N/A: Derfel pronuncia-se Dervel

8. AMANHECER

Regan Johnson tomava uma xícara de chá quando Daniel Hopkins entrou na sala.

.- Ela acordou, e quer falar com você.

Regan engoliu o chá num gole, e com um gesto de varinha, fez a xícara desaparecer. Ela praticamente correu até a enfermaria, mas quando abriu a porta, qualquer traço de nervosismo ou ansiedade havia desaparecido.

.- Bom dia, senhorita Lestrange, sou Regan Johnson, curandeira responsável.

.- Ótimo – a loira disse com altivez. – Então você pode me explicar porque não estou enxergando.

Regan suspirou, cansada. Desde que examinara Elinor Lestrange, notara que os olhos não reagiam involuntariamente à luz forte, e tentara vários métodos, mas nada funcionou. E agora chegara o difícil momento de explicar à mulher o que estava acontecendo.

Elinor não pôde deixar de notar a hesitação da curandeira, mas não se importou. Foi uma surpresa abrir os olhos e não ver nada. Ela queria explicações. Queria saber quando isso passaria. Sentia-se vulnerável por não poder enxergar, e não toleraria isso por muito tempo.

.- Eu não sei o que aconteceu – Regan disse, mais segura. – Pelo que Harry Potter disse, nada do que aconteceu poderia ter causado a cegueira. Vocês só saíram por uma porta no Departamento de Mistérios, vocês não foram atingidos por nenhum feitiço.

.- Mas havia uma luz! – Elinor protestou, interrompendo Regan rispidamente. – Uma luz forte mostrou a passagem, e então saímos.

.- Harry não disse nada sobre uma luz – a curandeira disse, intrigada. – Ele não esconderia isso, eu perguntei para ele se aconteceu algo estranho depois de ter percebido que você acordaria sem ver. A não ser... – ela disse, pensativa. -, se só você tenha visto a luz.

.- Olha, pouco me importa. Quero saber quanto tempo isso vai durar.

.- Não posso dizer uma data exata. Fizemos exames e não notamos nenhum problema com seus olhos, então sua cegueira deve ser temporária. Logo a senhorita estará enxergando. Eu marquei alguns exames...

Pela segunda vez, Regan foi interrompida. Alguém batia na porta, e depois de um primeiro impulso de ignorar as batidas, a curandeira abriu a porta, e observou, estupefata, uma jovem loira entrar na enfermaria. A mulher vestia um simples manto, mas sua atitude era a de uma rainha.

.- Pode nos deixar a sós?

A voz da estranha mulher era suave, e ela falava como se pedisse desculpas por interromper, mas Regan não pensou em negar o pedido, e saiu, sentindo uma forte admiração pela mulher.

.- Ceinwyn? – Elinor perguntou depois que Regan saiu.

.- Sim, querida.

.-O que você está fazendo aqui? Dumbledore pediu que você viesse?

.- Não, Elinor. Eu vim porque sabia que você precisaria de mim. Eu soube dias antes de você chegar em Avalon.

.- Como assim? – a loira perguntou, confusa.

.- Não é só você que possui o dom da Visão – ela respondeu com um sorriso gentil. – Eu vi você e Harry presos em uma sala, e você agora sabe do que estou falando. Eu sabia da existência dessa sala desde que ela surgiu, e vim ajudar você.

.- Então você pode fazer com que eu volte a enxergar? – a loira perguntou, ansiosa.

.- Não, Elinor. Você não vai voltar a enxergar. A sala deixou que você saísse, mas não sem fazer um sacrifício. E se você não fosse uma sacerdotisa de Avalon, você não teria conseguido encontrar a saída, e você e Harry teriam ficado presos.

.- Então foi para isso que me tornei uma sacerdotisa de Avalon? Para salvar Harry Potter?

.- Você conseguiu afastar as brumas, e esse é o teste final de uma sacerdotisa. Você não seria uma se não merecesse. Mas não foi somente por ser uma sacerdotisa que você ficou cega. Você era a chave para a sala trancada no Departamento de Mistérios, pois você conseguiu ver o que aconteceria atrás da sala, e depois da sala ser fechada, a chave estava destinada a enxergar somente suas visões. Isso foi algo que não pudemos evitar.

.- Então... – Elinor engoliu em seco. – nunca vou ver outra vez?

.- O olhar de Ceinwyn não era penalizado, mas preocupado.

.- Não, você não poderá mais enxergar.

Elinor sentiu a garganta seca, e não pôde controlar as lágrimas. Lembrou-se da última vez que viu Sirius, tão feliz por ela estar salva... E agora nunca mais veria o rosto dele. Não era justo, não depois do que passara. Mas também não seria justo com ele se ficasse. Ele deixaria de ter uma vida normal para ficar cuidando dela, e Elinor não queria que ele deixasse de ser feliz por causa dela.

.- Eu vou com você para Avalon – a loira falou sem nenhuma emoção.

.- Você tem certeza disso?- Ceinwyn perguntou, séria. – Existem pessoas por aqui que se preocupam com você, e não é por estar cega que elas vão se importar menos. Elas sentirão sua falta se você for, e você também sentirá saudade de todos que deixar aqui. Mas acho que você vai ouvir isso agora. Derfel e outros também querem falar com você.

.- Derfel?

.- Ah, me desculpe, sempre me esqueço que Alvo não usa mais seu antigo nome. Não decida nada antes de conversar com todos. Voltarei mais tarde.

Ceinwyn beijou a testa da sobrinha, e abriu a porta. Cumprimentou Dumbledore antes de sair, e depois de fechar a porta, o diretor aproximou-se do leito da loira.

.- Eu sinto muito pelo que aconteceu – o olhar de Dumbledore estava cansado. Era como se finalmente sentisse o peso de todos os anos de luta contra Voldemort.

O rosto de Elinor estava voltado para o lado. Com dificuldade, conseguiu controlar a raiva. Para Dumbledore, ela não devia ter sido mais que um meio para evitar a vitória de Voldemort, mas para que isso acontecesse, teve que ficar cega.

.- Eu não quero falar sobre isso – ela disse, irritada.

Dumbledore olhou para Elinor com gentileza.

.- Tem coisas que você precisa saber para entender o que está acontecendo.

.- Como está o Harry? – ela perguntou, querendo mudar o assunto.

.- Ele está bem, já recebeu alta, mas não vim aqui falar dele. Você deve ter perguntas sobre o que aconteceu, e vim respondê-las.

Dumbledore esperou que Elinor falasse algo, mas ela permaneceu calada.

.- Eu entendo sua atitude – ele continuou. -, mesmo sem concordar, mas você precisa saber porque foi envolvida nisso.

.- Ceinwyn já me falou. Não precisa perder seu tempo.

.- Ceinwyn só conhece uma parte da história. Ela nunca entendeu como aquela sala apareceu no Departamento de Mistérios. A sala surgiu quando a profecia uniu Harry a Voldemort. Ela surgiu do sacrifício por amor de Lílian Potter, uma magia pura, e por isso, a sala só poderia ser aberta por alguém que possuísse o dom da magia pura. O ódio também era uma magia pura, por isso, eu e Ceinwyn enfeitiçamos a sala para que somente uma vidente de Avalon pudesse abri-la, mas quem abrisse a sala perderia a visão ao sair. Na época, pensamos que a pessoa perderia a vidência, e não o sentido da visão. Infelizmente, por minha culpa você está cega.

O rosto de Elinor estava voltado para Dumbledore, mesmo que ela não o enxergasse. Reconhecia que Dumbledore não tivera outra escolha, mas ela gostaria de ter podido escolher também.

.- Eu também vim para de falar de outro sacrifício. Harry me falou que Voldemort tentou matar você, mas ele tentou impedir se jogando à sua frente, pois ele sabia como você era importante para Sirius. Harry estava disposto a morrer para que você e Sirius pudessem ficar juntos. Ainda está disposta a ir embora?

Quando Elinor respondeu, a voz saiu rouca, fraca.

.- Como posso ficar se agora estou cega? – novamente, as lágrimas saíram de seus olhos. – Se ficar, serei um empecilho na vida de todos.

.- Às vezes, quando possuímos um dom em abundância, não percebemos que o temos. Além disso, se perdemos a confiança em nós mesmos, esquecemos nossas habilidades. E se você ainda tem dúvidas, deveria falar com mais alguém.

Adivinhando o que Dumbledore pretendia fazer, Elinor protestou.

.- Não, Dumbledore!

Mas o diretor saiu, fingindo não escutar a loira falar, e, minutos depois, a porta se abriu pela terceira vez, e Sirius entrou.

Sem dizer uma palavra, ele se aproximou de Elinor, e segurou as mãos dela entre as suas, sem dar oportunidade para ela evitar o toque.

Assim que sentiu a pele de Sirius, a escuridão foi desaparecendo para dar lugar a uma rua coberta de neve. Era Hogsmeade, e na rua, Elinor viu a si mesma se despedindo de Sirius.

O bruxo esperou a mulher se afastar antes de entrar numa loja, onde imediatamente um vendedor foi falar com ele.

.- Ah, senhor Black, sua encomenda chegou ontem.

.- Ótimo! – ele sorriu, satisfeito, e esperou o vendedor voltar com uma pequena caixa preta.

.- Aqui está, senhor Black, uma excelente escolha. Ela ficará muito contente.

Sem estar realmente escutando o vendedor, Sirius abriu a caixa e admirou o anel. Era perfeito para Elinor, fino, feito de prata com uma jóia de um azul parecido com os dos olhos da mulher. A visão, porém, foi substituída por outra.

Era a sala de espera do St. Mungus. Remo conversava com Sirius quando Regan se aproximou.

.- Elinor acordou, mas Dumbledore está com ela, agora.

.- Como ela está? – Sirius perguntou, já de pé, sem conseguir controlar a ansiedade.

.- Ela está bem, mas... – ela gaguejou, sem saber como dar a notícia para Sirius. – a Senhora me disse que eu estava enganada. Apesar de todos os exames indicarem que a cegueira era temporária, ela não voltará a enxergar – ela fez uma pausa antes de continuar. – Eu... sinto muito...

Ao ouvir a notícia, Sirius balançou a cabeça.

.- Não, isso não é verdade. Ceinwyn está enganada. Ela não sabe nada de medibruxaria!

.- Ela disse que sabia o que aconteceria a Elinor depois que saísse da sala, e que não tem nenhuma dúvida.

A voz de Regan saiu em tom nervoso. Tanto ela quanto Remo esperavam a reação de Sirius. Ele estava calado, mas era quase possível para os dois sentirem a tensão dele. Elinor, que estava tendo a visão, porém, sentia a mesma angústia misturada com raiva por não ter podido fazer nada. E sem que nenhum dos dois esperasse, ele se levantou e foi em direção à enfermaria.

.- Para onde você vai? – Remo perguntou, seguindo o amigo.

.- Preciso ver Elinor. Não posso deixar que ela vá embora.

.- Do que você está falando?

.- Ela vai querer ir embora quando souber que vai ficar cega. Ela não vai querer ficar aqui sabendo que vai ter que ficar dependendo de mim, mas ela precisa saber... – ele disse sem olhar para Remo.

.- Remo – o bruxo parou ao sentir a mão negra de Regan tocar seu braço. – Deixe ele ir. Eles precisam mesmo conversar.

Sirius mal percebeu Dumbledore parado próximo à enfermaria. Entrou sem saber se convenceria Elinor a ficar, e aos poucos, a imagem foi escurecendo, e a visão desapareceu.

.- Sirius... – ela disse sem imaginar que falaria num tom tão trêmulo. Sentira as mesmas emoções que ele, e estava sem palavras. – Eu não poderia...

.- Eu não vou deixar... – ele começou, mas a loira o interrompeu.

.- Eu não poderia ir embora sabendo o que você sente por mim. Você não está pensando que terá que cuidar de mim, mas que se eu for, você vai ficar sozinho – Sirius encarou Elinor com surpresa por ela estar sabendo disso, mas ela sorria. – Eu senti o que você sentiu quando me tocou. Ainda sinto – ela apertou a mão dele. – Seria uma injustiça para nós dois se ficássemos separados. Sirius – ela tocou o rosto dele - , eu aceito.

Por alguns segundos, a surpresa impediu que Sirius reagisse, mas logo um sorriso surgiu no rosto dele, e, segurando a mão de Elinor, ele colocou a aliança no dedo dela.

.- Quer saber o que acabei de ver?

.- Não. Nós faremos o nosso futuro. Juntos.


.- O que aconteceu depois? – um garoto de nove anos e cabelos loiros, sentado no chão, ao lado da cadeira em que a loira estava sentada perguntou.

.- Voltamos para Hogwarts, e continuamos a dar aulas até o fim do semestre, Castor. Depois, compramos uma casa aqui em Hogsmeade e nós moramos aqui desde então, mas isso não é novo para vocês.

.- Você e papai continuaram a ensinar em Hogwarts? – um garoto de cabelos escuros, o rosto quase idêntico ao de Castor, e sentado ao lado dele, perguntou.

.- Eu fiz questão de continuar, Pollux. Dumbledore me contratou por um ano, e eu fiquei até o fim do contrato.

.- O que aconteceu com o tio Bastian? – a garota de cabelos loiros e olhos acinzentados, um pouco mais velha que a outra menina, perguntou.

.- Ceinwyn o levou para Avalon, mas acho que o veremos em breve, Aileen.

.- E foi no hospital que o tio Remo e a tia Regan se conheceram? – uma garotinha de quatro anos e cabelos castanhos, sentada no colo da mulher, perguntou.

.- Bem, eles já se conheciam em Hogwarts, Deneb, mas se reencontraram no St. Mungus, e três anos depois, se casaram.

.- O tio Harry morou aqui? – Castor perguntou, enquanto Deneb bocejava.

.- Ele morou antes de se tornar um auror, junto com o tio Rony, mas depois que ele se formou, se casou com a tia Luna e foram morar em Godric's Hollow. Mas agora chega, Deneb está quase dormindo, a hora de dormir já passou há muito, e o pai de vocês está parado há meia hora.

A menção do pai fez com que as quatro crianças esquecessem de reclamar por estarem indo dormir. Elas correram para o pai, e ele levou as crianças para o quarto. Minutos depois, ele voltou para a sala e encontrou a esposa em pé, esperando por ele.

Os olhos de Elinor não podiam ver, mas ainda possuíam o mesmo brilho, e para Sirius, doze anos não pareciam ter nenhum efeito no rosto dela. Ele a beijou, e os dois foram juntos até o quarto que dividiam.

.- Estava contando a nossa história?

.- Somente as partes que eles podem saber – ela disse em tom divertido, o rosto voltado para o marido, em sua mente, vendo as feições cansadas e o cabelo que começava a ficar branco, mas o que lhe chamava a atenção era a felicidade no olhar dele.

.- O que você quis dizer sobre "logo veremos o tio Bastian?"

Ela ficou séria, e falou.

.- Eu vou precisar ir para Avalon, mas não se preocupe, eu vou voltar.

Elinor não quis falar sobre Aileen. Desde que estava grávida, sentia que a filha estava destinada a ser uma sacerdotisa, mas não queria separar Sirius da filha.

.- É bom você levar Aileen – ele disse, surpreendendo a esposa.

.- Sirius, se você não quiser...

.- Avalon é o lugar dela – ele disse em tom decidido, tentando convencer Elinor e a si mesmo também.

.- Não vai ser agora. Ainda temos tempo – a mulher disse, tentando consolar o marido.

.- Então não vamos desperdiçar esse tempo pensando em quando Aileen vai embora.

.- Ela nunca vai nos deixar realmente, Sirius – ela disse, emocionada, abraçada ao marido, e os dois ficaram alguns minutos em silêncio antes dela continuar. – Você se arrepende de ter ficado comigo?

.- Nunca. E não quero que Aileen se arrependa. Vamos deixar ela ir para onde será feliz.

Sirius beijou Elinor na testa, e em seguida, nos lábios. Os dois pensavam nas mudanças que aconteceriam em breve, mas não lamentavam. Estavam tomando a decisão certa em deixar a filha seguir o caminho dela, como eles fizeram.

FIM


A VEZ DA AUTORA

Ahm? Acabou? De verdade?

Acabou. Esse é o fim. Não vai haver uma terceira parte. Se surgir a idéia, uma short ou songfic, mas nada mais do que isso. É mesmo o fim. Eu sei que é um final em aberto, mas achei que seria melhor assim. Não é realmente um final feliz, mas eu quis mostrar o que aconteceu depois deles ficarem juntos. Não é só porque Sirius e Elinor ficaram juntos que os problemas acabaram. Sobre a Elinor ficar cega, eu decidi assim porque eles estavam em uma guerra, e uma guerra atinge as pessoas de diversas maneiras, emocionalmente e fisicamente. Além disso, eu nunca vi nenhum personagem deficiente nos livros, e achei interessante colocar isso. Quem leu 'Em Meio à Escuridão' sabe que eu criei um personagem deficiente físico, e foi por essa razão. E para quem leu 'Whole Again – Epilogue', vai notar certas semelhanças que não estão aí por mera coincidência. É uma espécie de homenagem, e como eu queria que os leitores soubessem o destino de alguns personagens, decidi que no final, os leitores descobririam que a Elinor estava contando a história para os filhos – uma versão editada, claro :p.

Sobre essa fic, 'Atrás das Sombras', mesmo sem estar com meu pc e tendo que escrever num caderno e digitar no laboratório de informática ou na casa de amigos, foi ótimo escrever (aliás, agradeçam à Hiáskara por lerem esse capítulo hoje, e não na semana que vem, ela cedeu o computador pra eu digitar – e de jeito nenhum ela queria ler, cof, cof)! Foi bem mais fácil que a primeira parte. Quando eu tiver com meu computador, prometo revisar e corrigir os erros de concordância, mandar betar (Ameria, você está contratada!), e reposto as duas fics.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a todos os meus leitores pacientes. A todos que me encheram o saco para eu continuar com 'No Meio de Algum Lugar' quando eu tive um bloqueio e parei de escrever, os que pediram que eu fizesse a segunda parte... Agradeço também aos que leram, tendo colocado review ou não. Só quero deixar bem claro que eu gosto mais do que revisaram! Brincadeira, brincadeira. Acho que já é muito bom alguém ler a minha fic! Isso é o que importa, no fim das contas :)