Resumo

Em uma época marcada pelo medo, encontramos o amor em momentos rápidos de êxtase e terror. Como ela poderia confiar em um príncipe rebelde, cujo ódio e a sede por vingança eram maiores do que o seu amor por ela?

Nota da Autora

Tenho planos longínquos para essa fic. Quero que ela seja mais do que um mero enredo romântico, em que a mocinha se vê perdidamente apaixonada por um príncipe rebelde sedento por vingança. Eu quero algo real, que tenha sentimentos reais.

Shoran será mais que um rebelde, ele será um estadista que usa da ingenuidade e do amor de sua esposa Sakura para subir ao poder, e subconseqüentemente retira todo o poderio da família dela.

O resto com o tempo virar.

Boa leitura!

ANNA LENNOX

Beta: Bella Lamounier

Arte de Sedução

Janeiro de 1887- China

Sakura Ching, filha legítima do imperador maior de toda a China. Bonita, brilhante e inteligente, só perdia na preferência do grande senhor para o seu irmão, que tinha como vantagem ser do sexo masculino. Porém era com ela que o pai se sentia à vontade para falar sobre os problemas do império. Sim, se lamentava por não ter nascido homem... Sem dúvida seria a melhor escolha para a China do que o seu irmão Mao, que tinha como qualidades imperfeições... Era um fanfarrão bêbado e burro, além de ser um covarde.

-Senhorita?

-O que foi, Fai? –perguntou, visivelmente contrariada. Queria ficar ali observando o movimento ritmado dos trabalhadores da cidade proibida.

-Seu banho está pronto, alteza.-falou a criada, indo ajudá-la.

-Eu não quero me banha agora, Fai.

-Mas a vossa ama me deu ordem expressa para banhá-la. - falou ela com a cabeça baixa.- Fai não quer ser castigada, alteza...

Ela sabia sobre as normas de conduta do palácio. Fora criada naquele mundo e sabia que os escravos e as mulheres sempre eram castigados por pouco coisa. Estava cansada de presenciar tanta barbaridade, da qual até mesmo ela já fora vitima.

-Eu sei, Fai.

-Então me deixe banhá-la e prepará-la para grande noite que está por vir. - falou a doce criada levando-a até a grande penteadeira de marfim com detalhes cravejados de diamantes, presente de um nobre europeu a sua querida mãe. Nada modesto, porém era lindo e luxuoso. Ela odiava todo aquele luxo e ostentação... Subir ao poder fora a desgraça de sua família. E saber que teria o mesmo ou até pior destino que a mãe a assustava.

-Eu irei conhecê-lo esta noite...- sussurrou, olhando para imenso espelho e vendo além do rosto bonito e dos incríveis olhos verdes. Estava vendo a sombra que encobria seus olhos...A névoa que caía sobre a sua alma já que a sua vida a partir daquele dia teria um novo rumo.

Conheceria o seu noivo.

O homem que seria dono da sua vida e de seu corpo, porém nunca de seu coração.

-Sim, alteza.-falou a jovem com uma ponta de malícia no olhar.-Hoje, após cinqüenta luas novas, a senhorita conhecerá o seu homem.

-Meu homem...

-Sim, um cavalheiro andante, que de tão formoso será um Buda.

Havia um brilho estranho no olhar da jovem criada...Esperança, amor ou simplesmente uma ilusão originada de sua mente atormentada. Mas de uma coisa tinha certeza, Fai conhecia o seu futuro marido.

-Como você pode ter tanta certeza se não o conhece...-afirmou, concisa.-Ou será que você já o conhece?

-Claro que o conheço, alteza.-falou sorrindo.-Ele é um fiel súdito do senhor seu pai... É bonito e rico, de tão formoso que é nunca se casou com nenhuma donzela, pois sempre se manteve fiel à senhorita.

-Como assim?

-Há um enlace os unindo desde da mais tenra idade.

-Explique novamente-perguntou confusa.-Eu pensei...

-O senhor imperador só subiu ao trono após dar a sua mão ao filho mais velho do todo poderoso Tsao Li.

-A dinastia Li?

-Sim.-falou sorrindo.-A vossa alteza será uma mulher muito rica.

Uma mulher rica? Será mesmo... Seu pai só foi senhor de toda a China após prometê-la a uma família que era uma de suas maiores opositoras. Alguma coisa estava errada naquele quebra-cabeça. Crescera ouvindo seu pai praguejar contra o nome daquela família e por diversas vezes seu irmão entrara em conflito com algum membro daquele clã.

-Eu sei que para senhorita isso deve ser estranho, afinal o ódio sempre foi sinônimo entre as duas famílias.-falou Fai, penteando o seu cabelo.-Porém Tsao já não está mais aqui e Shoran sempre foi um menino doce e fiel à sua pessoa. Embora a senhorita não saiba, ele sempre a amou e sei que serão felizes juntos.

Ela tinha as suas dúvidas. Afinal, aquele homem sempre não passara de um fantasma na sua vida, desde pequena aprendera a odiá-lo e não amá-lo. No fundo sabia que ele era uma ameaça ao governo de seu pai. Porém não podia corre o risco de ser deserdada. Casaria com aquele homem por mais que lhe fosse doloroso.

Representaria o papel de noiva tímida e acanhada, pois sabia que seu pai jamais a entregaria para o inimigo. Porém em uma armação política a única coisa que não importava era o apreço familiar.

-Serei muito feliz...

-Vossa alteza será a mulher mais poderosa de toda a China.

RrrrrrrR

Já estava acostumado com o inverno rigoroso de Beijing, embora tenha nascido naquela cidade, fora criado por sua ama em Hong Kong durante o período mais difícil da História chinesa.

Fora com sua ama também que aprendera a viver cada vão momento como se fosse o último e fora com a morte dela que a sede de vingança crescera em seu peito. Deixara de ser o menino inocente e vivera com o único intuito de tirar tudo de Ching, até mesmo aquilo que lhe era mais caro. A maior de toda a China perante aos olhos cansados do Buda do mal.

-É hoje o grande dia, meu amo.-falou o velho Ting, sorrindo.-Verá a sua gazela dos ovos de ouro.

-Se Buda quiser, velho.

-E ele quer. A gazela sempre foi sua desde de quando era uma infanta.

-Mas isso não quer dizer quase nada.-falou, levando a mão à cabeça.-Ela pode ser minha, mais isso não quer dizer que ela vai me aceitar...

-Ela não tem escapatória. É uma mulher e uma moça nesse país não tem voz ativa para recusar um pretendente, seja ela nobre ou serva.

-Eu não quero torturá-la. Quero que ela esteja ao meu lado em todos os momentos, afinal não vou forrar a minha câmara nupcial com espinhos e sim com rosas.-falou, decidido.

-Então terá que agir com muito tato com a jovem gazela, amo.-informou o velho, soltando os botões de sua veste. Estava há dias sem se banhar e não podia se dar ao luxo de se negar um bom banho na margem leste do rio Jinghang. - Ouvi dizer que ela é uma das mais preciosas flores de toda a China e que o imperador nutre um carinho especial por sua única filha com aquela prostituta japonesa. Os boatos dão conta de que o príncipe Mao nutre um ressentimento profundo pelo o carinho excessivo que é direcionado a essa jovem gazela.

A mais bela rosa de toda a grande China, esse era um pensamento assustador e reconfortante ao mesmo tempo, pois dava a certeza de que ela seria a mulher certa para estar ao seu lado. O único problema seria a suposta adoração e amor que unia a sua dama com o temível imperador. Porém, esse fato poderia ser apenas uma propaganda enganosa vinculada por uma monarquia de mentira liderada por um imperador impostor. Afinal Sakura tinha um grande motivo para odiar o pai... Mais do que ele até.

-Não tenha dúvidas, amo.-falou o velho, cortando o rumo de seu pensamento.-Você será o futuro imperado da China. Nada e nem ninguém poderá ir contra a sua autoridade. E por séculos a sua dinastia irá reinar, até que finalmente o curso da humanidade trilhará outro caminho, onde nosso povo construirá através de muito trabalho uma potência que jamais será espoliada por nenhuma outra nação.-falou com veemência.-Lembre-se das palavras sábias do Hexagrama...

Lembrava-se como se fosse ontem, e as tinha tatuadas em suas costas junto com seu Deus Dragão que o protegia das maleficências alheias.

-O destino dos homens segue leis imutáveis que têm de ser cumpridas. Mas o homem tem o poder de moldar seu destino, na medida em que sua conduta o expõe à influência de forças benéficas ou destrutivas. Quando um homem está em posição elevada e é modesto, ele brilha com a luz da sabedoria. Quando ele está numa posição inferior e é modesto, não pode ser ignorado. Assim o homem superior leva seu trabalho à conclusão sem vangloriar-se daquilo que conseguiu.-ditou o velho sorrindo.-Isso foi o que o grande Ch´ien proclamou o seu caminho. Não será fácil, mas por meio de um jardim de flores trilhá-la o caminho certo para uma nação empobrecida pela ambição de um imperador impostor.

Sim, seguiria o seu caminho, honraria o nome de sua família e se tornaria o grande salvador de uma nação em frangalhos.

OooooO

O som puro do P´i- p´a misturado ao som melodioso do hu-ch´in anunciava a ela que ele já estava lá... Que ia espoliá-la de sua família, que iria deflorar a sua pureza e faria dela uma mulher rica com um título importante, dando felicidade ao seu pai. Mas nada acalmava a sua alma... Sentia medo e pavor. Sabia que ele seria o dono de seu corpo e de seus pensamentos... Ele seria o dono de sua vida, julgaria os seus atos e a condenaria a ser sua serva para o resto de sua vida. Teria incontáveis amantes e a engravidaria por diversas vezes, fazendo-a procriar como uma lebre.

-Não tenha medo, querida.

-Ama...-falou surpresa.-Pensei que já estivesse dormindo.

-Como iria dormir sendo hoje a sua grande noite, menina?

-Mas as regras...

-Eu sei das normas de conduta do palácio, querida.-falou, pegando a mão gélida da menina que trouxera ao mundo numa época conturbada que custara um preço alto demais para a jovem mãe japonesa.-O bondoso imperador nunca puniria uma humilde serva numa noite tão especial para a menina dos olhos dele.

-Ah, ama... Tenho tanto medo.-confessou, apertando a mão dela com força desmedida. –Algo lá no fundo do meu peito avisa para fugir... Fugir desse homem.

-Shoran não é seu inimigo, Sakura.

-Eu sei...

-Sabe? Não é bem o que parece.

-Eu não estou pronta para um enlace neste momento, Ama.-falou impaciente.-Parece que estou entrando num túnel em que serei a única a sair machucada.

-Demência, medo e insegurança são sentimentos comuns em uma noiva tão jovem e saudável. Porém, não é motivo para ficar tão alarmada.

-Não?

-Não, querida.-respondeu carinhosa.-Seu noivo é formoso, várias damas dariam até a alma para tê-lo como marido, mas ele é seu, pois estão destinados a construir uma história juntos.

Será que esse era o seu futuro? Nunca tinha visto o tão falado noivo, só por comentários às vezes tortos e cheios de ressentimento e ódio. Talvez não tivesse motivo para ter tanto medo, afinal sua sina estava trilhada. Estava sendo levada pelo conformismo e medo de reagir ao que era superior às suas forças.

-Erga essa cabeça como uma verdadeira princesa. –falou a ama, sorrindo.-Altiva, orgulhosa e até mesmo arrogante com a sua mãe é. E mostre para aquele homem que é mais do que uma boneca com quem ele vai deitar na cama daqui a doze luas. Mostre que é capaz de governar o próprio destino.

Não era dona do próprio destino. Havia os costumes milenares que a impediam de ser quem realmente era. Agiria como uma dama e não como uma qualquer... Tinha normas e não a desrespeitaria. Já não era mais uma infanta, era uma mulher e devia agir como tal.

Continua...

Vocabulário:

P´i- p´a: alaúde.

hu-ch´in: Violino.

N/A: O site está passando por um momento chato de formatação. Então não me xinguem por falta de pontuação ou palavras desconfiguradas. Eu não tenho culpa...

Obrigada!

Beijos!

Anna