17. A Verdade

Sirius estava parado na porta e não olhava para Claire. Ela pôs o livro, razão em que estava trabalhando nas últimas horas para controlar seu nervosismo, e se levantou da cadeira para cumprimentar o marido. Ainda assim ele evitava o olhar dela. A barba e o cabelo emaranhados davam a ele uma aparência selvagem, mas ele parecia tão cansado, tão desamparado, que Claire sentiu um aperto no coração.

Ele entregou a ela o pergaminho com o braço bem esticado, de forma que ele não tocasse nela.

Claire pegou a carta, o pequeno embrulho e desenrolou o pergaminho.

''Minha querida Claire. Eu envio a você este último recurso. Tenha em mente que a verdade é uma espada, ela pode salvar e pode destruir ao mesmo tempo. Então, pense duas vezes antes de usar o conteúdo do pacote. Ouça o seu coração.

Seu, Albus Dumbledore, Diretor da Escola de Hogwarts, e verdadeiro amigo.

P.S. Eu confio em você para cuidar bem do mensageiro. Não seja muito dura com ele.''

Profundamente emocionada com as palavras de Dumbledore, Claire colocou a carta e o pacote em cima da escrivaninha. Ela havia planejado com tanto cuidado o que ia dizer, mas agora, vendo o cansaço de Sirius, ela abandonou qualquer tentativa de diálogo ou explicações.

Eventualmente ele olhou para cima, seu olhar desafiante, quase hostil.

"O que você quer, Claire?"

Ela torcia a bainha da roupa para manter as mãos ocupadas.

"Eu quero que você fique aqui." ela disse. Quando ele sacudiu a cabeça, ela acrescentou. "Essa noite."

"Não."

"Sirius, eu..."

"Deixe-me ir, Claire." o lábio inferior dele estava machucado e com sangue, certamente causando dor para ele falar. "Eu estou muito cansado para brigar com você."

Ela podia notar isso, os círculos escuros sob os olhos dele, a maneira como ele segurava a cabeça. Ele parecia estar prestes a desmoronar, e a magoava saber que ele tinha feito de tudo para fugir antes de encontrá-la. Houve um tempo em que ele confiava nela para confortá-lo. Mas ela havia destruído isso, deliberadamente.

"Você me concedeu um desejo." a voz dela estava muito calma, apesar dela estar com vontade de chorar. "Você disse que faria qualquer coisa que eu quisesse. Bem, eu quero essa noite."

Ele curvou a cabeça, em um silêncio de derrota.

"Eu não quero jogar seus joguinhos de poder."

"Eu não estou falando de jogos." ela insistiu. "Mas você vai fazer o que eu disser para você fazer."

Dando de ombros, sem falar uma palavra, ele cedeu.

Claire pegou a mão dele e mordeu o lábio em desespero quando ele recuou ao toque dela. Levando-o pelo hall até o banheiro, sua mente trabalhava rápido. Não havia uma maneira de fazê-lo entender porque ela o magoara tão profundamente. Pelo menos, enquanto ele se encontrasse naquele estado. Sim, Severus e Remus, tinham ajudado na fuga de Azkaban, mas a mente dele ainda estava atrás das grades.Tudo o que ela podia fazer por ele era amenizar sua dor física e esperar que ele quisesse ouvi-la quando se sentisse melhor.

Preparando um banho, ela ordenou com voz calma. "Tire a roupa."

Ele seguiu as instruções dela sem nenhum traço de envolvimento. As roupas, ela concluiu pelos remendos e costuras, eram de Lupin. Quando Sirius finalmente ficou nu diante dela, ela arfou com o choque.

Ele tinha perdido muito peso, suas costelas estavam proeminentes, sua pele acinzentada. Onde as cordas mágicas o haviam prendido, nos pulsos e tornozelos, ainda haviam feridas. Seu bonito marido estava parecendo um espantalho - e ela era responsável por isso. Tudo o que ela desejava naquele momento era que ele permitisse que ela o tocasse, para curá-lo, mas ela sabia que isso era mais do que ele poderia suportar.

Ela fez com que ele caminhasse até a banheira e descansasse a cabeça na beirada.

Remexendo as gavetas, ela pegou um par de tesouras e uma navalha Trouxa, presente de um artífice que havia construído os utensílios semimágicos do banheiro. Seu pai só tinha usado a navalha uma vez, mais por curiosidade, e então tinha voltado a se barbear com um simples feitiço. Mas agora uma navalha vinha a calhar.

Mordendo a língua, concentrada, ela colocou espuma no rosto de Sirius e começou a tirar a barba.

Sirius fechou os olhos. Ter alguém trabalhando com uma navalha tão perto de seu pescoço o teria deixado pelo menos preocupado, mas mesmo assim ele não se aborrecia. Que diferença faria se ele vivesse ou morresse? A água quente e as ervas que Claire havia providenciado tinham aliviado os inúmeros ferimentos e feito ele relaxar gradualmente, até que ele quase afundou.

Claire o pegou e o apoiou na curva de seu braço, e usou a oportunidade para jogar água na cabeça dele, com cuidado para não deixar cair nos olhos dele, usando um sabonete de pinho nos cabelos emaranhados dele, até que eles ficassem limpos e brilhantes.

Quando ela pediu a Sirius par se levantar, ele estava tão cansado que mal podia levantar o corpo da banheira.

Esperando que ela fosse começar a discutir com ele, ou pior, tentar justificar seus atos, ele enfiou os ombros no robe que ela entregou a ele. Mas, ao invés de discutir com ele, ela pediu a um dos elfos domésticos que trouxesse para ele uma bandeja com sopa e pão.

Observando-o comer, Claire permaneceu sentada em uma cadeira, com as mãos no colo.

Quando ele baixou a colher, ele olhou para cima. "E agora?"

"Agora você vai dormir."

"Dormir?" ele zombou. Ele estava tão cansado que era quase doloroso evitar que sua cabeça caísse no prato de sopa. Mas ele não podia dormir na presença dela, a mulher que o traíra uma vez, não poderia fazê-lo novamente?

Ela podia ler o rosto dele, ele reconheceu pela mágoa nos olhos dela.

"Em seu quarto." ela escolheu as palavras com cuidado. "Durma no seu quarto. Peça a Peagreen para montar guarda em sua porta, se quiser."

Se não fosse por sua honra, ele teria saído há uma hora atrás. Mas, agora tudo o que ele queria era dormir e esquecer Claire, esquecer Azkaban, esquecer da vida. Sem olhar para ela, ele se levantou e deixou o salão.

Seu quarto estava fresco e arejado, as janelas abertas, para ele não se sentir preso em uma armadilha. Normalmente ele teria ficado grato pela consideração de Claire. Mas, agora ele sabia que ela não se importava com ele. Tudo o que ela fizera, tinha sido por causa dos planos dela. Ela queria esta noite? Bem, ela a teria. Ele dormiria, e pela manhã, assim que o sol se levantasse, ele iria embora.

Assim que sua cabeça tocou o travesseiro, ele dormiu. E seu sono de exaustão foi tão profundo que ele não notou quando Claire escorregou para debaixo das cobertas ao lado dele, e o puxou para os braços dela. Aconchegando a cabeça dele em seus braços, ela ficou observando-o enquanto ele dormia, até que ela dormiu também.


Claire sonhou que tudo estava bem. Sirius a perdoara. As mãos dele passeavam pelo corpo dela, acariciando sua pele tão suavemente quanto acariciava seus seios. Ainda meio adormecida, ela tentou virar para beijá-lo, mas ele a prendeu na cama, segurando seus pulsos, não permitindo que ela o tocasse.

"Sirius, o que..." ela ofegou, de repente totalmente acordada, confusa pela expressão amarga no rosto dele.

"Deixe-me ver como você mente bem, Claire. Deixe-me ouvir."

"Não." ela gemeu e tentou escapar dele, mas sem conseguir. Ele continuava a acariciá-la sem parar, respondendo a cada movimento instintivo dos quadris dela.

"Sirius, não faça isso comigo..."

Um soluço escapou dos lábios dela e foi rapidamente substituído por um gemido.

Ele usava o conhecimento que tinha do corpo dela, mostrando explicitamente a ela o poder que ele tinha sobre ela. Eles haviam feito amor muitas vezes, mas isso não era amor, isto - ele acariciando o corpo dela, provocando, sugando e ao mesmo tempo permanecendo tão distante - isto era vingança. Claire sentia vontade de chorar quando a tensão se tornou insuportável e o seu corpo insistiu em atingir o clímax, apesar de sua mente lutar contra isso com toda a energia que ainda havia nela.

Quando tudo acabou, ela se encolheu como uma bola, a cabeça em seus braços, chorando baixinho.

Apesar dos soluços que a sacudiam, ela ouviu as palavras amargas de Sirius, enquanto ele levantava da cama e começava a pegar as suas coisas no guarda roupa.

"Eu precisava saber se seu corpo mentia para mim tão bem quanto sua boca."

Ela olhou para ele através das lágrimas e o viu colocar seus poucos pertences em uma sacola. "Eu nunca..."

"Não!" ele falou asperamente com tanto desgosto na voz, que ela estremeceu. "Eu não estou interessado. Uma vez que a criança nasça, eu vou encontrar uma maneira de vê-la. Você não vai me proibir disso. Eu sempre vou ser o pai do bebê. Mas qualquer coisa que tenha existido entre nós, acabou."

"Sirius!" seu nome era um apelo, e ele relutante, se virou.

Claire estava perto da cadeira onde ela havia deixado seu robe na noite anterior, e segurava um pequeno frasco.

"Ouça-me, por favor."

Ele deu a ela um olhar amargo. "Você disse que me amava, e você mentiu, Claire. Você mentiu para mim. Por que eu deveria desperdiçar meu tempo e ouvir mais mentiras?"

Lágrimas corriam dos olhos dela enquanto ela abria o frasco e bebeu todo o conteúdo do frasco, de uma vez. Em choque ele viu o corpo dela estremecer, sua cabeça ir para trás. Ele quase pulou até ela, e a fez abrir a mão para ver o frasco.

"O que você tomou? Droga, Claire, o que você acabou de tomar?"

Ela piscou. "Veritasserum."

Sirius passou a mão pelo cabelo, desesperado. "Você está maluca? Em seu estado..."

"Albus disse que não faria mal ao bebê. "

Ela se sentia muito calma, sua cabeça muito lúcida, de repente limpa de todas as dúvidas e ilusões. "Eu só menti uma vez para você, naquela sala do Ministério. E mesmo lá, algumas das coisas que eu disse, eram verdades." Ela olhou bem nos olhos dele. "Eu não preciso de você."

Ele empalideceu. Após todas aquelas semanas em Azkaban, onde ele havia repetido essas mesmas palavras para si mesmo, várias e várias vezes, ainda doía ouvi-la admitir isso.

"Mas você também não precisa de mim."

Sirius olhou espantado para ela. Do que ela estava falando?

Claire levantou as duas mãos em um mudo pedido de paciência. "Nós dois perdemos muitas coisas importantes. Muito tempo foi tirado de nós, tempo em que devíamos ter aprendido..." ela procurava pelas palavras certas "ao invés de aprendermos a confiar, nós aprendemos a só depender de nós mesmos. E nós dois vivíamos perfeitamente bem, não vivíamos?"

Silenciosamente, ele acenou, concordando.

"Eu poderia continuar a viver como antes, sozinha, e eu sobreviveria." Ela tocou o rosto dele com um dedo trêmulo. "Mas eu não quero. Eu não preciso de você. Mas eu escolho ficar com você, por livre e espontânea vontade. Não porque alguém esteja me coagindo ou me forçando, não por causa do plano ou por causa de Dumbledore. Apenas porque amo você."

Sirius pegou os pulsos dela e a sacudiu tão violentamente que ela arquejou de dor.

"Por quê?" ele perguntou violentamente. "Se isto é verdade por que aquela charada no Ministério?"

"Você realmente não entende?" os olhos de Claire se arregalaram.

"Não."

"Serene teve aquela visão, você se lembra? Você riu quando eu falei, mas quando eu vi você com aquela roupa no cemitério eu soube o que ia acontecer." ela cerrou os punhos em uma tentativa de conter as lágrimas. "Você estava feliz, não é?"

Sirius deu a ela um sorriso amargo. "Sim, eu estava muito feliz."

"Os Dementadores iam comer você vivo." ela disse com a voz muito suave. "Eu pensei que, se eu tirasse sua alegria, você teria chance de sobreviver até que encontrássemos uma maneira de libertar você."

Ele respirou fundo. "As coisas que você disse..."

"Eu sabia que iam magoar você. Era essa a minha intenção, ferir você o mais fundo que eu pudesse. E não vou pedir desculpas por isso, Sirius."

"Por quê?" ele perguntou novamente, a voz partida de emoção.

"Porque eu queria que você sobrevivesse." ela nem piscava e não havia nada nos olhos dela além de sinceridade. "Você nos salvou naquela noite, a mim e ao bebê, lá no cemitério. Você recebeu a Marca por nós."

"Eu teria morrido por você naquela noite."

Mordendo o lábio ela tocou a Marca Negra no braço dele com delicadeza, e dessa vez ele não recuou. "Mas eu não quero um herói morto. Eu quero você vivo. Mesmo que isso signifique que você me odeie agora." a mão dela caiu." Eu faria tudo de novo se fosse preciso."

Sirius pegou a mão dela, com delicadeza agora, e tomou o segundo frasco que não tinha sido aberto. Muito devagar ele abriu o pequeno frasco e bebeu o líquido de uma vez, sem tirar os olhos dos dela.

Claire observou o corpo dele lutar com a poção, como se ele soubesse do perigo de liberar todas as suas defesas. Quando o tremor cedeu, ele chegou tão perto, que ela teve que olhar para ele. O que ela viu nos olhos dele, fez com que ela fechasse os olhos.

Sirius curvou a cabeça até que sua testa tocou a dela. Respirando suavemente contra as pálpebras fechadas dela, ele permaneceu daquele jeito por um momento, sentindo a presença dela, o calor que vinha do corpo dela, o coração dela batendo perto do dele.

"A verdade." ele disse suavemente.

"A verdade."

Ele a pegou nos braços e a carregou para a cama, colocando-a sobre ele como se fosse um cobertor, a cabeça dela no ombro dele.

"Você diz que me ama..." ele começou desajeitadamente.

"Eu amo."

"Mas por quê?"

Claire levantou a cabeça para poder olhar para ele. "Por quê?" ela repetiu. "Porque você é...Sirius."

Ele fechou os olhos e balançou a cabeça. Na luz fraca ela viu as lágrimas nas pestanas escuras dele.

"Eu não sou bom o suficiente." essas palavras vieram tão baixo, que ela mais as sentiu do que ouviu. "Eu nunca fui."

"Sirius..."

Enterrando o rosto nos cabelos dela, ele suspirou. "Eu falhei com todos os que confiaram em mim. Meus irmãos, minha mãe..."

"O que faz você pensar assim?" Claire sentiu uma súbita vontade de sacudi-lo, de gritar para fazê-lo entender o quanto estava errado. "Você tomou conta deles, quando não era mais que uma criança."

"Não bem o suficiente." ele disse novamente, sua voz vazia de emoção. "Eu lembro que quando eles ficavam doentes, não havia nada que eu pudesse fazer além de sentar e esperar que eles não morressem. E no fim foi o que aconteceu."

"Mas você não deve se culpar pela morte deles." Claire pôs a mão no rosto dele. "Castor me contou o que você fez por eles. Eles adoravam você. Idolatravam você. Mas a morte deles está nas mãos de Voldemort, não nas suas."

"Castor?" Sirius arqueou as sobrancelhas "Quando você falou com meu irmão?"

"Ele nos ajudou a libertar você."

Sirius riu amargamente. "Eu vi você tomar o Veritasserum, então tenho que acreditar no que você está falando. Mas o meu irmão pensa que sou um assassino. Ele faria qualquer coisa para me levar para a prisão."

"Na verdade ele falsificou uma permissão de visita para Severus e Remus. Como um Auror isso o condena a Azkaban também, se alguém descobrir."

"Mas..."

"Ele estava errado todos esses anos, Sirius. Ele cometeu um erro e lamenta ter acreditado que você era culpado. Você não deve esquecer que ele estava junto quando levaram você. As circunstâncias e o seu estranho comportamento... tudo falava contra você. E havia mais uma coisa." ela colocou a mão esticada sobre o coração dele. "Castor sabia que você se agarrava a uma causa quando aderia a ela. Ele temeu que você tivesse escolhido o lado das Trevas. E estivesse agindo de acordo."

Sirius começou a acariciar suavemente as costas dela, quase sem pensar, enquanto as palavras

dela entravam em sua mente.

"Sua mãe tentou visitar você." Claire continuou calmamente "Pelo que Castor me disse, ela não tinha saído do quarto dela durante anos, mas quando ela soube que você tinha sido preso, ela foi ao Ministério. Eles não deixaram que ela visse você. Mas ela tentou, Sirius. Ela tentou."

Ele a abraçou com tanta força, que ela teve dificuldade para respirar. A dor dele era quase palpável, e ainda havia coisas que ela precisava saber.

"Sirius? Por que você persuadiu os Potter a fazerem Peter o Guardião do Segredo deles?" um tremor percorreu o corpo dele, e ela estava perto o suficiente para sentir o coração dele falhar uma batida. "O que fez você pensar que falharia com eles?"

"Eu temi que eu falhasse com eles" ele sussurrou no cabelo dela "se Voldemort me pegasse, eu os trairia."

" Não, você não trairia."

"Com um mínimo de tortura eu os teria traído."

Ela riu, sem acreditar no que estava ouvindo. "Você? O bruxo que fugiu de Azkaban para ajudar a salvar o afilhado? Você, que deixou que o Lord das Trevas queimasse a sua pele com a Marca Negra? Para me salvar de minhas ações idiotas?"

"Quando Narcissa contou a você sobre minhas namoradas, ela estava certa." ele sussurrou "Eu as protegia para ninguém perceber como eu era fraco."

"Mas por quê?"

"Quem iria me querer se soubesse o quanto eu era fraco?"

A confissão dele a fez estremecer. Como esse homem que aparentava ser tão firme quanto uma rocha, podia ser ao mesmo tempo tão inseguro?

Saindo de cima dele e se apoiando em um cotovelo, ela olhou intensamente para ele. "Você está errado."

"Não." o sorriso dele era melancólico.

"Lembra o que o centauro disse sobre a sua xará, a estrela?"

"Sirius B." ele franziu a testa. "A estrela cachorro."

"Certo. Uma parte forte e uma fraca. Elas giram em torno uma da outra. E se algum dia uma cair, a outra também cairá.

Ele esperou.

"Ninguém é apenas forte o tempo todo. É humano ser fraco certas vezes. Você tem que se permitir isso. " ela tentava fazê-lo entender. "Porque se você quer ser forte o tempo todo, força os outros a permanecerem fracos."

"Você é forte." Devagar, ele virou para ela, os olhos brilhando, maravilhado. "Aquelas garotas na escola, elas precisavam de mim. Ninguém jamais me escolheu. James e Moony, sim, mas nunca uma mulher."

"Eu escolhi você."

"Sim, você me escolheu."

Sirius se curvou para beijar aqueles lábios macios, roçando, saboreando, se deleitando na boca doce de Claire.

"Claire." o nome dela era um suspiro nos lábios dele, quase um apelo. De alguma forma ela havia conseguido chegar mais perto dele do que qualquer outra pessoa. E agora era muito tarde para separar o laço que os unia. Ele preferia cortar um braço fora.

Claire sentiu a ereção dele ao lado dela. O Veritasserum tornava impossível mentir aos outros, mas não permitia que eles mentissem para si mesmos, também. Ela o desejava. E ele a desejava. O orgulho perdera todo o seu significado.

Ela permitiu que as mãos dela tomassem posse do corpo dele novamente. Todas as noites que eles haviam passado juntos, tão próximos... Ela o conhecia muito bem, sabia onde tocá-lo, como tocá-lo, como dar prazer a ele e obter seu próprio prazer fazendo isso.

A respiração dele se tornou mais pesada.

Ele devagar pressionou os quadris contra os dela, dando a ela o amor suave que ela precisava. Observando o rosto dela, ele notou cada emoção que passou pelos olhos dela, como suas pestanas tremiam, como ela mordeu o lábio inferior. Um gemido suave vindo da garganta dela, quando ele aumentou a força de suas arremetidas. Mas ainda assim, ele controlou sua própria necessidade de alívio, deixando que ela guiasse os seus movimentos. Sua recompensa valeu o esforço. Ela se agarrou a ele, fazendo com que ele fosse mais fundo, mais rápido, gemendo baixinho no ouvido dele.

"Não me deixe sozinha, Sirius."

Os lábios dela traçaram um caminho de fogo na mandíbula dele, no seu pescoço, fazendo com que ele viesse ainda mais para perto dela, se fundindo a ela até não haver mais nada além da sensação de estar com ela, estar nela.

A respiração dele estava entrecortada.

"Eu nunca vou deixar você, boneca. Nunca."

Depois disso, ele não pôde mais falar porque ela tomou posse de sua boca, a língua dela seguindo o ritmo das investidas dele.

"Sirius." ela murmurou dentro da boca dele, um doce chamado no auge da paixão. Quando ele se enterrou mais fundo nela, Claire sentiu a primeira onda do fluxo quente dentro dela. Ele a preencheu completamente, seus corpos se encaixando perfeitamente, como duas metades de um ser inteiro, juntos sendo muito mais. E então o mundo desapareceu com a força do êxtase que eles alcançaram.

Antes que eles caíssem no sono, Sirius a puxou para seus braços, e colocou seu rosto contra a orelha dela. "Tem uma coisa que eu ainda preciso saber." ele murmurou.

"Hmm..."

"Por que você aceitou o convite de Malfoy para a reunião dos Comensais? Por que você não obedeceu Albus?"

Ela suspirou. "Eu...Não, é muito idiota agora, quando eu olho para trás."

"Diga-me." ele puxou as cobertas sobre as suas cabeças, para a luz cinzenta do amanhecer fosse afastada. "Eu preciso saber."

"Eu queria dar alguma coisa para você." ela admitiu hesitante.

"Dar-me alguma coisa?"

Mesmo na escuridão Claire pôde ver que ele tinha franzido a testa. "Eu estava tão feliz a respeito do bebê." ela tentou explicar "Que eu quis dar algo em troca para você."

Sirius zombou. "Isso não é um acordo de negócios."

"Eu sei." ela beijou a pulsação no pescoço dele. "Mas era assim que minha vida funcionava até você aparecer. É um hábito que eu tento mudar. De qualquer forma, eu pensei em dar a você as três coisas que você mais queria."

"Três coisas?" ele perguntou meio distraído pelas carícias dela. "Espere. Uma delas foi a tarde da festa de aniversário de Harry, não foi? Quando você veio a mim..."

Ela riu suavemente.

"A outra foi quando você convenceu Harry a ficar conosco." ele especulou. "Mas por que você iria ao encontro dos Comensais da Morte?"

"Eu queria dar a você a vingança. Eu queria encontrar um jeito de pegar Peter Pettigrew." ela sussurrou, quase embaraçada a respeito de sua ingenuidade de um mês atrás.

Ele gelou. "Você achou que a coisa que eu mais queria era Peter Pettigrew? Vingança?"

"Não era?"

"Não." ele colocou a mão esticada na barriga dela. "Isso é o que eu queria. Um filho. Harry. Você. Uma família." suspirando feliz, ele se deitou novamente, agarrado a ela, o cabelo dela um travesseiro macio para o rosto dele. "E agora, vamos dormir. Amanhã será um dia de decisões difíceis."


Quando Claire acordou horas depois, ela estava sozinha. Por um momento ela teve certeza de que tudo tinha sido apenas um sonho. Então ela percebeu que estava sentindo aquela gostosa exaustão, causada por horas e horas fazendo amor, pela entrega de seu corpo a Sirius, e ela suspirou aliviada. Não importava o que o futuro trouxesse, eles estariam juntos. Ele dissera que a amava. E talvez algum dia, ele viesse a confiar nela novamente.

Levantando da cama, ela vestiu o robe que Sirius tinha usado na noite anterior, e foi para o quarto dela escolher uma roupa.

Quando ela abriu a porta quase tropeçou em Peagreen. A elfa estava sentada na porta do quarto e cantava uma melodia, ou pelo menos, o que seria uma cantiga para os elfos.

"Srta. Claire." ela falou alegremente. "O seu Sirius voltou."

"Sim, ele voltou." sorriu Claire, tocada pela alegria da elfa.

"Ele não quis acordar você, mas pediu a Peagreen para dizer a você..." ela coçou a cabeça "dizer a você para ir para Hogwarts, se você quiser. Ele precisa fazer planos porque ele vai fugir."

"Ele vai fugir?" Claire sentiu o estômago dar um pulo. "Ele disse isso?"

Peagreen sacudiu a cabeça e tentou lembrar as palavras exatas. "Ele disse que vai ser perseguido por um Lord das Trevas e pelo Ministério, então ele precisava fugir, breve."

Claire suspirou. Em sua alegria, ela havia ignorado a realidade, mas ela voltava à sua vida. Claro que ele precisava fugir. Não apenas por estar na lista de procurados do Ministério, assim que Remus Lupin fugisse de Azkaban naquela noite. Mas, pior ainda, Voldemort poderia chamar seu novo Comensal da Morte, quando ele ouvisse sobre a fuga. Uma vez que Ben Olsen estava convencido de que seu marido era na verdade Sirius Black, eles fariam qualquer coisa para agarrar o espião de Dumbledore.

Ela entrou em Hogwarts com a familiar sensação de cansaço. Para os outros, aquele podia ser um lugar de boas e felizes lembranças, mas para ela, não era nada além de um lugar onde recebia más notícias, onde eram feitos planos e medidas desesperadas eram tomadas.

O castelo estava quieto, dando a impressão de que estava vazio. Claire sabia que isso ia mudar assim que os alunos fossem liberados das salas de aula, mas nesse momento estava completamente sozinha no hall de entrada, esperando que alguém a quem pudesse perguntar por seu marido ou pelo Diretor.

Enquanto ela estava ali, Sirius e Dumbledore entraram, ambos muito sérios.

O coração de Claire deu um salto quando ela viu os olhos do marido se iluminarem ao vê-la. Sem aquela barba horrível, ele parecia bem melhor, mas ainda parecia cansado.

Dumbledore pegou as duas mãos dela e sorriu. Sem dizer uma palavra ele disse que estava feliz por ela e Sirius terem se acertado.

Sirius pigarreou. "Você nos daria um minuto em particular, Albus?"

Dumbledore sacudiu a cabeça. "Claro que sim. Mas antes que você fale com sua esposa, tem uma coisa que eu gostaria de mostrar a vocês dois."

Ele fez com que eles se sentassem nas escadas.

"Os alunos não vão estranhar nos ver aqui sentados?" perguntou Sirius, apenas para ver o Diretor rir de si mesmo.

"As aulas não vão terminar pelos próximos quinze minutos." ele disse, "Eles não vão gostar disso, mas não há nada que eu possa fazer a respeito. Você sabe quando o tempo parece durar uma eternidade? Bem, esse é um momento desses..."

Ele estalou os dedos e o grande hall ficou totalmente escuro. Instintivamente Claire procurou pela mão de Sirius e suspirou aliviada quando ele passou o braço em volta dos ombros dela. Ele iria deixá-la, ela sabia e entendia as razões dele. Todos os sonhos de envelhecer ao lado dele e criar filhos com ele, não seriam nada além de sonhos. Mas nesse momento, nada era mais real do que o abraço dele.

A voz de Dumbledore parecia vir de muito longe, através do hall escuro.

"É importante que vocês entendam o que está acontecendo." ele explicou. "Eu mostrei isso a Laurel, e não vai fazer mal que vocês vejam também."

Ele estalou os dedos novamente e uma pequena luz apareceu.

"Há muitos anos atrás, houve um bruxo que achou que era fraco e mau." a voz do Diretor não era mais que um sussurro. "E mesmo assim, ele foi forte o suficiente para se opor a Voldemort."

"Severus." disse Sirius suavemente.

"Sim, Severus. O que estava perdido, e decidiu voltar. E se ele pôde voltar, qualquer um pode."

A chama piscou e lutou, mas continuou acesa, bravamente.

"Eu levei muito tempo pensando no que a decisão de Severus tinha representado para nós. Uma luz na escuridão. E o que aconteceria se houvessem muitas outras? Será que haveria um momento em que as trevas seriam derrotadas?"

Outra luz apareceu.

"Um bruxo sacrificando sua vida por sua esposa. Uma mãe tentando proteger seu filho."

Claire sentiu Sirius ficar tenso e esfregou o rosto no braço que estava em seus ombros.

"James e Lily." ele falou rouco.

"O que eles fizeram não pode ser esquecido." Dumbledore deu um passo à frente das luzes. "E muitos outros."

Uma por uma, luzes iam aparecendo, pequenas e brilhantes. "Isso é a respeito de amor." ele explicou suavemente "Amor por uma criança, amor por um amigo, amor por um bruxo, ou uma bruxa."

As luzes formaram um círculo que de vez em quando afastava a escuridão.

"Eu quero que vocês entendam que por mais que todos amemos Harry, por mais que tentemos protegê-lo, não é ele quem vai nos salvar a todos." o velho bruxo suspirou. "É o amor. Nada simples. Nunca fácil. E ainda assim, a única esperança que nós temos."

Por um momento só houve silêncio, enquanto as luzes queimavam e iluminavam o rosto do Diretor. Claire viu que havia lágrimas nos olhos dele e se aproximou para apertar a mão dele.

Ele sorriu para ela e se virou para olhar para as luzes que enfrentavam a escuridão.

"Em breve, Tom." ele disse muito suavemente. "Vai acabar em breve."

Como uma visão ele desapareceu dali, deixando Claire e Sirius sentados nas escadas.

Ainda impressionados com o que tinham acabado de testemunhar. Claire apoiou a cabeça no ombro de Sirius.

"Amor." ela disse calmamente "Ele está certo. É a única coisa que importa. Eu vou me lembrar disso quando você tiver partido. E eu quero que você saiba que sempre amarei você. Não importa o que o futuro traga."

"Era sobre isso que eu queria falar com você." Sirius se levantou e ficou de pé de frente para ela. "Você entende que não posso arriscar você nem o bebê. Se Voldemort algum dia descobrir que você mantém contato comigo..."

Ela conteve um soluço. "Eu sei. Só que eu queria que você pudesse ficar."

Ele a puxou para seus braços, como se precisasse reunir toda a sua coragem. Então ele se colocou de joelhos e pegou as mãos de Claire nas suas.

"Eu nunca pedi você em casamento." ele disse.

Ela sorriu com os olhos cheios de lágrimas. "Não, nunca pediu."

"Claire, existe uma maneira de ficarmos juntos." os olhos dele mantiveram os dela cativos. "Mas eu preciso saber se é isso o que você realmente quer."

"Ficar com você?" ela tocou o rosto dele, chocada pela dúvida dele. "Você deixaria eu ir com você? Eu não me importaria de ser pobre, Sirius. Eu não me importo de deixar tudo para trás. Se eu apenas puder ficar com você. "

Sirius colocou a mão dela em sua boca e beijou a palma. Olhando para ela, ele pigarreou.

"Claire Winterstorm." ele disse suavemente. "Você se tornaria minha Guardiã do Segredo?"

O rosto dela, banhado em lágrimas, se iluminou até ficar tão brilhante quanto as luzes que eles tinham acabado de ver. O olhar de amor incondicional e grande determinação nos olhos dela, fizeram Sirius esquecer seus medos e dúvidas. Ele ficaria com ela e com a criança deles. Eles ficariam juntos, seguros e inteiros. E ele estaria em casa, no coração dela, para sempre.

Com infinita ternura, Claire pegou o rosto dele com as duas mãos e o beijou nos lábios.

"Sim, eu aceito."

FIM

Finalmente, para a felicidade dos poucos leitores que ainda me restou, aqui está o último capítulo de Whole Again - Sirius traduzido! Foi um longo percurso, bem mais simples que em Severus já que já peguei o "jeito da coisa"... E eu só posso agradecer a todos que ficaram comigo, me encorajando, me suplicando por mais capítulos (é... incomodava, mas eu amava). E não posso deixar de agradecer à todos os reviews maravilhosos. Sinto não ter tido tempo de responder todas as questões durante os capítulos, ou deixar agradecimentos específicos ao longo da tradução.. mas nunca é tarde para isso, não é?

Agradecimentos especiais para:

Ka, minha beta super-paciente que teve que ficar corrigindo meus que/quê e vírgulas estranhas... sua ajuda foi preciosa para mim, linda. E espero continuar trabalhando com você nas continuações... e nas minhas outras historinhas impróprias...

B. que mesmo longe nunca deixa de me influenciar quando o assunto é Harry Potter ou Sirius. Como a única que compartilhou comigo as leituras de Whole Again quando ainda estava sendo publicado pela Leila, é ela que vocês todos deveriam adorar. Graças a ela que comecei essa aventura louca de fazer uma tradução desse tamanho (sendo que nunca tinha feito tradução nenhuma de fic). B, lembre-se que nem a distância e nem o tempo podem afastar a verdadeira amizade. Eu tenho saudades, sis...

Um super-obrigado a todos aqueles que acompanham a fic desde o início e, raramente, desistiram.. (e que também acompanharam Severus). Alguns desses merecem um super agradecimento por todos os reviews, conversas de msn e apoio no fórum: Den Chan, Ameria Shaula Black e Sheyla Snape.

E claro, agradeço todos aqueles que acompanharam a fic e tiraram um tempinho, ao final dos capítulos para deixar um review:

Miri Black, Yasmin, watashinomori, Mary-Snape-Lupin, MiLaChaN, Yasmine Lupin,Tati, Sarah-Lupin-Black, Sf-chan, Alessa, Jana Radcliffe, Amanda Dumbledore, Marck Evans, Bru Malfoy Black, fenix05, Trinity C. Malfoy, Anita Black, Kirina-Li, Lessa Phoenix, Angela Snape, Thaisinha, Carolzinha, Jana Radcliffe, Julianne Delacour, SarahPotter(Doidinh), Lilibeth.

E agora vi que já escrevi bastante. Já devem ter desistido até de ler aqui. Mas mesmo assim, uma última frase.

Espero ver todo mundo, ao final das férias, acompanhando Voltando a ser um só – Remus!

Harue-chan