Disclaimer: Os personagens do anime Inuyasha não me pertencem, e essa fic não tem como fim obter lucro nenhum. Já os personagens Yuki, Heitaro, Hiko e outros personagens esquisitos totalmente alheios ao anime são inventados por mim.
Continuação da fic "O antigo amor de Sesshoumaru". Acho que quem não leu a primeira não vai entender muito essa continuação, mas ainda assim, vou tentar deixar a história coerente mesmo para os que não leram a outra. Espero contar com a review de quem tiver paciência em ler, mesmo que seja para dizer que ta muito ruim. Valeu, boa leitura!
À sombra da meia lua
"- Só quero pedir uma coisa antes de partir...
- O que quiser...
- Prometa que me guardará na memória...
- O tempo apaga até mesmo as mais belas memórias...
- Entendo...
- Por isso eu a guardarei no meu coração...".
Uma lua cheia e brilhante mostrava-se no horizonte, pronta para tomar conta da infindável cortina de estrelas reluzentes que já apareciam no alto do céu. A noite de primavera, quente e com o ar carregado com o aroma das flores que se encontravam aos milhares em todos os cantos, era um convite aos insones como ele. Os olhos dourados percorriam cada pequena faixa de terra daquele local, onde estava colocando os pés pela primeira vez. Jamais havia conhecido as Terras do Leste, mesmo tendo andado e vivido tanto. Ali, naquelas terras, sua mãe havia nascido, e seu clã havia dominado aquela área por várias gerações. Assim, estar ali era uma forma de homenagear ao local pela figura majestosa que o havia gerado.
Olhou para o lado, observando atentamente o sono pesado em que os companheiros se encontravam. Também pudera, após dias de caminhadas, quase sem descanso, nem mesmo o chão pouco confortável era empecilho para o descanso. Rin, a garotinha que o acompanhava, parecia tão mergulhada no sono, que nem mesmo estava se remexendo com os sonhos, como fazia normalmente. A cena o fez se perguntar mentalmente como uma menina humana conseguia seguir naquela vida sem sequer reclamar de algo, exceto quando tinha fome ou sede.
Desviou o olhar novamente para a paisagem. O pé direito deu um passo à frente, parecendo impaciente com o restante do corpo que não se movia. O pequeno servo youkai parece ter ouvido o barulho das folhas pisadas e abriu os olhos, procurando pelo amo.
- Vai sair, Sr Sesshoumaru? – perguntou Jaken ainda sonolento.
- Vou ver se há algo interessante nessas terras – respondeu ao servo sem se virar para olhá-lo – Cuide de tudo...
Já estava caminhando em direção à mata fechada que se encontrava em frente ao campo florido em que haviam acampado quando terminou de dar a ordem. Queria muito andar e conhecer um pouco daquele lugar, principalmente naquele momento onde não precisaria cruzar caminho com humanos escandalosos que viviam nos vilarejos vizinhos ao local. A noite era sua, e apenas youkais como ele, trocariam o descanso por andanças.
Adentrou a mata, totalmente escura devido à copa das árvores, carregadas de folhas, impedirem a entrada de luz da lua. A visão privilegiada o guiava com destreza, evitando surpresas com galhos mais baixos, ou mesmo inimigos que pudessem estar a espreita. Logo avistou novamente a claridade da lua, e sabia que havia chegado ao fim da mata. Apertou o passo, ansioso por descobrir o que mais havia naquelas terras.
"Veja só..." pensou surpreso com a vista que encontrou "Quem diria?".
Olhou para o castelo pintado em branco, isolado de qualquer outra construção e cercado por um lago e mais matas. Não havia nenhum sinal de vida pelos arredores, embora a residência estivesse muito bem conservada para se concluir que estava abandonada. Apenas um fraco cheiro de sangue tomava conta do ar, e vinha com certeza de dentro do local.
"Não é do meu interesse..." pensou antes de fazer o contorno no castelo e embrenhar-se novamente na mata.
Dentro do castelo, um par de olhos vermelhos como sangue observavam através de uma pequena janela o desconhecido youkai desaparecer na mata, depois voltou seu foco para um canto dentro do aposento, onde uma jovem estava deitada de bruços, inconsciente e sangrando. Um sorriso maldoso se formou nos lábios, mostrando os afiados caninos ainda um pouco sujos com sangue.
- Por pouco nossa brincadeira não chega ao fim antes do esperado, Yuki – disse o youkai – Mas como aquele youkai não demonstrou interesse em descobrir o que há aqui, eu posso continuar...
Uma batida na porta atraiu a atenção do youkai.
- O que quer? – perguntou de forma impaciente.
- Apenas saber como Yuki está... – respondeu uma voz assustada.
- Volte para seu quarto, Heitaro – ordenou o youkai – E não se preocupe com sua irmã. Eu não matarei, ela é de muito valor para mim...
- Mas...
- VÁ PARA O SEU QUARTO! – gritou o youkai fazendo Heitaro sair em disparada.
O youkai aproximou-se da jovem, passando a mão pelos longos cabelos negros que encobriam o rosto quase angelical.
- Eu esperarei que acorde, Yuki – sussurrou ao ouvido dela – Afinal, essa noite é nossa...
Sesshoumaru caminhou até que o tédio tomasse o lugar do ânimo que possuía quando chegara. O dia já estava amanhecendo quando ele retornou ao lugar onde havia deixado o restante do grupo, sem que na volta tivesse passado pela área do estranho castelo que encontrara escondido no meio da mata.
Não demorou muito para que Jaken acordasse, desfazendo-se da cara de sono assim que viu o mestre em pé bem próximo a ele.
- Sr Sesshoumaru – disse o pequeno bajulador – O dia hoje parece que vai ser maravilhoso, não é mesmo?
- Igual a todos os dias... – respondeu friamente o alto youkai – Apronte-se. Assim que Rin acordar iremos procurar algo para ela comer.
Encostou-se numa árvore, com o olhar perdido entre as cadeias de montanhas verdejantes ao longe. Não demorou muito para que Rin acordasse, chamando a atenção para si com a espreguiçada um pouco escandalosa que dera.
- Bom dia, Sr Sesshoumaru! – disse ela ainda sentada na relva – Bom dia, Sr Jaken! Bom dia, Aruru!
Apenas o youkai dragão agradeceu, rugindo baixo.
- Levante e arrume suas coisas – ordenou Jaken – Nós iremos buscar algo para comer.
- Oba! – a menina quase gritou de tanta alegria – Eu estou mesmo morrendo de fome. Será que depois poderíamos procurar um lugar para tomar banho?
Sesshoumaru assentiu com a cabeça, e ela rapidamente se aprontou. Logo saíram da planície florida onde estavam, passando por áreas onde antes devia haver plantações, já que o solo do lugar parecia ter sido preparado para tal. Não foi difícil encontrar árvores carregadas de frutos, e Rin pôde empanturrar-se com eles. Seguiram na direção do lago localizado ao lado do castelo, já que aquele era o mais próximo de onde se encontravam, escolhendo a margem mais distante da construção para ficarem.
Sesshoumaru aproveitou o momento para ficar apenas sentado sob a sombra de uma árvore, enquanto Rin, Jaken e Aruru aproveitavam a água cristalina e fria, perfeita para a manhã de sol forte.
Rin logo deixou a água de lado, e percorreu a margem colhendo pequenas flores brancas que nasciam junto às rochas no chão. Ela distanciou-se, mas o olhar do protetor permaneceu atento aos movimentos da criança e ao redor dela. Tanto que ele foi o primeiro a perceber a figura que se aproximava de Rin sem que ela percebesse. Fixou o olhar na pessoa, mas não se preocupou, pois parecia inofensiva.
- Olá! – chamou uma voz suave, atraindo a atenção de Rin.
- Olá... – respondeu um pouco sem graça, depois olhou para trás em busca de Sesshoumaru.
- Pode continuar a pegar suas flores... – disse a pessoa, uma jovem de longos cabelos negros trançados, vestida com um kimono negro simples -...eu não tive a intenção de deixá-la com vergonha.
Ela se agachou junto à margem, demonstrando sentir dor com o ato, e juntou água nas mãos, lavando o rosto em seguida. Ela ergueu um pouco as mangas do traje, e Rin pôde ver de relance as marcas de arranhões nos pulsos da jovem.
- Você é de algum vilarejo por perto? – perguntou a jovem com o olhar fixo nas águas.
Rin sorriu envergonhada, temendo responder a pergunta.
- Não precisa responder... – disse a jovem serenamente – Eu sei que é perigoso conversar com estranhos. Você está certa em ter medo de mim.
- Eu não tenho medo... – disse Rin – É que... a srta é bonita, e isso me deixa envergonhada.
A jovem encarou-a surpresa. Depois abriu um sorriso, que teve de ser desmanchado assim que ela pareceu sentir alguma outra dor pelo corpo.
- A srta está doente? – perguntou Rin.
- Não, não é nada...
- O sr Jaken conhece muitas ervas que curam – disse a garotinha – Se quiser, eu peço a ele que encontre alguma para a srta.
A jovem virou o rosto para o local onde Rin apontava, percebendo só então a presença de alguém além da garotinha.
- Eles são youkais... – explicou Rin já acostumada com o espanto que essa informação causava nas pessoas – Eles que cuidam de mim.
- Entendo – disse a jovem sem se mostrar surpresa – Será que eu poderia conversar com eles? Ou eles são bravos?
- Não, eles não são bravos... – disse Rin estranhando – A não ser que seja necessário...
- Você me acompanha? – perguntou a jovem estendendo a mão na direção de Rin – Assim eles verão que eu não sou uma inimiga.
- Está bem! – disse Rin pegando na mão da jovem.
Sesshoumaru olhava intrigado para a estranha jovem que Rin trazia como companhia. Jaken quase surtou ao notar a aproximação da mulher, e parou em seu caminho, evitando que chegasse próximo ao seu amo.
- Onde pensa que vai, moça? – perguntou o servo mostrando o bastão de duas cabeças ameaçadoramente.
- Ela quer falar com o Sr Sesshoumaru – disse Rin – Deixe-a passar, Sr Jaken.
- Você não sabe se ela é perigosa, Rin – disse o servo – Ela pode tentar algo contra o Sr Sesshoumaru.
- Jaken! – chamou Sesshoumaru que até então apenas observava – Ela é apenas uma humana, um perigo nulo para mim. Deixe-a!
As palavras foram suficientes para que o pequeno youkai abrisse caminho. A jovem, que até então se mostrava confiante, baixou os olhos ao aproximar-se de Sesshoumaru.
- O que quer? – perguntou Sesshoumaru em tom entediado.
A jovem olhou para Rin e sorriu.
- Você nos deixaria conversar a sós? – perguntou para a garotinha.
Rin olhou para Sesshoumaru, de quem recebeu uma confirmação com a cabeça, e se afastou.
- Diga o que quer – disse Sesshoumaru vendo que a jovem evitava olhar diretamente para ele.
- Você é quem cuida dessa criança, não é? – perguntou a jovem.
- Qual o interesse em questionar isso?
- Apenas o interesse de ver uma criança a salvo – respondeu a jovem.
- O que quer dizer com isso?
- Cuide para que ela não se aproxime desse lugar durante a noite... – disse firme a jovem – Senão ela correrá um risco grande.
- Por que diz isso?
- Há um youkai muito cruel nessa área... – disse a jovem -...não me sentiria bem se soubesse que mais uma criança sofreu nas mãos dele.
- A menina não tem com o que se preocupar – disse Sesshoumaru se levantando e fazendo a jovem recuar um pouco assustada – Eu a protejo, logo suas advertências são desnecessárias.
- Ela tem sorte... – sussurrou a jovem que encarava o chão – Mas ainda assim, cuide dela.
A jovem deu as costas, fazendo o caminho de volta a onde estava, parando apenas para trocar algumas palavras com Rin.
- Já estou indo embora... – disse para a menina que estava molhando os pés na água – Mas gostaria de saber seu nome, criança.
- Rin... – respondeu com um pequeno sorriso.
- Rin? – repetiu ela – É um lindo nome... Eu me chamo Yuki.
- É um lindo nome também...
- Obrigada – sorriu a jovem – Adeus, Rin...
A jovem afastou-se deles, passando por Jaken e fazendo uma reverencia respeitosa, que de certa forma deixou o sapo sem graça. Ele voltou correndo para junto do amo, não contendo a curiosidade em saber sobre o quê a humana havia falado.
- Ela apenas avisou sobre haver perigo nessa área... – respondeu Sesshoumaru antes mesmo que o servo abrisse a boca perguntando – Nada de mais...
Ficou olhando para a jovem que já estava próxima ao castelo. Havia reparado enquanto ela estava olhando para o chão, e vira os riscos causados por afiadas unhas no pescoço, assim que ela virou para pedir a Rin que os deixasse a sós.
- Você notou, Jaken? – perguntou ao servo ao seu lado.
- Hã? O que, Sr Sesshoumaru? – perguntou o sapo.
- Ela não possui cheiro de humana, nem emite a presença natural dos seres vivos... – disse pensativo – Estranho...
Yuki retornou ao castelo, mas colocou-se discretamente numa janela que tinha vista para o lago, observando até que o grupo partisse. Sentiu-se aliviada por eles terem ido embora antes que Heitaro voltasse para casa, juntamente com Hiko, seu algoz.
Saiu da janela, sentando-se no chão com cuidado. Sentia o corpo doer com a simples respiração.
"Maldito Hiko..." odiou-o em pensamento "Quando serei livre de você...?".
Já fazia quase um ano que sua vida deixara de ser feliz. Desde a chegada de Hiko, um youkai de aparência humana e encantadoramente gentil ao aparecer na porta do castelo, sua vida virara um completo inferno. Desde então, havia uma noite em especial, todos os meses, em que ele mostrava sua verdadeira face, a de um perverso e sádico youkai, transformando Yuki em um brinquedo para seu deleite. Sempre na primeira lua cheia de cada mês, como a da noite passada, sem chance de fuga para a jovem. Passara a odiar aquela lua como se ela fosse a culpada pela dor que sentia.
Limpou do rosto uma lágrima que escapou dos olhos, lembrando-se da promessa feita a si mesma de não chorar naquele lugar, dando a chance à Hiko de saber o quanto sofria. Resolveu sair do quarto, e aproveitar que não havia mais ninguém no lago, e tomar um banho, livrando-se da sujeira que ela sentia impregnar até mesmo sua alma.
Sesshoumaru caminhava sem pressa, pouco à frente de Rin e Jaken. A garotinha correu ao encontro dele, permanecendo ao seu lado, em um silêncio inquietante.
- Há algo que queira falar, Rin? – perguntou Sesshoumaru após um tempo.
- Sim... – respondeu a criança – É sobre aquela mulher...
- O que tem ela?
- Ela estava machucada... – disse Rin olhando para o youkai – O Sr viu?
- Sim.
A garotinha esperou alguma outra palavra por parte de Sesshoumaru, e ele sabia exatamente o que ela queria ouvir.
- O bem estar daquela mulher não é nosso problema, Rin – concluiu após alguns segundos – Ela deve ter alguém que olhe por ela.
A menina apenas assentiu com a cabeça, depois voltou para trás, caminhando junto de Aruru. Ela permaneceu em silêncio a maior parte do dia, talvez por lembrar-se da época em que também sofria nas mãos dos moradores do vilarejo em que vivia, antes de ser salva por Sesshoumaru. Ao falar com o protetor, nutria a esperança de que a jovem também se beneficiasse com a gentileza do youkai, mas ele pareceu não se importar muito com ela.
A noite chegou acompanhada de uma forte chuva depois do calor sufocante do dia. Conseguiram abrigo numa caverna, onde Rin ficou olhando admirada para as sombras que os relâmpagos formavam nas paredes rochosas. Jaken tentava em vão mandar que ela dormisse, mas sem sucesso. Sesshoumaru parou na entrada da caverna e fechou os olhos, apenas ouvindo o barulho da chuva, unida a trovões estrondosos. Aquelas noites o deixavam saudoso, lembrando-se de alguém com quem dividira algumas noites de chuva.
"Já faz tanto tempo..." pensou "Muito mais do que esperava... Como sinto sua falta...".
Um suspiro selou os pensamentos, fazendo-o abrir os olhos e deixar as lembranças de lado. Não alimentava esperanças de que o dia de encontrar a reencarnação de Satsumi estivesse próximo. Não queria ter que passar por cada vilarejo prestando atenção em cada rosto, cada mulher, ansioso por reencontrá-la. Tinha jogado tudo nas mãos do destino, certo de que o que era seu retornaria, e certamente num momento em que ele nem imaginasse.
"Jurei que esperaria mesmo que se passassem cem primaveras..." pensou ele "Já se passou bem mais que isso, e esperarei muito mais se for preciso. Mas eu a encontrarei, e você carregará a marca de que me pertenceu em outra vida... nas suas costas, exatamente como eu deixei...".
N/A: Primeiro capítulo postado, depois de muito tempo sem saber o que escrever. Queria agradecer a todos que leram a primeira fic, e deixaram reviews, vocês são demais. Adorei cada palavra escrita por vocês sobre o último cap do "Antigo amor de Sesshoumaru", me fizeram sentir que realmente vale a pena insistir em algo que a gente gosta, e nem ao menos ganha nada por isso. Um grande abraço a todas...