Reverto Umquam

Versão em português da fic "Reverto Umquam"

Autora: Jaina-com-mx

Tradução (autorizada): Inna Puchkin Ievitich


Esta história contém personagens pertencentes à autora J.K. Rowling. Nenhuma das histórias que publico recebe qualquer remuneração econômica.

Jaina, autora


Resumo:

Por um evento misterioso, Hermione viaja ao passado de Draco Malfoy, razão pela qual não apenas terá que lutar para sobreviver dentro da Família Malfoy como buscar a forma de regressar a seu presente. Angst, Romance, Mistério. Draco/Hermione.


CAPITULO 1

Um ambiente cálido, mesclado a uma série de odores e sons, era o que oferecia o Beco Diagonal às centenas de bruxos e bruxas que percorriam seus estreitos corredores.

Algumas bruxas vestiam-se de brilhantes cores, fazendo pose com seus exuberantes chapéus de plumas e flores; os bruxos vestiam-se mais discretamente, embora alguns tivessem certa preferência pelas túnicas quadriculadas e tradicionais. Os menores olhavam entusiasticamente os diversos doces de chocolate, maçã e abóbora que ofereciam certos locais, enquanto que outros expunham brinquedos de todo o tipo de complexidade e diversão.

No fundo do Beco sobressaíam-se lojas de mascotes, plantas e caldeirões mas, uma em especial era o centro da atenção de bruxos em busca de objetos mágicos mais raros que podiam imaginar. Tratava-se da Loja de Antiguidades e Excentricidades "Madame Vernis".

Dentro da loja se podia perceber um ar antigo e melancólico, que se intensificava com as lâmpadas à meia luz. Haviam dezenas de estantes de madeira lavrada, de onde se exibiam objetos de todo o tipo de formas e cores, alguns deles de procedência trouxa.

Hermione Granger entrou no lugar como se se tratasse de um parque de diversões, à diferença de seu companheiro ruivo, Rony Weasley, que não deixava de olhar horrorizado os animais dissecados que jaziam na entrada e as estátuas de mármore que moviam seus olhos seguindo cada movimento do garoto.

Aos seus 17 anos, Hermione havia suavizado suas feições, luzindo mais distinta junto com sua figura alta e esbelta, seus olhos cor de mel refletiam uma alma nobre e seu cabelo ondulado de cor castanho contornava um rosto, que mostrava à perfeição o brilho da inteligência.

- Pode me explicar o que fazemos aqui? - perguntou o ruivo, com certo tom de exasperação.

- Simples curiosidade. - respondeu Hermione, com um sorriso que não acalmou em nada os nervos de Ronald Weasley.

O garoto ruivo não havia mudado muito com o passar dos anos, ainda mantinha o mesmo olhar de menino que refletia através de seus olhos azuis. Seu cabelo vermelho intenso encontrava-se um pouco maior que o normal, proporcionando-lhe um ar de rebeldia, a qual era suavizada pelas poucas sardas douradas que lhe cobriam grande parte do nariz, fazendo-o parecer ainda mais infantil. Rony tinha crescido vários centímetros mais que o resto de seus amigos, e em seu corpo se desenvolviam discretos músculos devido às árduas práticas de Quadribol.

- Olhe todos esses animais... - sinalizou o garoto em direção a um conjunto de ratos dissecados, que estavam colocados sobre um nicho de madeira - Este lugar é aterrador.

- Madame Vernis adora os animais... – disse, tranquilamente.

- Adora os animais?... - Rony fez uma careta de desagrado. - Uma pessoa normal os manteria vivos.

- Deixe de reclamar. - disse Hermione, enquanto folheava um livro cor areia, que parecia ter centenas de anos.

Rony cruzou os braços de má vontade, enquanto sua melhor amiga caminhava por entre os corredores da loja, observando detalhadamente cada artigo que gozava de um valor antigo e exótico. Umas pequenas figuras de cerâmica, pintadas à mão, haviam chamado a atenção da garota, até que tropeçou com um móvel que continha uma infinidade de livros de todos os temas possíveis.

- Posso ajuda-los em algo? - disse uma pessoa, fazendo com que ambos os garotos se sobressaltam-se de susto.

Uma mulher grisalha e de aspecto envelhecido saiu por entre umas pilhas de caixas. Tinha a pele morena e os olhos azuis, suas roupas eram longas e de cor violeta, e trazia um enorme chapéu com flores lilás em um dos lados.

- Bom dia... - Saudou Hermione, sentindo-se tola por ter-se assustado.

- Bo-bom dia... - disse Rony, tomando ar.

- Bom dia... Estudam em Hogwarts? - perguntou, olhando rapidamente a insígnia da escola

em suas capas.

- Sim, sétimo ano. - respondeu prontamente Hermione.

- Já vejo... - disse a bruxa, movendo-se lentamente até eles e fazendo flutuar, com sua varinha, algumas caixas que se encontravam numa estante próxima dela. - E gostaram de algo em particular?

- Na realidade, tudo o que vimos até agora é fascinante. - Os olhos de Hermione brilharam.

- Muito obrigado. Nem todas as pessoas acham que vender antiguidades e objetos mágicos raros seja um bom negócio, mas a minha família o mantém funcionando por 200 anos.

- Existem coisas aqui que tenham essa idade? - perguntou Rony.

- Várias, embora minha memória esteja falhando ultimamente e já não recorde exatamente o que tenho. - A bruxa sorriu, fazendo que se acentuassem umas linhas nos cantos de seus olhos azuis.

- Poderia ter algo sobre Runas Antigas? - perguntou Hermione.

- Ah! Runas Antigas... - disse a bruxa, com um certo tom de emoção. - Encantam-me as culturas antigas.

- É interessante estudar sobre os costumes de outras civilizações, não acha? - A garota ergueu uma sobrancelha.

- Estou de acordo e creio ter livros que falam sobre civilizações remotas. Apenas deixe-me buscar... - A mulher caminhou até uns livros e começou a ler as lombadas de alguns dos mais envelhecidos tomos. - Há tantas coisas neste lugar que nem eu mesma lembro de todas.

Rony soltou uma leve risada quando viu sobre sua cabeça uma vassoura de um modelo demasiado velho para ser usada. Hermione deu-lhe um golpe com o cotovelo e o repreendeu com o olhar. Madame Vernis ergueu a vista até a vassoura e sorriu.

- Essa vassoura pertenceu a Agnes Lidenbrock.- disse.

Rony abriu enormemente os olhos.

- Lidenbrock? A Apanhadora do time da Irlanda?

- Sim. - A senhora fez com que a vassoura descesse até Rony. - Já vejo que você ouviu falar dela, foi a Apanhadora no ano de 1935.

- Lidenbrock fez com que a Irlanda ganhasse os Mundiais de Quadribol por três vezes... - Rony passava sua mão por cima da vassoura contudo sem tocá-la, como se tivesse medo que se desfizesse.

- Interessante. - disse Hermione, enquanto batia suavemente a ponta do nariz com um dedo.

- Mas a vassoura não está à venda, é uma lembrança de meu pai. A mesma Lidenbrock deu-a em pessoa, já que ele trabalhava no Departamento de Jogos Mágicos do Ministério.

- Oh! - Deixou escapar Rony, surpreso, enquanto retirava suas mãos da vassoura.

A bruxa fez uns quantos movimentos com a varinha e a vassoura voltou a subir a seu lugar. A senhora fixou novamente seu olhar na estante enquanto repassava os livros com os dedos.

- Finalmente! - exclamou alegremente. - Encontrei algo do qual poderia gostar.

A bruxa entregou a Hermione um livro de folhas amareladas, em cuja capa reluzia a imagem de um estranho símbolo.

- Contém tudo sobre a cultura da Índia, quase ninguém dá a devida atenção aos antigos bruxos hindus, mas eu creio que você poderia dar uma olhada.

A Grifinória começou a folhear o livro e seus olhos cor de mel adotaram um brilho de entusiasmo.

- Não tenho podido ler quase nada dos bruxos hindus, há muito pouco livros modernos que falam deles. - disse Hermione, sem erguer a vista do livro. - Este é muito interessante.

- Este livro foi escrito por um bruxo hindu do século XIX, Kashi Rahim. Estudava abertamente a sociedade mágica de outrora. - Madame Vernis fez um sinal com seu dedo para uma parte da página. - Há, inclusive, relatos de alguns feitiços que poderiam servir para outras matérias.

- Está perfeito! - Hermione fechou cuidadosamente o livro e abraçou-o junto ao peito. - Vou levá-lo.

Um ruído estrondoso ouviu-se a uns passos das bruxas, chamando-lhes a atenção. Ambas fixaram seu olhar numa pilha de caixas desmoronadas pelo chão, em cima delas se encontrava Rony.

- O que está fazendo? - perguntou Hermione, com certo rubor nas faces pela raiva.

- E-eu sinto... - disse o garoto ruivo recompondo-se, com as orelhas vermelhas pela vergonha - E-estava observando por esse cristal e vi uma... aranha.

Madame Vernis começou a rir enquanto que, com sua varinha, ia re-empilhando as caixas.

- O que você viu foi uma aranha de apenas três centímetros, mas através da lupa se vêem muito maiores do que são. - disse Hermione, com o cenho franzido, enquanto observava um pequeno inseto fugir assustado.

Rony abaixou a cabeça constrangido.

- As aranhas me dão pavor... - disse o ruivo à anciã, cabisbaixo.

- Não há por que envergonhar-se... - A senhora o olhou fixamente e aproximou-se dele, como se fosse contar-lhe um segredo. - Eu tenho medo das minhocas, jamais pude preparar corretamente uma poção para calvície, porque tremia cada vez que tinha que cortá-las.

Hermione ia dizer algo mas ao olhar para o chão uma coisa chamou sua atenção.

- O que é isto? - perguntou a garota, levantando uma pequena medalha ovalada.

- Isso? - A mulher aproximou-se dela e tirou uns enormes óculos com pedraria ao seu redor.

Hermione entregou a medalha e a anciã a moveu ligeiramente entre seus dedos. O desenho do objeto era sutil, construído num material prateado, com uma série de delicados detalhes ao redor de uma pedra negra que pendia, finalmente, de uma corrente fina e prateada.

- Que diferente... - disse, por fim, Madame Vernis.- Não recordo tê-lo visto antes.

- É um relicário. - disse Hermione.

Rony aproximou-se de ambas as bruxas e observou com o cenho franzido.

- Terá alguma magia em particular? - perguntou Rony.

- Não sei... - disse Madame Vernis.- Mas podemos averiguar.

A anciã apontou com sua varinha o relicário e pronunciou uns quantos feitiços reveladores de magia, sem que de nenhum obtivesse resposta.

- Vá lá! - exclamou - Um objetivo trouxa em minha loja.

A senhora abriu o relicário e dentro dele se encontrava a foto de uma mulher de cabelo negro e olhos verdes. Numa parte se mostravam as iniciais I.S., junto com uma pequena mecha de cabelo negro.

- Antes, ela seria a dona. - disse Hermione, com certa curiosidade. - Mas quem é?

- Não tenho idéia. - A bruxa fechou um olho buscando enfocar com o outro o relicário. - Nem sequer pertenceu à minha família. Talvez, meu esposo o guardou aqui sem que eu soubesse.

Madame Vernis caminhou até o balcão principal e ambos Grifinórios a seguiram.

- É um pouco estranho... - disse em tom pensativo. - Mas já que se encontra aqui...

- Você o venderia? - interrompeu Hermione, com certa timidez. Rony a olhou de relance.

- Mas não tem nada de especial... - comentou Madame Vernis.

- Ainda assim... qual seria seu preço? - insistiu a garota.

- Devido a ser unicamente um objeto trouxa, seriam cinco galeões. – respondeu, não muito convencida do interesse de Hermione sobre o relicário.

Hermione respirou profundamente e tirou umas tantas moedas, colocando-as sobre o balcão.

- Dentro de uns dias será meu aniversário e papai me deu algum dinheiro para que eu comprasse o que melhor me apetecesse.

- Nesse caso, muitas felicidades adiantado. - disse a bruxa, fazendo aparecer chispas de cores ao redor de Hermione. A garota sorriu feliz mas Rony olhou a cena com uma expressão estranha.

Rony sacudiu o cabelo com uma mão.

- Está segura de compra-lo?

- A mim me parece grandioso ter um relicário. - disse ao garoto, enquanto colocava o relicário tranquilamente no pescoço. - Embora anteriormente ele tenha pertencido à outra pessoa.

- Não estou muito seguro... - disse Rony, torcendo a boca - É muito estranho trazer pendurado no pescoço algo que pertenceu à outra mulher.

- Não há dúvida que cai muito bem em você... - disse a bruxa interrompendo Rony.

A Grifinória abaixou o olhar envergonhada.

- Obrigado.

- No total seriam vinte galeões.- disse Madame Vernis, pegando as moedas que lhe havia dado Hermione e as fez voar até uma caixa registradora enquanto que, magicamente, o livro era envolto em folhas de papel.

- Muito obrigado, Madame. - disse Hermione, encaminhando-se para a saída quando teve os livros em mãos.

- O prazer é meu. - disse a bruxa agitando seus longos dedos em sinal de adeus.

Ao sair da loja, Rony respirou com profundidade o ar do Beco Diagonal.

- Pensei que nunca sairíamos dali... - disse Rony, levando uma mão à nuca - A loja e a dona são muito esquisitas...

- Você é um exagerado, Rony. - disse, a contragosto, a garota.- A mim me pareceu por demais fascinante. Você viu os candelabros e as esferas que pendiam do teto?

- À parte da vassoura, o único que pude ver foi um morcego dissecado de cor azul. - disse Rony, de braços cruzados, enquanto caminhava ao lado de sua amiga. - Era arrepiante...

- Arrepiante foi quando você permaneceu uma hora parado frente à loja de Quadribol, sem mover uma só pestana.

- Era a nova Nimbus! - exclamou Rony, indignado. - Como não admirar semelhante preciosidade?

- Nem sequer Harry permaneceu tanto tempo como você ficou.

- Harry tem uma Firebolt... não compare. - disse o garoto dando de ombros.

- Por fim os encontro! - ouviu-se a voz de um menino por trás dos Grifinórios.

Ambos os jovens deram a volta e sorriram ao encontrarem-se com a presença de Harry Potter.

O Capitão do time de Quadribol de Grifinória também havia mudado. Sua estatura tinha aumentado, embora não com a mesma intensidade com que havia se produzido em Rony. Seus serenos olhos verdes esmeraldas refletiam uma inquietante tristeza, a qual era contra-arrestada por um alegre sorriso. Seu cabelo negro se apresentava tão despenteado como sempre, ao passo que em seu corpo, magro e moreno, haviam-se desenvolvido músculos que o faziam parecer mais adulto.

- Harry... você conseguiu o Pó de Chifre de Unicórnio? - perguntou, ansiosa, Hermione.

O garoto levantou três bolsas de tecido ambarino, com um amplo sorriso. A garota soltou o ar aliviada.

- Não quero nem pensar o que nos teria feito Snape se não houvessemos levado os ingredientes completos. - disse Rony, secando o suor com a manga de sua túnica.

- Nos teria tirado cem pontos de cada um. - comentou Harry com uma expressão irônica.

- Mas, graças a Merlim, você os conseguiu... - disse a garota - Imaginam como teria afetado nossas qualificações?

- Claro, a Monitora-Chefe com uma terrível nota reprobatória em Poções... seria o fim! - disse Rony, jocosamente.

- Basta, Rony!. - queixou-se Hermione, olhando-o fixamente.

- Creio que devemos apressar-nos, ainda faltam muitas coisas que comprar para o ano e amanhã partimos para Hogwarts. - disse Harry, acelerando o passo.

- Estou de acordo... - disse Rony, seguindo Harry na mesma velocidade.

- Esperem por mim! - exclamou a Grifinória, tratando de alcança-los.


Em um sofá negro descansava o esguio corpo de um jovem de 17 anos, que percorria com o olhar cada um dos troféus e medalhas que havia acumulado ao longo de sua vida, a maioria dos quais sequer havia ganho honestamente, mas tinha que decorar com algo aquela prateleira que seu pai mandara fazer.

Estava próximo de partir rumo à Estação King Cross e não tinha o menor ânimo para levantar-se daquela cômoda poltrona. Se lhe coubesse decidir, ele teria permanecido em casa.

Seu rosto pálido e afilado em conjunto com seus olhos intensamente cinzas expressavam uma personalidade fleumática, sagaz e indistinguível. Encontrava-se deitado numa posição pouco comum, com o corpo estritamente reto, enquanto seus longos e esguios dedos estavam entrelaçados, apoiados à altura do peito, como se fosse um vampiro descansando em seu sombrio ataúde.

O aposento estava em silêncio, apenas se ouvia a sua própria respiração e, de certo forma, lhe agradava estar assim. Talvez, por isso não desejava sair de sua solidão. Porque só assim podia pensar livremente e não teria que escutar as estupidezes de seus companheiros.

Afortunadamente, aquele era seu último ano naquela patética escola e sabia que seu pai tinha muitos planos para ele, mas esse momento estaria reservado para uns anos a mais, até que estivesse preparado.

- Draco... - Uma voz feminina detrás da porta interceptou seus pensamentos. - É hora de partir...

Draco Malfoy levantou-se de seu assento, tomando a capa e a gravata. De má vontade parou frente a um espelho que refletia seu corpo inteiro.

O Sonserino verificou que sua vestimenta parecia impecável para a meticulosa personalidade de sua mãe, que o analisaria antes de partir. Seus cabelos loiros prateados, nesta ocasião, caíam livres dos lados e na frente, mesclando a frieza e o mistério em seu rosto.

Durante os últimos meses crescera demasiadamente e, para orgulho dele, ficara mais alto que Potter. Seu corpo se conservava magro, com um ar distinto, apesar dos músculos que desenvolveu como jogador de Quadribol. Embora agora estivesse mais pálido que nos anos anteriores, apesar de constantemente sair ao sol.

Draco sorriu para si mesmo, como amostra de autêntica satisfação de ser um Malfoy. Na escola era o orgulho de Sonserina, posto que no ano anterior havia levado a vitória às serpentes, ganhando a Copa das Casas. Era inteligente, audaz, perceptivo, malicioso e gozava de uma excelente reputação em toda a escola, sendo o outro Monitor-Chefe de Hogwarts.

Sim, era o outro, porque Hermione Granger havia ganho um posto também. Só o fato de recorda-la lhe provocava ira, náuseas e impotência, porque em mais de uma ocasião tinha tentado fazê-la perder pontos, criando armadilhas para que a castigassem ou boicotassem suas poções e feitiços.

O garoto deu meia volta e caminhou até sua porta, saindo daquele agradável aposento ao qual não regressaria até o Natal. Desceu as escadas rapidamente, enquanto sua mãe lhe esperava com um esquadrão de elfos domésticos.

- Draco... está atrasado. - disse Narcisa Malfoy, com o cenho franzido.

- Ainda não... - disse Draco, pisando o último degrau. - Onde está a Chave de Portal?

Um elfo aproximou-se trêmulo do garoto e ofereceu-lhe uma bandeja, com uma moeda de ouro no centro.

- Não esqueça de escrever... - disse Narcisa, na proporção em que inspecionava seu filho com o olhar. - Ultimamente você vem escrevendo menos cartas e já sabe que seu pai gosta de manter-se informado do que ocorre na escola.

- Sim, mãe. - Draco pegou a moeda de ouro e apertou-a com força. - Nos veremos no Natal.

- Até, então... - disse Narcisa, com um meio sorriso.

Draco desapareceu da sala sem mais despedidas além das últimas frases. Já estava acostumado ao fato das demonstrações físicas de afeto serem mínimas. Sua mãe procurava manter o laço mais próximo por meio de presentes, cartas e um ou outro capricho. Caso contrário era seu pai, que sempre mantinha uma estreita vigilância de seus triunfos ou fracassos, exigindo a perfeição em cada um de seus atos. Lucius Malfoy era um homem muito difícil de comprazer e Draco se mantinha pressionado a fazer que seu pai aprovasse qualquer de suas ações. Afortunadamente, no último ano seus atos haviam alcançado o "nível da perfeição" a que um Malfoy deve chegar.

Em uns segundos mais apareceu em uma esquina da Estação King Cross, seguido pelos elfos que carregavam todos os seus pertences. As criaturas caminharam até o bagageiro, deixando suavemente os finos baús de madeira e, em silêncio, desapareceram como se jamais tivessem estado ali.

O Sonserino ergueu a cabeça, altivo, caminhando com passo seguro por entre os alunos, enquanto se dirigia ao vagão dos Monitores. O garoto subiu com grande agilidade, sentindo-se satisfeito com os olhares de inveja, medo e admiração que lhe concediam outros alunos.

Um dos compartimentos estava ocupado por alguns dos Monitores da Corvinal e Lufa-Lufa, motivo pelo qual foi até o segundo, sentindo-se decepcionado por ter que compartilhar umas horas de viagem com os tediosos Grifinórios mas, ao que parecia, chegara demasiado cedo porque adentrou e ainda não havia ninguém, o que lhe agradou enormemente, porque agora poderia sentar-se tranqüilamente próxima à janela.

Pegando uns dos jornais que descansavam dentro de um cesto, se dispôs a ler calmamente as notícias mágicas do dia.

"Elliot Muffin, conhecido compositor e músico, estará de visita na cidade de Londres nos dias 19 e 20 de setembro. Oferecendo um concerto em favor de..."

"Encontraram os restos de um veículo no qual, supostamente, viajavam dois bruxos, para cometer atos delituosos contra os trouxas. Muitos deles afirmaram haver visto um disco voador próximo de Oxford..."

O murmúrio de uns jovens aproximando-se captou a atenção do Sonserino, mas não desapegou sua vista do jornal, embora já começasse a sentir-se incômodo pela intromissão à sua tranqüilidade.

- É como dizer que Neville é Apanhador no time de Quadribol... - disse uma voz que o loiro reconheceu, para seu desgosto, que se tratava de Rony Weasley.

- Isso é totalmente injusto... - disse outra voz.

- Injusto? Mas se você disse que...

Rony Weasley parou a conversação instantaneamente ao dar-se conta que Draco Malfoy se encontrava sentado dentro da cabine livre. Hermione Granger, que se encontrava ao lado do ruivo, olhou o Monitor de Sonserina com pesar.

Draco abaixou o jornal, olhou-os com frieza e posteriormente voltou a pôr sua atenção no que lia. Rony apertou os lábios num careta de asco e sentou-se frente ao garoto, seguido de Hermione, que tinha consigo Bichento.

Nenhum dos dois Grifinórios sabia como continuar a conversa, posto que Malfoy rompia com a harmonia, apesar de que eles pouco se importavam com o que pensasse ou dissesse o Sonserino. Rony apertava repetidamente um pacote que levava entre as mãos enquanto Hermione acariciava seu gato.

- Demônios! - resmungou em voz baixa Rony.

- O que ocorre? - perguntou Hermione, no mesmo tom de voz.

- Esqueci de dar isso a Gina... - disse, mostrando o pacote que tinha entre suas mãos.

- Vá dá-lo antes que partamos... - murmurou próximo do ouvido do garoto. - Não se preocupe comigo...

- Mas... - O ruivo olhou aborrecido para Malfoy, que parecia imutável ante a conversa dos dois.

- Você não vai deixar Gina sem almoço, certo? - disse a garota, dando-lhe uma ligeira cotovelada. - Ainda temos que fazer ronda pelos vagões. Anda... vai...

Rony levantou-se com desconfiança, sem deixar de olhar Draco dissimuladamente. Hermione sorriu-lhe amplamente para alentá-lo a que se fosse. Ao desaparecer detrás da porta do compartimento, a garota apagou o sorriso e tirou imediatamente um livro de seu bolso, o qual se dispôs a ler.

O Sonserino abaixou lentamente o jornal para sorrir sarcasticamente ante a atitude impassível da garota.

- Não te dá medo estar sozinha...? - perguntou Draco com ironia.

Hermione não respondeu senão que fingiu estar lendo. O loiro fez uma feia careta de descontentamento, não gostava que ninguém o deixasse com a pergunta no ar.

- Acaso de tanto escutar os berros de seus amigos você ficou surda? - Draco deixou o jornal de lado. Hermione podia sentir o intenso olhar do garoto, apesar de não o estar vendo, porém não se imutou.

Draco levantou-se de seu assento de um salto, aproximou-se de Hermione e tirou-lhe o livro. A garota olhou-o irritada.

- O que quer, Malfoy? - disse, fazendo um gesto com a mão como indício de querer tomar o livro, mas o garoto o tinha seguro à altura de seu peito.

- "Como Ser Uma Bruxa de Excelência".- disse, em tom sarcástico, ao ler a capa do livro. O garoto a olhou divertido. - De verdade, você acredita que será como um de nós?

- Deixe-me em paz... - Hermione ergueu-se de seu lugar. - Por que você não foi valente para me provocar quando Rony estava aqui?

Draco bufou.

- Acredita que há alguma diferença entre Weasley estar ou não estar? Ele é ninguém. – disse, alçando uma sobrancelha.

- Ao menos ele não é como você... - Hermione desta vez o olhou altiva, com um leve sorriso zombeteiro.

De repente, Bichento emitiu um miado ameaçador ao loiro, mostrando ferozmente seus dentes.

- Tire esse seu animal imundo de minha vista, Granger! - queixou-se Draco, olhando o gato com desprezo.

A garota soltou um risinho.

- Sempre tão "valente", não Malfoy? – disse com ironia.

Draco a olhou irritado, seus olhos cinzas centelhavam de raiva.

- Você...

O loiro não pode terminar a frase porque inesperadamente Bichento se lançou pesadamente até seu estômago, fazendo-o cair no assento.

- Bichento! - exclamou Hermione assustada.

- Retire-se, animal imundo! - se queixou Draco, tratando de tirar de cima de si o enorme gato.

Hermione se jogou sobre eles e segurou Bichento pelo lombo, mas o animal escapou facilmente das mãos de sua dona e deu uns saltos para baixo, enroscando-se entre as pernas da garota.

As bochechas de Hermione se tingiram de uma forte cor rosa, ao dar-se conta que havia caído justamente em cima do Sonserino. Os olhos cinzas de Draco se cravaram nos de mel dela, com verdadeira fúria.

- Maldita seja! - resmungou Draco. - Saia de cima, estúpida!

Hermione levantou-se, envergonhada, das pernas de Malfoy. O garoto começou a sacudir a túnica devido as bolas de pêlo do gato que tinha sobre si. No mesmo instante, algo que pendia do pescoço de Hermione lhe chamou fortemente a atenção.

A expressão de seu rosto mudou subitamente e seus olhos abriram-se surpresos, deixando ver o seu colorido prateado.

- De onde você tirou isso? - perguntou Draco.

Hermione olhou-o confusa.

- De onde você obteve esse relicário? - perguntou novamente e irritado.

A garota olhou para o relicário que levava ao pescoço.

- Entregue-me... - disse Draco, estendendo sua mão.

- Por que tenho que fazê-lo? - perguntou indignada.

- Porque não é seu. - respondeu friamente.

- Tampouco é seu. - disse a garota, desafiante.

- Não queira se fazer de esperta, Granger. - Draco aproximou-se de Hermione, procurando intimida-la com sua presença. - Dê-me.

- Não...

Draco levou uma das mãos ao pescoço da garota, com o fim de arrebatar o relicário, porém Hermione reagiu rápido e segurou a mão, impedindo-a.

Como se o tempo houvesse congelado, Hermione e Draco se olharam fixamente nos olhos, sendo a primeira vez que descobriam um ao outro. Inesperadamente, Hermione tremeu ligeiramente ao sentir a gélida mão do Sonserino; Draco, por sua vez, suavizou a expressão dura de seu rosto para dar lugar à uma totalmente confusa.

Uma luz intensa irradiou do relicário, envolvendo Hermione. Draco parecia não se dar conta, pois continuava imutável, observando-a curiosamente.

A luz se fez mais intensa e Hermione desapareceu...

De repente tudo escureceu, sentiu que seu corpo era levado bruscamente para trás, quase a ponto de fazê-la perder o equilíbrio. Num instante, pareceu ver sombras somadas a um zumbido do vento através das árvores.

Tudo parou e Hermione pode respirar um gélido ar. Sua visão era entorpecida por uma ligeira névoa, razão pela qual, no momento, não pode reconhecer onde estava.

Suas pernas tremeram arrepiadas ao perceber uma presença que a acompanhava.

Um anjo de pedra erguia-se, frente à ela, sobre um bloco do mesmo material, com uma inquietante inscrição... "Pour Toujours... 1798".

Hermione olhou desesperadamente ao seu redor, dando-se conta de que o que a rodeavam eram... lápides.

Tratava-se de um antigo cemitério, de onde altas e frondosas árvores de cedro e pinho cresciam por entre as tumbas, dando um toque espectral ao lugar. Um lençol de folhas secas cobria o solo, aterrorizando ainda mais Hermione pelo som que faziam ao serem pisadas.

Algo no interior de Hermione dizia-lhe que já tinha visto esse lugar. A sensação de haver estado ali antes era aterrorizante, mas não podia explicá-la, não até que buscou sua varinha nos bolsos de sua túnica.

Hermione notou rapidamente que sua indumentária escolar havia sido trocada por uma túnica de veludo cor cinza e elegante. Os bolsos de sua nova túnica estavam em outra posição e, ademais, a varinha se encontrava no lado contrário de onde sempre a deixava.

Mas não era a sua varinha...

E a cor de sua pele bronzeada agora era pálida, seu cabelo castanho e ondulado havia mudado para um negro e liso, que estava preso com duas presilhas em ambos os lados. Não havia nenhum espelho para olhar seu rosto mas sabia, simplesmente, que não era ela... não era Hermione Granger.

Aguçou seus olhos num desesperado intento por encontrar algo familiar, mas só via lápides e estátuas com insígnias em forma de serpentes, anjos e rosas que se erguiam ao redor dela. Algumas com inscrições em francês e latim. Todas elas mostrando nomes e datas de falecimento.

O ruído de umas folhas farfalhando fez com que a garota se voltasse para atrás...

Um menino de pele alva, loiro e de olhos cinzas a olhava fixamente, movendo entre suas mãos o que parecia ser um pomo.

Hermione retrocedeu, assustada, observando atentamente o pequeno. Sentindo que umas pontadas no coração lhe gritavam que controlasse seus nervos, que tinha que pensar... assimilar.

- Não pode ser... - murmurou Hermione.

O menino se mexia como se o ar estivesse brincando com ele. Suas roupas cinzas e elegantes o empalideciam ainda mais, como se se tratasse de uma visão fantasmagórica. Era uma cena que a qualquer um congelaria o sangue, sobretudo se o menino sorrisse com certa diversão.

- Deveria ver o seu rosto... - disse o pequeno.

Hermione guardou silêncio. Unicamente se dava à tarefa de observar o menino, negando-se a si mesma a possível identidade do mesmo. Mas não havia se passado tanto tempo assim, ela sabia que o conhecia desde os 11 anos e que, apesar da criatura que estava vendo ser mais jovem, não havia mudado de todo em sua aparência.

Poderia ser algum equívoco? Loiro, olhos cinzas?...

O menino saiu correndo, confundindo-se entre a neblina e as espessas árvores. Hermione o procurou com o olhar, desesperada, mas o menino já havia desaparecido de sua vista. O ruído de uns pés golpeando o solo, a obrigou a perseguir o menino.

Tinha que averiguar o que estava fazendo ali...

O loiro era mais veloz que Hermione a qual, devido à falta de visão, tropeçava uma e outra vez com as lápides e galhos das árvores, contudo sem dar-se por vencida. Tinha que alcança-lo de qualquer jeito.

Uma alta figura a deteve em sua corrida, segurando-a firmemente pelos braços. Hermione quis gritar mas sua voz simplesmente parecia ter-se apagado.

- Não deveria estar correndo dessa maneira por aqui... - disse uma voz rouca e pausada.

Hermione sentiu que as pernas tremiam ao reconhecer o rosto da pessoa que a tinha segura.

- Ma-Malfoy...? - sussurrou trêmula.

- Quantas vezes tenho que pedir a você que me chame por meu nome? Sou Lethar. - disse.

Hermione soltou-se dos braços do homem e o observou escrupulosamente.

Não... aquele não era Draco Malfoy. Era loiro, de pele branca, mas seus olhos eram bicolores, uma mescla entre o mel e o verde. Sua idade era muito mais avançada que a do Draco de Hogwarts, seu corpo era magro mas com fortes músculos, envolvendo-o num ar distinto... típico de um... Malfoy?

O homem olhou-a fixamente, levando uns dedos ao seu queixo.

- Creio que necessita respirar. - O homem caminhou lentamente ao redor dela. - O pequeno demônio voltou a fazer das suas?

- O-o pequeno dem...? - balbuciou Hermione.

- Draco... – disse, com um sorriso de satisfação, erguendo uma sobrancelha.

A garota sentiu que lhe davam um forte golpe no estômago. Aquele pequeno a quem perseguira era... Draco Malfoy? E o homem quem era, então?

- Draco! - gritou Lethar. - Saia daí!

Um menino loiro saiu dentre uns arbustos, carregando, ainda, seu precioso pomo.

- Sua mãe já não disse que não se aproxime do cemitério quando está perto do anoitecer? - perguntou o homem, de braços cruzados.

- Sim... tio. - respondeu o menino, cabisbaixo.

- Bem. Então, é melhor que nos apressemos e cheguemos à mansão antes dos guardas soltarem as bestas. - Lethar tomou da mão da criatura enquanto olhava interrogativamente para Hermione.

A garota compreendeu tudo nesse instante... viajara ao passado de alguma forma, obtivera a personalidade de alguém que não era a sua...

Caíra nas mãos da Família Malfoy...


Nota 1 da Tradutora: A expressão em francês "Pour Toujours" que Hermione leu numa das tumbas significa "Para sempre". No contexto da história, "Pour Tourjours... 1798", isto é, "Para sempre... 1798", é uma inscrição in memoriam usada pelos Malfoy para indicar que o espírito e o nome da família são superiores à morte, ou seja, que são imortais.

Nota 2 da Tradutora: A princípio, eu pensei em manter os nomes originais de Rony (Ron), Bichento (Crookshanks), Gina (Ginny) e das Casas (Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff), bem como manter a forma original pela qual são chamados os alunos segundo as Casas a que pertencem - Gryffindor(s), Slytherin(s), Ravenclaw(s) e Hufflepuff(s). O motivo é bem simples: eu não suporto traduzir nomes. Porém, considerando o fato de que aqui no Brasil os leitores de HP já se familiarizaram com os nomes "traduzidos" pela Lia Wyler (tradudora da série), eu me auto-forcei a cometer o mesmo sacrilégio de traduzir os nomes próprios (coisa que também me obriguei a fazer em "Pó de Chifre de Unicórnio"). Neste primeiro capítulo o único nome que não "abrasileirei" foi "Lucius" Malfoy, o qual preferi manter como no original.

Sem mais para o momento, espero que tenham gostado do primeiro capítulo desta fic, que já alcança27 capítulos na sua versão original.

Agradecimentos: Meu muito obrigado de coração à autora de Reverto Umquam, "Jaina", pela simpatia, atenção e permissão concedida para a tradução de sua história (originalmente em espanhol).

Grande abraço a todos e até o próximo capítulo! ;-)

Inna