Disclaimer: Todos esses personagens nunca me pertenceram, por mais que eu pensasse que sim. Ah, só a Melissa Adams e o Bryan Leigh. Mas quem é que liga pra eles?


N/A: Olá!! Ainda se lembram de mim? Ai, eu sei que demorei demaaaais com esse último capítulo, mas a minha vida não tem andado nada fácil, e a falta de inspiração também não ajudou... Mas no fundo eu estava mesmo era com medo desse momento, do tão grande e esperado FIM. É tão bom terminar as coisas, mas ao mesmo tempo dá uma saudade...

Gostaria de agradecer a TODAS aquelas pessoas que leram essa fic do início ao fim, mesmo aquelas que começaram e não terminaram, todas foram muito importantes no processo de escrita dessa fic!

Espero que gostem desse capítulo que eu escrevi com tanta dedicação!


In my Life - The Beatles

There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain

All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all

But of all these friends and lovers
There is no one compared with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life I love you more

In my life I love you more...


A Vida É Feita de Amor

SÁBADO, 28 DE MAIO, 1980
NO QUARTO, 17:30

Olá, Diário. Talvez você pense que resolvi escrever porque estou tendo um ataque de nervos. Pode ser. É difícil descrever o que sinto agora. Mas não importa, no momento. Tenho uma dívida, que é relatar tudo o que aconteceu comigo e às pessoas que me cercam desde a última vez que escrevi, e irei quitá-la agora.

Depois que James e eu descobrimos sobre a minha gravidez, comecei a me consultar com um medi-bruxo especialista periodicamente, para acompanhar tudo direitinho. James parecia uma criança, de tão empolgado que ficava com cada notícia sobre nosso bebê e ele já tinha começado a comprar várias coisas, roupinhas, brinquedinhos e tudo o mais que ele via e achava que combinava com nosso bebê ou comigo. Surpreendentemente, James só comprava coisas cor-de-rosa, porque tinha certeza de que seria uma linda menina, uma 'Lily-miniatura', como ele costumava dizer.

Na noite de Natal, organizei uma grande ceia aqui em casa e convidei a todos, Alice, Frank, Marlene, Sirius, Emelina, Remus, e Peter. Porém, o último não pôde ficar muito tempo, pois tinha que visitar a família. Cada vez mais ele parece estar se afastando do grupo, sem dar muitas explicações.

A noite foi maravilhosa: rimos, cantamos, jogamos e nos divertimos, como naquele Natal em Hogwarts, quando James e eu ficamos juntos e ele me deu o colar de floco de neve, que uso até hoje, todos os dias. De presente, ele me deu um par de brincos de floco de neve, para combinar.

Frank estava tão empolgado quanto James em relação à gravidez de Alice, e já estava até montando o quarto do bebê, com tudo em azul, pois tinha certeza de que seria um menino. Emelina tentava se alegrar, mas não parava de pensar em sua família, que estava escondida em Norwich. Sirius e Marlene, já recuperados do trauma do mês anterior, ainda não pensavam muito em filhos, estavam mais entretidos em combinar a festa que fariam para celebrar seu casamento, que já havia acontecido, mas não tinham tido a oportunidade de comemorar com os familiares e amigos ainda.¹

Encerramos a noite brindando à vida e aos amigos e trocando presentes. Depois todos se foram para suas casas e James e eu tivemos uma boa noite de sono.

No dia seguinte, eu e James fomos para a casa de mamãe, para comemorarmos com a família toda reunida. Acho que, agora que Petúnia e eu estamos grávidas, mamãe vai nos querer por perto mais frequentemente. Dessa vez o almoço correu bem, ninguém foi insultado ou recebeu socos na cara, nem foi embora às pressas. Agimos todos como uma família normal e feliz.

No ano novo Sirius comprou vários fogos filibusteiros, e como ele mora numa área trouxa, no centro de Londres, adivinha aonde ele veio soltar os fogos? Na casa dos pais de Marlene é que não foi. Sirius Black e todos os nossos amigos vieram para o meu jardim, na tranqüila e pacata Godric's Hollow, perturbar a minha paz. Certo, não pense que eu não amo os meus amigos. É claro que eu os amo. Até mesmo o Sirius. Mas é que eu não imaginava que ele fosse destruir as minhas roseiras. Nem queimar um pedaço do meu telhado. Ou quebrar a balaustrada da minha varanda dos fundos. É claro que eu o obriguei a consertar tudo depois sem magia, só para relembrar as detenções de Hogwarts. E como James participou da 'brincadeira', deixei que ele ajudasse na reconstrução da minha outrora bela casa. Não, eu exigi mesmo. Meninos levados! Mas a noite acabou sendo boa no final, apesar de eu ter passado os últimos minutos do ano vomitando por causa da torta de abacaxi que Emelina trouxe. Pena. Estava tão gostosa… mas consegui ficar de pé para brindar água com todo o grupo.

Com o passar do tempo, fui sentindo todas as mudanças da gravidez, não apenas a minha barriga crescendo a cada mês, mas também as terríveis alterações de humor. Pobre James. Eu retiro tudo o que disse sobre ele ser um capeta durante os sete anos que estudamos juntos. O homem é um santo. Me agüentou pacientemente, permitindo que eu gritasse com ele e o culpasse por eu não conseguir mais fazer coisas normais, como amarrar meus sapatos ou segurar a vontade de fazer xixi por mais de cinco minutos, coisas que não dão para ser feitas quando se tem uma barriga enorme à sua frente e um bebê comprimindo a sua bexiga. Eu até fui aconselhada a tirar licença maternidade mais cedo no trabalho, com apenas três meses de gravidez, porque ninguém agüentava o meu humor inconstante.

Ah, sim. Porque ficar grávida não é apenas gritar e xingar o mundo inteiro. É também ficar em prantos porque a sua planta preferida que você cultivava no jardim com tanto amor e carinho não cresceu e floriu como deveria (culpa de um certo cachorro festeiro). Ou fazer pirraça e se desesperar porque o sorvete acabou. Coisas assim.

Ah, e eu estava me esquecendo dos desejos esdrúxulos. Acho que fui a primeira a inventar e comer sorvete de beterraba no mundo todo. E eu detesto beterraba. E o pior é que eu achei gostoso. Eca. Sem contar as inúmeras vezes que acordei James no meio da noite pra me conseguir coisas "simples" de se encontrar na madrugada, como uma melancia, um ovo de chocolate gigante (detalhe: em janeiro. Antes de começarem a produzir ovos de páscoa), ou uma simples espécie de tâmara que só é encontrada nos desertos da Arábia Saudita. Só esse tipo de coisa.

O caso da tâmara merece uma explicação à parte. James até conseguiu encontrar uma quitanda aberta em algum lugar da Inglaterra, e trouxe para mim, um punhado de tâmaras, mas não eram as que eu queria, não satisfaziam o meu desejo. Daí ele chamou Sirius, e implorou para que ele fizesse alguma coisa, porque ele ainda estava se recuperando de uns ferimentos de uma batalha contra Comensais da Morte. Como Almofadinhas tem uns amigos no departamento internacional do Ministério, conseguiu permissão para ir ele mesmo procurar a tal tâmara perdida no meio do deserto da Arábia Saudita, e voltou na mesma noite. Nunca poderei agradecer por ele ter feito isso, e acho que nem James. Gostaria de saber como eles negociaram esse favor gigantesco.

Em fevereiro, Marlene e Sirius fizeram sua celebração de casamento ao estilo deles, com muita música e dança no Três Vassouras, e convidaram todos os amigos e parentes (só os de Marlene; de Sirius, apenas a prima Andrômeda, o marido e a filha, uma gracinha de menina, embora muito travessa!). Quando Marlene se recusou a beber álcool, mesmo cerveja amanteigada, soubemos que ela estava grávida. Confirmou que já estava no segundo mês, já sabia há algumas semanas e não tinha nos contado nada! Dessa vez Sirius já sabia, e ficou muito feliz com a notícia, embora tivesse sido sem planejamento. Todos comemoraram. Éramos felizes.

Depois dessa reunião, as coisas ficaram mais complicadas. Eram difíceis momentos como esses, com todos reunidos. Sabíamos que sob as circunstâncias da guerra e do poder ascendente de Lord Voldemort (sempre que escrevo ou pronuncio esse nome sinto um arrepio na espinha. As coisas que esse maníaco fez até agora não são brincadeira), era quase impossível permanecermos juntos até o fim de toda essa loucura. Mas não sabia que a separação seria tão cedo.

No fim de abril, no meu aniversário, já não estávamos todos juntos. A família de Emelina sofreu um atentado, e o pai dela foi morto. Sua mãe ficou sozinha onde estavam se refugiando, com a irmã mais nova de Mel, e as duas precisavam da ajuda dela. Emelina não era membro da Ordem da Fênix, e um auror em outros pontos da Grã-Bretanha era sempre bem-vindo para fazer a segurança. Então não havia muita coisa que a impedisse de se juntar à mãe e a irmã. Exceto por Remus. Lembro que durante três dias Mel ficou agoniada, sem saber o que fazer. Chegou a pedir que Remus fosse com ela, mas ele era parte da Ordem, e precisava ficar para combater Voldemort e os Comensais, sem contar que ele acabaria sendo um possível alvo, talvez colocando a família de Emelina em risco. E ele ainda tinha sua condição de lobisomem, que sabia que seria mal vista pela mãe e a irmã dela. Foi com muito pesar que Mel se despediu de todos nós. Ela prometeu se comunicar por cartas sempre que fosse possível e seguro e sua relação com Remus ficou em aberto. Quando toda essa confusão terminasse, eles voltariam a se encontrar e resolver o que fazer.

De volta aos assuntos mais amenos, James estava ansioso para que eu fizesse o exame que determinaria o sexo do bebê, pois ele tinha decorado o quarto todo de cor-de-rosa e feito uma aposta com Frank e Sirius de que seria menina. Já os outros dois apostavam que os três bebês seriam meninos. Remus seria o mediador das apostas. Eu, Marlene e Alice fizemos o exame no mesmo dia e os garotos (para mim serão sempre garotos) estavam empolgados, esperando o veredicto como se fossem os números premiados de um bilhete de loteria. Lembro que não gostei de toda essa pressão; assim que deixamos o hospital, fomos levadas para a casa de Remus, o local neutro que eles haviam combinado para a revelação dos resultados. Lembro-me até do que eles falavam nesse dia:

- Agora nós vamos saber quem vai ganhar essa aposta! – disse Sirius efusivamente.

Alice foi sorteada para ser a primeira.

Ao lado de Frank, divertindo-se com tudo aquilo, ela revelou, meio risonha:

- Bem… é um menino!

- Yeah!! – fez Frank, beijando a esposa entusiasticamente, e cumprimentando Sirius, batendo as mãos no ar.

- Agora você, Lil. – disse James, carinhosamente. – Diz que é uma menina, diz!

Fiz um pouco de mistério, enquanto os três garotos mal se cabiam de tanta empolgação. Remus apenas observava, sorrindo de leve. Por um momento, parecia que estávamos de volta aos tempos de escola. Alice e Marlene riam, sabiam qual era a resposta.

- Sinto desapontá-lo, James, mas é um menino.

James precisou de alguns segundos para assimilar a idéia, mas logo um sorriso se abriu em seus lábios. Aposto que ele estava pensando o quanto seria legal ele ensinar nosso garotinho a jogar quadribol. Frank e Sirius vibravam e o caçoavam, mas ele nem ligava, estava ocupado em me beijar e fazer carinho na minha, já bem grande, barriga.

- Rá, Pontas, e agora o que você vai fazer com todas aquelas coisas cor-de-rosa que você comprou? Pintar tudo de azul? – riu Sirius, e então Marlene interveio.

- Bem, acho que o James e a Lily não se incomodariam em nos ceder essas coisas cor-de-rosa…

Daí Sirius parou de chofre. Nós rimos e gozamos de sua cara apatetada, mas ele nem percebeu.

- Quer dizer… Quer dizer que… Eu vou ser pai… De uma menininha? – perguntou ele, ainda abestalhado. Marlene retalhou, com uma falsa cara amarrada:

- Não se você ficar me olhando com essa cara de besta e não tratar de ficar feliz!

Sirius logo escancarou um sorriso e ergueu Marlene nos braços, girando-a lentamente até colocá-la no chão, arquejando devido ao esforço. O próximo passo agora era decidir os nomes. Alice e Frank já estavam decididos: seu filho se chamaria Neville. Como James só tinha pensado em nomes de meninas, cedeu-os todos a Sirius e Marlene. Eles estavam quase decididos por Marilyn. Agora só tinha um bebezinho sem nome no grupo. Se fosse menina, James queria que a chamássemos de Lily, no que eu discordei, mas sendo menino… Decidimos chamá-lo de Harry e o segundo nome será James, pois pelo o que Jamie disse, esse parece ser um nome de família desde o início da linhagem dos Potter.

James perdeu a aposta. Sirius também. Mas acho que nunca os vi tão radiantes depois de uma derrota.

Naquele dia, decidimos que Sirius e Marlene seriam os padrinhos de nosso filho, e nós seríamos os padrinhos da filhinha deles e nos divertimos a tarde toda imaginando como seriam nossos pimpolhos e com quem se pareceriam. Mesmo com uma amiga distante, o grupo ainda era forte e feliz. Até que uma fatalidade nos atingiu.

Marlene foi visitar os pais com Sirius, para matar as saudades e contar as últimas novidades, já que o correio coruja estava ficando perigoso. Não se dava mais para confiar em ninguém. A princípio, Marlene viajaria por chave de portal sozinha, mas Sirius não concordou; pediu licença no trabalho e foi acompanhá-la. Desde que nós três ficamos grávidas, James, Sirius e Frank nos tratam como se fôssemos bonecas muito frágeis. É muito engraçado. Mas até eu tive que concordar que não era exagero Sirius viajar junto com Marlene, como ela alegava ser…

Foi numa quinta-feira, e eu estava em casa, decorando o quarto do Harry. James estava no trabalho e Remus fazia plantão na Ordem. Alice e eu íamos sair para almoçar, mas acabamos cancelando, porque estava chovendo muito. Esquentei um macarrão com queijo para mim e me sentei na biblioteca, olhando a chuva cair torrencialmente lá fora.

De repente, o telefone tocou. Era sempre estranho, já que recebíamos pouquíssimas ligações. Pela lógica, deveria ser mamãe ou papai. Mas era Remus.

"Oi Lily… tudo bem?" disse ele, com uma voz calma e muito distante.

"Remus?? Aconteceu alguma coisa? Você não deveria estar na Ordem? Por que está usando um telefone?"

"Não, está tudo… É que eu estava andando pela rua, e lembrei que o James pediu pra eu te avisar que ele vai demorar a chegar em casa… Ele vai pra Ordem no meu lugar hoje… Dumbledore está precisando de umas informações que ele conseguiu lá no Ministério e como eu não vou ser de muita ajuda hoje, ele pediu pra eu ficar com você, pra que não se sinta sozinha…"

"Ah, então ta bom… pode vir pra cá quando quiser!"

"Certo, então estou indo para aí… Você quer que eu leve alguma coisa? Algum livro, comida, chocolate… Um filme de comédia? James fez questão que eu te divertisse hoje."

"Ah, então pode trazer tudo isso, estou te esperando! Até!"

Desliguei o telefone, intrigada, e tive vontade de falar com James. Mas eu não podia mandar uma coruja para o local secreto da Ordem nem em sonho, nem aparecer na lareira de lá sem avisar, a não ser que você algo extremamente urgente. Teria que esperar até a noite, ou talvez o dia seguinte para falar com ele.

A chuva caía ainda mais forte quando Remus chegou, todo molhado, e percebi que ele estava um pouco mais apático que o normal, e ainda não era lua cheia. Ele me trouxe flores para decorar a sala, uma caixa de chocolates daqueles chiques e gostosos e alguns filmes de comédia para assistirmos. (sim, minha casa tem uma televisão. De vez em quando, por mais que negue, James gosta de assistir novelas trouxas, e eu gosto de assistir o noticiário e alguns filmes nos fins de semana). Fiz pipoca e ficamos na sala, comendo, conversando e assistindo TV. Mas aquilo tudo estava estranho demais.

- Remus… O que realmente está acontecendo? – ele soltou um longo suspiro. Alcançou o controle da TV e após pensar por um segundo, apertou o botão certo e a desligou.

- Lily… Eu não vou mentir pra você. Não estou aqui só pra te fazer companhia. Aconteceram… Algumas coisas.

Comecei a ficar nervosa. Pus-me de joelhos no sofá, encarando Remus com um olhar ávido por informação. Má escolha. Não deveria ficar de joelhos com essa barriga enorme e pesada. Meus tornozelos começavam a doer.

- O quê aconteceu exatamente? Alguma coisa com James? Ele saiu em alguma missão sem me avisar, não é? Uma missão suicida? Se o James fez isso, tão próximo do nascimento do nosso bebê, eu juro que se ele não voltar inteiro, eu mesma vou providenciar o funeral dele! Diga Remus, o que é que está acontecendo?

- Calma, não é nada com o James! Por favor Lily, você precisa ficar calma! Você está grávida, vai ter um bebê daqui a um mês, não quero ser o responsável se algo de errado acontecer com você e o Harry. Portanto, só vou te contar o que está havendo se você prometer ficar calma.

Respirei fundo e me sentei no sofá novamente. Remus agora parecia angustiado.

- Certo. Eu vou ficar calma.

- Ok. Ok… Lily, o que eu vou te dizer é muito difícil, mas é melhor que você descubra logo. O fato é que… Durante a viagem de Sirius e Marlene, houve um ataque de Comensais da Morte.

Senti um aperto no coração indescritível. Pior do que quando soube da morte do meu avô. E ainda não era tudo.

- Foi de repente, parece que eles descobriram que dois membros da Ordem estavam indo para Cornwall, aparentemente o próximo alvo deles e…

- Eles estão bem? Marlene e o bebê estão bem? – perguntei, tentando conter minhas lágrimas. Remus apenas me mirou com aqueles olhos tristes e me abraçou, seus olhos lacrimejando.

- A Marlene… Ela…

Ele não precisava dizer mais nada. Lágrimas correram velozes por minhas bochechas. Marlene tinha sido assassinada naquela manhã de quinta-feira.

- Mas... E o Sirius?

- Ele… Vai ficar bem. Sofreu alguns pequenos ferimentos, nada grave. Apenas…

Ele deixou a frase no ar. Sabia o que ele queria dizer. Sirius devia estar inconsolável. Pior, deveria estar revoltado e indo procurar Voldemort para se vingar. Sirius é capaz de fazer loucuras quando sua alma está ferida.

- James foi atrás dele, não foi? Para impedir que ele fizesse alguma besteira? – Remus concordou com um aceno de cabeça.

Eu não conseguia acreditar. Não podia ser possível. Minha melhor amiga não podia… Não podia…

- Ah, Remus… Ela estava grávida

Chorei.

De repente irromperam chamas esverdeadas da lareira. Abafei um soluço assustado. Era Alice, de pijamas, um roupão por cima e pantufas. O rosto manchado por lágrimas.

- Lily… A Lene…

- Eu sei…

Ela se adiantou e nos abraçamos, embora nossas enormes barrigas não permitissem um contato desse tipo.

Logo depois Frank surgiu na lareira. Ele também parecia abalado.

- Lily, desculpe aparecermos na sua lareira assim. Eu sei que só a devemos usar em emergências, mas…

- Tudo bem… - eu respondi, com a voz embargada, sentada no sofá ainda abraçada a Alice. – É uma emergência.

Frank sentou-se no outro sofá com Remus e os dois começaram a conversar baixinho sobre os detalhes do incidente.

Eu e Alice continuamos abraçadas no sofá, aos prantos. De repente Remus e Frank cutucaram de leve nossos ombros.

- Meninas… Por que vocês não sobem para o quarto… E descansam um pouco… nós vamos fazer um chá pra vocês… Tudo bem?

Funguei concordando.

- Vamos, Ali.

Subimos as escadas lentamente. Os rapazes foram para a cozinha. Abri a porta do meu quarto escuro e acendi as luzes. Tudo parecia mórbido. Alice sentou-se na minha cama macia e eu fiz o mesmo. Ela começou a falar, com a voz aguda e chorosa.

- Lily… Como… Como pode ser possível? Por que ela? Não… Não é justo… Ela é nossa amiga!

- Eu sei, Ali. É tudo tão injusto… Eu não consigo acreditar… E-ela e S-sirius estavam tão f-felizes… - comecei a chorar novamente.

- Pobre Sirius! Oh Merlin, ele deve estar desolado!

Concordei, alcançando uma enorme caixa de lenços de papel no meu criado-mudo.

- Tome. – estendi um lenço para ela, que aceitou de bom grado e peguei outro para mim. – Ai, Ali… E a Mel?

- A Mel! Será que… Podemos avisá-la?

- Não sei… Talvez amanhã ela já fique sabendo… Será que vai sair no jornal?

- Pode ser… Ai, e a família dela! A Sra. McKinnon deve estar arrasada!

Mais tarde descobriríamos que sua família também fora assassinada.

Pouco depois Remus e Frank subiram com nossas xícaras de chá de camomila e devem ter acrescentado um pouco de poção calmante também. Eu disse que eles podiam ficar, que não precisavam ir embora. Pedi que pegassem alguns colchões e camas de armar no armário da escada e eles se acomodaram na sala de estar. Eu e Alice permanecemos na minha cama. Tentei, mas não consegui fechar os olhos. Não parava de imaginar como teria acontecido. E não parava de desejar que James estivesse comigo. Eu sabia que ele devia estar resolvendo muitas coisas. Mas eu mais do que nunca queria senti o calor dos braços dele.

Quando eu finalmente cochilei, ouvi algumas vozes e depois passos na escada. Me levantei e saí do quarto, ficando de pé, perto da janela do corredor. A chuva ia parando. Logo depois vi a figura encharcada de James se aproximar de mim. Não dissemos nenhuma palavra. Apenas nos abraçamos. Ele não estava quentinho como de costume. Estava frio e molhado, mas ainda me passava segurança.

E então ele me contou tudo o que tinha feito naquele dia. Contou como recebera a notícia de um Sirius atordoadíssimo através do espelho de dois sentidos pela hora do almoço; e ainda como aparatou a tempo de estuporar um comensal da morte que brandia a varinha contra um Sirius ajoelhado ao lado do corpo inerte de Marlene. James chamou reforços do Ministério para cuidar das vítimas e deixou que Sirius descontasse toda a ira que sentia nele, com um duelo de varinhas seguido de luta ao estilo trouxa quando foi desarmado. Pude ver cada detalhe do acontecido em minha mente e embora fosse tudo terrível demais, quis saber de tudo. Por fim, James conseguiu levar um Sirius arrebatado de lágrimas para nossa casa, e ele agora estava dormindo em nossa sala de estar.

James voltou a me abraçar forte, enquanto novas lágrimas surgiam inundando meus olhos.

O funeral foi ontem. O dia amanheceu cinzento e chuvoso, da cor da tristeza de todos nós. Sirius parecia desnorteado. Tinha os olhos fixos no corpo inerte de Marlene, que parecia tão placidamente deitada, com sua barriga relativamente grande, a filha que eles tanto desejavam ali, descansando junto à mãe, mais pálida que a normal alvura de sua pele, os lábios fechados quase num sorriso. Lembrei-me de Branca de Neve, e o quanto ela parecia com ela desse jeito, a pele tão branca e os cabelos tão negros... Mas infelizmente Sirius não era um Príncipe Encantado páreo para a Maldição da Morte lançada por Aquele Maldito que parecia destinado a nos fazer sofrer.

O Profeta Diário publicou apenas uma pequena nota sobre a trágica morte da família McKinnon. O Ministério temia que as notícias provocassem o pânico geral. Naquela manhã, recebi uma ligação rápida de Emelina, de uma cabine telefônica (parece que ela aprendeu bastante nas aulas de Estudo dos Trouxas), e ela chorava bastante. Leu a pequena notícia no jornal, e precisava ouvir uma voz amiga. Pediu que eu mandasse lembranças a Remus e ao pessoal, especialmente Sirius. Disse que estava indo para o exterior com a mãe e a irmã e não sabia quando voltaria. Sinto que esta será a última vez que falarei com ela.

Todos disseram algumas palavras, menos Sirius; seu olhar marejado já dizia tudo. Ele foi o último a deixar o cemitério e, mesmo quando James voltou para buscá-lo, disse que não estava pronto ainda; precisava dizer adeus. Recusei a oferta de Remus de me levar para casa e voltei para o túmulo branco onde jazia Marlene e lá fiquei, de mãos dadas com Sirius, James nos esperando mudamente no portão. Ficamos lá até a chuva cessar. Sirius então depositou um lindo buquê de flores azuis sobre o túmulo e caminhamos lentamente em direção à saída, onde James nos levou para casa, nos envolvendo em seus braços.

Sirius passou a noite aqui e pediu pra ficar conosco por um tempo. Ele tinha alugado o apartamento de Londres e comprado uma casinha para ele, Marlene e a filha que estava por vir, mas, agora... Entendo que ele não queira voltar pra nenhum desses lugares. Está abalado demais. James até o aconselhou a tirar uma licença do trabalho.

Agora vou arrumar o quarto de Harry para ele, e logo mais James me ajudará com o jantar. Tudo o que quero no momento é esquecer essa dor que se apossa de mim. E, quem sabe, ter a esperança de que dias melhores virão.

DOMINGO, 5 DE JUNHO
BIBLIOTECA, 17:15

Os dias têm sido mórbidos. Peter anda sumido. Nada novo na Ordem ou no Ministério. Lord Voldemort e seus seguidores têm feito mais vítimas a cada dia. Sirius ainda está muito triste. Nós todos estamos. Mas é bom que ele esteja junto de pessoas que o amam nesse momento. E para mim é até bom tê-lo por perto, assim não fico tão sozinha aqui em casa, já que James trabalha o dia todo. Ele tem sido uma boa companhia. Apesar de não estar tão divertido e alegre como sempre foi...

Mas sei que tudo vai melhorar. Com a chegada de Harry, o ambiente vai se amenizar. Sei disso. Precisamos superar essa tristeza. Tudo vai melhorar.

SEXTA-FEIRA, 23 DE JUNHO
SALA DE ESTAR, 15:25

Mamãe ligou há pouco. Meu sobrinho Dudley nasceu. Fiquei tão emocionada! Mesmo sabendo que Petúnia não me deixaria visitá-lo; provavelmente ela acha que tenho uma doença contagiosa que pode se apossar do bebê dela e arruiná-lo para sempre. Mas ela continua sendo minha irmã e dar à luz um bebê é uma coisa realmente mágica, linda, e assustadora. Ela poderia me dar umas dicas, pra eu não me sentir uma pateta quando chegar a minha hora, sabe (eu estou enoooorme!! Não duvido que eu vá explodir daqui uns dias...). Gostaria que tivéssemos nos visto mais durante nossas gravidezes, sei lá, compartilhar informações, coisinhas bobas, como que tipo de decoração fazer no quarto do bebê, trocar presentinhos, tirar várias fotos juntas, acompanhar o crescimento das barrigas... Claro que tive todas essas experiências com Alice e Marlene, mas...

Bem, de qualquer jeito... È uma boa notícia. Talvez eu ligue para a "Túnia" para que ela desligue o telefone na minha cara. Mal não vai fazer.

BIBLIOTECA, 15:27

É. Ela desligou na minha cara. Mais ou menos, na verdade. Foi assim:

"Alô?"

"Oi, Túnia, é a Lily! Mamãe me contou tudo, parabéns pelo seu Dudley!"

"A-Alô? Q-Quem é? - O que foi, Petúnia? Quem é? Se for aquela aberração da sua... – Não, não, deve ser algum tipo de trote. – Então desliga logo!"

"Túnia! Por favor, fala comigo! Deixa de ser ridícula, caramba!"

Clanc! Tututututu...

É, parece que minha irmã e sua pequena família feliz não precisam dos meus sinceros votos de felicidade. Nem mesmo de lembrarem da minha odiosa existência.

Ah. Deixa pra lá. Há muito tempo que eu desisti de receber alguma manifestação de afeto de Petúnia.

Bem, vou me ocupar com outras coisas agora. Por exemplo, ver se o Sirius está bem. Ele não tem se alimentado direito ultimamente. Vou levar alguns biscoitos para ele lá no quarto do Harry.

QUARTO DO HARRY, 16:45

Sirius gostou dos biscoitos. Comemos juntos e agora estamos conversando. Contei a ele sobre meu sobrinho, e ele ficou feliz por mim. Agora estamos conversando sobre o Harry.

- E aí, Lily, como você acha que o meu afilhado vai ser? Responsável e inteligente como você ou bagunceiro e irresponsável como o Pontas?

- Ah, não sei... De qualquer jeito eu acho que ele será bagunceiro, por causa da péssima influência de você e do James, que voltará a agir como um garoto de onze anos perto dele... Mas, como ele também terá a influência de Remus, acho que ele será um bom menino apesar de tudo... E bem-educado, se vocês me deixarem ensiná-lo alguma coisa...

- Em resumo... Será um maroto perfeito aos seus olhos, certo, senhora monitora-chefe?

- Hahaha, é acho que sim...

É muito bom ver Sirius sorrindo e fazendo piadas outra vez. Nunca pensei que fosse gostar tanto dessa risada rouca e de vê-lo zombar de mim.

SALA DE ESTAR, 20:30

James já chegou. Hoje não é o dia dele na Ordem, então preparei um jantar bem gostoso para nós três, e agora estamos assistindo ao noticiário trouxa e depois vem a novela (Sirius também se apegou à trama mexicana que James acompanha). Bem, o melhor para mim nessas horas é ler um livro e como o noticiário já terminou, vou para a biblioteca.

BIBLIOTECA, 21:00

Quase não acredito no que aconteceu. O telefone acabou de tocar, e eu atendi. O outro lado ficou silencioso por um tempo, enquanto eu repetia "alô" como uma pateta. Mas então escutei uma voz, quase um sussurro e reconheci quem era. "Obrigada." Foi o que a voz disse. E tenho quase certeza de que foi Petúnia.

SEXTA-FEIRA, 31 DE JULHO
QUARTO, 13:00

AI SOCORRO, O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO??

13:02

Ok, acho que isso foi uma contração. Nada mais normal, já que eu já estou no nono mês de gravidez e estou gigantesca. O bebê deve estar pronto pra nascer.

AI MEU DEUS, EU VOU TER UM BEBÊ!!

ALA DA MATERNIDADE DO HOSPITAL ST. MUNGUS, 13:38

Se o James não chegar em três minutos pra me deixar espremer cada centímetro da mão dele até que essas dores lancinantes passem e eu finalmente possa receber atendimento, eu juro que...

Lembrete: fazer uma queixa ao hospital sobre as enfermeiras. Eu sei que elas são minhas colegas de trabalho, mas são totalmente inúteis em situações como essas!!

Agora entendo totalmente o motivo de Melissa Adams-Leigh ter atirado cubos de gelo nas pobres coitadas. Hum, um balde de gelo, por favor!

QUARTO DA MATERNIDADE, 19:30

Desconsiderando todo o estresse e as dores que não quero sentir nunca mais, acho que posso dizer que hoje presenciamos um milagre. Ok, Lily, chega de frieza. Foi a coisa mais louca e mais legal que eu já vivenciei!

E, eu preciso dizer, Sirius foi realmente incrível hoje. Ele simplesmente fez tudo direitinho, passo-a-passo, como eu tinha descrito na minha:

Lista de Instruções para quando A Grande Hora chegar

Por Lily Potter

(orientação: os passos dessa lista devem ser seguidos pela pessoa que estiver tomando conta de mim. Ou seja: Sirius).

1. Contatar James, caso ele esteja no trabalho.
2. Chamar um táxi; número anexado à esta lista (nem pense em aparatação).
3. Dar entrada na Maternidade do Hospital St. Mungus
4. Contatar James novamente
5. Ligar para meus pais (número também anexado a esta lista. Seja educado!)
6. Ficar à minha inteira disposição
7. Suportar meus ataques nervosos
8. Buscar James pessoalmente caso ele ainda não tenha aparecido (nesse caso, chamar Remus para ficar comigo. Nunca me deixe sozinha!)

As orientações a seguir devem ser seguidas por James a partir do momento em que ele chegar:

9. Ficar comigo o tempo todo
10. Não soltar a minha mão nunca. Deixar que eu esmague seus dedos. E daí se eu quebrá-los? Posso repará-los num segundo. Mas só depois de tudo. E nem pense em me deixar para ir à ala de Primeiros Socorros.
11. Ficar comigo o tempo todo.

Bem, Sirius conseguiu mesmo chamar um táxi, apesar de ter sido xingado por gritar ao telefone. Ele estava muito nervoso e aflito. Mas talvez tenha sido porque eu não parava de gritar e dar ordens para ele. Coitadinho.

Assim que chegamos ao hospital, fiquei esperando por horas (ok, nem tanto assim) até ser atendida, e esperando que James chegasse também pra pôr um fim no meu desespero. E ele enfim chegou e eu esmaguei seus ossinhos das mãos como eu havia descrito na lista durante todo o grande momento.

James desmaiou, Sirius também e Remus teve tonturas (os dois últimos estavam do lado de fora, aguardando) quando Harry nasceu. E, eu tenho que dizer, esse bebezinho minúsculo que agora está dormindo em seu berço é uma graça! É o bebê mais lindo que eu já vi! Tem os meus olhos verdes e os cabelos negros de James. Só espero que não sejam tão bagunçados quanto os do pai...

James ficou encantado com nosso filho e acho que até Sirius lacrimejou um pouco com o nascimento de seu afilhado. Ele e James pareciam dois garotos radiantes por terem ganhado sua primeira partida de quadribol.

"Cara... eu sou pai!" ouvi James dizer, deslumbrado, quando a enfermeira me entregava Harry e eu o olhava pela primeira vez. James se apressou em se debruçar sobre mim, me beijando a testa sem tirar os olhos daquele pequeno embrulho que me olhava curioso em meus braços. Sorri para o meu filho.

"Parabéns, Pontas, parabéns Lil!", falou Sirius exaltado. Vi uma sombra de tristeza perpassar seu rosto, e então completei, após James ter me beijado e parabenizado várias vezes e dito 'olá' para nosso Harry:

"Sirius, cumprimente o seu afilhado."

O rosto dele pareceu se iluminar de repente, indicando que a chance de felicidade ainda existia. Ele sorriu, enxugando as lágrimas discretamente.

"Oi, Harry..."

Inesperadamente, Peter ficou sabendo e apareceu por lá para nos dar os parabéns. James ficou muito satisfeito por ele ter aparecido, depois de ter passado tanto tempo distante (ultimamente ele só é visto em algumas reuniões da Ordem).

Ah, mamãe e papai chegaram lá pouco depois de Harry ter ido para o berçário, e ficaram falando, falando, e falando o tempo todo (mamãe falava: papai tentava calá-la, sem sucesso). Mas foi legal. Papai ficou todo emocionado e mamãe achou que Harry 'é meio raquítico', pois ele nasceu com três quilos exatos enquanto meu sobrinho Dudley nasceu com cinco quilos e meio. Ok, mamãe, diga o que quiser. Só não vou deixar que ela o entupa de comida quando formos visitá-la, como ela fazia comigo até os meus nove anos de idade.

Nunca superei o trauma de ter sido uma criança gorda. Eu até tinha um apelido na escola trouxa, "Baleia Ruiva". E quem espalhou esse apelido foi minha querida e adorada irmã. Não sei como consegui emagrecer tudo depois, acho que foi quando eu comecei a nadar todos os dias e todas as noites na piscina lá de casa e passei a não aceitar toda comida que mamãe me dava. Nunca contei isso pra ninguém, pois quando entrei em Hogwarts eu já tinha perdido bastante peso, só tinha uns pneuzinhos básicos que tenho até hoje e continuei comendo pouco (a não ser quando era chocolate). Talvez tenha até sido por isso que eu passei a ter algumas crises de anemia, como aquela que me fez perceber o quanto James se importava comigo.

E que o mundo jamais saiba disso!!

Bem, quando estávamos vindo para o quarto, passamos por Alice e Frank, que estava totalmente pálido e apavorado. Conheci o Neville agora há pouco.

Quando todas as enfermeiras e visitantes saíram do quarto e antes de cair e dormir esparramado no sofá, James me disse algo realmente lindo. Algo mais ou menos assim:

"Eu estou muito orgulhoso de você. E muito feliz também. Nunca pensei que fosse sentir alegria igual. Achei que o dia em que você aceitou ser minha para sempre na frente de todas aquelas pessoas no nosso casamento, tivesse sido o auge da minha felicidade. E depois, quando você me contou que estava grávida... Obrigado, Lily. Por todas as alegrias que você já me proporcionou e sei que ainda vai me proporcionar. Eu te amo. Você e o Harry são as pessoas mais importantes da minha vida. Obrigado. Por tudo."

Acho que ele estava chorando. Não deu pra saber, realmente. Mas senti o quanto tudo isso significava para ele e senti que deveria retribuir de alguma forma. Afinal, ele não é o único com sentimentos por aqui. Eu também tenho coração de manteiga. E acabei chorando também. Até porquê, o que se há de fazer quando a pessoa que você mais ama no mundo (sem contar com o seu filho recém-nascido) te diz uma coisa dessas? Justo quando eu achei que a minha fase extremamente sensível tinha ido embora com a gravidez...

De tristeza ou de alegria, o James sempre consegue me fazer chorar!

Mas a única coisa que consegui dizer foi:

"James... Você está chorando?" no que ele disse um "não" fungado, retirando os óculos do rosto e limpando-os na camisa, para em seguida recolocá-los.

Ta, eu sei, algo super idiota de se dizer. Eu devia beijá-lo e abraçá-lo e dizer "Eu também te amo" ou "Você é tudo pra mim". Mas não. Parece que eu ainda não aprendi a lidar com os sentimentos alheios da maneira correta. Mas eu precisava ter certeza. Não foram muitas vezes em que eu o vi chorando. Sabe, ele não é como eu que tem algum tipo de distúrbio nas glândulas lacrimais. Claro que ele já ficou muito triste, arrasado, devastado... Mas não me lembro de ter visto lágrimas. Talvez tenha chorado verdadeiramente apenas uma ou duas vezes, desde que nossa história começou e quando seus pais morreram. Mas nem quando Carla Regina finalmente se uniu a Reginaldo Antônio e depois morreu tragicamente de uma doença do coração deixando seu amado deprimido pelo resto da vida na novela que ele acompanha, "Os Empecilhos Do Amor", eu o vi chorar. Mas acho que ele estava ocupado demais me consolando, pois quando passei na sala para perguntar se ele preferia lasanha ou macarronada para o jantar durante a novela, fui acometida por um acesso de choro que só parou muitas horas depois, não permitindo que eu terminasse o jantar, fazendo com que James, com muito nervosismo, pedisse uma pizza pelo telefone.

"Desculpe." Falei, segurando a mão dele e acariciando-a com o dedão. Ele sorriu e recomecei a falar. "Acho que eu nunca tinha conhecido o amor de fato, até nos conhecermos melhor. Talvez até já te amasse antes, de formas indiretas; eu costumava passar várias horas planejando o que iria dizer se você viesse me chatear e quando você não vinha, eu ficava imaginando o que tinha acontecido; ficava chateada e desanimada quando você passava o dia sem falar comigo ou quando faltava todas as aulas... Sabe, James, são poucas as pessoas no mundo que eu realmente amo, e sinto que aos poucos vou perdendo-as, e tendo que aprender a conviver sem elas... Você é a única pessoa que eu não suportaria viver sem. Você e o Harry. E eu te amo. Porque você consegue me fazer ainda mais feliz a cada dia."

Ele enxugou os olhos novamente, dessa vez retirando os óculos por definitivo, me deixando ver aqueles olhos cor de musgo completamente úmidos no momento. Nos beijamos e murmuramos "boa noite" um para o outro, James se acomodou no sofá do quarto e dormiu.

Bem, estou muito cansada agora, meu pequeno Harry dorme no bercinho ao lado da minha cama (não deixaria que ele passasse a noite no berçário, tão pequeno e indefeso, longe de seus pais! Não quero que meu bebê fique longe de mim nem por um segundo!), e eu agora vou seguir o exemplo dos meus garotos. Amanhã retornaremos para nossa casa, levando um pequeno tesouro para nossas vidas.

SÁBADO, 1º DE AGOSTO
DE VOLTA EM CASA

Assim que entramos em casa recebemos a visita de Dumbledore, que não trazia notícias agradáveis. Ele nos contou sobre uma profecia e como ela iria afetar a vida de nosso recém nascido Harry. Essa tal profecia fala sobre a única pessoa capaz de derrotar Lord Voldemort e Dumbledore tem quase certeza de que pode ser sobre Harry. Por isso aconselhou que nós nos escondêssemos sob a proteção de um poderoso feitiço, o Fidellius, e então estaremos seguros.

Assim, eu, James e Harry estamos escondidos a partir de agora. Ambos teremos que parar de trabalhar, o que não será um grande sacrifício, pois não acho que conseguiremos nos desgrudar um segundo de nosso pequeno milagre, ainda mais com uma ameaça tão poderosa pairando sobre seu futuro. Ah, e Sirius não vai mais morar conosco. Ele estava presente quando Dumbledore falou sobre a Profecia, assim como Remus, já que eles são da Ordem e quis de todo o jeito ficar aqui para ajudar a nos proteger. Mas Dumbledore advertiu-o, dizendo que pode ser perigoso e talvez causar suspeitas.

Relutante, Sirius decidiu vender a casa que ia morar com Marlene e voltar para seu apartamento em Londres. Mas continuará a vir nos visitar, quando for seguro e eu dei a ele um álbum que havia feito (sabe como é, ficar em casa o tempo todo é muuuito chato, eu tinha que arranjar um passatempo produtivo) com fotos de todos nós desde os tempos da escola, com todas as festas, a formatura, os casamentos, tudo organizado de modo que provoque uma nostalgia boa, saudável e não algo deprimente... Reproduzi cópias que dei de presente à Remus e pedi que Dumbledore levasse à Alice e Frank, pois ele disse que ia visitá-los ainda hoje para informar os novos fatos; guardei um para James e eu, com espaço para acrescentar fotos do Harry.

Agora que todos foram embora e Harry já está dormindo em seu quartinho, vou aproveitar para tirar um bom cochilo na minha cama grande e macia e tentar não pensar na ameaça que paira sobre o sono do meu pequeno anjinho.

NO QUARTO, 19:30

Acordei algum tempo depois e James estava deitado ao meu lado no escuro. Disse que passou no quarto e Harry ainda estava dormindo, mas poderia acordar em breve, porque, sabe como é, bebês recém-nascidos só dormem, praticamente, mas quando acordam (nas horas mais inconvenientes, como ouvi dizer), precisam ser alimentados, para crescerem saudáveis ou então precisam ter suas fraldas trocadas. Olhei para ele, sorrindo.

- Você está tão linda. - ele disse, no meio do silêncio, com o cotovelo apoiado na cama, e a mão segurando o queixo. - Quero dizer, você já é naturalmente linda... Mas parece que agora está muito mais.

Sorri, olhando para a colcha da cama, deitada na mesma posição que ele.

- James... Acho que estou com medo... Depois de tudo aquilo que Dumbledore nos disse... E agora, com o Harry...

- Eu sei. Também estou apavorado. - E, tomando a minha mão entre as suas - Mas vamos enfrentar tudo isso, juntos. Não vou deixar ninguém fazer mal a você ou ao Harry. Prometo.

- Eu sei. - respondi, com uma lágrima descendo pela bochecha.

- E você sabe por quê eu digo isso com tanta certeza? – ele perguntou, amável, recolhendo a minha lágrima com um dedo. Sorri ainda mais. – Porque eu te amo. E faria tudo por você. Sabe que você é o motivo de eu ser uma pessoa tão sorridente?

- Ah, é? Achava que era porque você tinha muitos dentes e eles não cabiam na sua boca. – zombei.

- Bobona.

- Desculpe, eu estava brincando. Gosto de todos os seus quarenta e sete dentes.

Rimos e pouco depois ouvimos o choro do novo habitante da casa. Sorrimos.

- Vou lá. Me acompanha? – chamei.

- Sempre. – ele respondeu.

Nos beijamos e ele me abraçou pela cintura. Agora não tenho mais aquela barriga avantajada para nos afastar. É engraçado. Acho que vou acabar sentindo falta dela.

...

Sinto que preciso escrever alguma coisa. Esta é a última página deste diário, e quero marcá-la com algo significativo. Ok, não vou mentir dizendo que este foi o único diário que usei durante todo esse tempo. Eu tive vários, e sempre que um acabava, eu o unia ao anterior usando magia, o que explica esse livro enorme que mais parece um dicionário em que eu mal consigo escrever agora. Mas sinto que esta última página é importante. Como se fosse o fim de um período (longo) da minha vida. Muitas coisas aconteceram enquanto eu enchia essas novecentas e noventa e nove páginas com palavras, poemas, relatos, desabafos e acima de tudo, sentimentos. Aqui eu escrevi não só a história da minha vida, como a da vida de todos aqueles que me cercam, que me amam e que eu amo também. Este diário é praticamente uma relíquia, se algum dia eu me tornar famosa, ou James, ou qualquer outra pessoa que eu tenha me referido nessas páginas. E se esse é um documento tão importante assim, não pode acabar com a última página em branco, ou simplesmente acabar com o relato de um dia comum. Tem que ter um fim memorável, algo que satisfaça um possível leitor após se esforçar tanto ao longo de mil páginas (é claro que se alguém tiver lido ou estiver lendo isto eu já estarei morta, junto com todas as pessoas que eu conheço, pois eu JAMAIS permitiria em vida que todas as minhas loucuras fossem expostas assim, de uma forma tão trivial).

Não sei se existirão muitos outros diários depois deste, portanto quero dar um "fim" digno de todos os acontecimentos, pensamentos, sentimentos relatados aqui. Mas um fim que não é realmente um fim; é uma conclusão de algo que começou mas ainda não terminou (se é que isso faz algum sentido). Afinal, a vida não acaba simplesmente. Ninguém pode decidir quando colocar o ponto final de sua vida. E para mim, ainda não é o final; é apenas o começo.

Ao longo de todos esses anos escrevendo, relatei histórias de amor, brigas, aventuras, confusões, tragédias, risadas, mas sobretudo, histórias de amizade. E muito, muito amor. Porque não há vida se não houver amor.

...

In my Life - The Beatles

There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain

All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all

But of all these friends and lovers
There is no one compared with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life I love you more

In my life I love you more...


N/A: Mais uma vez gostaria de agraceder a todos que leram essa fic e que conseguiram chegar até aqui! Amei escrever todos esses quinze capítulos enooooormes e demorados. Mesmo tendo vergonha de algumas coisas que escrevi lá no começo da história toda, vergonha de alguns erros estúpidos que cometi, acho que o resultado final foi muito bom e eu estou muito feliz de ter finalmente conseguido concluir a primeira fic que escrevi aqui no FF, e que me inspirou a continuar escrevendo, me aperfeiçoando cada vez mais! Vocês vão ver, um dia eu vou escrever um best-seller!

Mais uma vez obrigada, e espero que tenham gostado! E se gostaram, me presenteiem com uma linda review!

Beijos, e até uma próxima vez!

Lulu Star