficiente para qualquer brincadeira: construir fortes, Quidditch na neve e guerra de bolas de neve. Vai ser divertido.
– É! – concordou Damien.
Derek também bateu palmas, mas Severus chamou:
– Não sei quanto a vocês, mas eu estou com fome, e todos precisamos ir dormir, caso contrário, Papai Noel não virá a Xanadu. Portanto, que tal começarmos a ceia?
Capítulo 25 – Do Paraíso o leite eu bebi
Com magia e muita ajuda, a inesquecível ceia de Natal foi celebrada em meio a muito amor e alegria. Sirius estava exuberante, pensou Severus, que ainda não tinha se dado conta totalmente de que tudo estava terminado. O ex-Mestre de Poções de Hogwarts não se lembrava de outra ocasião em que se sentisse tão feliz e confortado desde a mais tenra infância.
Harry observava os dois, tão felizes quanto eles. Fazia tempo que não via Sirius daquele jeito, borbulhando feito uma taça de champanhe. Aliás, ele fez questão de abrir uma garrafa, mesmo que ainda não fosse Ano Novo. Harry sentiu os olhares de Draco, cheios de apreensão. O garoto que matara Voldemort sabia que teria que conversar longamente com o marido para explicar tudinho que se passara em Azkaban. Harry não tinha a menor dúvida: cada aborrecimento tinha totalmente valido a pena. Se fosse preciso, ele faria tudo de novo sem piscar os olhos.
Severus indagou:
– Harry, já que esteve na terra natal, tem alguma novidade? Sabe como estão as coisas por lá?
– Oh, bem – Harry tentou disfarçar, sorrindo amarelo –, sabe como são essas coisas. Às vezes as coisas demoram a acontecer.
– Nenhuma sorte com o Ministério, é isso que está querendo dizer?
– Draco não foi exonerado. Snape ganhou um perdão póstumo, mas quando eles descobrirem que não há posteridade, ele pode ser processado.
– Então como conseguiu falar com...ele?
– Kingsley ajudou. E ele teve que esconder isso de Moody. As coisas não ficaram muito boas quando eu encontrei com Hermione e Ron.
– O Weasel e a... – Draco se refreou antes de chamar Hermione de sangue-ruim, e continuou, de olho nas crianças: – Digo, a sua amiga?
– É... Eles ficaram felizes de me ver, falaram dos filhos, mas quando eu falei de minha vida, eles não gostaram tanto. Desculpe.
– Aquele pobretão! E aquela sabe-tudo! Mulherzinha desprezível!
Derek indagou:
– Papai, o que é "meulherzinha"?
– Papai Draco estava bravo – explicou Harry. – Isso não é coisa bacana de dizer sobre uma pessoa.
Damien quis saber:
– Ele estava falando de uma mulher? Estava, não estava?
– Sim, filho.
– Você conhece uma mulher, pai? – Os olhos de Damien brilhavam.
Harry não entendeu.
– Claro, filho. Várias.
– Puxa!
Harry estava intrigado, e Severus detectou qual o problema que havia ali. Um que Harry e Draco não tinham previsto.
– Damien, você conhece alguma mulher?
– Não.
Derek indagou:
– O que é mulher?
Aquilo chocou Harry. Seus filhos nunca tinham visto uma mulher. Ele olhou para Draco, que parecia igualmente chocado. Nascidos e criados num paraíso isolado, eles sabiam pouco do mundo. Mas eles jamais podiam imaginar que eles soubessem tão pouco ao ponto de nunca terem visto uma mulher. Ou neve.
– Mulher, meu filho, é como uma princesa das histórias. Só que é de verdade.
– Existe mulher de verdade? – O pequeno estava assombrado.
– Está resolvido. – Draco pôs sua face Malfoy, aquela que usava quando decidia coisas sem esperar contestação. – Os meninos vão visitar uma cidade Muggle depois do Natal. Vamos ver como são as pessoas sem magia.
– Mulher também? – quis saber Damien.
- Sim, filho, mulheres também.
Sirius concordou:
– Draco, é uma excelente idéia. Ei, seu frango está ótimo.
– É um capão. É uma tradição francesa, junto com as 13 sobremesas.
Severus disse:
– Eu reconheço o molho de Narcissa. Foi um toque muito atencioso.
Draco apenas sorriu, tristemente. Sua mãe tinha pagado com a vida o preço por Draco não ter cumprido as ordens de Voldemort e matado Dumbledore. Ele sentia duramente sua morte: o oposto de seu pai.
Harry ergueu uma taça e disse:
– Quero fazer um brinde. A um Natal inesquecível. Nossa família voltou a ser completa, a ser inteira. Draco pode brigar comigo, e ele certamente vai me fazer ouvir um monte de coisas durante algum tempo, mas eu faria de novo, e de novo, e quantas vezes mais fossem necessárias. Porque esse momento é insubstituível. Um presente de Natal para toda a vida. À família!
Eles brindaram, e a noite se encheu de calor, de risos e alegria. Depois as crianças foram dormir, e os Papais Noéis encheram a árvore de presentes.
O dia seguinte começou com o brilho nos olhos infantis ao ver carrinhos, trenzinhos, bichinhos e brinquedos de todo o tipo saírem dos pacotes mágicos. Depois disso, eles fizeram um desjejum especial, mas os meninos estavam tão excitados que nem comeram muito. Mal podiam esperar para a hora em que usariam seus casacos, luvas, gorros e cachecóis e sairiam para ver neve pela primeira vez.
A farra foi grande, com tudo a que adultos e crianças tinham direito: homens de neve mágicos, que cantavam e dançavam, guerra de bolas de neve estilo Muggle, Quidditch de bludgers de neve, forte de neve, cavernas de gelo... E depois, quando começaram a se cansar de tanta brincadeira, foi hora de entrar na casa quentinha, tomar chocolate bem quente com marshmallow para as crianças, e com conhaque para os adultos.
Severus olhou para Sirius e sorriu. Xanadu podia ser mesmo uma espécie de paraíso. Como decretara Kubla Khan, um palácio do prazer.
Ele mal podia esperar para começar a desfrutar desses deleites. Ainda mais agora, com Sirius a seu lado.
Talvez ele conseguisse ter aulas de Animagia, e Nilyx finalmente poderia cantar pela noite afora, um canto mavioso que falava de lugares mágicos, de tempos esquecidos pelos homem.
Coisas das quais as lendas eram feitas.
The End