Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e Toei.

O nome Carlo foi criado pela fanficwriter Pipe

e as personagens Anne Marie e Dalila são de minha total autoria.

Boa leitura!


Espelho

por Pisces Luna

--- Capítulo VII: O plano ---


"Hora de embarcar" - disse Seiya ajudando Shun a carregar as malas - "Nem acredito que você está indo embora...de novo!" - completou rindo - "Hei Hyoga, Shiryu, já temos onde amontoar quando formos conhecer a Europa"

"Isso vai demorar muito" - replicou Shiryu parecendo chateado - "E espere, ele mal chegou e você já quer pendurar em cima dele?".

"O meu garotinho vai embora" - respondeu Hyoga meio chorão - "Que dia incrível. OH BAUDELAIRE, ILUMINE O NOSSO ANJINHO NA CHEGADA AO SEU PAÍS...".

"Não exagere" - disse Shun corando - "Vocês falam como se...como se...eu estivesse desertando ou qualquer coisa do tipo".

"Você está desertando, provavelmente quando a gente se ver de novo eu estarei formado, Hyoga terá sua gravadora e Shiryu... bem, este permanecerá na farmâcea".

"Hehe...muito gozado, Seiya! Pois fique sabendo que eu vou concluir o curso de enfermagem esse ano" - falou irritado.

"Oh sim, claro que vai" - replicou debochado - "SÓ NO DIA QUE EU JOGAR FUTEBOL MELHOR QUE O PELÉ".

"FIQUEM QUIETOS" - berrou Hyoga - "O Shun já vai embarcar".

"É" - disse o rapaz de cabelos verdes - "Foi muito bom tudo isso que passamos juntos, eu nem sei o que...o que dizer...".

Hyoga o abraçou, dando tapinhas com força em seus ombros, enquanto deixava uma ou outra lágrima incomoda cair pelo rosto.

"Shun, seu merda... estou chorando" - respondeu se soltando dele - "Não consigo mais olhar para sua cara, vai lá Seiya" - puxou o moreno para perto deles.

"Você vai ficar legal, vai ser bom pra você. Arrase com as francesas..." - disse dando um beijo na bochecha dele.

"Eca, Seiya!" - falou o jovem tentando limpar o rosto com a mão espalmada.

"Cruzes, essa foi a coisa mais gay que eu já fiz na vida" - falou o outro - "É a emoção do momento, emoção...".

"Shun..." - falou Shiryu o abraçando com força - "Desculpa qualquer coisa, eu sempre só quiz o melhor para você...".

"Obrigado" - respondeu já prestes a chorar.

Uma voz alta e clara começou a ecoar de caixas de soom por todo o saguão.

"Atenção passageiros do vôo 728 com destino á Paris, favor comparecerem ao portão de embarque".

"Eu volto" - disse se dirigindo ao local de embarque - "Um dia".

"Claro que sim. Nunca se livrará de nós" - respondeu Hyoga derrubando lágrimas silenciosas.

"Até logo"

"TCHAU, SHUN!" - falaram os três em coro.

O rapaz entregou o bilhete, as malas e sumiu atrás de uma parede de pedra que levaria a um lugare restrito dos passageiros.


O Correio Parisiense estava apinhado de pessoas naquela manhã de segunda-feira. Gente saindo, gente entrando, vozes altas, calmas, outras histéricas. Tudo corria bem, por mais incrível que parecesse. Entretanto, o dono desse império não estava nem um pouco contente.

"Eu quero o meu fotógrafo particular e quero AGORA" - brandiu violento o porta canetas e depois o bateu com firmeza no tampão da mesa - "Por que eu não acho um maldito e incompetente fotógrafo? Droga! Estamos em Paris, esse devia ser o berço da arte, O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?"

"Acalme-se Camus" - falou Aioria lendo um livro no sofá de couro preto disposto na sala de Camus - "Se quer tanto tirar fotos, eu mesmo trago minha máquina digital e você faz umas poses legais e...".

"O que se passa nessa sua cabeça? Estou procurando um fotógrafo prestável que possa atender aos meus chamados urgentes para quando eu tiver matérias urgentes há uma semana! E ninguém tem todas as características necessárias".

"Você é muito exigente!" - retorquiu o homem fechando o exemplar de capa dura parecendo prestes a lidar com um garoto mimado - "Eu já entrei em contato com uma agência de empregos que traz gente do exterior para trabalhar aqui".

"Hunf, estrangeiros é?".

"Olha a xenofobia...".

"Eu não tenho isso!" - falou estressado.

"É que você respondeu de uma forma tão equivocada que eu não resisti em corrigir".

Camus bufou pelo nariz parecendo mais calmo depois da declaração, tirou o laptop de dentro da gaveta trancada a chaves, abriu, ligou e começou a escrever novamente.

"Escrevendo no horário de almoço? Sobre o que?".

"Saga..." - sibilou.

"Você nem sabe se esse é o nome dele de verdade e você já está correndo risco de vida suficiente".

"Aioria, ele simplesmente NÃO tentou mais nada, não tenho com o que me preocupar" - falou se erguendo - "Não quero escrever agora, vou dar uma volta" - pega o casaco que ficava no encosto da confortável cadeira giratória e já ia saindo da sala - "Fora!" - falou cortez e atrós ao mesmo tempo.

"Vai deixá-lo ligado?".

"Sim. Quero tudo pronto para quando eu voltar".

Desceram até o quarto andar onde puderam encontrar Mu trabalhando feito um demente, não conseguindo tirar os olhos do teclado sem conseguir parar de movimentar os dedos enquanto telefones tocavam desesperadamente por toda a repartição. Ao contrário do que muitos poderiam pensar o tibetano não tem uma sala tranquila para trabalhar porque diz que só consegue se controlar no meio da algazarra do cotidiano febril da edição do jornal.

"Esse é um homem trabalhador" - falou Aioria.

"Enfiado na sala do Camus desde cedo?" - perguntou Mu sem desgrudar os olhos do teclado e sem fazer menção de olhá-lo.

"Já é meio-dia, ou seja, hora do almoço".

"É mesmo? Nem notei" - falou finalmente os olhando e se dando conta de que pelo menos sessenta por cento das outras mesas de funcionários estavam vazias - "Como o tempo passa rápido quando a gente está trabalhando, não é?".

"Ohoh, nem me fale" - replicou debochado o loiro - "Vamos almoçar?".

"Hum... não! Estou esperando uma pessoa...".

"Ikki?".

"Sim! O desgraçado deve estar batendo perna no Chamns-Elysée" - desabafou - "Ele é horrível, comeu toda a comida da minha dispensa e é espaçoso. Hunf, Camus eu vou mandá-lo a um hotel se continuar assim".

"Seria até uma boa idéia, mas não para um hotel e sim para uma casa alugada".

"Pode até ser..." - disse o tibetano - "Então, vamos?".

"Hum... droga" - bufou tateando os bolsos - "Esqueci meu celular no escritório, tenho que voltar pegar".

"Não sei porque, você SEMPRE deixa aquela porcaria desligada".

"Não importa, vou buscá-lo" - sai andando.

"A gente te espera na porta dos fundos" - disse Aioria.

"Certo" - passa por umas mesas, vira a esquina no corredor, sai da repartição, continua andando e chega no elevador no fim do corredor.

Ele aguarda um instante, entra, o local está vazio, quando ouve uma voz vindo do lado de fora.

"Segura a porta"

Ele atendeu o pedido e apertou um botão no painel para que o elevador não se fechasse e as pressas, cheio de coisas, uma mulher entrou correndo, com tantas pastas que ela quase desmoronou se não fosse Camus para ajudá-la. A pilha de pepéis era tão grande que ele mal pode ver de quem se tratava e só quando se fez útil pode espiar por cima deles um par olhos castanhos desconhecidos, olhos grandes, com uma pálpebra levemente rosada por causa de uma sombra colorida e cílios bem longos e delineados com perfeição.

"Obrigada, cara".

"Por nada" - ele falou ponderado - "Permita-me carregar esse peso para você".

"Nem precisa" - ela tentou tomar a pilha de papéis dele, mas foi uma ação sem êxito.

"Já falei que eu carrego"

"Hum...que tal dividirmos?" - ela pega metade das pastas que estavam em cima e eles finalmente podem se encarar sem problemas - "Eu sei que está pesado, não precisa se fazer de forte".

"Não estou me fazendo de forte e não está tão presado assim".

"Hum...ok!" - ela apoia o joelho contra a parede, repousa sua parte do material sobre a perna e deixa uma mão livre para apertar o botão: nono andar.

Ele pode admirá-la, com uma longa cascata de cabelos lisos e castanhos que ia até o meio das costas, a pele muito alva, o corpo bem torneado. Foi então que a reconheceu, era a mesma garota que tinha visto na manhã anterior passando na frente da cafeteria.

"Você trabalha aqui ou só veio visitar alguém?" - ela perguntou sorrindo parecendo exausta.

"Trabalho aqui e você também pelo que vejo" - ele não estava acreditando no que via uma vez que Paris era muito grande

"Estou muito feliz, sai da faculdade no último ano, fiz estágio e fui encaminhada diretamente para cá. Mal posso esperar para trabalhar mais ativamente por aqui, por enquanto só na edição, mas logo começarei com matérias mais significativas" - ela sorri empolgada.

"Qual seu nome?"

"Cecília Mahy" - comentou colocando a sua pequena pilha sobre a de Camus e tirando todo o material de suas mãos, então a porta se abriu e ela se despediu - "Tchau".

"Tchau" - complementou vendo-a sumir pelo patamar, até que a porta se fechasse novamente e ele permanecesse sozinho no elevador.


Enquanto isso, chegando em uma reunião de negócios, Saga aparecia soberano, desfilando com seu terno e rolex, parecendo mais o presidente do que um "humilde" deputado. Mas, para os demais executivos e políticos que estavam reunidos para a coletiva, era simplesmente Lumier Vasseur, deputado, pai de família, rico empresário de uma das maiores lojas de conveniências da Europa e defensor frívolo contra o tráfico de drogas e de armas.

"Desculpem-me a demora, o trânsito estava complicado no centro e o motorista atrasou um pouco" - respondeu apertando a mão de algum dos presentes.

"Não se preocupe com isso, Vasseur. Além do mais, ainda faltam alguns outros políticos para chegarem".

"Compreendo" - respondeu se sentando a mesa.

"Aceita alguma coisa, senhor?" - perguntou o gourmet aparecendo como um vassalo.

"Xerez" - sibilou em seu francês afetado - "Sobre o que falavam?".

"Estavamos falando justamente de um assunto que vos agrada. A polícia recebeu informações de que um carregamento de drogas iria aportar no porto de Marselha e os bandidos foram surpreendidos no cais. Apenas três homens descarregavam o barco e tentaram fugir ás pressas, mas a Marinha estava em alerta e numa troca de tiros dois foram mortos e outro está em coma".

"Que maravilha!" - falou Lumier parecendo contente com as informações - "Pelo jeito a população percebeu a importância das denúncias para a captura dos bandidos".

"Sua bebida, vereador".

"Merci¹" - agradeceu.

"Mas, pelo que soube, as informações vieram de um comando um pouco superior" - respondeu um outro vereador entrando na história.

"Não diga...".

"As informações parecem ter vindo de Camus Lantier".

"O dono do Correio Parisiense?" - aclamou um outro.

"O próprio. Foi apelidado pelos policiais de O Encrenqueiro e desde que publicou aquela primeira reportagem criticando o trabalho das autoridades e fazendo novas delcarações sobre a Máfia ele está vendendo mais jornais e correndo mais perigo".

"Por que não aceita escolta policial?" - perguntou Lumier mais uma vez.

"Ele é muito reservado e dizem que não quer perder sua liberdade...".

"Sabia escolha" - ele respondeu admirado - "Quer dizer que foi ele então...".

"Isso mesmo".

Os olhos azuis e compenetrados brilharam de uma forma maliciosa, porém discreta, provocando tamanho ódio que a taça na mão de Saga acabou se quebrando e derramando parte do líquido em seu paletó e no tapete.

"Excuse-mói²" - respondeu se erguendo e se dirigindo ao toalete.

Entrou no lugar, pediu para que lhe trouxessem uma camisa branca tamanho g e que estivesse limpa, depois abriu a torneira dourada e o sangue de sua mão escorregou por toda a cuba da pia. Tempos depois um dos funcionários trouxe o que lhe havia sido requisitado sendo dispensado logo em seguida. Saga tirou o paletó, a gravata, a camisa manchada e ficou apenas com o peito e o dorso nu, jogando um pouco de água sobre os rosto e descendo pelo corpo que estava a mostra, até os cotovelos.

"Você...está...morto...Lantier" - socando a pia de mármore branco.

Se vestiu, voltou a colocar as roupas e depois de pedir para que alguém viesse e fizesse um curativovoltou a sua mesa onde já estavam todos reunidos.

"Tudo bem, Lumier?" - perguntou um dos homens.

"Absolutamente" - ele respondeu - "Ouvir falar da Máfia sempre me deixa com uma raiva incontrolável, sabem como não suporto esses crápulas" - retorquiu encenando um sentimento de fúria muito bem guardado - "Estou feliz em ver que existem homens da elite Parisiense e que se preocupam com o bem estar geral".

"É bom ouvir isso, vereador"

Saga virou-se devagar e deu de cara com o próprio Camus Lantier diante de seus olhos. Ele se ergueu da cadeira, por ser mais alto, olhava-o de cima e agora sim segurando sua fúria com todas as suas forças por ter descoberto, finalmente, quem era o infeliz que tinha acabado com os planos bem sucedidos de seu carregamento. Apertaram as mãos e se encararam, forjando uma bonita cena de admiração e respeito.

"Eu o conheço a muito tempo, Lumier. Como estavamos falando dele e, por uma incrível coincidência do destino ele veio almoçar com amigos aqui" - explicou um homem alto, magro e de olhos azuis penetrantes, com os cabelos curtos, arrepiados e brancos - "Tem certeza que não quer se juntar a nós?".

"Não! Como já disse, estou acompanhado. Mas, agradeço o convite".

"Bom trabalha, Lantier" - falou Saga encarando-o - "Facilita bastante o trabalho das autoridades".

"É a minha obrigação com a população vereador Vasseur" - respondeu apertando a mão estendida e depois se retirando, deixando-os.

Aproximou-se de Aioria e Mu que aguardavam na porta do restaurante.

"O que fazem aqui? Vamos escolher uma mesa e pedir um prato".

"Desculpe Camus, mas cem Euros numa lagosta é um pouco indigesto" - respondeu Mu parecendo um pouco envergonhado.

"Eu pago" - replicou.

"Não é essa questão, é que realmente, não estou afim de ficar nesse lugar cheio de engravatados" - disse Aioria - "Vamos, não precisamos de tanta pompa".

"Bem, se é o que vocês querem" - e eles seguem para fora do lugar.

"Conheci Lumier Vasseur"

"O vereador?"

"Sim, alguns deles estavam numa comitiva de negócios e fui cumprimentar aquele meu conhecido e acabamos sendo apresentados".

"Ele é um importante aliado contra o tráfico, seria bom se você fosse mais íntimo dele".

"Vasseur me elogiou e tudo o mais, porém eu não gosto dele".

"Por que?".

"Não sei! Talvez seja só uma implicancia, mas mesmo assim, tem algo nele que eu não aprovo".


"Eu vou matá-lo. Desgraçado. PATIFE!" - falava Saga afrouxando a gravata enquanto ia adentrando pela sua mansão na Marselha e topava com duas de suas empregadas.

"Senhor? Aceita alguma coisa?" - pergunatava a moça, vestida com seu uniforme completo e de cabeça baixa.

"FORA! FORA! SAIAM DAQUI! SAIAM DA MINHA FRENTE IMEDIATAMENTE!" - ele ordenou quase as atropelando e entrando pelo corredor, passando pelo saguão e abrindo imponentemente o enorme portal de sua sala de estar. Sem perceber mais nada chegou em sua escrivaninha, abriu-a e tirou uma arma de lá apontando para a direção oposta da porta - "Se fizerem isso de novo, eu estouro os miolos dos dois".

"Calma, Saga! Calma!" - disse Carlo lívido de temor - "Abaixe, abaixe essa arma, sim?".

"Por que eu deveria fazer isso, Máscara da Morte?" - falou debochado - "Eu deveria matar vocês dois por serem incompetentes, por fazerem tudo errado, sim... é o que eu devia fazer..." - ele falou cogitando seriamente a hipótese - "Ou será que seria mais plausível causar danos permanentes em vocês" - ele foi abaixando a arma até deixá-la apontada para a virilidade do comparsa - "Não seria uma ótima idéia? Te pouparei de mais uma tentativa de teste de DNA em você nos últimos meses".

Este engoliu seco, os olhos vidrados, esperando o que poderia vir a seguir até ouvir um estampido e este contrair-se inteiro na cadeira e ver o buraco da bala que tinha perfurado o chão a centímetros de seus pés.

"Tudo o que eu não quero agora é sangue lavando meu escritório" - ele falou - "Shura, seu bastardo, o que faz aqui SE DEVERIA ESTAR VIGIANDO LANTIER EM PARIS" - ele, exaltado, virou completamente a mesa de madeira trabalhada que ficava no fundo da sala. Papéis, canetas, pastas, telefone, luminária, munição foram ao chão provocando um barulho estarrecedor.

O homem de cabelos negros, entretanto, mantevesse passível ao acesso de fúria do chefe e respondeu com certa nota de medo na voz.

"Senhor, perdoê-me, mas eu tinha que voltar para junto da organização, para junto da máfia onde é o meu lugar. Deixei Misty, Astérion e Algol encarregados desta tarefa já que eles estão muito mais familiarizados com a região do que eu, Mestre".

"Eles desempenham funções realmente importantes, cumprem suas tarefas lealmente e não desobedecem ordens" - ele frizou a última frase com intuíto de realçar seu ódio. - "Sabe quem eu encontrei hoje? CAMUS LANTIER! Estava feliz, bem, arrogante e prepotente, achando-se o REI do mundo, enquanto jogava na minha cara que tinha dado informações para que acabasse com mais um carregamento...".

"Quer dizer que aquele papudo conseguiu passar as informações a ele..." - falou Shura involuntário - "Senhor, o desertor já está sendo comido pelos vermes em baixo da terra, ele tinha passado informações ao jornalista, mas o pegamos quando saia do jornal".

"E POSSO SABER, PORQUE ELE NÃO FOI DETIDO QUANDO ENTRAVA NO LUGAR?".

Dessa vez, ele não respondeu e apenas abaixou a cabeça.

"Não acontecerá mais, Senhor".

"Acho bom" - ele chutou a mesa e esta se mexeu consideravelmente - "Carlo, que notícias me trazes? ESPERO QUE SEJAM MUITO BOAS".

"Afrodite continua do nosso lado, ele não cedeu as investidas da gangue Solo. Ele continua com seu serviço de informante e já conseguiu arrecadar informações muito úteis para o senhor, por exemplo, Julian estará voltando de uma viagem de negócios hoje de madrugada em Madri, ele estará prestes a se casar com uma herdeira de um grande empresário, Saori Kido. Dizem as más linguas que ela está fazendo isso para fazer o gosto do falecido avô.

"Uma herdeira rica não é?" - ele falou desgostoso - "Devo anunciar que agora será uma viúva. Carlo, vá imediatamente com seus capangas, façam uma persguição e o matem" - decretou frio - "Shura, vá ao Egito, quero ver como vai a demanda pelo nosso fornecedor oficial de armas".

Os dois se levantaram sem pestanejar.

"Se um dos dois falhar, eu corto a cabeça de vocês e garanto que ninguém nunca conseguirá identificar seus corpos".

"Sim, senhor" - responderam em uníssono, com uma pitada de ódio contido pelo tratamento pouco amigável.

"E quanto a Lantier?" - perguntou Carlo vacilante.

"Terá o que merece e do pior modo possível".


Ikki tinha marcado de se encontrar com uma senhora que parecia ser a tia de Bittencourt depois de ter conseguido o telefone dela. A mulher tentou a todo custo livrar-se das inúmeras perguntas, mas só cedeu depois do investigador japonês ter jurado que era um amigo dele e que gostaria conversar para poder compreender melhor o porque do assasinato.

Chegou na periferia de Páris, no bairro de Seine-Saint-Denis, com vários conjuntos habitacionais e casas populares, nada se comparado com os prédios de classe alta do Champs- Elysée.

"Por que Lantier não vem investigar sobre esse lugar? Quem compram as drogas na maioria são aqueles burguesinhos. As pessoas daqui parecem realmente precisar de ajuda".

Pegou o endereço que estava no papel e parou quando chegou na frente de uma casa modesta, refletiu mais uma vez sobre suas palavras e sem mais esperar apertou a campainha.

Nada.

Mais um toque.

Silêncio.

Terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo toque.

E aí uma pessoa apareceu na janela e quando o avistou, bateu o vitrô com força e foi abrir o portão de ferro.

"Deve ser o amigo do Jabu" - disse a senhora que andava com ajuda de uma bengala e aparentava ter seus setenta anos. Os cabelos curtos e branquinhos, bem prateados, os olhos castanhos e escuros, uma pele meio pálida e com algumas manchas e rugas. Apesar disso era uma idosa bonita, que aparentava ser bem tratada e falava fluentemente, sem tropeçar nas palavras.

"Sim, senhora" - respondeu Ikki com seu frágil francês - "Sou Ikki".

"Entre" - ela falou abrindo o portão com dificuldade e dando passagem ao rapaz - "Mas, já vou avisando que não tenho nada de valor se pensa em me sufocar e ficar com alguns bens".

O rapaz se espantou com a resposta dada pela idosa e pelo jeito as companias do rapaz não eram as melhores para ela agir dessa forma.

"Não tenho intenção de lhe fazer mal".

"Hum... sei" - ponderou desconfiada, fechando o portão atrás de Ikki e entrando mancando na frente deste, indicando a porta principal e depois fechando a mesma - "Quer alguma coisa? Um suco? Ou uma água?".

"Não, obrigado" - ele falou abaixando os olhos. No Japão é costume levar alguma oferenda quando se vai visitar alguém, mas ele não podia aparentar ser do lugar que era, então engoliu seus bons modos. - "A senhora é a mãe do Jabu?".

"Sou a avó, a mãe dele morreu há dez anos. Desde então, eu tenho cuidado dele" - disse se sentando em uma confortável poltrona e pegando o tricô que tinha deixado ali - "Ele foi atropelado por um indíviduo".

"Eu soube, infelizmente não cheguei a tempo do enterro".

"Não me lembro de meu neto ter algum dia mencionado um amigo chamado Ikki. É estrangeiro, suponho...".

"Sou" - ele confirmou com a cabeça.

"Só podia ser com esse nome..." - ela balançou a cabeça com ar de desaprovação enquanto enrolava seus dedinhos finos em um pedaço do novelo de lã - "Esse pulover era pra ele, aquele ingrato. Quer para você? Só falta terminar a barra deste aqui...".

"Se-senhora, não precisa mesmo" - ele falou desconcertado não acreditando no rumo que a história tinha chegado - "Esses ocidentais são bem diretos" - pensou.

"Vou fazer para você e é bom aceitar" - ela respondeu concentrada no trabalho.

"Eu e seu neto nos conhecemos a muito tempo, na adolescência quando... " - ele olhou para os quadros na parede e viu um menino loirinho e mirrado vestido em vestes esportivas - "Quando jogávamos futebol juntos".

"Ah Jabu, ele adorava futebol, queria seguir carreira profissional até conhecer aqueles demônios".

"Demônios?".

"Bom, você é amigo dele então acho que não tem problema contar, ele começou a andar com umas más influências, uns caras que tinham carro e tudo o mais, daí o meu menino sempre foi muito ambicioso sabe?! E nós não moramos em nenhum palacete e como não conseguia se destacar em nada passou a usar drogas!".

"Drogas?" - Ikki repetiu encenando surpresa - "Por que?".

"Insatisfação com a vida que levava e tudo o mais... Se eu tivesse descoberto antes, mas ele era tão reservado. Era um bom menino, trabalhador, dedicado, sempre me comprava sonhos na padaria..." - ela disse com os olhos já cheios de lágrimas que não caiam pelo rosto mal-tratado pelo tempo - "Daí as coisas começaram a piorar quando ele começou a trabalhar para conseguir drogas, um dia veio um dos superiores dele ameaçá-lo".

"A senhora lembra do nome?".

"Não! Só sei que era muito bonito, tinha uns traços delicados, parecia uma moça, com os olhos claros e os cabelos loiros...Daí quando mataram aquele amigo dele, o Icchi, ele ficou mais revoltado ainda e por diversas vezes tentou sair da organização. No domingo ele falou que ia resolver um assunto definitivo e não voltou mais..." - ela chorava sem pudor algum, deixando Ikki sem saber o que dizer ou fazer - "Com licença, eu tenho que ver uma coisa" - ela se levantou e foi até a cozinha, deixando-o pensativo.

"Ele devia gostar muito desse tal de Icchi para arriscar a própria vida, isso está muito estranho!".

A senhora voltou, um tempo depois, as lágrimas completamente secas, com um olhar sereno e um sorriso no rosto.

"Olha, moço. Você é amigo do Jabu não é?".

"Senhora? Está bem?".

"Sinto muito, mas meu neto não está! Ele saiu para jogar bola e daqui a pouco estará de volta, acho que vou tirar um cochilo, até ele aparecer pode ficar a vontade, tirar os sapatos e ligar a televisão".

"Ela não se lembra de mim, nem o que aconteceu ao neto dela...".

"Tchau" - ela foi com a bengala, arrastando pelo corredor e entrou em um aposento.

Ikki resolveu segui-la e encontrou-a deitada em uma bonita cama de casal.

"Meu jovem, poderia abrir o guarda-roupa aí a sua esquerda e pegar um edredon para mim, estou com um pouco de frio e essas colchas são muito ásperas" - disse esfregando a mão sobre a cama.

Ele obedeceu penalizado, abrindo a modesta portinha de madeira, pegando o que foi requisitado e trancando-a novamente com a chave metálica e depois cobrindo a idosa com certa ternura no olhar.

"Se for sair com o Jabu depois peça para que ele não esqueça do casaco".

"Eu aviso" - falou colocando a mão sobre a testa dela.

"Obrigada" - ela aconchegou-se e virou-se de costas para ele, dormindo logo em seguida.

Ikki deu um sorriso leve, quase imperceptível.

"É melhor assim" - concluiu.

Saiu do aposento e tirou um par de luvas cirúrgicas do bolso, depois vestiu-as e foi dar uma procura no quarto da casa. Parecia um quarto de jovens normal, com alguns posters de bandas na parede e bagunçado. Foi andando, abrindo os ármarios e o criado mudo. Achou munição então resolveu procurar a arma e com sucesso a achou escondida no fundo de um balaio onde se guardava roupas de cama, abriu um lenço sobre o colo e embrulho-a cuidadosamente, junto com as balas e por cima do móvel um telefone sem identificação.

Guardou tudo, viu se a senhora ainda dormia e então, foi até a padaria que tinha passado no caminho, depois voltou até a casa e deixou um pacotinho de doces em cima da mesa da cozinha.

"Doces sonhos, senhora Bittencourt".

E saiu para não voltar mais.


Vocabulário

¹Merci: Obrigado.

²Excuse-Mói: Desculpem-me.


N/A: Capítulo sete! Eu não acredito nisso! Nossa, já estamos aqui? Puxa vida!

Eu fiquei triste vendo "o quarteto" se separando. O Hyoga tão emotivo, eu não resisti escrever dessa forma.

Quanto a "Ceci" - já íntima do personagem - diferente do gênero virgem e tola ela é um antônimo do Camus e ela já era uma das primeiras a estar prevista a aparecer na estória.

Momento sensualidade no toalete do restaurante, não resisti a fazer um Saga malévolo e ao mesmo tempo tão bem apanhado em seus momentos de intimidade.

Curiosidade: O vereador que chamou Camus para se juntar a mesa é o Cristal, mas eu não podia dar esse nome para ele e fazê-lo parecer normal, não é?!

Alguma surpresa? Eu matei o Jabu no incidente, eu lembro que quando escrevi sobre o atropelamento algumas pessoas questionaram se não era o Hyoga e para a felicidade geral, como já ficou provado há tempos, não era o Russo. E sim Jânio Bittencourt. Eu sei que Jânio não é um nome originalmente Francês, mas acho que isso não é um problema tão grande assim.

Adorei fazer a cena do Ikki e da vovó do Jabu. Eu estou descobrindo que gosto de escrever sobre idosos, talvez porque me passem uma certa imagem de sabedoria e conhecimento pela vida e tal. Sempre quis que os Amamya tivessem uma avó, quem sabe um dia eu não escrevo sobre isso. Mas, devo admitir, eu quase chorei quando terminei de escrever a cena, porque ela não foi lá muito feliz. Comecei essa nota tão feliz e vou terminar triste, bem, é inevitável.

Até a próxima!

Atenciosamente

Pisces Luna

23/02/08 (Obs: capitulo pronto há mais de um ano, ok?! xD)