Ilusórios

Melissa Hogwarts

Para a Ily – que foi quem conseguiu me fazer olhar H/G com outros olhos e quem ressuscitou essa fic. Ploc Ily!

Capítulo Um – Não Tão Simples Assim

"Todos fazemos o que podemos, e tem de ser bastante bom... e se não for bastante bom, tem de servir. Nada jamais se perde... Nada que não se possa encontrar."

- Stephen King – Zona Morta.

A Toca – Agosto de 1997.

- Hoje foi o melhor dia de todos!

Harry observou Gina se jogar na poltrona da sala. Os cabelos ruivos se soltando do coque, as sandálias de repente voando para o canto oposto e o sorriso alegre parecendo iluminar toda a sala. Por um instante parecia até ter se esquecido que vestia um vestido dourado com babados e fitas que pinicavam as pernas e a faziam se sentir uma almofadinha de alfinetes.

- Foi divertido mesmo – disse Harry sentando-se na poltrona em frente.

- Foi sim – exclamou Gina alto – jamais irei esquecer da mini-Phlegmtentando tirar aquele gnomo do vestido!

- E aquele whisky-de-fogo no copo dela, foi um mero engano na hora de servir, não foi? – perguntou Harry com um sorriso maroto.

- Harry Potter – começou Gina fingindo séria – está insinuando que tenho alguma coisa a ver com isso?

- Se você acha... – murmurou Harry erguendo a sobrancelha.

- A culpa não é minha se ela não olha o que bebe! – disse a ruiva fazendo ar inocente – muito menos se não agüenta bebidas fortes...

- Pobre Gabrielle Delacour. Mais uma vítima da temível e ruiva Gina Weasley...

- Pobre, nada. Que eu saiba os Delacour são bem ricos – acrescentou Gina – e ela mereceu. É um mini-Phlegm! Irritante e metida!

- Ela só tem onze anos... e você alcoolizou a garota! – Harry tentou parecer sério, mas ele bem que estava rindo também.

- Ela tem doze – corrigiu Gina – assim que fomos apresentadas ela se mostrou alguma espécie de... bah, ela é insuportável! E me chamou de ruiva sardenta!

- Gina, sei que será um grande choque para você ouvir isso, mas você é uma ruiva sardenta – falou Harry abrindo um sorriso maldoso.

- Oh, acho que sim – fez Gina passando as mãos nos cabelos – mas ela não precisava dizer!

- Dizer o quê? Que você é a ruiva sardenta mais bonita da festa? Isso todos já sabem...

Gina corou violentamente. Não que nunca tivesse recebido elogios parecidos. Nos últimos anos, a expressão até se tornara familiar. O problema era que Harry quem havia dito. Harry. Se deu conta de que não havia ficado a sós com ele desde o dia em que... em que... "No dia em que o sonho acabou e nós acordamos para a vida real" – completou o pensamento tentando não parecer tão dramática.

- Onde estão Rony e Hermione?

Harry havia quebrado o silêncio e Gina achou que isso era bom. Se tentava o tempo todo parecer normal, parecer que era de novo apenas a "irmãzinha do Rony", então era melhor evitar comentários como aquele. Olhares como aquele.

- Provavelmente Rony está tentando melhorar seu beijo desentupidor de pia – comentou Gina voltando ao ar displicente – estão melhores que nós e bem melhor que Gabrielle Delacour, eu posso garantir.

- É estranho, mas ao mesmo tempo é lógico, quer dizer, Rony e Hermione juntos – disse Harry devagar.

- Harry, você sabia que uma hora ou outra isso iria acontecer, eu sabia, Fred e Jorge sabiam, Hogwarts sabia... era uma questão de tempo, não era? Digo, desde sempre! Só faltava um dos dois ceder... e ao que parece, eles cederam hoje. Bom para eles.

- Mas as coisas serão diferentes agora.

As palavras saíram fortes, graves e tão intensas que Gina se encolheu momentaneamente. Harry não estava se referindo apenas ao relacionamento entre Rony e Hermione, mas a algo mais. Algo mais denso, muito mais escuro, quase desesperador. Algo que não podia ser a simples idéia de ter os dois melhores amigos andando de mãos dadas por aí.

- Serão – afirmou Gina, sem nem pensar o que estava dizendo.

- Gina – começou Harry devagar – eu vou embora amanhã. Eu preciso ir. Mesmo que Hogwarts abra.

A ruiva olhou para o chão por alguns instantes antes de responder com sinceridade:

- Eu sei.

- Você sabe que eu tenho que ir...

- Eu sei – repetiu Gina, um brilho passando por seus olhos – eu sempre soube que um dia você iria. Você é o escolhido. Você tem de ir.

- Eu tenho que ir – murmurou Harry.

Gina não sabia para onde ele estava indo, nem quais eram seus planos, mas de alguma forma Harry sentia que ela compreendia, que ela entendia. Sentia que Gina sempre estaria lá para ler seus pensamentos e dizer "Eu sei", sem fazer perguntas ou censuras. Um desejo incontrolável de tomá-la nos braços invadiu Harry. Gina não se importava com o fato dele ser um homem marcado assim como não se importava com a realidade de que ele usava óculos e era magro e baixo demais para a idade. Queria ficar com Gina. E pela primeira vez na vida teve vontade de ser outra pessoa, não apenas para fugir de sua realidade, mas para ser livre. Livre para amar alguém.

- Você vai – falou Gina encarando-o.

- Não sei se vou voltar – disse Harry tentando não soar melodramático.

- Se você tiver de voltar, você vai voltar, Harry.

Harry fez que sim com a cabeça. Ainda com o pensamento longe, observou Gina se levantar da poltrona, as fitas do vestido dourado balançando levemente.

- Gina – começou Harry com a voz falha – prometa que haja o que houver, apenas prometa que não importa como eu volte, se eu volte ou o que eu faça lá fora, você não vai se esquecer que eu sou apenas o Harry.

- Eu nunca me esqueci que você era o Harry – disse ela lentamente.

- Obrigado, Gina – murmurou Harry, suspirando, aliviado por uma coisa que só ele sabia o que era.

A última lembrança que Harry Potter teve de Gina Weasley, antes de cair na completa escuridão, foi de vê-la subir as escadas, o cabelo ruivo brilhando e o vestido dourado balançando levemente...

. a . a . a .

Véspera do casamento de Rony e Hermione – março de 2001.

- Responda Hermione, é a sua vez!

Hermione já não tinha mais como ficar vermelha. Quem é que tinha tido a idéia daquela "festinha" mesmo? Não era o tipo de coisa para ela, ficar trancada num quarto cheio de mulheres histéricas bebendo cerveja amanteigada e whisky de fogo. Ainda mais na véspera de seu casamento. Ela devia estar em casa tendo uma boa noite de sono a fim de acordar no dia seguinte sem olheiras e sem aquele ar de quem ficou a madrugada inteira no Cabeça de Javali.

- Ande logo, Hermione – gritou Gina – seu interesse por Vítor Krum já foi mais do que simples amizade?

Devia responder? Hermione olhou para cada uma das mulheres ali presentes (a maioria delas sofrendo os efeitos da bebida). Estava se sentindo uma adolescente fútil e histérica. Onde já se vira concordar em fazer uma "despedida de solteira"? E pior, uma despedida com Gina, suas duas amigas, Esther e Ruth, e Luna? Aquilo definitivamente não combinava com ela. Aliás, não combinava com nada.

- Uma única vez – respondeu Hermione, séria – quando ele voltou da Bulgária para me ver, dizendo que também queria ajudar a derrotar Voldemort. Eu olhei nos olhos dele e senti, durante apenas alguns segundos, uma vontade inexplicável de beijá-lo. Mas daí, Rony apareceu para buscar não sei o quê e ao olhar pra ele percebi que minha vontade de beijá-lo não durava apenas alguns segundos...

Elas caíram na risada, inclusive Hermione que se reprovava internamente.

- Hum – fez Esther com um sorriso maldoso bailando nos lábios – e conte pra nós, como é o Roniquinho que não conhecemos?

Mais uma vez Hermione corou violentamente:

- Não faz parte das regras responder a duas perguntas de uma vez!

Ruth emitiu sons inteligíveis de protesto.

- Ela tem razão – disse Esther preparando a garrafa para mais um giro – vejamos quem será a próxima vítima...

A garrafa girou. Ruth, Esther, Luna, Gina, Hermione... Ruth, Esther, Luna, Gina, Hermione... Ficando cada vez mais lenta... Ruth, Esther, Luna, Gina, Hermione... Ruth, Esther, Luna... Gina.

- Ora, ora – falou Ruth rindo – se não é Gina Weasley!

Gina riu alto:

- Vamos, acabe logo com isso!

- Deixe-me ver – murmurou pensativa – você já teve vontade de voltar no tempo e mudar alguma coisa? Digo, no campo amoroso, é claro – acrescentou rapidamente.

A ruiva olhou para o chão, desejando ardentemente não ter cedido às pressões de Esther. Não devia ter bebido whisky de fogo. Seus pensamentos pareciam flutuar agora, repassando acontecimentos de sua vida, andando rápido, como num caleidoscópio colorido de rostos e vozes. Ela sabia onde iria parar...

- Harry – soltou ela no susto – eu teria beijado Harry antes dele ir embora. Queria ter dito adeus a ele naquela noite.

E o silêncio tomou conta do quarto.

. a . a . a .

Little Hangleton – Janeiro de 1998.

- Não posso fugir mais disso, Hermione – disse Harry baixo. A expressão decidida de seu rosto parecia dar por encerrada a questão.

- Mas nós vamos com você! – exclamou ela – nós sempre estivemos com você, Harry, estamos agora e sempre estaremos.

- Ela tem razão – falou Rony sério – já chegamos até aqui, já não é hora mais para voltar.

Harry respirou fundo antes de dizer:

- É meu destino, não o de vocês.

- Foi o destino que nos colocou juntos, Harry – começou Hermione com a voz fina – ajudaremos você até o fim.

- Iremos com você para o inferno se for preciso – disse Rony, os olhos brilhando de modo decidido.

Harry sabia que Rony não estava exagerando. Sabia que os dois realmente o seguiriam até o inferno se fosse preciso. Eram os melhores amigos do mundo. As pessoas mais importantes de sua vida. Sua família.

- Não existem amigos melhores que vocês – falou Harry encarando-os – vocês sempre foram leais e lutaram por algo que não era para vocês... uma causa que não era da conta de vocês...

- Desculpe Harry, mas isso não é verdade – interrompeu Rony – a destruição do mundo definitivamente é uma causa que é da nossa conta.

- Jamais teria conseguido sem vocês.

- Oh Harry – Hermione o abraçou se debulhando em lágrimas – eu e Rony prometemos que estaríamos sempre com você, onde quer que fosse, e vamos cumprir essa promessa.

Um tanto sem jeito, Harry abraçou Hermione de volta. Quando os dois se afastaram ele disse com a voz falhando:

- Então vamos dormir por aqui mesmo. Amanhã pensaremos no que fazer.

- Mas já vou avisando que não vou ficar perto do fogo de novo, da última vez eu queimei as sobrancelhas! – exclamou Rony.

Harry e Hermione riram. Logo depois Rony os acompanhou. A risada dos três enchendo o barracão. Foi a última.

. a . a . a .

Sala Particular do St. Mungus – cerca de uma semana depois.

- Molly?

Molly Weasley se virou para a porta e viu Minerva McGonagall parada ali.

- Pode me acompanhar por favor? – perguntou McGonagall com a voz fraca.

Molly assentiu. Deixou o quarto lentamente. Seu coração estava tão pesado que parecia refletir isso nos passos. Seus pensamentos passavam em mil lembranças, revivendo sorrisos, lágrimas e palavras que jamais voltariam. E a vida parecia tão injusta agora. Tudo parecia tão cinzento...

- Eu conversei com o curandeiro chefe do St. Mungus – anunciou McGonagall escolhendo as palavras.

- E... e o que ele disse? – Molly não queira fazer a pergunta, mas se viu obrigada.

Minerva McGonagall pareceu vacilar um instante. Os olhos ainda tinham as marcas de alguém que havia chorado copiosamente há pouco tempo. Mas era uma mulher forte, era diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, era membro da Ordem da Fênix. Já tinha visto mais que a vida podia mostrar.

- É grave? – Molly fez outra pergunta, como que para lembrar à McGonagall que ainda estava ali.

- Sim – ela praticamente cuspiu as palavras, temendo que se demorasse mais tempo acabaria por chorar novamente – e achei melhor contar-lhe. Afinal, você, Arthur e Lupin acabaram por se tornar a família de Harry, não é mesmo?

Era verdade. Ela mesma se considerava a mãe de Harry em alguns momentos. Não conseguia evitar de pensar nele como um filho. De temer por ele e amá-lo como se Harry também tivesse cabelos ruivos.

- Lupin está conversando com os curandeiros ainda, imagino – continuou McGonagall – e não encontrei Arhur. Harry foi meu aluno durante tantos anos e... e eu tinha de perguntar, tinha de saber... me lembrou quando os pais dele.. quando os pais dele... eu também custava a crer, custava... tinha de saber e ver com meus próprios olhos e...

- Ele está... morto? – perguntou Molly de modo mais brusco do que desejara.

McGonagall tremeu involuntariamente.

- Ninguém sabe exatamente o que aconteceu naquela casa. Não há quem possa afirmar nada. As razões que levaram a isso tudo são desconhecidas... os que podiam dizer estão mortos. São tantos segredos que é impossível tornar as coisas razoavelmente claras...

- O que aconteceu com Harry? – cortou Molly quase berrando.

- Está certo. Vou ser direta. Molly, ele não vai acordar.

A cor pareceu sumir subitamente das faces de Molly Weasley.

- Harry morreu. Oh céus, ele está morto! – gritou Molly não conseguindo conter as lágrimas de desespero – Harry... ele era como um filho para mim, como pôde...

- Acalme-se, Molly – pediu McGonagall gentilmente.

- Não é possível – prosseguiu Molly sem se preocupar em limpar o rosto – um rapaz tão bom... ele não merecia, não merecia...

- Molly, escute-me...

- Injustiça! Malditos dias em que vivemos!

- Molly...

- Já foram tantos que nem sei...

- Harry não está morto! – falou McGonagall, agora deixando as lágrimas caírem livremente.

- Não?

- Não.

- Mas então – murmurou Molly – mas então como... como...

- É um mistério. Um verdadeiro mistério. Harry está vivo. Fisicamente. Seus batimentos do coração, sua respiração, seus ferimentos não são graves... o nível de magia está equilibrado. Não há nada de errado nele.

- Então quando ele vai acordar? Então o que há de errado?

McGonagall respirou fundo:

- Ele está vivo fisicamente. Mas os curandeiros disseram que é como se sua mente não estivesse lá. Como se estivesse presa em algum outro canto, não no corpo.

- Eu não entendo...

- Não existem estudos sobre semelhante coisa – falou McGonagall séria – ele está num estágio avançado do sono, num efeito semelhante a uma poção do morto-vivo com um potencial muitas vezes maior. E parece não haver meios de acordá-lo. Já tentaram todo tipo de poção, de encantamento ou feitiço, mas ele não responde a nada.

Molly baixou a cabeça por alguns instantes, sem querer acreditar em nada do que Minerva dizia.

- Os trouxas costumam chamar esse estágio de coma.

- Existe alguma chance de cura? Algo que possa fazê-lo acordar?

- Ao que parece não. Ele pode acordar amanhã, daqui a uma semana, anos, décadas...

- Mas ele tem galeões o suficiente para pagar qualquer curandeiro!

- Harry ficará numa ala especial do St. Mungus... sob cuidados de curandeiros especializados.

As duas mulheres então se renderam a seus sentimentos. Choraram juntas no corredor.

. a . a . a .

Nota extraída do 'Profeta Diário' – fevereiro de 1998.

Vivo ou Morto?

Como se não bastasse as reformulações, o expurgo dos maus funcionários, a aprovação de novas leis em magia e o julgamento dos ex-Comensais da Morte, o Ministério deve agora lidar com a questão: Harry Potter deve ser mantido vivo?

É de domínio público o estado clínico de Harry James Potter, 18 anos. Aclamado por muitos como o maior herói do mundo mágico, Potter está agora preso num estado de adormecimento profundo numa cama do Hospital St. Mungus, em Londres, rodeado por uma equipe especial, composta dos melhores curandeiros do mundo. Ao final do mês passado, Potter lutou contra Você-sabe-quem e os corpos de ambos foi encontrado numa casa abandonada em Little Hangleton. O que aparentemente era um pequeno trauma pós-feitiço, acabou se revelando um verdadeiro mistério. Potter está vivo, mas sua mente não responde, estando ele num estado de inconsciência quase-permanente.

Veja o que o consagrado curandeiro-chefe Estanislau Potrico declarou na última terça-feira:

"Jamais foi registrado oficialmente qualquer caso semelhante a esse. Tentamos de tudo, feitiço de animação, poções energizantes e até mesmo métodos ainda não testados. Alguns representantes ministeriais, vindos do Departamento de MistériosV1 , também realizaram algumas experiências suspeitas altamente sigilosas nele e nada parece acordá-lo. Mas fora o fato de não responder a qualquer estímulo a nível consciente, Potter está bem vivo, obrigado".

Mas o que mais alarma o caso é o fato de que Potter não está sozinho nessa empreitada. O terrível Lord das Trevas também se encontra nesse misterioso estado de adormecimento. A pergunta (por muitos considerada nefasta e indigesta) é: por que não matar Você-sabe-quem? Ronald B. Weasley, melhor amigo de Potter, declarou ainda esta semana:

"Se vocês o matarem, Harry também irá morrer. Vocês querem Harry morto?".

A polêmica sobre o assunto divide a comunidade mágica e o próprio Ministério da Magia. Na semana que vem, a difícil questão irá à julgamento na Suprema Corte dos Bruxos. Só nos resta esperar.

Maiores detalhes, páginas 3, 7, 9, 11 e 12. Entrevista exclusiva com a curandeira Martisa Milovich, membro da equipe que cuida de Potter, na página 13.

. a . a . a .

St. Mungus – Natal de 1999.

- Feliz Natal, Harry.

Hermione colocou as flores brancas no jarro enquanto Rony deixava uma caixa de sapos de chocolate na mesinha. Ambos sabiam que eram atitudes que beiravam o ridículo, mas ainda assim faziam tudo com um ar solene, quase como que num ritual.

- Ele parece bem, não parece? – comentou Hermione num ar deprimente.

- Ao menos não parece sofrer – disse Rony em voz baixa.

Deitado na cama de lençóis brancos puríssimos, Harry Potter parecia desfrutar do sonho dos anjos. Não havia em seu rosto qualquer expressão de dor ou sofrimento, apenas um meio-sorriso vazio, quase perdido. Por um instante Rony pareceu vê-lo dormindo no dormitório do sexto ano na torre da Grifinória.

- Ah, desculpem-me, não sabia que ainda estavam aqui – falou visivelmente constrangida uma enfermeira magra e baixinha.

- Não se preocupe – disse Rony num tom leve – pode fazer seu trabalho, só esperamos um amigo e estamos de saída.

- Eu não tinha nada para fazer – murmurou a enfermeira corando violentamente – só limpar, como sempre.

- Não se prenda por nós – comentou Rony rindo para ela – você... você cuida de Harry há muito tempo?

- Me mandaram para esta ala há quatro meses – respondeu a moça se sentindo mais à vontade – terminei o curso de curandeira no início do ano. A propósito, eu sou Jeanie Lovat.

- Rony Weasley – apresentou-se Rony estendendo a mão.

- E eu sou Hermione Granger, a namorada dele – disse Hermione numa rapidez impressionante.

Jeanie Lovat a encarou por um instante e pairou entre as duas um breve momento de tensão. Hermione sentia que poderia matá-la só com o olhar.

- Sinto muito pelo Sr. Potter – murmurou Jeanie – espero sinceramente que ele se recupere. Agora tenho de ir. Tenho outros pacientes para cuidar... com licença Sr. Weasley – e acrescentou depressa ao olhar para Hermione – e Srta. Granger.

- Mione, você me surpreende cada dia mais – falou Rony assim que Jeanie desapareceu da sala.

- Por que? – perguntou Hermione visivelmente aborrecida.

- Seu lado ciumento – acrescentou o ruivo num tom quase displicente.

- Ciumento? – Hermione soltou uma risada forçada.

- É. Você assustou a pobre garota!

- Eu? Assustei? – exclamou Hermione numa expressão quase séria – não sou eu quem está em posição de assustar aqui. Pelo menos eu não uso suéteres laranja-berrante num hospital...

- De novo vai implicar com o suéter? – gemeu Rony.

- Que culpa eu tenho se ele parece dizer "Hey, olhe para mim. Eu sou Rony Weasley"?

- Agora entendo... – fez o ruivo baixinho, um sorriso torto tomando forma.

- Entende o quê? – perguntou Hermione inquieta.

- Ciumenta, é isso que você é! Não gosta que eu chame atenção, não é? – acusou Rony caindo na gargalhada – oh, Mione, não é só você que gosta de ruivos altos e bonitões...

Hermione ignorou o comentário.

- Mas não se preocupe, eu gosto da minha cdf ciumenta...

Hermione bem que tentou, mas não conseguiu ficar séria e caiu na gargalhada.

- Rony, você é tão... tão...

- Incrível? Sensacional? Tira fôlego?

- Absurdo!

- Ta aí, absurdo – repetiu Rony – ninguém nunca tinha me chamado de absurdo... entra pra lista dos insultos?

- Vocês vão entediar Harry.

Os dois se calaram. Era Gina na porta do quarto. Trazia um embrulho pequeno numa das mãos e um lenço na outra.

- Ele se divertia com nossas brigas – comentou Rony rindo um pouco.

- Das primeiras cinqüenta e três vezes todos se divertem, mas depois vira rotina – acrescentou Gina com ar divertido.

Lentamente ela se aproximou da cama, olhando-o de modo vago, e colocou o pacote na mesinha.

- Como ele está?

- Dormindo – respondeu Hermione com ternura.

Toda vez que iam visitá-lo Gina fazia a mesma pergunta, e Hermione dava a mesma resposta.

- Acho que vou buscar um café – falou Rony – você vem comigo, Hermione? É melhor, vai que alguma enfermeira tarada me aborda no corredor...

Hermione não respondeu, mas acompanhou-o do mesmo modo.

Assim Gina se viu sozinha no quarto. Era uma sala especial do St. Mungus, protegida contra toda espécie de feitiço. Somente pessoas autorizadas tinham acesso e todos eram submetidos a uma série de verificações para entrar. Mas era preciso visitar Harry, nem que fosse somente para observá-lo dormir.

Gina apertou o lenço com força. Nunca falava, nem quando estava a sós. Sabia que Hermione falava sempre e que uma vez, segundo Luna, Rony também falara, disse que estava namorando Hermione e que estava com medo de pedi-la em casamento. Não reprimia os amigos, mas achava inútil e constrangedor ficar horas e horas falando com alguém que não podia ouvir. Se contentava em fitá-lo, em segurar sua mão, ou algumas vezes, em arrumar-lhe os travesseiros.

Era o segundo Natal que passavam sem Harry. E por mais que tentassem parecer felizes e fortes, que tudo estava bem, sabia que aquilo deixava marcas em todo mundo. Harry nunca fora exatamente uma pessoa alegre e saltitante, também nunca dera muita nota de achar o Natal a data mais feliz do ano, mas era estranho não tê-lo por perto. Nem que fosse para desejar bons votos. Nem que fosse para dizer "Oi". Nenhum abraço, nenhuma lembrança. Sempre faltava alguma coisa. Quando voltavam para a Toca e encontravam aquela magnífica mesa, com todos juntos, festejando e transparecendo sorrisos, sempre havia uma cadeira vazia. Mais um prato no escorredor. Um presente sobrando ao pé da árvore. Um sorriso a menos.

Não houve jeito, levou o lenço aos olhos. Detestava chorar nas visitas a Harry. Achava estúpido e melodramático. Por isso, secou as lágrimas rapidamente e tratou de colocar um sorriso no rosto. Não se controlou, e beijou-lhe a testa também.

Se levantou da cama e levou um susto. Havia alguém na porta.

- Não precisa se envergonhar disso.

Era Neville.

- Ah... oi Neville. Pensei que não viria.

- Estava visitando meus pais, só me atrasei um pouco – explicou ele entrando no quarto – desculpe se assustei você, não foi minha intenção...

- Não tem problema, Neville, não tem problema – falou Gina um pouco atrapalhada – eu só estava aqui... olhando o Harry.

- Eu também cuido dos meus pais – comentou Neville devagar – ao menos, dá pra fingir que não estamos só.

- Que não estamos só... – repetiu Gina.

- Visitá-los preenche o vazio por um instante, mas depois que vamos ele fica ainda maior...

Gina segurou as lágrimas, não queria chorar na frente de Neville. Aliás, não queria chorar na frente de Harry.

- Sempre que vejo meus pais tenho a esperança de que um dia eles estejam bem, que me reconheçam – disse Neville sorrindo um pouco – então, não precisa se envergonhar de nada. Não é fraqueza. Nunca vai ser.

- Obrigada, Neville – murmurou Gina – obrigada.

Neville deixou uma bala na mesinha de Harry, desejou "Feliz Natal" e depois se virou para Gina:

- Feliz Natal também.

- Feliz Natal, Neville – e o abraçou com força.

. a . a . a .

N/A: bem, aí estamos. É um primeiro capítulo um tanto... estranho? Sim, eu acho que é. Mas as coisas vão se explicar, eu prometo. Pois é, mandem reviews, me diga o que acharam. Se ficou bom ou se ficou uma grande porcaria. Afinal, depois de séculos estou voltando ao bom e velho drama. Então... reviews!

De agora eu agradeço à Ilyanna, querida beta dessa fic. Sem ela, nada disso teria ido para frente. À Mi por conta dos bons conselhos. Também à minha irmã, a Jéssica, que sempre tem paciência de ouvir as minhas idéias e à Amanda Dumbledore, que não gosta de H/G mas que gostou da fic. Beijos a todas vocês meninas.