Título: Nightmare

Autora: Ivi

Beta: Marck Evans. Obrigada, beta lindão.

Classificação: PG

Personagens: Harry Potter e Sirius Black.

Disclaimer: Todos os personagens pertencem a J.K. Rowling. Eu não ganho nada escrevendo isso.

Aviso: Angst.

Comentário: Fic escrita para a Paula Lírio. Feliz Aniversário, Beibe.


Prólogo

Sirius sentia o corpo enrijecido. Tentou se ajeitar e continuar dormindo. Com um gemido, enrodilhou-se e abraçou os joelhos. 'Dormir. Só mais um pouco.' Mas não conseguia. Dolorosamente, abriu os olhos e se arrependeu logo em seguida. Ainda assim ficou aliviado ao notar a sua volta a luz avermelhada que sempre confundia todos os seus sentidos. Não sabia por quanto tempo havia dormido. Se foram horas ou míseros minutos. Sentia frio, sede, fome e muito cansaço. Com aquela cor vermelho sangue em tudo, Sirius nunca sabia se era dia ou noite, e seus períodos de sono nunca eram suficientes.

Sirius ouviu um som que fez um arrepio gelado subir por sua espinha. Finalmente, conseguiu identificar porque tinha acordado. Tentou se convencer que era apenas sua imaginação, mas o som se repetiu mais próximo. Ele sempre ouvia aquele barulho, mas nunca via nada. Era um som aterrorizante que não tinha nada de humano. E, às vezes, soava perto demais. Como agora. Apertou os olhos, forçando-se a tentar dormir novamente.

Uma vez, Sirius resolveu encarar aquilo. Reunindo toda sua coragem, posicionou-se de frente para onde achava que estaria vindo. Estava desarmado, não lembrava como perdeu a varinha, mas sua magia nunca tinha funcionado ali mesmo. Esperou por muito tempo (ou foram apenas alguns segundos?) e nada acontecia. Sirius talvez tivesse cochilado em pé, ele não sabia, mas de repente se sobressaltou com o som ecoando muito mais próximo. Depois, só silêncio. E isso se repetiu tantas vezes que, para ele, parecia ter durado toda a eternidade.

Quando o silêncio caiu novamente, Sirius não suportou mais aquilo e esbravejou, ameaçou, desafiou e gritou toda a raiva que sentia até perder a voz. Sua garganta arranhava e sua boca estava seca e ele se calou, derrotado. Então, ele sentiu um cheiro de morte, ou pelo menos, o que ele atribuiria para uma morte particularmente horrível: cheiro de podridão, de dor, de coisas envelhecidas e que deveriam ser esquecidas. Dos dementadores. E o som se repetiu, não a sua a frente como ele esperava, mas as suas costas. Sirius sentiu o corpo todo tremer quando uma nuvem sufocante daquele odor fétido o envolveu e, tentando ser forte, virou-se para encarar a coisa. E não viu nada. Uma fraqueza tão grande o atingiu que ele caiu de joelhos, mistura de alívio e medo. Com o resto de suas forças, levantou-se e começou a correr.

Desde então, que ele não sabia determinar se foi ontem, hoje ou há muitos anos atrás, a coisa o perseguia e ele corria. Procurava se esconder, mas tudo a sua volta era deserto e vazio, banhado em vermelho. Não via outras pessoas ou animais. Não tinha o que comer ou beber e, na maior parte do tempo, sentia mais frio que calor. Não conseguia se transformar, mantendo sua forma humana todo o tempo. Apesar disso, não sabia como, permanecia vivo.

Algumas vezes, a coisa sumia – não havia som ou o cheiro dela em lugar algum. E, então, tudo ficava escuro. Tão negro que não conseguia enxergar nada a sua frente. Era nessas ocasiões que ele achava que ia realmente enlouquecer. Não via nada e o silêncio só era quebrado pelo som da sua própria respiração. Não ousava falar e tentava se manter o mais encolhido possível, com receio de ser descoberto. Pois ele sentia que havia outras coisas por lá. Diferentes da anterior, não tinham cheiro. Mas o toque delas – porque na primeira vez que ele percebeu não estar sozinho, tateou até encontrá-las – era tão frio e tão doloroso que sentia como se cada parte do seu corpo estivesse sendo arrancada lentamente. Precisou de toda sua força para conseguir se soltar daquele toque e, afastando-se só um pouquinho, ficou desacordado pelo que julgava ser um longo tempo.

Ele aprendeu duas regras. A primeira era, quando dormia, nada acontecia a ele. Infelizmente, não conseguia dormir o tempo todo. Segunda, estivesse tudo vermelho ou escuro, ele devia correr. Porque ficar parado, a mercê daquelas coisas era estar condenado à dor e não a morte, como ele tanto ansiava.

Ouviu o som muito mais próximo e sentiu o cheiro. Levantou-se cambaleante e começou a correr, reiniciando o pesadelo desperto que sua vida se tornara.

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Harry ergueu a varinha e apontou para a figura encolhida no chão.

- Crucio.

Os gritos de agonia da criatura misturavam-se a sua gargalhada ante o sofrimento do outro. Não se incomodava com quem fosse. Mas queria desfrutar o prazer em causar tanta dor. Desejava ver o rosto da sua vítima. Aproximou-se, ainda lançando o feitiço e ordenou, numa voz fria, sem qualquer traço de piedade:

- Vire-se.

Viu a pessoa se virar com dificuldade. Os cabelos desgrenhados, o rosto encovado e ensangüentado, os olhos fechados em desesperada dor. A mão de Harry tremeu, o feitiço cessou e a varinha caiu no chão. Abaixou-se para tocar na figura que se retraiu ante seu toque, como se ainda pudesse machucá-la, parecendo um cãozinho que foi chutado pelo dono. Harry segurou-o pelo queixo e obrigou a abrir os olhos, para encará-lo. Notou a dúvida e a esperança tomarem conta dos olhos cinzentos.

- Harry? É você? – A voz não passou de um sussurro.

Harry não acreditou nos próprios sentidos e abaixou-se para abraçá-lo. 'Sirius estava vivo. Seu padrinho. Sua família.' Quando seus braços envolveram o corpo magro do outro, os dois gritaram em agonia. Sirius se transformou em outros corpos, outros rostos, banhados em sangue, mortos ou agonizando. Harry tentou segurá-lo, mas as imagens se sucediam muito rápido, deixando-o tonto e nauseado. Soltou-se, caindo sentado e desprendendo-se das figuras que o acusavam.

Ainda gritando, Harry acordou. Arfava e suava, a cabeça doendo horrivelmente. Com os olhos arregalados, observou ao redor. Aos poucos, a estranha cor avermelhada foi desaparecendo, deixando em seu lugar, a normalidade de seu quarto. Levantou-se e foi ao banheiro. Jogou água no rosto e observou as horas. Olhou para o armário e lutou contra o desejo de tomar a poção para dormir. Não estava a fim de dar explicações no dia seguinte, se a tomasse. Voltou ao quarto e sentou-se à janela, disposto a permanecer acordado até o amanhecer.

Wide awake, I'm bored and I can't fall asleep
And every night is the worst night ever

I'm just a kid and life is a nightmare
I'm just a kid I know that it's not fair


Trecho da música I'm just a kid, Simple Plan.