Epílogo

O poste de luz da rua piscava intensamente, fazendo a iluminação quase sumir naquela noite sem estrelas de Los Angeles. O barulho dos carros ecoavam em seus ouvidos e as discussões das prostitutas sobre pontos de trabalho e clientes soavam por todo o local, fazendo o rapaz balançar a cabeça de um lado para o outro de modo exasperado. Cidade grande era uma coisa impressionante. Cheio de buracos e segredos que ele fazia questão de ignorar. Um assovio e uma cantada ribombou pelas paredes dos chiques edifícios e ao passar por um grupo de garotos o rapaz sentiu alguém lhe passar a mão.

Duo virou-se com raiva emanando dos olhos violetas, fazendo a trança chicotear com violência em suas costas, e fuzilou o grupo de meninos abusados que recuou diante da intensidade daquele olhar. Aos vinte anos, o garoto de Sunnydale tinha crescido espantosamente, mas ainda era mais baixo que seu amigo Trowa e seu namorado Heero, e ganhado feições mais masculinas, embora ainda tivesse alguns traços femininos em seu rosto e o corpo era delgado e bem definido por causa dos intensos treinamentos que sofria sob a tutela de Heero. O japonês poderia não ser mais um vampiro mas, incrivelmente, ainda possuía a força de um o que fazia Duo suar dentro da sala de exercícios no apartamento onde eles moravam.

"Caramba, é um cara!" – um dos meninos falou surpreso e Duo soltou um rosnado entre dentes, como um cão raivoso ameaçando a dar o bote. Rapidamente o grupo engoliu qualquer ofensa que tinha para soltar sobre o fato do rapaz se parecer com uma mulher e correram para salvar as suas vidas. O garoto deu um sorriso divertido ao ver os meninos correndo e virou-se para seguir o seu caminho. Era bom saber que não tinha perdido o toque. Afinal, não era mais um caçador ativo.

Ao pensar nisso o americano suspirou. Ainda sentia falta de seus tempos de ronda e batalhas, mas não trocaria a vida que tinha no momento por nada desse mundo. Era um universitário agora e estudava na mesma faculdade que seus amigos Trowa e Quatre estudavam. Hilde, depois de Sunnydale, tinha voltado a sua cidade natal, Nova York, com Noin e retomado a sua vida de caçadora. Sally foi embora para a China com Wufei, o que foi uma grande surpresa para todos, e cartas e telefonemas diziam que os dois estavam se entendendo muito bem como namorados, mas se desentendendo quando o assunto era estratégias de defesa para o vilarejo onde eles moravam. Parecia que o orgulhoso chinês tinha esquecido que a namorada era uma escolhida. Quanto à princesa Relena. Bem, essa conseguiu uma vaga na faculdade de Nova York, o que fez Duo rir por horas quando soube da novidade porque essa era a desculpa mais vagabunda que ele já tinha ouvido. Por que a garota não admitia que tinha ido para lá apenas para ficar com Hilde? E quanto a Zechs e Treize. Bem, o primeiro voltou para a Inglaterra e a sua vida de sentinela. O segundo bem, o segundo ajudava Irmã Helen e Padre Maxwell no orfanato e trabalhava como conselheiro em uma escola pública da cidade. Para Treize, qualquer coisa que envolvia uma biblioteca era o suficiente para ele ser feliz. E quanto a Duo? Bem, Duo vivia feliz com o seu namorado humano e absurdamente rico em uma elegante cobertura num prédio chique da cidade, com uma invejosa vida de casal e sem nenhum vampiro ou demônio de fim do mundo para perseguí-lo. Tinha se aposentado e pretendia ficar nessa vidinha tediosa por muito tempo.

O garoto sorriu, dobrando uma esquina e apertando o passo em direção ao seu apartamento. Heero já deveria o estar esperando com um gostoso jantar a luz de velas e uma música romântica para uma noite que prometia grandes diversões. Soltou um longo suspiro, andando mais rápido ainda para poder chegar na sua aconchegante casa quando ouviu um estrondo vindo de dentro de um beco. O jovem de trança parou, tentando fazer a sua visão se ajustar para a semi-escuridão do beco. Certo que estava aposentando, mas o irritante espírito de salvador do mundo ainda estava dentro do seu corpo. Viu o que pareceu ser um grande brutamontes atacar uma menina miúda e jogá-la contra o latão de lixo, causando outro estrondo. Inconformado com aquela situação, o rapaz largou a sua bolsa na entrada do beco e foi a passos decididos em direção aos dois brigões.

"Hei!" – chamou com a voz firme e em um tom de comando. –A sua mãe não lhe ensinou que é feio bater em uma mulher? – falou, parando a poucos passos do sujeito e chamando a atenção dele para si.

"Hei!" – a menina loira que estava sendo atacada arregalou os olhos para o seu salvador. –Não precisa me ajudar, eu estou me virando muito bem. – falou com a voz firme quando viu o homem virar o rosto na direção do rapaz de trança. Quando o seu salvador realmente visse com o que estava lidando iria rapidamente desistir dessa idéia de bancar o herói.

Duo fez uma careta quando o atacante da menina virou-se para si e viu as expressões torcidas dele e os afiados caninos brotando dos lábios finos. Botou as mãos na cintura e soltou um longo e sofrido suspiro.

"Tsc, tsc, tsc, que coisa feia. Não vê que ela é menor que você?" – falhou em um tom brincalhão e sacudindo o dedo indicador em uma negativa. A menina de cabelos loiros não entendeu nada diante dessa atitude de seu salvador. Por que ele não tinha saído correndo como as pessoas normais quando viam um vampiro?

"Quem é você?" – o demônio rosnou e Duo deu um sorriso enviesado.

"Isso, meu caro, é uma coisa que você nunca irá saber." – e deu um impulso com a ponta do pé, pulando em direção ao vampiro. Com uma giratória acertou o rosto dele, não dando nem tempo da criatura pensar. Com o punho fechado fortemente deu um soco no queixo do vampiro e com a outra mão deu outro soco na boca do estômago do mesmo, o fazendo recuar atordoado. Segurou no pulso da criatura e a puxou na sua direção, dando as costas para ela e inclinando o corpo, puxando o vampiro por sobre as suas costas e o jogando por cima de seu corpo, o fazendo cair com um baque no chão.

"Com licença." – disse com um sorriso para a menina loira que observava tudo espantada. O rapaz estava superior na luta. E para ser superior a um vampiro somente um… Arregalou ainda mais os olhos quando a compreensão a abateu. Duo tirou a garota do meio do caminhou e pegou uma caixa de madeira de dentro da lata de lixo, a quebrando e providenciando uma estaca. Assim que o vampiro se pôs de pé, ainda cambaleante, Duo lançou a estaca no coração dele, o fazendo virar pó.

"Principiantes. Dá para perceber que ele acabou de sair da cova. Tsc, que vergonha." – brincou, bateu as mãos uma na outra para poder se livrar da sujeira. –Você está bem? – perguntou o rapaz, virando-se para a garota de cabelos loiros e que não deveria ter mais que quinze anos.

"Eu estou." – e recuperando-se rapidamente do choque, assumiu uma postura arrogante que lembrou o americano muito a Relena na idade da menina. –Não precisava me ajudar, eu estava me saindo muito bem com ele. Agora o meu sentinela vai me dar aquele sermão. Valeu mesmo. – resmungou e Duo sorriu, entendendo tudo.

"Sentinela hum? Sabe como você lida com sentinelas? Os ignora. Um dia eles aprendem." – e riu, lembrando-se de todas as vezes que quase fez o controlado Treize subir pelas paredes.

"Você parece ter experiência com isso, não é mesmo, pelo modo como derrotou aquele vampiro." – falou a garota, olhando Duo de cima a baixo. Se ele era mesmo um caçador, ele tinha muito mais anos de estrada do que ela. Sem contar que ele era adulto, o que renovou as suas esperanças de ter uma vida longa dentro dessa "profissão".

"Você não faz nem idéia." – riu Duo, estendendo uma mão para a menina. –A propósito, eu sou Duo. E você é? - falou e viu a mão pequena dela encaixar-se na sua em um cumprimento.

"Eu sou Buffy, a Caça-Vampiros."

Fim

NA: Soem os trompetes. Finalmente eu terminei. Eu disse que devagar se vai ao longe e que paciência era uma virtude. Agradeço a todos que esperaram pelo fim da fic e agradeço mais ainda a todos que me mandaram reviews. Sim, sim, eu fiz uma piadinha no final. Afinal, essa fic é baseada em Buffy, apesar de ter muitas coisas da série diferente nessa fic. Mas, mesmo assim, espero que vocês tenham gostado.

Beijos, Daphne.