Capítulo XXIX – Caminhos sem volta
Draco observava os membros da Ordem discutirem calorosamente a melhor maneira de executar o plano que todos concordaram ser o melhor. Após contá-los a história que Pansy havia lhe contado, omitindo conscientemente os detalhes sobre Gina, os membros mais velhos chegaram a um consenso sobre o lugar onde Voldemort e seus comensais estavam escondidos.
"Nós não podemos entrar em grupos."
"Você sugere que cada um escolha um lugar e entre sozinho?"
"Existem milhares de entradas."
"Armadilhas, não temos como saber quais dessas entradas-"
Harry, Rony, Hermione, Luna, Draco e Blaise observavam os mais velhos discutirem suas estratégias enquanto ponderavam sobre o que poderiam acrescentar para ajudá-los, mas ninguém pareceu chegar a uma informação realmente útil. Diante de sua aparente impotência, Draco irritou-se e abandonou o salão.
Ao ar livre, o loiro deixou escapar um longo e frustrado suspiro. Ele percebeu que outros vinham juntar-se a ele.
"Paciência, Malfoy. Eles vão encontrar uma solução."
"Como, Blaise? Ninguém sabe por onde começar."
"Agora nós sabemos onde fica esse castelo. Eu digo que nós temos que preparar o que precisamos e ir pra lá imediatamente."
"Não seja idiota, Rony! Isso é uma atitude suicida!"
"Eu não estou sendo idiota, Hermione, mas a minha irmã está nesse lugar agora e sabe-se lá o que estão fazendo com ela!"
"Ela está a salvo," Blaise disse, sem pensar. Draco lançou-lhe um olhar de desaprovação, mas Blaise não se intimidou. "Não se preocupe, Weasley."
"Como é que você sabe, Zabini?"
"Pansy nos disse. Ela garantiu que o Voldemort não deixa que ninguém se aproxime dela."
"Isso não impede que ELE se aproxime dela!"
"Duvido que ele esteja com a sua irmã agora. Por enquanto, o maior interesse dele é mantê-la lá, enquanto executa quaisquer que sejam os planos que ele tem. Ele deve lidar com a Weasley depois."
"O que você quer dizer com lidar?"
"Não importa. Essa hora não vai chegar porque nós vamos salvá-la antes."
Rony, que até então hostilizava Blaise, pareceu acalmar-se.
"Eu ainda não confio em você, Zabini."
"Nunca pedi que confiasse," Blaise respondeu com desdém.
Rony bufou e voltou para dentro da casa com Hermione acompanhando-o.
"Isso tudo é... um pesadelo."
"Concordo," disse Harry, que acabara de aparecer junto com Luna.
"Eu não sei o que fazer. Ninguém sabe o que fazer," Draco caminhava de um lado para o outro, uma expressão de desespero se formando em seu rosto. "E quanto mais tempo nós passamos aqui discutindo estratégias e planos, mais tempo a Gina fica a mercê dele..."
"Não pense nisso, Draco, a Pansy nos garantiu que ele mantém os Comensais longe da Gina."
"Mas o Weasley tem razão, Blaise. E ele? Quem o mantém longe dela?"
Um silêncio mortal se abateu sobre o grupo.
"Eu acho que nós não devíamos mais esperar," disse Luna, com uma expressão quase serena que destoava dos demais.
"Como assim?"
"Nós sabemos onde fica o castelo. Podemos ir pra lá e salvar a Gina."
"Você parece estar esquecendo um detalhe crucial, Lovegood," disse Blaise, impaciente. "O lugar é infestado por Comensais e a Weasley deve estar rodeada por todo tipo de magia negra pra garantir que ela não fuja de lá."
"Eu nunca disse que seria fácil."
Blaise revirou os olhos, visivelmente irritado com a indiferença de Luna diante dos problemas que sua idéia inviável representavam.
"Ela está certa."
"Ah, eu sabia que você ia concordar com isso, Potter. Missões suicidas fazem bem o seu estilo."
"Ninguém está te forçando a vir conosco, Blaise."
"Espera aí, quer dizer então que você já decidiu? Vocês vão partir sem a ajuda da Ordem, sem a ajuda de bruxos mais experientes e infinitamente mais competentes que vocês?"
"Desde quando experiência é tão importante pra você, Blaise?"
"Desde o momento em que eu sou obrigado a arriscar minha vida numa missão," Blaise retrucou ainda mais impaciente. "Sem ofensas, Potter, mas se eu for pego num fogo cruzado, prefiro alguém como o Lupin pra me ajudar, não um aluno que entende tanto de magia quanto eu."
"Porque você se subestima tanto?" Luna questionou, franzindo o cenho e encarando Blaise com atenção.
"Do que você está falando, Lovegood?"
"Você age como se fosse um aluno do primeiro ano que não entende nada de magia. Você é bom, Blaise. Nós todos somos."
"Ok, mas bom não adianta muita coisa quando você tem que lidar com Comensais da Morte."
"Nós não precisamos de um exército pra salvar a Gina. Só precisamos tomar as precauções certas."
Blaise bufou, incrédulo. "Você é realmente uma lunática, garota."
"Cuidado com as palavras, Zabini," Harry interveio irritado.
"Vamos juntar tudo que precisamos," Draco manifestou-se após observar a discussão em silêncio. "Podemos ir assim que anoitecer."
"Draco, você ficou-"
"Está decidido, Blaise. Se você não quer ir conosco, pode sair."
Blaise bufou novamente, sua frustração visível e saiu.
"Você tem certeza, Malfoy?"
"Absoluta. Existe um porém."
"Qual?"
"Weasley e Granger, eles não podem ir conosco."
"Eu não posso fazer isso e não contar a eles."
"Você pode e vai. Se você disser pra Granger, ela vai tentar te convencer do contrário ou pior, dizer aos outros membros o que nós pretendemos fazer."
"E o Rony?"
"Você acha mesmo que ele não vai contar pra ela?"
"Tenho certeza. Ele vai entender o motivo."
Draco ponderou. "Tudo bem, mas e quando estivermos lá? Quem me garante que ele não vai surtar? Nós não sabemos o que pode ter acontecido com a irmã dele ainda."
"O mesmo pode ser dito sobre você. A Gina é sua namorada, você pode surtar tanto quanto o Rony."
"Ela não é... olha, eu não vou surtar."
"Ele também não. Rony é um bruxo competente, ele é muito bom com feitiços."
"Desde quando?"
"Você não o conhece, Malfoy. O Rony tem se dedicado bastante e a Hermione tem ajudado-o."
"Eu acho que nós devemos contar pra ela," disse Luna, que até então parecia indiferente ao debate entre os dois garotos.
"É arriscado, Luna, a Hermione vai achar uma péssima ideia."
"É uma péssima ideia."
"A ideia foi sua!" Draco a encarou surpreso.
"E é uma péssima ideia. Mas pode dar certo."
"Reconfortante."
"Você teria decidido isso com ou sem a minha ideia, Malfoy."
Draco a observou em silêncio.
"Ninguém pode dizer se as boas ideias que eles estão discutindo lá dentro vão dar certo. E ninguém pode dizer que essa má ideia vá dar errado simplesmente por ser uma má ideia."
Harry e Draco trocaram olhares de concordância.
"Mas se nós vamos fazer isso, todos têm que estar juntos. Você, Harry, eu, Rony e Hermione. E o Blaise, se o humor dele melhorar."
Os garotos sorriram involuntariamente diante do comentário sobre Blaise.
"Vocês concordam ou não?"
Ambos menearam positivamente a cabeça.
"Ótimo, vou contar ao Rony e a Hermione então," Luna fez menção de sair, mas Harry a deteve.
"Luna, você pode vir aqui um minuto?"
Draco observou os dois se afastarem para um lugar mais reservado, porém próximo o suficiente para que ele pudesse ouvi-los.
"Você tem certeza de que quer ir?"
"Claro que sim, Harry."
"É muito perigoso."
"Eu sei. Todos nós sabemos disso."
"Luna, eu... eu tenho medo."
"Harry," num movimento delicado, ela pôs a mão no ombro dele. "Nós todos temos medo."
"Não, você não entende. Eu... eu tenho medo de que algo aconteça com você."
Draco percebeu a expressão de Luna mudar e viu que ela encarava Harry num misto de carinho e compreensão.
"Eu sou uma bruxa inteligente, Harry."
"Eu sei! Eu sei disso, Luna, mas... eles são Comensais da Morte, eles usam magia negra. E o Blaise tem razão, nós não somos experientes como os outros membros da Ordem, isso-"
"Harry," Luna interrompeu gentilmente. "Você está dizendo isso pra nós desistirmos de ir ou está dizendo pra que eu desista de ir?"
Draco tentou disfarçar que estava observando os dois, mas seu olhar e o de Harry quase se cruzaram quando ele desviou os olhos dos de Luna.
"Luna, eu... Eu não quero te perder."
Draco observou a garota acariciando lentamente o rosto de Harry. Sem avisos, caminhou na direção oposta, permitindo que eles tivessem a privacidade que precisavam. Ao lançar-lhes um último olhar, Draco os viu abraçados e suspirou tristemente. Ele entendia a preocupação de Harry e concordava com sua atitude. Se Luna era a garota que ele amava, ele tinha razão em ter medo de perdê-la. Draco entendia isso e naquele instante lhe veio novamente a imagem da garota que ele amava. Por um breve momento, ele achou que Harry tinha sorte. Ele ainda podia temer a perda de Luna enquanto Draco sentia que, irremediavelmente, já havia perdido Gina para sempre.
Gina caminhava em círculos pelo quarto, observada por Nagini. Seu corpo estava dormente e seu pensamento completamente alheio ao que pudesse acontecer ao seu redor. Flashes de Voldemort – Tom – diante dela, acariciando-a, possuindo-a apareciam esporadicamente, mas Gina sentia-se fraca demais para sequer reagir.
"Weasley, jantar," disse a voz fria de Bellatrix, surgindo na porta e jogando despreocupadamente uma bandeja em cima da mesa no centro do quarto.
Gina não fez nenhuma menção de que tivesse escutado Bellatrix.
"Weasley, JAN-TAR," ela gritou impacientemente.
"Eu ouvi, Bellatrix."
"Ótimo, então coma."
"E se eu não comer?"
"Não sou sua babá, Weasley, pouco me importa se você morrer de fome."
"Eu quero falar com ele."
Bellatrix riu.
"Estou falando sério, Bellatrix. Chame Voldemort."
O sorriso da mulher imediatamente se transformou numa expressão de ira.
"Você ousa pronunciar o nome dele?" Bellatrix aproximou-se perigosamente.
Foi a vez de Gina rir.
"Acredite, Bellatrix, se tem alguém aqui com intimidade suficiente pra chamá-lo pelo nome, esse alguém sou eu."
Tomada por uma fúria insana, Bellatrix jogou-se em cima de Gina, derrubando-a na cama.
"SUA IMUNDA!" Aos gritos, ela desferiu tapas e socos descontrolados em todas as partes do corpo da garota que conseguia alcançar. "COMO VOCÊ OUSA FALAR ASSIM DELE? SUA TRAIDORA, ADORADORA DE TROUXAS-"
Assustada e cheia de machucados, Gina não percebeu a entrada de dois Comensais. Um deles segurou Bellatrix e por pouco ela não escapou, tamanho seu descontrole.
"Para com isso, sua louca!" Esbravejou Mulciber, segurando-a fortemente enquanto ela se debatia em seus braços.
"VOCÊ NÃO OUVIU O QUE ESSA TRAIDORA IMUNDA-"
"Já chega, Bellatrix!" Manifestou-se o outro comensal, escondido pelas sombras. "Fora daqui, agora."
"Quem você pensa que é pra me dar ordens, Lucio?"
"A menos que você queira que eu vá agora mesmo contar ao Lorde sobre o seu surto, é melhor que saia desse quarto imediatamente," ele enfatizou maneira ameaçadora a última palavra.
Bellatrix se desvencilhou dos braços de Mulciber irritada e saiu do quarto sem dizer mais nada, acompanhada dele.
Gina estava encolhida na cama, soluçando descontroladamente. Dois filetes significativos de sangue escorriam de seu supercílio e boca.
"Tome," Lucio entregou a ela um lenço.
Gina pegou o lenço hesitantemente. Ao pressioná-lo contra o supercílio, deixou escapar um gemido de dor.
"Perdoe Bellatrix, ela não sabe lidar com novos Comensais. Ou com qualquer pessoa, na verdade."
Lucio sentou-se lentamente na cama ao lado de Gina e observou-a por um longo tempo.
"Não estou certo se acredito na sua junção a nós, Virgínia. Você acha que devo acreditar?"
Ela o encarou sem dizer uma palavra. Seu primeiro instinto foi de cuspir na cara dele, gritar que tinha nojo de todos eles, principalmente dele por ter forçado Draco a fazer parte de tudo aquilo. Ao invés disso, ela respirou fundo e respondeu com toda a calma e frieza que conseguiu reunir.
"Você acredita no que quiser, Lúcio."
Ele riu. "Aos poucos eu entendo o que Draco viu em você."
Draco. Gina se deu conta de que não pensava em Draco há muito tempo. Talvez não muito, pois ela provavelmente estava presa há dois, quem sabe três dias, mas a memória dele quase não lhe veio enquanto esteve em cativeiro.
"O quê foi? Sente saudades do meu filho?"
"Seu filho é um fraco," Gina praticamente cuspiu a frase. "Ele deveria ter me salvado e ficou lá, assistindo tudo acontecer."
Lúcio a encarou desafiadoramente. "Salvado? Quer dizer então que você precisa ser salva?"
"Não mais," ela respondeu confiante. "Ele foi estúpido o suficiente de negar a chance de juntar-se ao lado negro. Eu não sou."
Com uma gargalhada, Lúcio se levantou da cama.
"Você espera mesmo que eu acredite que é uma de nós agora, Virginia?"
"Já disse, você acredita no que quiser."
"Você foi criada por uma família adoradora de trouxas, pobretões que acreditam na bondade e na salvação, que abominam artes das trevas."
"Eu estou aqui disposta a servir a Voldemort enquanto o seu querido e bem criado filho deve estar traçando planos imbecis com os membros da Ordem."
A expressão de Lúcio mudou drasticamente e ele encarou Gina num misto de ódio e orgulho ferido.
"Muito bem, Virgínia. Veremos se essa sua arrogância vai continuar quando Draco for assassinado na sua frente."
Por um breve instante, Gina acreditou que Draco estivesse ali, no castelo, mas percebeu que aquilo era provavelmente um mero jogo de palavras de Lúcio.
"Veremos se você despreza tanto assim a traição do meu filho."
"Como você sabe que ele vai ser assassinado na minha frente?" Ela perguntou tentando disfarçar seu temor.
"Tolinha..." Ele caminhou lentamente em direção a porta. "É apenas uma questão de tempo até que Draco apareça aqui tentando inutilmente salvar você."
Gina sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha.
"Não se preocupe, Virgínia," ele disse numa voz sem emoção. "Ele vai falhar de novo."
"Essa é uma péssima ideia!"
"Hermione, nós sabemos."
"Não, não sabem! Vocês ficaram malucos se acham que eu vou compactuar com isso."
"Nós sabíamos que você não ia aceitar logo de cara."
"Logo de cara? Eu não aceito de JEITO ALGUM!"
"Rony, qual sua opinião?"
Rony assustou-se ao ser questionado, mas trocou um olhar de preocupação com Hermione.
"Olha, vocês sabem que eu quero salvar minha irmã, mas essa é uma missão suicida."
"Exatamente, SUICIDA!"
"Ok Granger, já entendemos sua posição," Blaise manifestou-se, aparentemente entediado.
"Eu achei que você não concordasse com isso."
"E eu não concordo. Mas também não precisa de escândalo."
Hermione bufou e sentou-se numa poltrona, como se a discussão tivesse sido encerrada.
"Olha, pessoal, nós não estamos pedindo permissão. Eu só contei pra vocês porque a Luna achou que nós deveríamos ir juntos-"
"Calma aí," Hermione levantou-se decidida. "Quer dizer que você ia fazer isso SEM NOS CONTAR?"
"Quer parar de gritar, garota?"
"Fale direito com ela, Zabini!"
"Se ela parar com essa gritaria desnecessária, Weasley-"
"Ok, vocês dois, sem brigas."
"Essa situação está bem diferente de como eu imaginei que ela seria."
"Sério, Lovegood? Você achava que todo mundo ia concordar com essa sua ideia imbecil de ir atrás da morte num castelo cheio de comensais?"
"Não fale assim com ela, Blaise!"
"Não se mete, Potter, você sabe que-"
"CHEGA!" Draco, que até então tinha se mantido em silêncio, gritou atraindo a atenção de todos.
"Eu sei que isso é loucura, todos nós sabemos. E eu não preciso de você, Granger, nem de ninguém pra me dizer isso."
"Ótimo, porque eu-"
"Mas eu também sei que ficar sentado estudando estratégias de como invadir aquele castelo não nos fez chegar a lugar algum até agora," Draco continuou num só fôlego, indiferente a interrupção de Hermione. "Cada minuto que eu passo aqui é mais um minuto que a Gina está lá, sozinha, sofrendo... e eu não consigo lidar com isso."
"Nós todos queremos salvar a Gina, Draco, mas de que adianta irmos até lá totalmente despreparados? Eles podem te matar sem que você tenha a chance de chegar até lá."
"E é pra isso que os outros estão aqui. Eu sei que, mesmo que eu não consiga, alguém aqui, quem quer que seja, vai conseguir salvar a vida dela."
Todos observavam Draco com atenção.
"Eu não me importo se me acontecer alguma coisa, Hermione. A Gina foi a melhor coisa que me aconteceu desde... desde sempre. Eu não posso mais ficar aqui esperando por uma solução, um plano. Eu preciso fazer algo pra salvar a vida dela e se eu tiver de morrer tentando, que seja." Lançando um último olhar ao grupo perplexo, Draco saiu do quarto.
"Uau. Nunca achei que eu veria o Malfoy assim."
"Nem eu. Ele até te chamou pelo primeiro nome," disse Luna.
"Crianças, o jantar- Blaise, onde estão os outros?"
"Eles foram até o castelo salvar a Gina."
Molly riu. "Ah Blaise, o seu senso de humor é tão estranho. Onde eles estão?"
"Eu não estou brincando."
Molly o encarou demoradamente. Sua expressão ficou tensa.
"ARTHUR! LUPIN! SEVERUS!"
Após aparatarem com sucesso em frente a um casebre a alguns quilômetros de distância do castelo, Draco, Harry, Rony, Hermione e Luna se reuniram para o ajuste final de detalhes.
"Ok, nós vamos nos dividir em um trio e uma dupla, tudo bem?"
Todos confirmaram.
"Luna, eu e-"
"Eu não vou me separar da Hermione."
"Eu ia dizer Draco, Rony."
"Você ia escolher o Malfoy ao invés de mim?"
"Claro que não, mas eu sabia que você não ia querer-"
"Nós não temos tempo pra isso!" Bradou Hermione, nervosa.
"Ok, todos prontos?"
"Ah! Só um minuto," Luna começou a remexer em uma espécie de pochete que carregava embaixo da blusa e retirou pequenos objetos que o grupo não conseguiu reconhecer. Colocou-os na mão e apontando a varinha para cada um deles, a medida que os mesmos retomavam seus tamanhos normais, ela os entregou a cada membro do grupo.
"Isso é..."
"Uma máscara de Comensal. Eu imaginei que estar de preto não fosse fazer muita diferença quando eles vissem nossos rostos e pensei em trazer um disfarce adicional."
"Genial, Lovegood."
Harry, que não conseguia conter um sorriso diante da atitude de Luna, se pronunciou.
"Tudo bem, hora de ir."
"Eu e Hermione vamos primeiro."
"Tem certeza?"
"Absoluta."
"Tudo bem."
Harry, Luna e Draco observaram Rony e Hermione aparatarem diante de seus olhos. Por um breve momento, quando um inesperado trovão iluminou os campos, eles acharam ter visto os dois num ponto ao lado do portão do castelo.
"Nossa vez."
"Vamos dar as mãos, é melhor aparatarmos juntos."
"Certo," disse Harry estendendo uma mão para Luna e outra para Draco. O loiro hesitou. "O que foi?"
Draco observou Harry por um momento. "Harry, eu... se nós nos separarmos, se acontecer alguma coisa comigo... diga a Gina, diga que-"
"Eu direi."
E de mãos dadas, os três aparataram nos campos do castelo.
Gina observava seu corpo no espelho. O vestido preto que Daphne havia lhe entregado a deixava bonita. Era longo, sem mangas, com alças finas e um decote discreto. Seu colo tinha dois grandes hematomas, sua boca estava um pouco inchada e havia um corte limpo em seu supercílio. Resquícios do ataque inesperado de Bellatriz. Daphne disse que ela deveria esconder aquelas marcas, mas Gina negou.
"É, imaginei que você ia querer bancar a vítima na frente do Lorde," foi a resposta da garota.
Num gesto vago, Gina tocou levemente seus machucados. Indiferente ao que acontecia ao ser redor, ela não percebeu a entrada de Lúcio no quarto.
"Bellatriz fez um estrago, não foi?"
Gina não reagiu a presença dele, como sequer notasse que ele estava lá.
"Você não está me ignorando, está, Virginia?"
"Eu não me importo o suficiente com você pra me dar ao trabalho de te ignorar, Lúcio."
Com um movimento brusco, Lúcio a agarrou pelo braço, forçando-a a encara-lo.
"Sua insolente! Nada me impede de continuar o que Bellatriz começou e-"
As palavras dele foram interrompidas por um potente estrondo vindo do andar de baixo, junto com gritos e barulhos de feitiços ricocheteando nas paredes.
"HERMIONE, ABAIXA!"
"Rony!" Gina exclamou ao ouvir a voz do irmão.
"Ora, ora..." Disse Lúcio, soltando Gina e ouvindo atentamente os barulhos que vinham de fora.
"DRACO, CUIDADO!"
Os olhares de Gina e Lúcio se encontraram ao ouvir o nome de Draco.
"O que eu te disse, Weasley? Só uma questão de tempo," Lúcio encarava Gina com um brilho maligno nos olhos. "Chame-o."
"O quê?"
"Grite por ele."
"Não."
"Imperio."
Gina tentou resistir a maldição, mas foi inútil. Lúcio a observava satisfeito, com um sorriso vitorioso.
"Não... Draco... Dra... DRACO! DRACO, ESTOU AQUI!"
"Perfeito. Sente na cama."
Lutando com todas as forças, Gina tentou resistir, mas falhou novamente.
"Agora é só esperar," disse Lúcio, escondendo-se na escuridão.
Em questão de minutos, a porta do quarto foi aberta violentamente, revelando a figura de Draco. Seu cabelo estava desgrenhado e a manga do braço esquerdo de seus trajes estava rasgada, revelando um corte aparentemente profundo em seu braço. Ele portava sua varinha em punho, vasculhando rapidamente o cômodo com os olhos. No minuto em que viu Gina sentada na cama, seu corpo pareceu relaxar completamente. Abaixou a varinha e caminhou em direção a ela. Gina o encarava com uma expressão que ele não conseguiu decifrar.
"Gina..." Ele disse, tocando o rosto dela com cuidado. "Gina... sou eu, Draco."
Ele a observou em silêncio, tentando entender o que a expressão dela significava. Inesperadamente, sentiu seus olhos se encherem de lágrimas.
"Gina, por favor..." Draco sussurrou, aproximando seu rosto do rosto dela. "Por favor, me diga que você lembra de mim... Me diga que ele não te fez nada que... por favor, Gina." E em meio a lágrimas e sussurros, Draco a beijou.
Ele sentiu o corpo de Gina ficar subitamente tenso e relaxar, a ponto de senti-la corresponder seu beijo, mas apenas por breves segundos. Ainda com os lábios colados aos dele, Gina sussurrou "seu pai está aqui."
Antes que Draco pudesse reagir à informação, ele sentiu uma força invisível puxar-lhe pelo pescoço e lança-lo em direção à parede. Logo em seguida, Lúcio surgiu de um canto escuro do cômodo, fazendo-se visível pela luz que vinha do corredor, através da porta aberta.
"Accio varinha," ele ordenou, fazendo com que a varinha de Draco voasse direto para sua mão.
"Seu imundo..."
"Respeito, Draco. Eu ainda sou seu pai."
Draco cuspiu na direção de Lúcio, que riu despreocupadamente.
"Quanta desobediência, filho. Não que eu esperasse o contrário, considerando o trabalho que você enfrentou para vir até aqui salvar essa vagabunda."
"NÃO FALE ASSIM DELA!" Draco se lançou na direção de Lúcio, que o agarrou pelo pescoço e o pressionou contra a parede.
"E porque não, seu moleque tolo? Você acha que essa putinha merece todo esse sacrifício? Ela se vendeu pro Lord no minuto em que chegou aqui!"
"Diferente de você, papai... que nunca se humilhou pela aprovação... do seu querido mestre?" Draco ofegava, o punho de Lúcio cada vez mais apertado ao redor de seu pescoço.
Num movimento brusco, Lúcio socou o estômago de Draco com o punho livre e soltou o garoto logo em seguida, fazendo com que ele caísse no chão, sem ar.
"Inacreditável... meu próprio filho, disposto a desonrar o nome da família dessa forma. E porque? POR QUEM? Por uma qualquer, por uma... Draco, me escute. Você ainda pode mudar essa situação. Você ainda pode escolher o lado certo."
"Seu pai tem razão, Draco," a voz de Gina se vez ouvir, surpreendendo os dois. Ela estava em pé, observando-os. "Não é tarde pra você fazer a escolha certa."
"Gina, mas... você não pode, ele te enfeitiçou..."
"Draco, eu não sou a pessoa que você conheceu. Eu matei alguém. Vê isso?" Gina virou de costas, mostrando a cicatriz que agora marcava suas costas. "Eu estou marcada. Você veio até aqui salvar uma garota e eu não sou mais essa garota. Você não tem obrigação nenhuma comigo."
Draco a encarava incrédulo.
"Vê isso, filho? Até ela percebe o erro que você está cometendo. Draco, por favor, me escute!"
"Você não percebe o desespero do seu pai, Draco?" Gina continuou, sua voz completamente desprovida de qualquer emoção. "Apesar de tudo, ele ainda quer te salvar. Ele acha que você tem uma chance ao lado de Voldemort. Você vai desperdiçar essa chance?"
"O que fizeram com você, Gina?" Draco perguntou, aproximando-se dela, uma tristeza aterradora em seu olhar.
Gina pareceu hesitar por um instante e dessa vez falou em tom de derrota. "Eu não sou mais quem você quer que eu seja, Draco," uma lágrima discreta caiu de seu olho. "Eu estou marcada. Eu estou suja, irreparável. Nós somos pessoas completamente diferentes agora. Você ainda tem uma chance."
Draco a encarou demoradamente, lágrimas caindo sem parar em seu rosto.
"Chance, Gina? Eu nunca tive uma chance."
Gina fez menção de falar, mas sua voz ficou presa na garganta diante do que veio em seguida. Num movimento rápido e decidido, Draco avançou contra Lúcio, enterrando seu punho no estômago dele. Lúcio pareceu engasgar-se e Gina viu que Draco segurava uma adaga banhada em sangue. Ele repetiu o movimento duas, três vezes, encarando o pai e chorando copiosamente. Lúcio lançou um olhar desesperado para o filho antes de cair no chão e junto com ele, caíram um filete de sangue e uma lágrima que marcaram seu rosto morto.
N/A: Mais de um ano desde a última atualização, então não vou estranhar se não tiver mais leitores heheh De qualquer forma, não gosto de deixar nada inacabado e como eu tenho um carinho muito grande por essa fic, vou terminar direitinho, como planejei. Acabei perdendo os capítulos finais junto com o PC antigo - e mais uma porrada de problemas no caminho - o que acabou deixando a fic sempre em segundo plano. Desculpem quaisquer erros, esse capítulo não foi revisado nenhuma vez, tamanha minha ânsia de postar assim que acabei de escrever - que foi, literalmente, o que eu fiz. Mas agora é questão de honra, reescrevi esse e vou reescrever os dois últimos enquanto ainda lembro de (quase) tudo. Abraços!