Japão, 1880.

Casamento para mim era como uma sentença à prisão perpétua. Tinha aversão a este compromisso, talvez porque desde que eu nasci vivia em função do dia em que desposaria alguém. Meu pai era um grande político e amigo pessoal do imperador de nosso país. Por isso sempre tive uma vida privilegiada e confortável. Até certo ponto, era mais livre que outras damas, porém todas nós éramos prisioneiras de nossos espartilhos europeus e de nossa sociedade. Protelava o dia de meu enlace com um "bom rapaz" como quem protelava o dia de sua sentença ao cárcere perpétuo. Foi quando eu o conheci... e descobri que casamento não era uma prisão sem muros, mas sim, uma mutilação sem piedade. Ele não me tirou a liberdade, pelo contrário, ele me daria ela, mas o preço foi o meu coração.

Pétalas de Fogo

Por Kath Klein

Capítulo I

Sakura olhava o imenso oceano a sua frente. Era belíssimo, pensava para si. Toda a sua vida havia desejado poder explorar aquela imensidão azul. Seu desejo mais íntimo era poder navegar por todos os sete mares. Conhecer os monstros mitológicos e descobrir finalmente se a terra era plana ou não.

'Particularmente acho que ela não tem fim... ou deve ser um círculo fechado...' Pensou em voz alta colocando delicadamente um dedinho no queixo.

'Em que está pensando?' Alguém disse ao seu lado. 'O que não teria fim, senhorita Kinomoto?'

Sakura assustou-se com a intromissão masculina em seus pensamentos. Estava tão distante em seus devaneios que não havia percebido a aproximação do homem. Virou-se para ele e lhe abriu um encantador sorriso. 'Em nada Capitão Tsukishiro, em nada especial.' Respondeu antes de voltar-se novamente para o mar.

'Gosta muito do mar, não?'

Ela confirmou com um leve gesto com a cabeça. 'Acho magnífico, capitão.'

'É estranho uma mulher tão fina e delicada, como a senhorita, gostar tanto assim de navegação. A maioria prefere a terra firme aos balanços e sacolejos de uma embarcação.'

'Talvez meu pai tenha razão.' Ela respondeu afastando-se da proa e caminhando pelo convés. 'Talvez eu não seja uma senhorita dentro dos moldes da sociedade.' Falou em tom divertido, antes de afastar-se completamente do capitão que a observava.

Sakura riu intimamente. Era tão óbvio quando os homens mostravam-se interessados. Não daria dois meses até o capitão Tsukishiro Yukito pedir sua mão em casamento para o seu pai. Olhou rapidamente para trás e acenou timidamente para o capitão que permanecia admirando-a. Não era de todo feio, muito pelo contrário. Era alto e tinha um ar intelectual que chegava a ser envolvente. Provavelmente ele já possuía muitas amantes. Voltou-se novamente para frente caminhando enquanto mantinha um sorriso maroto nos lábios. Mas tinha que admitir que ele não fazia o seu tipo, era por demais "educadinho" e certinho. Deveria começar a pensar em uma maneira diplomática para dar-lhe um fora sem comprometer a relação do capitão com seu pai.

Seu futuro não estava em um casamento, ela fitou o céu límpido e sorriu observando as gaivotas livres. Por alguns segundos sentiu inveja daquelas aves, elas eram livres para voar para onde quisessem enquanto ela estaria eternamente presa aos moldes daquela sociedade. Estava cercada de paredes invisíveis e abismos intransponíveis. Balançou a cabeça de leve tentando não pensar em coisas tristes, ficar se lamentando de sua boa sorte era até mesmo considerado pecado.

Entrou na cabine principal da embarcação onde o pai e alguns oficiais estavam conversando. 'Bom dia!' Cumprimentou alegremente dando um estalado beijo no rosto do pai.

'Bom dia, minha princesa. Assim que acordei a vi já na proa observando o mar.' Fujitaka comentou com um sorriso. 'Aposto como estava tentando ver o porto de Tomoeda, não?'

Sakura criticaria falando que não era burra e sabia que o porto ainda estava a pelo menos umas boas milhas de distância e assim sendo, impossível de se ver, a única terra que passavam eram pequenas ilhas virgens, mas achou melhor ficar quieta. Por algum motivo seu pai cismava em tratá-la com uma senhorita convencional, mesmo sabendo que na filha, não havia nada de convencional em suas atitudes.

Desde pequena, Sakura sempre teve o espírito livre demais para uma mulher, talvez até mesmo para um rapaz. Interessava-se mais por esgrima e lutas do que por bonecas e mimos. Vestia-se como uma dama elegantíssima, mas em seu íntimo detestava aquele maldito espartilho. A influência da cultura inglesa era cada vez maior no Japão e isso fazia com que aqueles hábitos no mínimo torturantes para as mulheres, fossem considerados moderníssimos.

'O que está achando da viagem, senhorita?' O capitão da embarcação imperial perguntou.

'Encantadora, senhor. Meu pai tem conhecimento do meu fascínio pelo mar e seus perigos.'

'Seus perigos...' Repetiu pensativo. 'O mar não é perigoso, cara senhorita, os homens do mar é que são perigosos.'

'O senhor diz sobre os piratas?' Ela perguntou com um brilho estranho nos olhos. Já ouvira muito a respeito deles. Não confessaria na frente do pai e daqueles homens, mas seu desejo mais íntimo era justamente encontrar com um pirata. Seriam eles tão maus e cruéis como os descreviam? Haveria realmente maldições sobre eles? Algumas das histórias sobrenaturais que já ouvira, teriam algum fundamento?

'Por favor, senhores, não vamos assustar minha filha.' Fujitaka falou pousando suas mãos sobre os ombros da jovem. 'Piratas são seres desprezíveis e não devemos perder tempo falando deles.'

Para infelicidade da jovem senhorita os homens mudaram de assunto. Falavam agora sobre política e a posse do novo governador do condado de Tomoeda, que ficava no litoral Norte japonês. Seu pai ia justamente para a posse dele. O senhor Hiraguizawa governaria aquele pedaço de terra e a vida das pessoas sobre a bênção do imperador. Como Kinomoto Fujitaka era um nobre e conselheiro do soberano no país, havia sido convocado para representá-lo na cerimônia.

Sakura detestava estas cerimônias sociais. Sempre ao final delas sentia-se cansada e com as bochechas doloridas de tanto que distribuía sorrisos. Fazia pelo pai, unicamente por ele, mas sua vontade era de sair correndo daquele lugar onde a falsidade reinava.

'A cerimônia será muito simples, mas o senhor Hiraguizawa faz questão de comemorar sua ascensão a este posto tão importante. Ele é uma pessoa muito nobre e apesar da pouca idade já mostrou que é muito competente para o cargo que o imperador confiou a ele.' Falava Fujitaka aos senhores que o acompanham.

Sakura sentou num canto e pegou um livro qualquer que havia trazido para ler. Aquelas conversas a entediavam.

'É uma pena que o senhor Hiraguizawa já seja casado. Tenho certeza que vossa filha seria uma excelente esposa para um jovem tão audacioso como ele.' Um dos senhores comentou e virou-se para Sakura sorrindo.

A jovem franziu a testa ao ouvir seu nome e fitou o grupo. Sorriu de volta de forma irônica e até mesmo irritada. Detestava aquela palavra: Casamento. Voltou seus olhos para o livro tentando não prestar atenção naquela conversa tão desagradável.

Fujitaka observou a filha sentada um pouco afastada. Ela era a única passageira mulher no rico navio que os transportava. O capitão Tsukishiro fora escolhido unicamente para lhe acompanhar e proteger. Lembrou-se divertidamente quando comunicou a filha sobre a viagem e sobre sua reação ao saber que teria uma "babá" para lhe cuidar durante o tempo que ficariam fora. Sakura tinha a língua ferina demais para uma mulher da alta sociedade japonesa. Já havia rumores sobre sua aversão ao enlace a uma boa família. O homem soltou um longo suspiro desanimado, ele sabia que logo deveria forçar sua bela jóia a um casamento, esperava apenas fazer a escolha certa para ter como seu genro.

Sakura o fitou de repente como se soubesse que o pai a observava, lhe deu um sincero sorriso, tão belo quanto de sua amada Nadeshico. Quanto mais ela crescia, mas se parecia com sua finada mãe e mais bela ficava. No fundo, gostaria que o dia que tivesse que entregá-la em casamento nunca chegasse.

Sakura estava deitada numa das cabines reservadas aos nobres. Alguma coisa não a deixava dormir e não era o balanço do mar agitado daquela noite. Talvez fosse a gritaria que os homens faziam no convés.

'Diabos! Porque precisam ser tão barulhentos.' Resmungou tampando a cabeça com o travesseiro para tentar dormir. As paredes eram como feitas de tecido, e não madeira. Por fim desistiu depois de rolar de um lado para o outro na cama. Levantou-se sentando na beirada e acendendo uma vela para tentar ler. Se não conseguia dormir, pelo menos utilizaria aquele tempo para algo mais proveitoso.

Caminhou devagar pelo quarto observando que a embarcação balançava mais do que o normal. Alguma coisa estava no ar, ela só não sabia o que era. Foi até a estante onde havia alguns livros e pegou um de ciências. Todos eram da coleção de seu falecido irmão. Sentiu um nó na garganta ao lembrar-se do irmão mais velho. Fechou os olhos e podia o ouvir gritando ainda menino que ela era uma monstrenga.

Logo sentiu uma lágrima quente fugir de seus olhos, mas ela a secou embaraçada. Não era de chorar, na verdade detestava mulheres que usavam as lágrimas para ganhar a piedade dos outros. Soltou um longo suspiro tentando relaxar, ao mesmo tempo em que caminhava de volta para cama para assim iniciar uma agradável leitura.

Os gritos começaram a ficar mais altos assustando um pouco a garota. O que estaria realmente acontecendo? Foi esta pergunta se formar em sua mente e sentiu um forte solavanco resultando em sua queda no chão. A vela rolou pelo piso apagando-se por completo. De joelhos, tentou entender o que os homens tanto gritavam foi quando sentiu seu coração saltar pela boca.

'Piratas!!!' Um grito masculino forte respondeu todas as suas dúvidas.

'Meu Deus...' Ela falou arregalando os olhos e levantando-se correndo até a janela do quarto. Sentiu seu queixo cair ao observar uma enorme embarcação perto do barco imperial iluminada pelos relâmpagos que cortavam o céu.

Depressa ela caminhou até a porta do quarto a abrindo com força e observando o corredor estreito de madeira vazio. Os lampiões balançavam de um lado para o outro fazendo com que a sombra de seu corpo movimentasse numa dança alucinada.

'Papai!' Ela gritou chamando-o com desespero na voz. Uma gota de suor escorreu de sua testa mostrando claramente seu nervosismo perante o perigo. O silêncio como resposta apenas fez com que seu coração fisgasse provocando uma dor surreal no peito. Com uma das mãos encostada à parede caminhou até os aposentos do pai e o encontrou vazio.

'Onde o senhor está, papai? Onde? Onde?' Perguntou para si mesma. Ouviu quando a porta que separava o lado de fora e os aposentos dos nobres ser arrombada. Virou o rosto observando o homem de porte físico grande e malcheiroso descer as escadas olhando fixamente para ela. Seu sangue gelou. Correu para dentro do quarto do pai procurando um lugar para se esconder. Entrou no armário, o fechando em seguida e tentando ficar quieta, se fosse possível nem respiraria.

'Onde você está belezinha?' A voz grossa do pirata a fez sentir todo o corpo tremer. Ele sabia que ela estava ali e não tinha como tentar fugir.

'Aposto como o meu docinho está debaixo da cama.' Ela ouviu os passos pesados do pirata indo em direção ao móvel. 'Ah errei. Mas não tem problema, docinho, assim que eu a encontrar a colocarei em cima desta macia cama.'

Sakura fez uma cara de nojo só em pensar naquele homem a tocando. Sua atenção voltou-se para os passos do pirata que estavam cada vez mais perto. O próximo possível esconderijo só poderia ser o armário de roupas. Fechou os olhos recitando um mantra de proteção e assim que parou de ouvir o barulho de passos indicando que o pirata estava em frente ao armário abriu a porta com toda força acertando em cheio o homem. Pulou para fora do armário enquanto ouvia as pragas que o pirata rogava para ela, correu até o corredor sem nem ao menos virar-se para ver o rosto do sujeito, foi quando bateu contra outra pessoa malcheirosa. Não conseguiu evitar um grito de pavor ao sentiu as grandes mãos do estranho segurando com força seus braços.

'Onde pensa que vai, boneca?'

'Solte-me, eu lhe ordeno!!!' Gritou com a voz enérgica enquanto tentava se livrar do forte aperto. Ele a arrastou de volta para o quarto enquanto o primeiro aproximava-se com uma mão no nariz que sangrava sem parar.

'Esta vadia quebrou o meu nariz!' Reclamou irado.

'Oras, a bonequinha tem fibra. Eu serei o primeiro então.' O homem falou jogando a jovem com força em cima da cama. Sakura tentou fugir novamente, mas lutar contra dois homens desarmada era algo impossível. Sentiu quando um segurou seu braço e outro tentava levantar sua camisola. Esperneou tentando impedi-los de fazer o que tinham em mente.

Ela mordeu a mão do que a segurava e chutou com força o rosto do outro que se afastou resmungando, finalmente conseguiu desvencilhar-se dos homens e rolou para o lado caindo da cama. Sentiu o joelho bater com força no chão, mas não ligou. Sua mão tocou num objeto o qual não conseguiu identificar, mas constatou que era bem pesado. Seria sua arma. Quando sentiu ser puxada pelos cabelos por um dos dois, não pensou duas vezes, afastou-se do homem provavelmente lhe custando um tufo de cabelos e virou-se golpeando com força o objeto na cabeça dele. O homem tombou para trás desacordado

Sakura virou-se para o lado onde o barulho do outro pirata a fez lembrar de que não tinha acabado ainda. Porém encontrou o homem mais surpreso do que ela fitando o companheiro desacordado no chão. Talvez ele não acreditasse que aquela menina tinha feito aquilo a um homem com pelo menos cinco vezes o seu tamanho.

Aproveitando o momento de distração do segundo malfeitor, correu até a porta alcançando o corredor, entretanto sua sorte não permitiu que alcançasse a escada que a levaria para a proa. O pirata a alcançou antes disso lhe dando um forte tapa no rosto que a fez cair ao chão com a boca sangrando. Sem saber direito o que estava acontecendo sentiu quando a levantaram com força empurrando seu corpo contra a madeira. Abriu um dos olhos e fitou o rosto feio do pirata.

'Bunai quando acordar vai esquartejar este lindo corpinho. Tenho que aproveitá-lo enquanto ainda está inteiro.'

Seu estômago deu voltas e mais voltas quando o homem lambeu seu rosto, levantou o joelho direito atingindo as partes baixas daquele atrevido que grunhiu de dor, soltando-a. Sem piedade enfiou um dedo no olho do homem que agora não conseguiu evitar um grito de dor, mas finalmente a garota conseguiu livrar-se dos dois bandidos. Deixando o homem para trás ainda gemendo, ela subiu as escadas de madeira alcançando a porta e a abrindo de supetão. Sentiu seu sangue gelar. No convés a jovem viu a enorme batalha que estava sendo travada na embarcação. Por alguns segundos olhou para tudo estarrecida. A chuva forte batia na sua pele e embaçava a sua vista. Barulho de espadas se chocando, homens voando em cordas por todos os lados, gritos, confusão, fumaça, loucura!

Um homem a puxou com força fazendo-a quase cair ao chão, não conseguia manter o equilíbrio com o convés molhado e escorregadio. Aproveitou a oportunidade e empurrou com força o maltrapilho que a soltou e escorregou para longe dela. Olhou para os lados procurando algo que pudesse se proteger, não tinha muito tempo, tinha que aproveitar aquela confusão, encontrar seu pai e o capitão Tsukishiro para que fugissem. Pegou um bastão de madeira pesado e já sujo de sangue e o posicionou a sua frente.

Um homem se aproximou com uma longa espada e a encarou com sarcasmo. 'Olá doçu...'

Sakura o interrompeu lhe dando um forte golpe na mão onde tinha a arma e jogando-a longe. Rapidamente o golpeou no estômago e assim que ele se dobrou ao meio lhe deu um chute no rosto fazendo-o cair. 'Piratas só sabem cumprimentar da mesma forma... Que vocabulário mais pobre!" Falou para si, voltando sua atenção para o conflito. Arregalou os olhos ao ver seu pai duelando com um rapaz alto e forte. 'Pai!' Gritou correndo até eles. Ela desviou de alguns homens, acertando qualquer um que chegasse perto de si. Seu corpo pequeno era bem ágil num combate daqueles e sua raiva e medo eram tantos que fazia seus golpes cada vez mais fortes.

Seu caminho foi impedido por Yukito que parou a sua frente. Fitou-o assustada reparando nos ferimentos que o rapaz tinha pelo corpo. Ele a encarou nos olhos, fazendo-a sentir um nó na garganta. Yukito sorriu para ela de forma sofrida. 'Sakura! Fuja daqui...' Ele a segurou nos ombros. Sakura percebeu que ele estava fraco, pois estava praticamente apoiando todo corpo nela. A jovem largou o bastão que a protegia e tentou segurar o rapaz, mas o peso dele levou os dois ao chão.

'Capitão Tsukishiro! Por favor, agüente firme...' Ela falou observando o ferimento mais sério e tentando estancá-los com as mãos.

Yukito segurou a mão dela com força e a fitou. 'Eu a amo, senhorita Kinomoto. Eu sempre a amei...' Falando isso a cabeça do jovem tombou para trás. Estava morto. Sakura ficou um tempo segurando o corpo do jovem e balançando a cabeça de leve como se quisesse negar aquilo que estava acontecendo em sua vida.

De repente foi puxada pelos cabelos novamente e soltou um grito de susto e dor. Logo sentiu uma lâmina no pescoço cortando de leve sua pele. Abriu os olhos e encarou um homem com poucos dentes na boca sorrindo para ela. 'Desgraçados...' Falou entre os dentes. Com força e sem pensar chutou as partes baixas dele fazendo o homem soltar seus cabelos e afastar a lâmina de sua pele. Antes que ele se recuperasse a jovem deu um soco no rosto dele provavelmente quebrando os poucos dentes que ele tinha na boca.

Olhou para os lados tentando achar o pai novamente e balançando a mão dolorida pelo soco. 'Cara dura...' Sussurrou abaixando-se para pegar a espada de Yukito. Ela havia tido inúmeras aulas de esgrima, saberia se defender com uma boa arma. Avançou pelo convés até chegar onde havia visto pela última vez o pai, olhou para os lados e teve que se defender de mais um pirata que acabou atingindo-a no ombro, mas conseguiu livrar-se dele.

Deu um giro em torno de si tentando desesperadamente achar a figura paterna e distraindo-se a ponto de um dos piratas que pendurado em uma corda veio em sua direção veloz, com a força do impulso ele empurrou-a, fazendo-a cair escorregando pelo convés. Ela bateu na proteção do navio e sentiu a cabeça zunir. Levou uma das mãos à boca e limpou o sangue que escorria no canto direito dos lábios. Levantando os olhos, observou dois piratas caminhando apressados em sua direção. Chorar e se desesperar não ajudaria naquele momento, mesmo sentindo vontade de fazer justamente isso. Levantou apoiando-se no navio e apertando a arma na mão esquerda. Ela era canhota e isso lhe dava uma característica muito peculiar para a esgrima.

Respirou fundo sentindo os pingos fortes de chuva baterem nas costas, o barulho ensurdecedor dos trovões no céu tempestuoso. Franziu a testa observando os homens se aproximarem. Um apressou o passo empunhando a espada, Sakura se defendeu com a sua e deu um passo girando o corpo para o lado e sem demora o chutou no peito fazendo-o cair do navio. Virou o rosto e assustou-se com o outro vindo com raiva em sua direção. Lutou com ele alguns minutos, desviando mais dos golpes fortes, porém desajeitados do homem, do que o atacando. Abaixou o suficiente para que a arma passasse por sua cabeça e lhe deu uma rasteira nas pernas fazendo-o cair de costas. Logo o golpeou no rosto deixando-o sem sentidos.

Olhou para os lados e viu que os homens do exército japonês, estavam perdendo para os mal feitores. Não tinha muito mais tempo, precisava encontrar o pai e fugir o quanto antes. Correu pelo convés até onde ficava o leme principal e ali encontrou Fujitaka duelando com o mesmo rapaz. Sakura franziu a testa. Seu pai era o melhor esgrimista do império, ele que havia lhe ensinado tudo sobre a arte da esgrima, e ainda instruía vários militares. O tal rapaz era um inimigo perigoso, já que estava conseguindo não só acompanhar o senhor como também se mostrava em ligeira vantagem.

Subiu as escadas correndo, tropeçando por causa do vestido molhado e rasgado, caiu no chão sentindo dores no corpo, conseguiu levantar-se o mais rápido que pode, segurando forte o corrimão, subiu a curta escada. Ficou em estado de choque ao ver o rapaz rodando o punho e fazendo a sua arma girar junto com a do pai e assim desarmando Fujitaka.

'O senhor foi um ótimo duelista.' O rapaz falou de maneira sarcástica pousando a arma no pescoço do homem.

'Acabe logo com isso, rapaz.' Fujitaka falou entre os dentes, com o corpo erguido. Se fosse morrer, morreria de forma digna.

'Vocês, nobres, são todos iguais. Idiotas, porcos e ainda metidos a ter dignidade.' O rapaz sussurrou com o olhar duro e fixo em sua vitima.

Sakura aproximou-se devagar e aproveitando a distração do rapaz, correu para golpeá-lo, mas ele conseguiu defender-se no último segundo com sua arma. Os dois se encararam raivosos.

'Mulher estúpida!' Ele falou.

'Não vai tocar no meu pai, seu lixo!' Ela retrucou parando em frente ao pai.

Fujitaka arregalou os olhos vendo a filha machucada a sua frente. 'Sakura...' Foi a única coisa que conseguiu falar antes de cair sentado exausto pelos ferimentos que tinha no corpo. A jovem virou-se rapidamente para o pai e tencionou ir até ele, mas ouviu a aproximação do inimigo. Morta não poderia ajudar seu pai, precisava acabar com a raça daquele pirata nojento logo.

Ela sentiu o forte impacto da arma dele contra a sua, fazendo suas mãos tremerem e mal agüentando permanecer com a espada. Recuou um passo tentando defender-se dos sucessivos golpes que ele lhe acertava, mas por alguns segundos ela percebeu que ele não estava lutando para valer, ele estava divertindo-se com ela. Sentiu o sangue ferver e já que ele não parecia disposto a matá-la rapidamente começou a atacá-lo despreocupando-se com a defesa.

Duelaram por pouco tempo até o rapaz a desarmar como fez com seu pai. Divertindo-se novamente pousou a arma no peito da jovem a fitando com um sorriso maldoso. 'Para uma jovem nobre e bonita, a senhorita luta muito bem.'

'Cale-se, atrevido!' Falou com raiva.

Ele apertou a espada mais forte, fincando a ponta da arma na pele alva da jovem.

'Não está em condições de exigir nada, senhorita.' Falou novamente em tom divertido. 'Quem deve se calar é você. Estou pensando se irei matar primeiro vosso pai ou você.'

Sakura tinha os olhos vidrados no rosto debochado daquele atrevido, estava pensando em mil maneiras de acabar com ele quando sentiu o botão da sua camisola abrir. Arregalou os olhos e virou-se para baixo observando a espada daquele petulante cortar o segundo botão. Encarou-o com ódio.

'O tecido apesar de transparente não permite que eu veja com nitidez este belo par de seios.'

Sakura sentiu como se o ar tivesse saído de seus pulmões. Voltou a fitar seu peito onde a camisola clara estava molhada e colada ao corpo ficando transparente o suficiente para que o pirata pudesse admirar seus atributos. Tentou cobrir-se com os braços quando a espada do rapaz comprimiu sua pele, virou-se para ele que fazia um sinal negativo com a mão livre. 'Não vai estragar o meu divertimento, não é senhorita? Não é todo o dia que um homem do mar tem uma diversão tão interessante.' Falou sorrindo de forma lasciva e fazendo o sangue quente da jovem explodir. Ela levantou um braço e empurrou a lâmina da espada sem se importar em cortar a mão e de forma certeira deu um soco no rosto dele fazendo seu nariz sangrar e obrigando-o a dar um passo para trás.

Os dois novamente se encararam com fúria. Fujitaka observou a tudo tentando levantar-se do chão onde estava com uma das mãos no enorme ferimento que havia no seu abdômen. Ele podia jurar que chamas saíam dos olhos dos dois jovens que se fitavam ofegantes.

'Mulher estúpida!' O pirata gritou largando a arma, e dando um tapa na cara da garota que caiu no chão. Ela não se deu por vencida, e chutou com força as pernas dele fazendo-o cair sentado. Logo os dois estavam se atracando no chão. Ela tentando arranhá-lo e ele tentando conter a verdadeira fera que havia encontrado. Não podia negar, em toda a sua vida, nunca havia visto mulher tão geniosa e corajosa como aquela garota de olhos verdes. Já ouvira histórias quando era criança de que o diabo tinha olhos incrivelmente belos e verdes. Será que estava à frente de um demônio em forma de mulher? Se fosse isso, com certeza ele tinha escolhido a forma de um anjo para vir à terra.

Ele sentou em cima das pernas dela prendendo seus punhos com força. 'É muito geniosa, garota!'

'Solte-me, pirata!' Ela gritou não se dando por vencida.

O rapaz pegou uma corda qualquer que havia por perto e amarrou as mãos da garota para trás. Assim presa, a levantou com força pelo braço. 'Não vai ter graça matá-la agora.' Falou, arrastando a jovem consigo.

Ela virou-se para o pai que havia perdido os sentidos e tombado para o lado. 'Papai!' Gritou tentando livrar-se daquele homem e correr até o senhor, poéem o pirata a puxou com mais força fazendo-a acompanhar seus passos.

O conflito havia terminado. Alguns poucos soldados vivos e feridos estavam no convés cercados por alguns piratas.

'Por favor, não nos mate!' Um gordo falou ajoelhado à frente de um pirata. O homem riu com gosto e chutou o gordo que recuou para trás tremendo de medo.

'Capitão!' Um jovem aproximou-se do homem que prendia Sakura. 'Todos já se renderam. O navio é nosso!' Falou com entusiasmo.

'Sim, meu amigo. Um dos melhores navios da marinha japonesa agora é nosso.' O homem falou sorrindo. Sakura respirava ofegante, começava a sentir os ferimentos ardendo na pele enquanto que o desespero e o frio faziam seu corpo tremer sem parar.

'O que faremos capitão?'

Ele ficou um pouco em silêncio. 'Ancore os dois navios. Vamos descansar desta batalha. Prenda os sobreviventes num dos compartimentos do sótão e mande os feridos se cuidarem. Amanhã pela manhã e quando a chuva passar decidiremos o destino deles e recolheremos o que tiver de valor nesta porcaria.'

'Sim, capitão.'

O rapaz desceu os olhos fitando a jovem que estava presa ao lado do capitão, ergueu as sobrancelhas não podendo disfarçar a sua surpresa por ver uma jovem tão bela em trajes comprometedores. Sakura virou o rosto sentido a face esquentar de vergonha. Nunca havia sido tão humilhada na vida.

'Dê-me sua capa, Yamazaki.' Ordenou e foi obedecido rapidamente. Ele colocou a capa nos ombros da jovem cobrindo seu corpo. 'Não deveria fazer isso por você. Seria um ótimo divertimento para os meus homens.' Ele falou encarando a garota que virou-se devagar o fitando intensamente. Realmente ele estava à frente de um demônio. Aquilo não podia ser uma mulher.

Sakura não falou nada, estava com tanta raiva que sua vontade era de pular no pescoço daquele homem e o sufocar. Adoraria observar a vida dele esvair-se aos poucos pelas suas mãos.

O homem virou-se novamente para seu subordinado. 'Veja se tem mais alguma mulher na embarcação.' Falou com a voz enérgica.

'Sim, senhor.' Yamazaki respondeu afastando-se de seu superior.

'Porco...' Sakura soltou entre os dentes.

Ele a puxou em direção a outra embarcação. Passaram pelos homens que mexeram com Sakura, mas era apenas o capitão lhes dar um olhar sério para que se afastassem com medo.

'Para onde está me levando?' A voz dela era de urgência e medo. 'Por que não me mata de uma vez?!'

Ele sorriu de lado continuando a puxá-la em direção ao outro navio. 'Acho que podemos ainda nos divertir um pouco, senhorita. Depois eu a matarei. Não é qualquer uma que consegue despertar o meu interesse.'

'Eu juro que se tocar em mim, eu o mato.' Ela ameaçou. 'Dolorosamente.' Completou lentamente com os dentes trincados de raiva.

O homem soltou uma gargalhada. 'Não vai ser uma menina estúpida que irá matar a mim. O capitão Li Syaoran.'

Continua...

N/A:

Olá Pessoal, vocês devem estar se perguntando: Mas a Kath endoidou?! Como é que esta guria me posta um fic novo sendo que está com quatro fics atrasados e sem atualizações por semana?!!! Bem, na verdade nem eu sei, esta história já estava parada há muito tempo e neste final de semana tive uma inspiração do Além. Vou tentar atualizar minhas outras histórias o quanto antes. Por favor, tenham um pouco de paciência, só mais um pouco.

Bem, vamos à história...

Primeiramente vou avisando que estou com tendência a mudar um pouco a personalidade dos personagens, isso aconteceu desde Luzes e pelo jeito acabou influenciando esta história tb. Provavelmente receberei muitos e-mails ameaçadores, mas tudo bem, eu agüento... eu acho...

Como todos sabem gosto de colocar o Syaoran sempre com a personalidade duvidosa nos meus fics épicos, vide Flor da China. Porém este Syaoran aqui de Pétalas de Fogo é um pouco mais denso do que apenas um general genioso e machista. Posso dizer que nunca havia complicado tanto a vida do Li como neste fic, ou melhor, acho que já compliquei muito a vida dele em Feiticeiros hehehe mas aqui é diferente, ele não vai se transformar num demônio, isto eu garanto a vocês hehehe Mas realmente não sei se aqui neste fic ele poderá ser considerado um herói, pelo primeiro capítulo vocês podem perceber que ele de herói não tem nada e não vai ter, na verdade nenhum personagem principal terá comportamento heróico ou coisa assim. Inspirei-me em muitos filmes e livros onde contam sobre o poder, a luxúria, a crueldade e a falsidade que reinava nas cortes e a sociedade aristocrática européia e usarei esta inspiração para compor esta história.

E como sempre diz a Rô, tenho tendência a fazer os primeiros encontros de Sakura e Syaoran um tanto conturbados hehehe Mas sempre fui da filosofia de que o amor e o ódio são duas faces de uma mesma moeda, por isso gosto de brincar com estes sentimentos. O que o Pirata fará com Sakura? Bem isso só na próxima semana hehehe

Como sempre, quero mandar um super beijo para minha super revisora Rô e a Dai e Yoru que me deram dicas para este fic.

Sugestões e críticas como sempre, são muito bem vindas.

Até semana que vem.

Beijos

Kath