Introdução.

Vida, o que é a vida? Bom, pra mim ela tem sido uma grande bosta, desculpe o palavreado, mas, bom, sabe, eu não gosto de reclamar da vida, eu acho que cada um nasce por algum motivo, e tem aquela vida por algum motivo, acho que alguém se encarrega disso pra nós, e como eu queria encontrar esse alguém pra mostrar a esse filho-da-mãe uma coisa, desculpe o palavreado mais uma vez, mas, poxa, o que eu fiz de tão errado na minha vida pra merecer isso?
Se eu acreditasse em reencarnações diria que eu realmente estou pagando por algo realmente terrível que fiz no passado, e lá vou eu reclamando da vida de novo, mas acredite eu tenho muitos motivos, nasci em uma família horrível (eu sei que muitos de vocês acham que nasceram também mas acredite, elas são ótimas comparadas a minha), eu sei que cada um tem um problema, e que esse, não pode ser menosprezado por ninguém por menor que seja, e não é isso que eu estou fazendo, mas vocês não conheceram minha família, eu sempre me senti diferente, eu não era de verdade um santo, mas as minhas primas e minha mãe conversando sempre como se fossem iguais em tudo, até mesmo na idade, sempre com a mesma mente planejando o que elas fariam se pudessem, me faziam me sentir realmente como um.
Ficar perto delas me ajudou a me tornar quem eu sou hoje, um rebelde, mas com causa! Eu sempre escutava a conversa delas e eu realmente sentia pena desses pobres coitados de quem elas falavam, uma vez eu lembro de ter perguntado a minha mãe quem era aquela gente de quem elas falavam tanto, ela me disse que eram trouxas e sangue-ruins, eu perguntei o que eles tinham feito pra elas (entendam, eu devia ter 5 anos), e minha mãe respondeu, ``eles simplesmente nasceram e poluem o nosso mundo com sua existência``.
Eu não sei porque aquilo me chocou tanto, eu deveria ter dado um sorrisinho maldoso assim como os outros mas eu fiquei ali, parado, com os olhos vidrados e indignados, eu sai da sala e fui para o meu quarto tropeçando em nosso elfo-doméstico no caminho, eu simplesmente não entendia por que minha mãe os odiava, não tinham feito nada a nós, não tinham roubado a tão querida tapeçaria de mamãe como eu vinha pensando, então por que tanto ódio? Será que eles eram tão feios e nojentos que deviam ser exterminados? Eu achava que sim, era o único motivo pra mamãe trata-los daquela forma! É... como diz o ditado, a ignorância é uma benção, com o tempo cresci mas com aquela mesma mentalidade, não a de que os trouxas e sangue-ruins fossem daquela forma que eu imaginava, eu já sabia como eram eles, e vocês não imaginam o choque que foi pra mim, ver que eles eram como nós, eu ainda pensava que talvez eles transmitissem alguma doença, era uma boa possibilidade dado pelo fato de que minha mãe se esquivava dos chamados por ela sangue ruins, como se fossem contamina-lá, mas com o tempo eu fui entendendo a realidade, a dura, mas verdadeira realidade, e é ai que vem aquela mentalidade de que eu lhes havia falado, eu nunca consegui pensar como eles, nunca consegui entender, compreender por que de tanto ódio, eles(trouxas e sangue ruins) passavam pela rua sorrindo felizes, pareciam muito melhores que nós inclusive.
Uma vez quando eu era pequeno um olhou pra mim e sorriu, eu lembro que fiquei desconfiado, já que minha mãe falava tão mal deles, talvez fosse uma armadilha pra me pegar, me ganhando com sorrisinhos, mas eu era um garoto esperto (ou achava que era), não ia deixar me levar por sorrisinhos, vendo minha cara o homem riu e saiu com sua família, eles não pareceram ruins, eu estava muito confuso, e fiquei assim por muito tempo, procurando razões absurdas para o ódio de minha mãe até entender, mas não aceitar, ela os odiava só por eles serem diferentes, acreditarem em outras coisas, terem outras origens, quem ligava se eram boas pessoas? Simpáticas e engraçadas? Ninguém, bom, talvez eu, mas eles não, e isso foi o começo da minha raiva por eles, por isso eu digo, cada um nasce de uma maneira, eu poderia ter virado um deles, mas não virei, dizem que sempre nasce uma ovelha negra na família, bom, eu sempre me senti a ovelha branca no meio das negras, e sempre me senti feliz assim.
É...acho que eu refleti mais coisas sobre a minha vida inteira hoje, do que parei pra pensar em um só dia minha vida inteira! A não ser é claro o dia em que meus amigos morreram, o pior dia da minha vida, o único dia que eu sempre lembro, mas o único que eu queria esquecer, por isso mais uma vez eu digo, o que eu fiz de tão errado na minha vida pra merecer isso? Deve ter sido mesmo muito ruim, pra nem ao menos ter o direito de morrer em paz, não que eu queira morrer, mas... bom, já que eu to aqui, é o que eu supunha que fosse acontecer, não é atoa que eu já pensei tanto na minha vida, sim e há muito pra pensar ainda, é... vamos pensar muito hoje, também é o que eu tenho pra fazer mesmo! Há, eu ainda não contei aonde eu to né? Não é na minha casa não, se fosse eu já tinha dado uma liçãosinha naquele elfo maldito, e... depois disso provavelmente estaria tentando não morrer de tédio.
É, eu to num lugarsinho que eu vo te contar viu! Vou lhes contar.