Nome da fic:
Arremedo
Autor: Magalud
Pares: Sem pares. Fic
gen
Censura: Proibido para menores de 13 anos
Gênero:
Drama, estranha morte de personagem, toques de humor
Spoilers:
Todos os três filmes, todos os (ainda) cinco livros, e algumas
casquinhas do livro 6.
Desafio: Essa fic não
responde a nenhum desafio.
Resumo: No pós-guerra,
Snape precisa morrer para sobreviver.
Notas: Essa fic
encontrou inspiração em Enterprise, Star Trek e
Smallville. E a citação de Shakespeare vem de Hamlet,
claro.
Notas 1: Sorry, não vem inclusa receita de
guacamole. J
Agradecimentos: Os
mais profundos e sinceros às divinasbetas/comentaristas/co-autoras Ptyx, Jana, Amanda e Lili-beta!
Todas me ajudaram muito nessa fic.
Disclaimer: Todos os
personagens que você consegue reconhecer são de JKR, os
outros são meus.
Esta fic faz parte do SnapeFest 2005, uma
iniciativa do grupo SnapeFest, e está arquivada no site do
fest e no meu site pessoal.
Arremedo
Arremedo
S. m.
1. Imitação, simulacro, cópia
2. Reprodução (pessoa ou animal, ou característica daquela ou deste)
3. v.t.d. Ser semelhante; semelhar, parecer
Epílogo-prólogo
O pequeno grupo estava reunido num dos recantos mais bonitos de Hogwarts, um bem afastado do castelo, muito longe do campo de Quidditch, ainda no terreno da escola, ao qual os alunos não tinham acesso. Todos estavam vestidos solenemente, como a ocasião pedia. O dia estava frio, um vento insistente como que pedindo a todos que conduzissem sua obrigação o mais rápido possível. O herói do mundo bruxo, Harry Potter, suspirou, o coração sangrando. Hermione Granger tocou-lhe o ombro, tentando consolá-lo.
O grande caixão de carvalho estava à sua frente, imperturbável. A seus pés, Albus Dumbledore olhou o grupo – não mais do que sete pessoas. Ao invés de suas vestes douradas e púrpuras, sempre alegres, ele usava um manto cinza, com motivos florais em preto. Com voz firme, mas abalada, ele deu início à cerimônia:
– Caros amigos, hoje estamos aqui reunidos para homenagear um herói caído. Prestamos nossas últimas homenagens a uma pessoa que esteve por tempo excessivamente breve em nosso convívio, muito menos do que gostaríamos. Um verdadeiro bravo, que deu sua vida para salvar a de um semelhante, e que certamente permanecerá nos nossos corações por todas as nossas vidas.
O vento soprou, a barba dele flutuou levemente para o lado.
– Hoje enterramos Severus Snape.
Harry soluçou alto.
Capítulo 1
Dias antes...
A guerra tinha acabado. Lord Voldemort, que um dia fora Tom Riddle, já não existia mais, e jamais voltaria à vida. Mas o mundo bruxo pouco tinha a comemorar.
As baixas tinham sido grandes e pesadas de ambos os lados. A destruição, feroz. Três pequenos prédios no Beco Diagonal tinham ido ao chão, reduzidos a pó, e Gringotts só se mantinha de pé por pura magia dos duendes. Hogsmeade ainda se lembrava dos incêndios que duraram dias e transformaram Zonko's e outras duas lojas em cinzas. No Castelo de Hogwarts, a Torre de Ravenclaw tinha sofrido extensos danos, e os alunos seriam redistribuídos para as demais casas durante a recuperação. No momento, a escola estava fechada, lambendo suas próprias feridas.
Mas as perdas mais sofridas, claro, não tinham sido as materiais. Minerva McGonagall tinha sido uma das primeiras a cair para defender a escola. Ela levara consigo três Death Eaters. Hagrid também lutara como um leão de Gryffindor, matando pelo menos uma dezena de intrusos. Dezenas de alunos não retornariam às salas de aula, alguns por estarem presos em Azkaban, como Blaise Zabini e Millicent Bulstrode. A maioria, porém, tinha perecido nas mãos de seus colegas Death Eaters ou dos pais deles, como Hannah Abbot, Ethan Creevey (o caçula dos três irmãos), Ernie Macmillan e Zacharias Smith. Entre os combatentes da Ordem da Fênix, os Weasley haviam sofrido duras perdas: Ronald, Fred, Molly e a caçula Ginny. Tonks tinha sido mais uma baixa relativa à família Black.
Havia centenas de feridos, e o andar inteiro da ala hospitalar estava sendo usado como enfermaria. Três heróis da linha de frente da batalha estavam se recuperando em Hogwarts: Harry Potter, Albus Dumbledore e Severus Snape. Hermione Granger tinha sido levemente ferida, e ajudava Madame Pomfrey, a exemplo de qualquer um que não precisasse estar numa cama. Outro que miraculosamente saíra intacto, apesar de ter lutado feito uma fera, tinha sido o último Marauder, Remus Lupin.
Passados alguns poucos dias após a batalha final, os feridos começaram a se recuperar ou foram enviados para suas casas. Os mortos foram reconhecidos, reclamados e enterrados. Havia mais de quatro cerimônias e memoriais por dia, e os sobreviventes se encontravam, uns consolando os outros, todos numa grande família.
Exceto um homem. Dez dias e nenhuma reação. Severus Snape estava em coma, e tudo indicava que era irreversível.
– Aqueles eram os especialistas de St. Mungo's que eu vi saindo? – perguntou Dumbledore ao entrar na enfermaria. – Eles não ficaram de levar Severus?
Madame Pomfrey tinha o olhar pesado:
– Eles não quiseram arriscar. Ele está muito fraco para ser transportado. Albus, eu não sei se posso ajudar Severus. Talvez seja mais piedoso deixá-lo morrer em paz.
– Não seja pessimista, Poppy. Tenho total confiança em suas habilidades.
– Gostaria de ter seu otimismo e todas essas habilidades que você diz, mas não posso mais fazer coisa alguma. O jovem Potter me contou o que aconteceu: ele recebeu a maldição que ia ser lançada em Potter por Você-Sabe-Quem em pessoa. Eu não sei que maldição foi essa, mas ela está destruindo todo o sistema neurológico de Severus. Ele já sofreu extensos danos cerebrais. Ainda que eu o mantenha vivo e consiga estabilizar sua condição, ele vai ser um vegetal para o resto da vida – e não vai ser uma vida muito longa, até que seus rins e coração comecem a falhar. Foi o que os especialistas de St. Mungo's acabaram de me confirmar.
– Não pode ser – uma voz horrorizada disse atrás deles. Os dois se viraram: Harry Potter cambaleava, erguendo-se com dificuldade de sua cama. – Ele não pode morrer.
– Mr. Potter! – Poppy parecia furiosa. – Volte já para sua cama!
– Não, eu quero ajudar o Prof. Snape. Ele salvou minha vida.
– Entendo, Mr. Potter, mas não há nada que possa fazer. Ninguém pode fazer coisa alguma. Seria preciso um milagre.
– Mas... não é para isso que temos mágica? Para fazer milagres? Por favor, Madame Pomfrey – Harry voltou os olhos verdes suplicantes para o diretor. – Prof. Dumbledore, diga que há algo que possamos fazer!
– Harry, minha criança, eu prometo tentar o que puder para salvar Severus. Mas deve me prometer que vai seguir as recomendações de Poppy e voltar para sua cama.
– Sim, senhor.
A resposta de Dumbledore veio na manhã seguinte, quando Harry já se sentia melhor e sentava na cama. O diretor consultou a enfermeira em tons sussurrados e graves, e Harry observou de longe que eles falavam sobre o Prof. Snape. Parecia que Dumbledore tinha achado algum tipo de solução, sim, mas Poppy estava alarmada com ela. Eles conversaram por vários minutos.
Estranhamente, os dois foram falar com ele.
– Harry – começou o diretor –, pode haver um jeito de salvar o Prof. Snape. Mas essa solução pode vir a um preço muito alto.
– O que sugere, diretor?
– Há um encantamento muito antigo, o Feitiço Simulacrum. Ele cria uma cópia de uma pessoa, perfeita e idêntica, com vida limitada, a partir de uma amostra do original.
– Uma cópia?
– Exato. A ciência Muggle descobriu algo semelhante, a que dão o nome de clonagem, mas o arremedo (esse é o nome da cópia) é diferente. Eu sugeri a Madame Pomfrey que um arremedo pode servir de doador para Severus obter um novo sistema neurológico, sadio e completo.
– Ah, como um transplante, não é? Entre os Muggles, irmãos doam entre si rins e pulmões.
– O caso é semelhante, Harry – concordou Dumbledore pesadamente. – Mas você certamente pode ver as diferenças.
– Essa cópia... ou arremedo... ele não sobreviveria, não é mesmo?
– Nenhum arremedo sobrevive mais do que 14 a 20 dias depois de criado. Eles têm desenvolvimento acelerado, por isso queimam rápido, assim como sua magia. Os arremedos Muggles, por sua vez, duram vários anos.
– Esse feitiço foi usado em Muggles?
– Em uns poucos, sim. Há um caso muito famoso, de um arremedo que durou décadas na América. Teve um final triste. Acredito que o nome do Muggle era, se não me engano, Elvis... Pélvis... Presler... Alguma coisa assim.
A informação chocou Harry, mas Madame Pomfrey continuava contrariada:
– Prof. Dumbledore, eu fiz um juramento a Hipócrates, e repito que a idéia me perturba muito. Estaríamos criando um ser vivo e inteligente para condená-lo à morte!
– Sem isso, Severus morrerá – voz conformada.
– Mas mesmo que o arremedo doe o sistema neurológico, o procedimento é perigoso. Severus pode não sobreviver. E dois terão morrido.
Os olhos azuis de Dumbledore estavam sem brilho quando ele os baixou. Harry pôde perceber o tamanho da decisão que pairava em seus ombros.
– Diretor, sei que não tenho o direito de opinar, mas quero acreditar que o Prof. Snape iria gostar se tentássemos.
– E você estaria disposto a ajudar, Harry?
– O que eu posso fazer?
– Pode ajudar o arremedo. Fale com ele, passe tempo com ele. Madame Pomfrey não pode fazer isso, pois tem que ajudar os feridos, e eu pretendo reabrir a escola o mais rápido possível. Ele vai precisar de alguém. Estará sozinho, talvez confuso.
– Claro, senhor – Harry sorriu. – Madame Pomfrey não vai me deixar sair daqui nos próximos dias de qualquer jeito. Assim eu posso ser útil.
– Excelente – Dumbledore sorriu de volta. – Só vou lhe pedir um favor. Dê-lhe um nome. Faça-o sentir-se uma pessoa. Não o confunda com o original, porque ele será um arremedo, mas não o faça ser menor por causa disso.
Harry assentiu, Madame Pomfrey resmungou e o diretor de Hogwarts suspirou, antes de se retirar. Ainda fraco, Harry voltou a se deitar, imaginando se eles tinham direito de brincar de Deus daquele jeito.
o 0 o
Na próxima vez que acordou, Harry notou ter sido transferido. Estava num lado diferente da enfermaria, uma seção separada. Levantou-se e espiou além do biombo: Madame Pomfrey dava mamadeira a um bebê muito novinho, chorando em seus braços. Ele olhou para o outro lado e viu a cortina de isolamento do único paciente em coma – Severus Snape.
– Você deveria estar na cama – Harry pulou ao ouvir a voz conhecida atrás de si.
– Hermione! Quer me matar do coração?
– Depois do trabalhão para salvar sua pele? Vamos, volte já para a cama. Madame Pomfrey me mata se vir você de pé.
– Ela está ocupada ali – apontou. – De quem é o bebê?
– Aquele é o arremedo. Nasceu ontem. Vai crescer rápido.
– Você já tinha ouvido falar deles antes, Mione?
– Não há muita coisa escrita sobre eles. Não é um feitiço muito usado.
– Mas... a gente podia usar. Quer dizer, o Ron...
– Harry, nem termine de dizer isso. Ron está morto. Nada vai trazê-lo de volta, muito menos um simulacro que só vai durar uns poucos dias.
– Você concorda com Madame Pomfrey? Acha que isso é errado?
– Não sei se errado é a palavra certa, Harry. O Prof. Snape não está nada bem, e eu sou totalmente a favor de se tentar algo para salvá-lo, depois de tudo que ele fez pela Ordem e para derrotar Voldemort. Mas é como conhecer alguém com câncer. Você sabe que ele vai morrer logo e não sabe se quer ser amigo daquela pessoa.
– Cruzes, Hermione. Pense que ele vai estar fazendo uma coisa boa. Um bem.
– Ele nasceu apenas para ser sacrificado, Harry. Ele é inteligente, tem sentimentos, e a vida é de outra pessoa, mas vai ser sacrificado, e não tomou parte dessa decisão. Entende por que isso me incomoda?
Harry não respondeu. Olhou o bebê, que tinha parado de chorar e agora era alimentado, com as palavras de Hermione soando fundo dentro dele.
Naquela noite, ele ouviu passinhos perto de sua cama e abriu os olhos: uma criança se agarrava às suas cobertas, pois mal sabia andar, um menino que o encarava com dois penetrantes olhos pretos, o cabelo ainda mais negro, o narizinho pronunciado. Harry teve um choque ao precisar se lembrar de que aquela criança não era filho de Snape – ela era Severus Snape.
– Oi – Harry tentou sorrir e usar uma voz suave. – Não consegue dormir?
A voz de Madame Pomfrey chamou sua atenção:
– Onde está você, rapazinho?
A criança pareceu assustar, sentindo-se perseguida, e Harry procurou acalmá-lo:
– Tudo bem, tudo bem – O menino parecia tremer, prestes a chorar, os olhos enchendo-se de lágrimas. – Madame Pomfrey só está preocupada com você. Aposto como correu quando ela não estava olhando, não é?
Um barulho fez Harry virar a cabeça e no momento seguinte, o bebê não estava mais à vista. Harry foi encontrá-lo debaixo de sua cama, encolhido.
– Está tudo bem, Sev. Ninguém vai machucar você. Pode sair. Vem. Está tudo bem.
Hesitante, o menino finalmente engatinhou para fora, e Harry o tomou nos braços, calculando sua idade em menos de um ano, notando que estava de fraldinhas por baixo da calça curta. A criança tremia feito vara verde, e não escondia estar apavorado. Harry calculou que também estaria apavorado, se acordasse de repente num local desconhecido cheio de estranhos. Ficou com o pequeno nos braços, fazendo círculos em suas costinhas, ouvindo o coraçãozinho acelerado. Ficaram assim quietos na enfermaria silenciosa, até que Harry percebeu que o menino relaxara em seus braços. Logo adormeceu. Colocou-o na sua cama e deitou-se ao lado dele.
Pomfrey encontrou os dois adormecidos, e no café da manhã mandou uma bandeja com suco de laranja e torradas e uma mamadeira.