» Fanfiction by Luthy Lothlorien ®

» Anime : Shaman King (1998 – Hiroyuki Takei)

» Gen.: Drama/Angst/Tragedy/Romance/Adventure

» PG.: 13

» Pairing : Faust VIII X Eliza

(Aviso : Alguns capítulos possuem conteúdo - light - hentai)

FROM WISHES TO ETERNITY

By Luthy Lothlorien ®

"Maleficos es necromantic non patieris vivere…

Qui coierit cum iumento morte moriatur

Qui Immolat Siis occi Setur Practer Dominio soft."

(Exodus – 22 : 18 – 20 )

- Capítulo I -

"Heikas…Heikas…Estei biberoi…El erohim eroi erohim…

Savante erohim…Eiehay Eiheyaja…

Gramaton Shadie…

Agiosu oh Heikas…Augura Amém…"

Uma angustiada voz declamava versos em uma língua desconhecida, em um tom ritualístico. Não seria tão assustador se não fosse noite. Uma fria e chuvosa noite. Naturalmente a Alemanha já é um país de clima frio, porém, em noites de inverno e em cidades interioranas e montanhosas como aquela o frio era cortante, quase insuportável para os moradores da região, os quais, ao entarceder, escondiam-se em suas casas bem aquecidas tememdo aquele frio todo.

Porém, o que poderia parecer impensável para qualquer pessoa comum, um homem mantinha-se de pé diante de um altar feito sobre construções de concreto, no meio de um lugar no mínimo estranho para se estar em uma noite como aquela, um cemitério. E estava vestido de uma maneira nada adequada : camisa branca aberta no peito, calça negra e botas, de mesma cor, mas sem nenhum agasalho. Este homem era o dono da voz que declamava os versos na estranha língua. Como se não se importasse com o frio, ele permanecia de pé, diante do altar improvisado, onde encontrava-se um esqueleto humano, colocado de uma forma que mais parecia um objeto de adoração. O homem tinha um livro nas mãos, o qual protegia da chuva curvando as costas para frente, afim de evitar que as gotas da chuva fina e fria que caía estragassem as páginas.

Ele continuava a declamar os versos, cada vez mais alto e cada vez mais rapidamente, fazendo com que as palavras se embaralhassem com o som do vento, que gradualmente tornava-se mais forte, fazendo chocarem-se os galhos das árvores e as folhas, as quais faziam um barulho sombrio àquela noite.

Neste cenário assustador, aquele homem mantinha uma calma absurda, somente destoada pelo seu olhar, confuso, angustiado, amedrontado, entristecido, que era nada mais do que o reflexo daquilo que seu espírito sentia. Em mais uma última declamação dos versos, e algo começa a acontecer. O vento perde sua força, as árvores páram de se mexer, o único som ainda constante era o da fina chuva, que caía sobre o chão arenoso daquele cemitério. O homem larga o livro, colocando-o sobre o altar e pegando em seus braços o esqueleto, esperando aquilo que ele já sabia que estava para acontecer.

Aparentemente surgido das sombras, um outro homem aparece. Este homem, com sua figura alta, de bom porte, cabelos bem arrumados e elegantemente vestido, caminha lentamente até o outro, que segurava nos braços o esqueleto humano.

"Boa noite…Sou Mephistópheles, o Arquiduque do Inferno… Quem me chamou à esta Terra?"

A calma do homem que carregava o esqueleto não parecia tão grande assim agora. Estava diante daquele que há muito ansiava por ver, porém agora não tinha palavras.

"…Sou Johann Fausto VIII… Descendente de Johann Fausto, cuja alma, suponho, seja sua propriedade agora…" Ele finalmente responde após um momentâneo silêncio.

"Johann Fausto VIII…Ora, mas que grande prazer conhecer mais um dos Faustos…Creio que mais apresentações sejam desnecessárias agora…Sabemos quem somos e então, já que me chamou até aqui, é porque tem uma boa razão…" Responde o demônio, indo direto ao assunto.

"Sim…eu tenho…tenho um pedido a fazer."

"Um pedido?…Suponho que valha a pena tal pedido, pois creio que você sabe

qual é o pagamento…"

"Estou ciente de tudo…Quero minha esposa de volta…"

"Sua esposa?…"

"Sim…Ela me foi roubada pelas mãos negras da morte há doze anos…Eu a quero de volta!"

"Não poderia simplesmente ter uma nova esposa?"

"Não…Só quero se for a minha amada Eliza de volta…Pode me devolvê-la, Mephistopheles?"

"…E o que vai me dar em troca?"

"O que você quer?"

"Sua alma, é lógico…"

"Não posso dá-la a você…Ela já pertence à Eliza…"

"Então o que tem para me oferecer, Johann Fausto VIII?" o demônio parecia estar começando a perder a paciência. Afinal, era um colecionador de almas, logicamente a alma de Fausto VIII seria uma peça de grande valor em sua coleção, e o próprio acabara de dizer que sua alma já tinha uma dona.

"Não disponho de muito tempo, Johann Fausto VIII…Diga o que tem para me oferecer…"

"……………………." Sem saber o que dizer, Fausto começa a pensar em algo que pudesse agradar ao Arquiduque do Inferno antes que este perdesse a paciência com ele.

Apesar do céu nublado daquela noite, a Lua insistia em tentar aparecer por entre as nuvens, e, por alguma razão, o satélite apareceu, iluminando com sua luz prateada aquele lugar sinistro, dando a Fausto a possibilidade de ver que o demônio à sua frente era apenas um espírito e não um homem com corpo materializado, como ele supunha ser até então.

"…Não tem forma carnal, Mephistopheles?…" Perguntou Fausto, preso à imagem daquele à sua frente, talvez tentando entender como um demônio tão poderoso como ele não podia se materializar na Terra.

"Fui privado de minha forma carnal há alguns séculos, pois temiam que eu pudesse voltar a visitar a Terra. Anjos imbecis, acreditaram realmente que isto me impediria de voltar…Mas sinto falta de poder tocar as coisas deste plano…"

"Mas tinha algo a me oferecer, não é mesmo, Fausto VIII?" Continuou Mephistopheles.

"…Acho que sei o que lhe oferecer agora…"

"Exelente…diga-me, pois."

"…Um corpo…Meu corpo…"

"Seu corpo!…" O próprio demônio alterou a voz ao ouvir a proposta de Fausto.

"Sim…Divido meu corpo com você sempre que quiser…Pode trocar minha alma pela sua dentro do meu corpo e utilizá-lo como se fosse seu…"

Parando para analizar a situação com mais calma, Mephistopheles percebeu a grandiosa chance de voltar a ter um corpo carnal. Com o tempo, poderia até mesmo voltar a viver nesta Terra sem mais problemas com as legiões de anjos que insistiam em mantê-lo preso em seu território no Inferno. Era fato que o grande sonho dos demônios sempre foi poder andar, imperar e viver livremente sobre a Terra, o lugar onde todas as possibilidades estão à disposição de quem as quiser pegar. E porque não se utilizar do corpo de Fausto?…Afinal, tratava-se de um médico renomado, um necromante com total domínio da arte negra, mago negro e alquimista. Um cérebro brilhante e um corpo ainda jovem para voltar a viver na Terra. Oportunidade única, pensou o arquiduque.

"Aceito sua proposta, amigo Fausto VIII… Temos um acordo."

"Fico feliz…Imensamente feliz" Responde Fausto, sem pensar muito, ainda com as lembranças de sua linda e amada Eliza na mente.

"Certo…Bem, receio que terá que assinar o contrato para firmarmos nosso acordo. Terá que me dar uma gota do seu sangue…"

Dito e feito. Mephistopheles pediu, e Fausto imediatamente cortou o dedo com o bisturi que sempre carregava no bolso de seu jaleco, derramando até mais do que a quantidade pedida pelo arquiduque.

"…O que acontecerá agora?…" Perguntou Fausto assim que entregou seu sangue para Mephistopheles.

"Tenha calma, amigo…Você terá o seu desejo realizado…E eu o meu…"

"Anseio em rever minha esposa…"

"E eu anseio em poder voltar à Terra…Aguarde o momento certo."

"Quando será?…Minha saudade é imensa."

"Onde fica sua casa?…"

"Não moro mais em uma casa, moro num castelo que me foi deixado de herança pelo meu antepassado."

"Pois vamos até lá…." Diz Mephistopheles, colocando sua mão sobre o ombro de Fausto, fazendo-o caminhar para frente, indo para fora do cemitério. Fausto ainda carregava em seus braços o esqueleto de Eliza, porém, deixou o livro para trás, o qual foi molhado pela água da chuva, mais forte agora, e todas as páginas desfizeram-se.

Após caminharem pelas ruas daquela cidade germânica à noite, Fausto e Mephistopheles páram diante de um castelo imenso e imponente. A silhueta daquele castelo de longe era avistada. Na realidade, o castelo estava ainda longe da entrada da propriedade. Havia antes uma espécie de bosque, um jardim imenso e colorido, uma pequena estrada, a qual levava até a porta do castelo própriamente dito, e um rio, que acompanhava a estrada e cortava aquela propriedade, vindo do alto das montanhas até ali. Toda aquela imponente propriedade era de agora de Fausto, e havia sido anteriormente de todos os outros de sua geração, os quais sempre obtiveram poder e riquesas através de pactos com aquele que agora acompanha Fausto VIII.

"Ah…Tenho saudades deste castelo…Ajudei ao seu antepassado a conquistar a fama e as riquezas que ele teve em sua época…Vejo que não mudou muita coisa, apesar dos anos." Disse Mephistopheles com um sorriso no canto da boca, como se soubesse que toda a geração de Fausto fosse diretamente dependente dele, seja por qual motivo fosse.

Sem responder, Fausto abre os portões com as chaves que carregava e caminha pela pequena estrada, com seu olhar sempre triste, sempre voltados para o esqueleto de sua amada e falecida esposa em seus braços. Após alguns minutos de caminhada, Fausto finalmente chega à porta do seu castelo, onde pára e olha para Mephistopheles, o qual vinha bem atrás dele.

"E agora?…Chegamos…Vai me devolver a Eliza agora?" Perguntou com ansiedade, fazendo lembrar uma criança que anseia desesperadamente por ter seu presente logo, o que não pôde evitar uma gargalhada de Mephisto.

"Hahahahahahahahahahaha… Calma, não tenha tanta pressa…Já aguardou tantos anos, porque não espera mais um pouco?… Você quer sua esposa de volta…Eu quero um corpo de novo, então, siga o meu conselho…"

Quando Mephisto ia começar a falar, a chuva fina que caía começa a se transformar novamente, ganhando ares de tempestade, o que faz com que Fausto abrace com mais força o esqueleto em seus braços, como se tentasse protegê-lo da chuva.

"Vá para seu quarto, vá descançar…Amanhã tudo estará como sempre deveria ser…" São as últimas palavras de Mephistopheles antes de desaparecer em meio à escuridão das árvores do bosque que circundavam o castelo.

"DESCANÇAR!…NÃO, EU NÃO QUERO DESCANÇAR! NÃO QUERO DORMIR AGORA!…EU QUERO MINHA ELIZA DE VOLTA…EU A QUERO AGORA! VOCÊ PROMETEU! EU ASSINEI O CONTRATO COM VOCÊ!" Fausto berra com lágrimas nos olhos na direção do demônio que desaparecia na escuridão, entrando em um novo estado de desespero tal qual o dia em que encontrou sua amada esposa morta, há doze anos atrás.

Suas últimas esperanças de ter Eliza de volta agora se foram. Já havia recorrido a Deus, mas nunca obteve resposta Dele, a não ser a mesma de sempre : conformar-se com a morte dela e aguardar o dia em que iria encontrá-la no paraíso. Mas não era isso que ele queria. Jamais se conformaria com a morte dela. Já havia recorrido à necromancia, a arte negra, mas não obteve mais resultados do que fazê-la aparecer em forma de espírito, de forma que jamais podia abraçá-la ou tê-la de volta completamente. Tantas tentativas e no entanto, todas falhas. A única chance que ainda lhe restava, pactuar com o demônio que já havia estado presente em todas as gerações de sua família, agora não existia mais. Mephisto havia ido embora.

Chorando, cansado, molhado pela chuva e principalmente, sentindo-se derrotado mais uma vez, Fausto olha para o esqueleto da amada em seus braços, lamenta mais uma vez e assim, se volta para a porta, abrindo-a e entrando em seu castelo. A sala de estar, onde no fundo havia a grande escadaria para subir aos quartos, revelava-se um lugar extremamente luxuoso, algo praticamente inacessível para a maioria esmagadora da população mundial. Somente alguém extremamente rico teria condições de morar em um lugar como aquele. E realmente, dinheiro não era um problema para Fausto agora, porém, tanto luxo, tanta riquesa não lhe traziam nada se não mais solidão ainda, uma vez que, para ele, desde que estivesse com Eliza, poderia ser no casebre mais pobre de todos, sentiria-se o mais afortunado de todos. Mas ela não estava ali. Ela nunca esteve ali. Ele nunca pôde dar para ela aquelas belas e preciosas jóias que estavam no cofre, e isso lhe partia ainda mais o coração. Tanto espaço e tanto vazio…

Assim, quase desistindo de viver, Fausto faz o longo caminho pelo corredor do andar de cima do castelo, ricamente decorado num tom dourado, e, com seu olhar nulo, chega até o quarto principal, revelando um lugar de um luxo ainda maior, e se atira na cama, a qual desejava poder dividir com Eliza por toda sua vida. Ele fecha os olhos, deixando as lágrimas que não paravam de se formar no canto de seus olhos escorrerem, e abraça o esqueleto de sua amada, que jamais havia saído de seu lado. Ele não conseguiria dormir, então retira da gaveta de um dos móveis que estavam ao lado da cama uma cartela de comprimidos. Eram minúsculos, porém, seu efeito, quase imediato, era certo, e lhe fariam dormir por toda aquela noite. Era assim que Fausto conseguia dormir às noites, automedicando-se ou injetando morfina em sua própria veia para não sentir o gosto amargo de estar sem sua amada. E assim, após ingerir dois dos minúsculos comprimidos, em pouco menos de cinco minutos ele cai em um sono negro, pesado e cheio de amargura, que só era aplacada pelas maravilhosas lembranças que tinha do tempo em que vivia com sua amada ao seu lado.

A manhã estava quase chegando, levando a escuridão da noite embora com a aurora loura como a amada de Fausto, e trazendo um sol que, apesar de não conseguir aplacar o frio do inverno germânico, fazia mais alegre a paisagem daquele lugar, marcado pela angústia de seu dono. Ainda preso aos efeitos dos comprimidos que havia tomado, Fausto dormia pesadamente, sem se importar nem um pouco com os raios solares que entravam pela enorme janela de seu quarto e sem se dar conta do que havia acontecido durante seu sono…Sem se dar conta de que aquela manhã seria somente o início de uma nova jornada em sua vida…

(Fim do Capítulo I)

Notas : 1 - Olá . Bom, para começar (ou seria terminar?), vou me apresentar rapidamente. Sou Luthy Lothlorien e costumo escrever fanfics há bastante tempo, mas somente agora começei a escrever fanfics baseadas na obra Shaman King, de Hiroyuki Takei. Me interessei muito pelo anime e principalmente pelo mangá quando meu namorado que é conhecido como Mael Asakura, a quem eu dedico esta fanfic, me emprestou sua coleção e seus DVDs para que eu pudesse conhecer sobre esta maravilhosa história. De todos os personagens, os que eu mais gostei (na verdade, me apaixonei) foram Fausto VIII e Eliza, não só por serem lindos, mas pela tragédia de sua história. Eu já conhecia a obra de Von Goethe há muito tempo (sabe, sou filha de professora…muitos livros em casa…U.U…) e realmente adorei a idéia de aquele personagem lendário ter uma continuação até a oitava geração…Linda história, lindos personagens…

2 -A epígrafeda fanfic é uma citação bíblica em Latim que diz : "Não deixais que os feiticeiros e os necromantes vivam...Aquele que tiver coito como animal, será punido de morte...Aquele que sacrificar a outros deuses e não somente ao Senhor, será destruído". E as palavras que Fausto declama para evocar Mephisto são uma parte de um cântico ritualístico que se utilizava na época medieval por bruxas que estavam para fazer sacrifícios aos deuses da floresta ou ao próprio deus da morte.

Próximo capítulo desta fanfic em breve.

Obrigada a todos os que leram até aqui.

(Luthy Lothlorien)