Título: Desiderata
Autor: Magalud
Categoria: Slash
Gênero: Romance, drama, angst
Personagens: Severus Snape, Remus Lupin, Harry Potter, Draco Malfoy
Resumo: Amores e desamores quando nossos heróis tentam reorganizar sua vida no pós-guerra.
Spoilers/Timeline: Pós-guerra, menciona Half-Blood Prince.
Disclaimer: O mundo de Harry Potter, seus personagens e paisagens são de propriedade de J.K. Rowling, Warner Bros., suas editoras e afiliadas. Nenhum lucro foi auferido pela criação dessa história, nem qualquer tipo de má-fé intencionada de qualquer maneira contra a autora ou os atores e atrizes que tão maravilhosamente deram vida a esses intrigantes personagens. Mas o Derrick é meu! E eu escolho Aaron Himelstein para interpretá-lo.
Aviso: Produzida para o Desafio de Fevereiro da lj-comm fanficbr. OOC-ness para um dos personagens principais.
Data: 07/03/2006
Palavras: 16.500 – Muito mais do que eu previa. J
Agradecimentos: À Ivi, por inspirar o título. E mais ainda, por aceitar em betar, por mais que eu tenha ferido seu amor.

Desiderata

Desiderata. Pl.(L.) sing. desideratum

(Do L. desideratu – desejo)

Aquilo que se deseja,
aquilo a que se aspira,
desejo, aspiração.

Capítulo 1 – Um dia como outro qualquer

– Bom, dia, Derrick.

– Bom dia, Sr. Harris. Entre, por favor. Como o senhor se sente hoje?

– Melhor, obrigado. E seu Mestre?

– Parece estar de excelente humor, senhor, e já está preparando tudo. Por favor, aguarde um momento que irei anunciá-lo.

– Obrigado, Derrick.

O homem de bengala não esperou muito e logo foi saudado pelo homem alto, magro e severo, que veio do interior da botica, instruindo o aprendiz de rosto espinhento e olhos agitados:

– Derrick, por favor, tome conta de tudo enquanto faço a aplicação no Sr. Harris.

– Sim, Mestre Snape. Pode ir descansado.

– Sr. Harris, por favor, por aqui. – O dono da botica indicou o caminho, e o cliente o seguiu, mancando suavemente.

Eles foram para a salinha dos fundos, onde Severus Snape tinha seu laboratório particular na botica que estabelecera em plena Diagon Alley, no ano imediatamente posterior ao fim da guerra e à derrota de Lord Voldemort. No piso inferior, ficava a loja de ervas e poções, e no andar superior, no sobrado, Snape tinha montado um pequeno apartamento.

Severus fechou a porta e indicou a maca já pronta.

– Pode tirar a blusa e deitar. A poção logo vai ferver.

– Derrick trabalha aqui há três meses, não?

– Mais ou menos isso, sim. Por que pergunta?

– Posso tirar o glamour para ele. Afinal, eu fazia isso com Trevor.

– Trevor Taylor trabalhou para mim durante cinco anos, não três meses. Além disso, ele era capaz de manter um segredo. Não conhecemos esse novo aprendiz ainda. Ele pode ser um espião do Ministério.

– Severus, ele tem 17 anos! – O cliente de Severus retirou o glamour que disfarçava seus verdadeiros traços, os do Rapaz-Que-Matara-Voldemort-E-Sumira-da-Face-da-Terra. – E eu venho aqui todo santo dia, sinto que estou mentindo para ele.

– Você vem aqui para se tratar e agora quer falar sobre o aprendiz? – Severus parecia divertido, observando a poção no fogo. – Vamos dar tempo ao tempo, então veremos o que Derrick vai dizer.

Harry Potter notou o ar jovial no sisudo Mestre de Poções e arriscou:

– Você está animado demais. Deixe-me adivinhar: contagem de estoque?

Severus se permitiu um sorrisinho:

– Quinta à noite. Se ele sobreviver, venha falar comigo de novo sobre revelar-se a ele. Estique o braço, Potter.

Como fazia todos os dias, Severus colheu duas gotas de sangue de Harry e adicionou-as à poção que começara a ferver, fazendo dela um medicamento mágico personalizado. Severus ainda tentava aperfeiçoar a fórmula para que pudesse ser reutilizada, assim Harry não precisaria vir todos os dias à botica. Por outro lado, se isso acontecesse, Harry iria ficar realmente tão isolado quanto todo o mundo bruxo jurava que ele era.

Afinal, desde que derrotara Voldemort, Harry se mudara para Grimmauld Place, enfiara-se lá dentro e raramente saía, a não ser para visitar alguns de seus antigos colegas de Hogwarts. A explicação oficial – a que ele tinha divulgado através de nota assinada divulgada ao Quibbler – era que tratava de sua saúde fora do país. Bom, e isso era uma verdade – quase.

Atingido por uma obscura, mas potente e persistente maldição das trevas na batalha final, Harry experimentava dores horríveis no tronco e no joelho direito. Durante mais de nove meses, ele dormiu praticamente sentado, com a perna esticada, e mal podia se mexer de tanta dor. Os especialistas de St. Mungo's falaram em tratamentos difíceis, longos e doloridos. Madame Pomfrey, ouvida logo em seguida, concordara com eles, mas o aconselhara a ter uma palavra com Severus Snape, que (dissera ela) certamente sabia muito mais sobre maldições do que os médicos do hospital mágico.

Pomfrey tinha razão: Severus Snape conhecia muita coisa sobre maldições e mais ainda sobre processos dolorosos. Assim começara o tratamento de Sr. James Harris, há mais de cinco anos. Harry nunca desanimara, vindo religiosamente todos os dias à botica. Severus também nunca desistira e, com o tempo, tinha aperfeiçoado ainda mais a poção, que era administrada diretamente sobre a pele, acompanhada de massagens. Após tanto tempo e com os conhecimentos impecáveis de Severus, era natural que Harry tivesse melhorado bastante, e hoje levava uma vida quase normal – à exceção da bengala. Mais do que isso: os dois conseguiram superar algumas de suas diferenças e até desenvolveram uma espécie de "amizade".

Até porque eles tinham, agora, amigos em comum.

– Faz tempo que não vejo Remus – comentou Harry, sentado na maca, enquanto Severus espalhava o líquido quente nas suas costas. – Como ele está?

O sorriso do Mestre de Poções aumentou:

– Tem trabalhado muito. Um ótimo emprego.

– Sério? Severus, isso é tão bom. Fico feliz. Você estava preocupado por ele não ter arranjado bons serviços.

– Sim, ele estava chegando tarde e só dizia que trabalhava, mas não me dizia aonde. Então ontem, depois de muito trabalho, ele finalmente admitiu que está empregado como professor particular de duas crianças bruxas de uma família abastada. O salário é muito bom e ele está animado.

– Mesmo? Puxa, que notícia excelente. Não é como se de repente ele estivesse dando aulas para os herdeiros Malfoy, mas estou muito feliz, Severus, muito mesmo. Remus merece.

– Na verdade, é exatamente para os herdeiros Malfoy que ele está lecionando.

Os olhos verdes de Harry se arregalaram e ele se virou para olhar Severus:

– Você está brincando? Draco Malfoy contratou um lobisomem para cuidar de seus herdeiros? Como você conseguiu convencê-lo?

– Eu não tive nada a ver com isso, juro. Estou tão surpreso quanto você. Talvez Draco tenha se lembrado de que Remus foi um bom professor em Hogwarts. Além disso, aparentemente, as crianças aterrorizam seus tutores de tal maneira que eles terminam se demitindo. A lenda fala em quase uma dezena deles correndo espavoridos da mansão. Draco pode estar desesperado.

– E o que mais se esperaria de filhos de Draco Malfoy e Pansy Parkinson? Mas eles não podem ser tão ruins. Eles têm o que, uns 4 anos?

– O mais novo, Abraxas, tem 4 anos. O mais velho, Nero, tem quase 7.

Harry ficou abismado:

– Tudo isso? Elas passaram por um vira-tempo? Não faz tanto tempo assim que saímos de Hogwarts. Percival só tem dois anos!

Severus deu um sorriso real:

– Não, Potter. Seus amigos Weasley e Granger é que demoraram a ter filhos por causa da obsessão intelectual de sua amiga. Mas o tempo passa para todos. Remus e eu estamos juntos há três anos, lembre-se.

– Eu... Nossa, já faz tanto tempo assim? E eu nunca entendi como vocês se juntaram.

Severus esfregava a poção e deu de ombros:

– Não perca seu sono tentando desvendar este mistério, Potter. O verdadeiro mistério aqui é outro.

– Outro?

– Como você não tem um namorado ou namorada há pelo menos seis anos?

O jovem enrubesceu:

– Oh, bem, isso... não é importante.

– Para alguém de sua idade? Não, Potter, esse seu isolamento tem a forma, o cheiro e a cor de um coração partido. Até onde posso deduzir, você tinha seus olhos em alguém e esse alguém arrumou um outro alguém. Você se desiludiu e se isolou em sua casca desde então. Pessoalmente, sempre acreditei que fosse um de seus amigos, Granger ou Weasley. Quem sabe a Srta. Weasley.

– Olhe, você está errado. Não é nada disso. E pare de meter meus amigos nas suas teorias malucas. Eles estão casados e cheios de filhos.

– Se é o que prefere, Potter. Mas você é jovem demais para se entregar à amargura e à solidão. Devia sair. Mesmo que seja como Sr. Harris.

Harry se virou para ele, um ar irônico:

– Está me dando conselhos sobre minha vida amorosa, Snape?

Uma sobrancelha se ergueu:

– Não me insulte. Estava falando sobre sua saúde. Um interesse amoroso pode ter efeitos concretos em seus músculos, deixando-os relaxados e economizando-me muitos ingredientes caros e preciosos, para não mencionar meu tempo. E nem vou mencionar, tampouco, sua patética tentativa de mudar de assunto. Pronto, Sr. Harris. Pode vestir sua camisa.

– Obrigado, Severus. Eu juro que sinto alívio imediato com suas aplicações.

– Ótimo. E eu jurei ao jovem Derrick que esse seu tratamento especial e extremamente dispendioso é que mantém a botica aberta. É uma boa troca, não acha?

– Você não me ouve reclamando, ouve? Então, estamos conversados. – Ele se ergueu, arrumando as vestes bruxas, enquanto Severus abria a porta. – Mesma hora amanhã?

– Como um relógio suíço, Sr. Harris. Tenha um bom dia e me avise de qualquer dor.