N/A: Essa fic se passa quando o Gaara tem uns dezesseis, dezoito anos!

Aquela era uma noite trágica.

O céu transformara-se em bocarra negra escancarada; o vento do deserto gemia dolorosamente, tentando alcançar as enormes estrelas.

Aqueles terríveis olhos curiosos o observavam; a figura solitária, ensangüentada, sentado no meio do deserto com intrigante indiferença. Pensamentos obsessivos sobre pesadelos e matança.

Agora, todos os sentidos se foram.

Mas você nunca está completamente paralisado.

Não se pode procurar amor e ter coragem para abandonar tudo.

Sabaku no Gaara afastou o rosto dos joelhos. O deserto sempre fora mais cruel á noite, mas ele não ligava para crueldade.

Um crânio sorridente o encarava. Gaara apenas desejou que suas preces tivessem tido uma resposta.

Olhando para um céu escuro, percebe-se que as estrelas nunca valeram nada.

Você não pode ouvir o vento? Ele está dizendo que o paraíso esta partindo.

A liberdade pode ser agora ou nunca.

O que ele estava fazendo ali? Há quanto tempo estava sentado naquele mesmo lugar? Não importava mais. Era sempre inferno em todo lugar. Não importava aonde, ele sempre estaria nele.

E no mais profundo inferno, os demônios choram e choram.

Mas talvez, dessa vez seja possível

Que lembranças dolorosas valham a pena.

Há muito, viver tornara-se um fardo. De tudo, restara apenas uma fagulha de sanidade. O monstro dentro dele erguia-se, faminto, e alimenta-lo era uma penitência cruel.

Os monstros no fundo da alma são as vítimas.

Mas pra quê pensar nessas coisas agora?

O sonho há muito se foi.

Ás vezes se torna mais difícil saber...

A realidade é muito trágica.

Se alguém perguntasse, ele teria dito... Na vida, não há amor. Há apenas o silêncio.

Sim, o silencio atordoante de quando você os mata, que faz seus ouvidos zunirem, até que tudo acabe.

Ele ainda podia ouvir as súplicas quando estava sozinho no escuro.

A inocência acabou e você continua caindo, sem ter onde se segurar.

Gaara deitou de costas, e logo uma fina camada de areia cobria suas pernas e braços. O cheiro do sangue que empapava suas vestes chegou á suas narinas.

Quando o extermínio começa, a existência é confirmada e feita;

Mesmo que comece a doer, você troca tudo por um minuto de paz.

Por que o prazer justifica tudo, certo?

Fechou os olhos, tentando não lembrar da fome que se aguçava, cada vez mais e mais e incontrolavelmente.

Ah, e você não os amava, as suas vítimas inocentes?

Ele precisava mata-los, pois aquilo bastava para que se sentisse vivo.

Mas quando o cálice esvazia, o momento crucial termina...

E a ilusão se parte em pedaços que cortam e machucam.

E você corre tentando segurar a ferida; estancando seu sangue invisível.

Para todo lado que olhasse, ele via apenas presas. Ele era o predador voraz, que engolia sem nunca se satisfazer. Era apenas o que podia ser feito, e ficar sem isso era tão ruim quanto não respirar.

Mas quando a matança acabava, ele se sentia vazio e o tormento surgia dentro dele.

E Gaara só queria correr e gritar, por que aquilo não era um pesadelo, era real.

Nenhuma daquelas mortes tinha um significado.

Bem, você finalmente percebeu o horror daqueles corpos dilacerados.

O mundo era um salão, povoado de cadáveres esperando o dobrar do sino.

Terrível, Gaara.

Mais arrasado que nunca.

E cada segundo vivo é mais do que pode agüentar.

Gaara apertou os olhos. Quando, exatamente, as coisas haviam chegado aquele ponto?

Era tão mais fácil daquele jeito, não era? Sem sentir, sem pensar. Apenas anestesiado e a morte de outros trazia tanto consolo...

Uzumaki Naruto fez tudo desmoronar.

Bastou Gaara olha-lo para ver o quão fundo havia caído. Insuportável, ver a grandeza de sua alma. Um monstro de coração humano, não era aquele o horror?

E cair não foi tão doloroso quanto sobreviver ao impacto.

Talvez seja hora de atravessar a linha...

Quando se perde a coragem de ficar só consigo mesmo.

Gaara pousou uma mão sobre o peito; seu coração doía. Sua mente estava repleta de desejos mesquinhos que ele arrancava de dentro dele mesmo.

O que mais você tem? Como existir, agora?

Ele tropeçava num carnaval de horrores.

E não adiantava mais chorar por sua humanidade perdida.

Oh, mas você já não está se perdendo de novo?

Sabe que não importa o que faça, nunca será o bastante.

Vai afundar completamente, solitário e sujo; sendo apenas o monstro dos pesadelos deles e dos seus.

A areia cobria-o até o peito agora, mas não importante.

Era importante que ele estava sozinho, como sempre estivera. E na solidão a dor só aumentava.

Temari e Kankuro estavam á dias de distância dali, e mesmo que não estivessem, de nada adiantaria.

Gaara estava se afogando em trevas, e Temari e Kankuro não conheciam as trevas.

Luzes vêm e vão, mas não há uma sequer no final deste túnel.

Ainda podia ver ele e Kankuro, ambos crianças, esgueirando-se pelos corredores e indo bater na porta de Temari para que então pulassem as janelas da casa e disparassem na noite gelada.

Um trio de malfeitores se perdendo na escuridão dos subúrbios.

E seus irmãos sempre o seguiam, aonde quer que ele fosse.

Era apenas uma relação de convivência.

Gaara sempre lhes causara terror, e eles eram apenas fracos demais para importarem.

Mas ainda assim você atendeu aos gritos deles quando precisavam de ajuda, e Temari nunca desistiu de alcançar você, não foi, e Kankuro sempre botava a mão no seu ombro quando você estava sozinho no escuro...

Ser humano não significa nada além de nunca compreender a extensão de seus próprios sentimentos.

É só um buraco negro, e você está sozinho.

Olhe em volta, em quem você poderia confiar?

A areia agora começava a cobrir-lhe o rosto.

O que você faz quando tudo acaba?

A areia agora cobria-o por completo, e ele afundava no chão. Ah, o silêncio... E na escuridão ele estava a salvo, finalmente.

Sim, deixe-os esquecer por completo, apenas desapareça...

Gaara sentiu que não podia mais mexer seus braços e mãos. Estava no frescor e na escuridão. Estava a salvo.

E no fundo da terra, os fantasmas choravam.

N/A: Continuou? Hm... deixem reviews, pleease! XD