Capítulo 02

O exército de Scath já havia tomado posse dos pontos estratégicos e elitistas de Syhnn. Grande parte dos soldados da mais baixa hierarquia militar de Sohma estava se "dedicando" aos vilarejos humildes de Syhnn, furtando-os e assassinando os seus aldeões por diversão.

Perto da fronteira com Methyus, maior aliado de Sohma, se localizava um humilde vilarejo rural, denominado Kyr. O local, apesar da simplicidade de seus aldeões, era um paraíso natural. Casebres foram construídos em meio a um belo campo, perto de um riacho. A população de Kyr tinha tudo o que precisava para a sua subsistência e felicidade em meio à natureza.

Aquele belo local tinha sofrido as asperezas da guerra. Seus belos campos e humildes casebres estavam incinerados; cadáveres espalhados pelo chão, banhados em sangue... Uma bela arte funerária: o cheiro de morte pairava pelo ar. O espetáculo da guerra tinha deixado sobre Kyr uma marca que jamais seria esquecida, uma marca sombria e temerosa.

Apenas duas aldeãs tinham escapado da sina daquele vilarejo... Duas pequenas meninas voltavam de seu treinamento diário numa floresta das redondezas. Os moradores de Kyr desconheciam a magia e a julgavam desnecessária; só havia uma pessoa sábia no vilarejo, conhecedora das mais diversas formas de magia... A idosa itako Kino Yuuki. Ela tinha criado duas órfãs... Que se tornaram suas aprendizes. As duas crianças que retornavam para casa...

Uma garota de cabelos curtos cor-de-rosa, de expressão gentil e tímida, trajando um longo e simples vestido branco, vinha acompanhando uma outra garota, que parecia o seu oposto: ela tinha cabelos médios dourados, expressão fria e misteriosa e vestia um vestido longo e simples também, porém de cor negra, e, em seu pescoço, havia um colar de contas azul.

À medida que se aproximava de Kyr, uma sensação ruim tomava conta da menina de cabelos dourados, o que a deixava mais fechada e séria que o seu natural. A outra criança que a acompanhava tinha percebido a sua ligeira preocupação...

- Anna... Dizia a menininha de cabelos cor-de-rosa.

- Vamos nos apressar, Tamao... Alguma coisa está acontecendo em Kyr... Limitou-se a dizer a garota de cabelos dourados, apressando seus passos em direção ao vilarejo.

Quando as duas garotas chegaram a seu destino, uma expressão de assombro e medo tomou conta da gentil Tamao, que começou a derramar lágrimas e a soluçar, como se estivesse vivendo o seu pior pesadelo... A outra garota, apesar de também achar aquela cena assombrosa, manteve-se fria e controlada.

- Pare de chorar! Disse Anna, dando um tapa no rosto de Tamao. – Chorar não vai adiantar nada... Não queira atrair atenções para você...

- A-A-Anna... I-Isso é... H-Horrí-vel... Dizia a menina, soluçando baixo, com uma mão em seu rosto, no lugar onde recebera o tapa.

- Nós estamos em guerra... Kino nos alertou que isso poderia vir a acontecer... Não podemos ficar muito tempo aqui, é perigoso... Tamao... Esconda-se e fique calada, eu vou até a nossa casa ver se encontro Kino...

Tamao estava muito assombrada para contestar a sua amiga, ela apenas a obedece, escondendo-se numa carroça quebrada, em meio ao feno, esperando que Anna voltasse logo, e que, por um milagre, trouxesse Kino junto.

A garota de cabelos dourados corre para a casa em que morava, entrando com todo o cuidado e sem fazer o menor ruído. Logo, a menina encontra a sua mestra, que estava estirada no chão, sangrando, mas ainda estava viva...

- Anna... Finalmente... Consegui me manter viva até a sua chegada... Dizia a velha itako, com as suas últimas forças.

­- Kino... Como eles fizeram isso com você? Pergunta a menina, incrédula.

- Eu deixei que eles fizessem...

- Como? Por quê? Eu não entendo...

- Porque tinha que ser assim... Eu irei morrer em paz... Não carregarei comigo marcas de sangue... Morrerei com a essência desse vilarejo... Mas, não há tempo para filosofias agora... Anna... Tem uma coisa que eu quero te dar... E, uma coisa que você tem que levar... Vamos, peque essa caixa que está comigo... Aqui está o 1080, um rosário budista de 1080 contas, dez vezes mais poderoso que o seu normal...

- E... Você quer que eu leve aquela flor? Pergunta a garota, pegando a caixa que sua mestra abraçava.

- A flor da profecia... Você tem que guardar essa flor com muito cuidado... Ela é a chave para o seu passado, e a porta para o seu futuro...

- Quando a flor desabrochar eu desvendarei o meu passado e encontrarei o meu futuro... Eu já sei... Você sempre me diz isso... Eu só não sei se acredito...

- Você acreditará... Quando chegar a hora certa!

A pequena garota pega a flor, que estava intacta no chão, perto de Kino. Um vaso muito simples de onde nunca desabrochara uma flor... Anna sempre se questionara se algum dia viria a ver nascer uma flor dali... E o motivo de tantos cuidados com aquele vaso... Que nada significava para ela... Mas, ela iria atender ao pedido de sua mestra, cuidaria da "flor da profecia".

­- Anna... Você é muito forte, tem um potencial incrível... Já é uma excelente itako... Quero que continue o seu treinamento... Se dedique ao Mizu... É o seu ponto forte... Você tem um longo caminho a percorrer antes de alcançar o status supremo...

- Pode apostar que eu irei alcançar! Diz a garota, com um olhar determinado.

- Eu sei que irá! A idosa itako sorri, orgulhosa de sua aprendiz. – Anna... Cuide de Tamao...

- Hai... Adeus, Kino... E a garota deixa a sua mestra, segurando as lágrimas que queriam escorrer pelo seu rosto...

- Pequena criança... A flor de inverno... E, essas foram as últimas palavras da velha itako...

Continua...


Notas da autora

Bom, aí está o cap. 02...

Não tenho muito o que comentar sobre ele... A profecia, mais tarde vocês conhecerão... (também porque eu ainda não bolei a profecia xD só tenho idéias de como ela vai ser...).

Como vocês viram... Kino não tem relação com a família Asakura, não sendo avó do Yoh e nem mãe de Keiko... Ela é apenas uma velha sábia... Uma simples aldeã de Kyr, apesar de seu vasto conhecimento...

Idades

Anna – 8 anos.

Tamao – 6 anos.

Kino – 71 anos.