Mais uma vez a madrugada fria envolvia a milenar mansão dos Asakura, o silêncio daquela paisagem transmitia uma falsa sensação de paz. Aquela era sede de um clã cujo principal sentido de existência é exterminar um mal que eles próprios criaram, desde então uma guerra silenciosa e cruel tem sido travada à mil anos. Desesperadamente, eles tinham de pagar suas dívidas com a humanidade, por todo sofrimento que indiretamente causaram.

Mas naquela noite, no coração da mansão, não existiam sinais de uma guerra física, o herdeiro da família e encarregado de sua missão milenar, estava apenas petrificado em frente à mansão, olhando a paisagem, tentando enxergar numa tentativa inútil, além do horizonte. Pela primeira vez em sua vida, ele simplesmente não sabia o que pensar, e de repente começa a fraquejar em sua filosofia que para tudo se dá um jeito.

A cena de instantes atrás ficaria cravada para sempre em sua alma, sua esposa Anna Kyouyama de costas no jardim, e de repente na escuridão se iluminando o Espírito de Fogo de seu irmão, o garota caminhando em direção à ele sem virar para trás, em certo momento ela para, e junto com uma brisa, o garoto ouve de longe a voz da Itako – Gomen Nasai Yoh – a frase ecoou em seu espírito de tal forma que ele pode sentir cada parte vacilante de seu corpo. Após isso, a Itako subiu no Espírito de Fogo e junto com Hao voaram para longe.

O jovem shaman, ainda na mesma posição se dá conta que realmente sua esposa, que ele salvou à tanto tempo não estaria mais ao seu lado, o garoto não fora capaz de satisfazer aquela que ele tanto amava, muito menos perceber a solidão que a assolava. Estava tão preocupado com o Shaman Fight que havia se esquecido porque estava competindo, e agora já havia perdido tudo.

Derrotar Hao. A idéia surgiu em sua mente como um estalo, era sua missão como Asakura, e agora ele tinha mais uma razão para isso. Mas... como ele poderia fazer isso com sua amada? Todo o caminho que ele tinha percorrido até aquele momento era por ela, e mesmo assim todo seu esforço de amá-la tinha sido em vão, como ele poderia pensar em tentar destruir a sua felicidade, logo agora que ela encontrou alguém que pudesse dá-la tudo que sempre quis.

Naquela noite ele estava perdendo os dois objetivos de sua vida. Após perceber esta verdade, o garoto cai de joelhos, chorando silenciosamente numa tentativa de auto controle – Para tudo se dá um jeito – disse baixo para si mesmo. Realmente queria acreditar em suas palavras, segundo sua filosofia, para todos os problemas existe uma solução, as pessoas que se cegam, e não conseguem enxergar a saída. Mas ele não aceitaria uma saída longe da Anna, sentiu raiva de si mesmo por cogitar a possibilidade, não iria abandoná-la de novo, mesmo em seus sonhos. Ele podia sentir o frio de solidão, congelando a ponta dos dedos, e fazendo a respiração ficar mais ofegante, não poderia entrar na mansão novamente sabendo que sua esposa não estaria lá.

Como ele poderia competir com o seu irmão? Ele assim como sua noiva, passaram pela mesma dor, por mais que se esforçasse, ele nunca poderia compreender a dimensão deste vazio que consumia a alma. Por um instante ele invejou o sofrimento do Hao, e aceitaria este destino, se fosse a única maneira de ter a Itako ao seu lado novamente. Talvez ele pudesse fazer alguma coisa, por ser a metade de Hao. - A quem eu quero enganar? Somos pessoas diferentes – pela primeira vez se encontrava numa situação de auto questionamento. Qual teria sido o verdadeiro sentido de sua existência? O nascimento de um gêmeo teria sido mera obra do acaso? – Você com certeza estaria brigando comigo por eu ter pensamentos, não é Aninha? – A imagem de sua noiva lhe repreendendo tinha causado uma curta sensação de felicidade, que logo se perdeu diante da realidade.

Os momentos vividos com a Itako estavam todos voltando à sua mente, como ele tava linda em Osorezan, seu treinamento em Izumo, quando a reencontrou na tribo dos Patches, e até naquela noite gelada... sua admiração não tinha mudado. Se sentiu feliz por ter vivido com ela, e o futuro só lhe restava insegurança e medo, sua vida podia acabar. Quando percebeu já era de manhã, e ele estava no seu quarto, ao seu lado seus companheiros, todos dormindo. Estava perdido no tempo, não soube quanto tempo esteve inconsciente. Depois de ter revivido aquelas recordações, finalmente tinha tomado uma decisão, iria sair do Shaman Fight, e quanto sua missão como Asakura, mesmo ressentido, ele não poderia continuar. O que poderia fazer era fortalecer os outros quatro guerreiros, para continuar seu legado.

Depois de todas as lutas, escolheria o exílio, tinha falhado completamente em vida, um dia receberá a notícia do desaparecimento de sua amada, era mais um choque em sua vida, pois não tinha nem o consolo dela estar bem, caiu em febre...

Desculpe por não ter forças para ir atrás de você, tudo que queria era salvá-la mais uma vez.

Um vulto, trajando uma capa branca aos farrapos, caminhava ao longe na paisagem congelada de Osorezan. Sem direção, sem rumo... as trevas ao qual sua alma estava perdida, contrastavam em estranha harmonia com a neve. Sua respiração era ofegante devido ao frio, mas demonstravam uma delicadeza única, de uma flor de inverno. Com as pétalas queimadas.

Embora não demonstrasse nenhuma emoção em sua face, e seus olhos não refletissem brilho. A Itako carregava uma culpa enorme em sua alma, um arrependimento que não cansava de destruir o pouco que tinha restado de si mesma. E agora estava retornando ao local de onde tudo começou, de onde nunca devia ter saído. Lá pretendia terminar seus dias. Não se atrevia mais em pensar em ser salva novamente... não podia mais suportar sua existência, tudo que um dia ela amou agora não restava mais nada. Apenas trouxe sofrimento e morte para todos aqueles que a amaram. Ainda não tinha tirado a própria vida para não perder a lembrança das duas pessoas mais importantes para ela, queria se punir, e não apenas fugir, mas talvez estivesse viva por ele... que lhe tinha salvado uma vez, não poderia tirar a vida que um dia foi preciosa para ele... aquele garoto bobo e sorridente de anos atrás...

- Mesmo agora Yoh... sua lembrança ainda me traz boas recordações...

Depois de dizer estas palavras, era como se seu interior caísse em desespero, apesar de suas lágrimas terem secado, assim como toda sua esperança na existência deste menino... em que ela havia assassinado em certa noite... estava sentada na neve, não existia mais tempo, futuro, vento ou frio... apenas o vazio... que a engolia cada vez mais, restando-lhe apenas lembranças soltas num abismo.

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Nota:
Eu queria fazer uma fic pequena de um capítulo só... mas está me dando mais trabalho que eu imaginava... " Então resolvi fazer 2 capítulos, sinceramente eu não sei exatamente como será o final ""(fala logo kra q vc tah decidindo ainda ¬¬), mas vai ser à altura D
A idéia era abordar principalmente o Yoh, mostrar um outro lado dele caso ficasse sem a Anna(a Anna jamais deixaria ele, apenas imaginem), mas acabei tratando da Anna também e deu nisso aew.
Bem o objetivo aqui era me testar minha capacidade mesmo... nunca escrevi nada assim antes.. e sempre tive vontade